Mais um mito, moderno, aceito por enófilos apaixonados. Este foi criado pelo fabricante de taças de cristal Riedel, em 1973.
Claus Riedel, em busca de aumentar o volume de vendas, desenvolveu uma linha de taças denominada Sommelier com 10 modelos diferentes, projetados de acordo com o caráter de determinados vinhos. Nascia a ideia das taças específicas. Atualmente o seu sucessor na empresa, Georg Riedel, se encarrega de manter viva esta ideia, viajando o mundo com uma interessante apresentação midiática que causa grande impacto: uma degustação feita nestas taças exclusivas. Quem já participou sai convencido que elas melhoram o vinho…
Grandes nomes endossam esta afirmação, entre eles Robert Parker: “O efeito que a taça exerce sobre um vinho fino é profundo”; ou o crítico francês Michael Bettane: “as taças de Riedel permitem que apreciemos os melhores vinhos do mundo com todas as suas nuances de aromas e sabores”.
Mas nem todo o mundo se convenceu disto e alguns grupos de pesquisadores se dedicaram a descobrir o quanto de ciência existe neste fato. O resultado não chega a ser surpreendente, mas traz o vinho de volta ao papel principal, temporariamente ocupado pela taça. A melhor síntese disto tudo esta nesta frase:
“O que importa é o vinho e não o cristal.” (o resto é puro marketing…)
Em 2004 a Gourmet Magazine publicou um artigo apresentando os resultados de pesquisas realizadas na Europa e nos Estados Unidos, sugerindo que as alegações de Riedel eram infundadas (cientificamente). Segundo a psicóloga Dra. Linda Bartoshuk, da Universidade de Yale, “O cérebro não se importa de onde está vindo o sabor que se sente na boca, e a comunidade científica sabe disto há pelo menos 30 anos”.
Duas outras pesquisadoras, Jeannine Delwiche e Marcia Pelchat, do “Monell Chemical Senses Center” realizaram um extenso trabalho que foi publicado no “Journal of Sensory Studies” (Jornal de Estudos Sensoriais – http://www.tastingscience.info/publications/Glass_shape.pdf), envolvendo quatro tipos diferentes de taças: um copo para água de formato quadrado, uma taça comum de vidro como as usadas nos restaurantes, uma taça Riedel para Chardonnay e outra para Bordeaux. 
Para reduzir qualquer influência dos formatos na pesquisa, foi criada uma estrutura de apoio, como a da foto abaixo, copiada do relatório final:
O teste era “às cegas”, cada participante recebia uma máscara opaca e as taças eram mantidas em distâncias constantes do nariz de cada voluntário. Um sistema de vórtice de baixa velocidade garantia uma suave agitação do vinho, simulando o movimento feito habitualmente ao se girar a taça.
Os resultados derrubaram a teoria de Riedel. Segundo o artigo mencionado: “Com relação à intensidade dos atributos testados não foram encontradas diferenças significativas entre as diferentes taças”. Houve um curioso resultado secundário: quando a taça para Bordeaux foi testada, os aromas foram considerados como “menos intensos”. Este resultado foi atribuído ao fato desta taça ser mais alta que as demais.
Nenhum estudo pode ser considerado como definitivo. Em 2012, num artigo publicado no New York Times, o jornalista Eric Pfanner escreveu: “Apesar de conhecer as pesquisas que questionam a validade desta tese, as taças Riedel parecem deixar o vinho melhor”.
A explicação pode estar ligada a algumas questões psicológicas, como já comentamos numa coluna anterior. (O que estamos bebendo …)
Uma boa explicação seria: “Taças de fino cristal podem tornar qualquer bebida melhor, por que são bonitas, delicadas, caras e por que temos a expectativa que vão melhorar o vinho”.
Difícil decisão!
O tema taças ou copos não tem fim. Um grupo de estudantes franceses de design, preocupados com a lenda que se deve beber um copo de água para cada copo de vinho degustado, desenvolveu um curioso conjunto de taça/copo encaixados, como na foto:
Engenhoso, pode ser segurado com uma única mão, facilitando o consumo de um ou outro. A pegadinha fica por conta da conhecida lenda que afirma que proporção de água mencionada manteria a hidratação do corpo diminuindo os efeitos da ressaca.
Não é bem assim. No livro “Proof: Science of Booze”, literalmente “Prova: Ciência da Birita”, o autor Adam Rogers explica que nenhuma pesquisa acadêmica sobre a ressaca conseguiu demonstrar que a desidratação ou níveis baixos de eletrólitos seriam a causa deste desagradável mal-estar.
Este inovador conjunto ainda não é o remédio miraculoso.
Dica da Semana:  vamos para o Alentejo, sem ressacas e com a taça certa…
Cortes de Cima
Um corte de Aragonez, Syrah e Trincadeira que estagiou por 12 meses em barricas de carvalho francês.
Apresenta aroma de frutos maduros e notas florais bem integradas, eucalipto e noz moscada.
No palato tem bom corpo, é macio, cheio e redondo, rico em fruto e sabores de chocolate e carvalho, bem equilibrado com taninos maduros.