Descomplicando a nossa relação com o vinho

As novas gerações, denominadas “do milênio” e “z”, não bebem vinho regularmente por acharem que é uma bebida muito formal, complicada. Preferem usá-lo para uma celebração especial, optando por caras garrafas. Com isto, o mercado dos vinhos do dia a dia está perdendo força.

Desde sua origem, o vinho nunca foi uma bebida, digamos, difícil. Talvez cercada de algumas lendas e mistérios. Para dar uma boa embasada neste raciocínio, vamos lembrar que as primeiras vinificações ocorreram milênios atrás, na era que chamamos de “antes de Cristo”. Muito depois, coube a Igreja associar a cor da nossa bebida ao sangue de Cristo, tornando-a muito simbólica e, quem sabe, iniciando uma era de (desnecessárias) complicações.

À medida que o mundo foi se civilizando, que vem de “civil”, só para lembrar, em cada lugar onde vinhos eram produzidos começam a surgir normas, regulamentos, impedimentos, taxas e, no limite, proibições.

Somos os culpados! Para agravar, nem todo Enófilo tem um tempo disponível para pesquisar este desenrolar histórico e achar brechas que, pelo menos, tornem o ato de comprar e degustar um vinho em algo agradável e fácil de desfrutar.

A atitude mais comum é nos apegarmos a algumas certezas e não nos afastarmos destes portos seguros sob nenhuma hipótese: compramos sempre o mesmo vinho, no mesmo local. Nada pode mudar e acreditamos que o risco de dar errado é grande.

Monótono e restritivo. Ficamos presos a um círculo vicioso.

O mercado de vinhos é muito dinâmico. Por exemplo, aquele “grande vinho” de alguns anos atrás, hoje, por razões mercadológicas, passou a ser o menos importante da vinícola. Acreditem, é mais comum do que se possa imaginar.

A nossa primeira dica para desenrolar este novelo é muito simples: façam amizade com as pessoas que lhes vendem suas garrafas. Eles sempre serão a melhor forma de obter informações detalhadas sobre o que vale a pena ou não. E não fiquem com uma só, escolham mais fornecedores e cultivem este tipo de conversa.

A segunda se resume em uma palavrinha: experimentem!

Já existe uma boa oferta de bares de vinho no nosso país, além da opção de vinho em taça nos bons restaurantes (embora o preço nem sempre seja competitivo). Esta sugestão vale para tipos de vinhos, castas, regiões produtoras, taças e até inusitadas formas de harmonizar vinho e comida.

Se Malbec argentino é o foco, experimentem as versões chilenas, francesas e americanas. Se a preferência recai sobre “vinhos argentinos”, está na hora de fugir do Malbec e partir para Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon ou a exótica Criolla Chica (País, Mission) a casta vinífera mais antiga do continente. Claro, incluam alguns brancos. Um belo Chardonnay do país vizinho entrou na lista dos Top 10 do mundo na sua categoria.

Há muito o que descobrir. Ficar sentado olhando para os rótulos de sempre não ajuda em nada.

A última sugestão é fazer uma extravagância de vez em quando. As opções são muitas começando com um belo espumante a troca de nada. Se for um Champagne é ainda melhor. Simplesmente abram e desfrutem, não precisa de uma desculpa. Garantimos que vão descobrir novos prazeres.

Outra bela extravagância é visitar uma vinícola. No Brasil elas já existem “de norte a sul”, a grande maioria com belos programas turísticos que passeiam desde pequenas degustações guiadas, passam por oficinas de degustação ou de elaboração de cortes de vinhos até elaboradas refeições harmonizadas, com direito a aulinhas com Chefs e Sommeliers.

Se o bolso permitir, vá para um grande país produtor e tomem um banho de cultura vínica. Argentina, Chile e Uruguai dão show neste setor. Na Europa, Portugal e Espanha estão acima da média principalmente pela proximidade dos idiomas. Mas não podemos deixar de lado Itália e França. Aprender e se divertir.

O vinho nunca mais será o mesmo, literalmente.

Saúde e bons vinhos!

CRÉDITOS:

Foto por Pixabay.

2 Comments

  1. Ronald Sharp Jr

    Fantástico!!!

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