Esta é uma pergunta constante na vida de apreciadores de vinhos. Quem já não passou por uma situação semelhante: recebemos uma velha garrafa de presente, provavelmente guardada pelo avô ou pai de um amigo.

O rótulo já se despedaçou, deixando poucas informações disponíveis, há poeira e mofo por todos os lados e outros sinais de que algo pode estar muito errado. Como ter certeza?

Dois caminhos são possíveis, o primeiro é um extenso e cuidadoso exame visual, antes de sacar a rolha. O outro será provar este vinho, caso tenha sido aprovado nos primeiros passos.

Antes de qualquer coisa, façam uma higienização da toda a garrafa, preservando, ao máximo, qualquer informação que possa se obter, seja do que sobrou do rótulo, ou da cápsula que protege a rolha: Nome do vinho, safra, vinícola e até mesmo o importador, se for o caso.

Em seguida vamos colocar a garrafa contra uma luz bem forte e tentar enxergar o conteúdo. Isto vale para tintos e brancos. Líquidos opacos, sólidos em suspensão, nível baixo no gargalo (ullage), rolha ligeiramente alta (vejam foto) e até vazamentos são indicadores de que o vinho pode estar ruim.

Há exceções. Uma clássica são os vinhos de guarda, como os Barolos, os Brunellos, os de Bordeaux e alguns outros. Foram elaborados para serem guardados e apreciados após um longo período de repouso, 10 a 20 anos …

Tudo vai mudar num vinho como estes: a cor fica mais opaca, haverá sólidos em suspensão e o nível de líquido no gargalo pode ficar ligeiramente mais baixo. Neste caso, tudo ainda dentro do esperado. A dúvida só será desfeita no momento da prova.

Já se estes problemas aparecerem num vinho que foi elaborado para consumo imediato, é problema na certa. Estes produtos não foram pensados para serem adegados por muito tempo, 1 ou 2 anos no máximo. Para fecharem estas garrafas, rolhas de qualidade inferior são utilizadas, em oposição às de primeira qualidade usadas nos grandes vinhos.

O grande inimigo, de qualquer vinho, antes de ser aberto, é a entrada de ar falsa que pode oxidar ou avinagrar a bebida. Uma rolha ruim também pode contaminar um vinho com TCA (tricloroanisol), que apresenta um característico olor de papelão molhado. Em francês, “vin bouchoné”.

Um último indicador a ser observado é a presença de bolhas num vinho tranquilo. Indica que houve uma segunda e indesejável fermentação. Provavelmente as condições de higiene da cantina que o elaborou não eram as melhores. Descartem.

A segunda parte deste exame implica na abertura da garrafa. Neste momento, qualquer aroma estranho significa que o vinho deve ser descartado: mofo, vinagre, fósforo queimado, aromas de estábulos, cheiro de madeira muito forte, odores adocicados e fora de contexto, entre outros.

Uma pequena quantidade deve ser servida numa taça para novo exame visual: as cores devem ter algum brilho, mesmo em vinhos muito velhos. Coloração muito puxada para o atijolado, nos tintos, ou âmbar, nos brancos, podem indicar que o vinho chegou no fim de sua vida útil.

Provar este vinho é a última etapa. Mesmo com estes defeitos, não é algo que vá nos prejudicar. Apenas os sabores serão muito ruins. Por segurança, provem um pequeno gole, deixem passear pela boca e descartem, sem engolir.

O que esperar?

Eis uma pequena lista de possíveis sabores:

Azedo, como num vinagre; verniz de unha; muito madeirado ou caramelizado; picante como raiz forte.

Em condições normais, estes vinhos são candidatos a serem descartados. Eventualmente podem ser usados para temperar carnes, se o sabor não for muito desagradável.

Outra forma de usá-los é abrir uma garrafa boa e fazer uma comparação direta. Muito instrutivo e ótima forma de treinar nossos sentidos.

Saúde e bons vinhos!

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