Categoria: O mundo dos vinhos (Page 3 of 68)

Como começar no mundo do vinho?

Existem várias respostas para esta pergunta, bem comum, aliás. A mais óbvia seria se inscrever num curso ou oficina sobre o tema. Há vantagens e desvantagens nesta sugestão: cursos são genéricos e abrangentes e os instrutores nem sempre podem se dedicar a um aluno somente.

Existem outros caminhos que podem ser seguidos. Um deles é muito interessante e consiste em associarmos os sabores aos quais estamos acostumados, por exemplo, café, cerveja, outras bebidas alcoólicas, com vinhos que nos transmitam sensações similares.

A mais popular bebida brasileira é um bom começo. Partindo de algumas formas básicas de preparar um cafezinho, podemos explorar diversas possibilidades. Para começar, responda esta questão básica:

Qual a sua xícara preferida?

Se for um belo e encorpado expresso, a nossa indicação são vinhos bem encorpados como um Cabernet Sauvignon ou um Malbec de primeira linha.

Vamos deixar claro uma coisa: não são sabores iguais, embora seja possível identificar notas de café num vinho que passou por madeira. O que vai tornar esta “semelhança” interessante é o peso da bebida na boca, no nosso jargão, o corpo.

Se a sua preferência for uma das mil variações do nosso café com leite, capuccino, flat White, latte etc., o caminho serão os brancos leves, como um Chardonnay que não foi barricado. Para os que preferem um “pingado”, basta seguir a trilha dos brancos que passaram por conversão malolática, deixando aquelas deliciosas sensações cremosas, como as de laticínios,  em evidência.

Para os aficionados pelas cervejas e até mesmo a turma dos refrigerantes, o caminho é o dos frisantes e espumantes. Se quiser ficar dentro da vibe mais recente, não deixem de experimentar um Pet-Nat.

Para alguém da turma que aprecia coquetéis diversos, precisamos de mais informações: qual o estilo que mais lhe agrada.

Misturas mais secas e com notas cítricas, as chances de um Sauvignon Blanc cair no seu gosto é enorme. Ou, quem sabe, um Alvarinho ou um Loureiro, tradicionais vinhos verdes da terrinha, não sejam uma boa escolha?

Se o coquetel for mais adocicado, o ideal seria experimentar um rosado ou o tradicional Pinot Noir. Se for o caso, o Beaujolais Nouveau pode ser bem interessante, mas é um vinho de temporada.

Por último, se você não se encaixou em nenhuma destas categorias, ainda assim temos uma indicação: Pinot Grigio. Um vinho leve, com fama indevida de ser pouco aromático e saboroso, não compartilhada com sua contraparte francesa, o Pinot Gris. Com baixo teor alcoólico e corpo leve é uma ótima primeira experiência.

O que acontece se uma desta opções servir?

A primeira atitude é um conselho que sempre passamos neste blog: anote tudo – nome do vinho, a/as uvas, o produtor e a região. Com estes dados em mãos, na próxima vez que for a um mercado ou loja de vinhos, peça ajuda ao Sommelier para encontrar vinhos semelhantes.

Teste e continue testando e nunca se conforme com a sua “zona de conforto”. A grande diversão deste mundo dos vinhos é encontrar novos caminhos, sempre.

Saúde e bons vinhos!

CRÉDITOS: imagem de pch.vector no Freepik

Como identificar um vinho estragado

Esta é uma pergunta constante na vida de apreciadores de vinhos. Quem já não passou por uma situação semelhante: recebemos uma velha garrafa de presente, provavelmente guardada pelo avô ou pai de um amigo.

O rótulo já se despedaçou, deixando poucas informações disponíveis, há poeira e mofo por todos os lados e outros sinais de que algo pode estar muito errado. Como ter certeza?

Dois caminhos são possíveis, o primeiro é um extenso e cuidadoso exame visual, antes de sacar a rolha. O outro será provar este vinho, caso tenha sido aprovado nos primeiros passos.

Antes de qualquer coisa, façam uma higienização da toda a garrafa, preservando, ao máximo, qualquer informação que possa se obter, seja do que sobrou do rótulo, ou da cápsula que protege a rolha: Nome do vinho, safra, vinícola e até mesmo o importador, se for o caso.

Em seguida vamos colocar a garrafa contra uma luz bem forte e tentar enxergar o conteúdo. Isto vale para tintos e brancos. Líquidos opacos, sólidos em suspensão, nível baixo no gargalo (ullage), rolha ligeiramente alta (vejam foto) e até vazamentos são indicadores de que o vinho pode estar ruim.

Há exceções. Uma clássica são os vinhos de guarda, como os Barolos, os Brunellos, os de Bordeaux e alguns outros. Foram elaborados para serem guardados e apreciados após um longo período de repouso, 10 a 20 anos …

Tudo vai mudar num vinho como estes: a cor fica mais opaca, haverá sólidos em suspensão e o nível de líquido no gargalo pode ficar ligeiramente mais baixo. Neste caso, tudo ainda dentro do esperado. A dúvida só será desfeita no momento da prova.

Já se estes problemas aparecerem num vinho que foi elaborado para consumo imediato, é problema na certa. Estes produtos não foram pensados para serem adegados por muito tempo, 1 ou 2 anos no máximo. Para fecharem estas garrafas, rolhas de qualidade inferior são utilizadas, em oposição às de primeira qualidade usadas nos grandes vinhos.

O grande inimigo, de qualquer vinho, antes de ser aberto, é a entrada de ar falsa que pode oxidar ou avinagrar a bebida. Uma rolha ruim também pode contaminar um vinho com TCA (tricloroanisol), que apresenta um característico olor de papelão molhado. Em francês, “vin bouchoné”.

Um último indicador a ser observado é a presença de bolhas num vinho tranquilo. Indica que houve uma segunda e indesejável fermentação. Provavelmente as condições de higiene da cantina que o elaborou não eram as melhores. Descartem.

A segunda parte deste exame implica na abertura da garrafa. Neste momento, qualquer aroma estranho significa que o vinho deve ser descartado: mofo, vinagre, fósforo queimado, aromas de estábulos, cheiro de madeira muito forte, odores adocicados e fora de contexto, entre outros.

Uma pequena quantidade deve ser servida numa taça para novo exame visual: as cores devem ter algum brilho, mesmo em vinhos muito velhos. Coloração muito puxada para o atijolado, nos tintos, ou âmbar, nos brancos, podem indicar que o vinho chegou no fim de sua vida útil.

Provar este vinho é a última etapa. Mesmo com estes defeitos, não é algo que vá nos prejudicar. Apenas os sabores serão muito ruins. Por segurança, provem um pequeno gole, deixem passear pela boca e descartem, sem engolir.

O que esperar?

Eis uma pequena lista de possíveis sabores:

Azedo, como num vinagre; verniz de unha; muito madeirado ou caramelizado; picante como raiz forte.

Em condições normais, estes vinhos são candidatos a serem descartados. Eventualmente podem ser usados para temperar carnes, se o sabor não for muito desagradável.

Outra forma de usá-los é abrir uma garrafa boa e fazer uma comparação direta. Muito instrutivo e ótima forma de treinar nossos sentidos.

Saúde e bons vinhos!

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Neste carnaval, “Melvin” é a bebida ideal

Para quem a ficha ainda não caiu, “Melvin” é uma bebida refrescante obtida a partir da combinação de melão com vinho.

Originária da Espanha, esta deliciosa combinação foi “chilenizada” e tornou-se muito popular, a ponto de ter o seu próprio dia festivo, 15 de janeiro.

A vizinha Argentina também adotou o “melon con vino” e o incorporou a cultura do campo: é servido de forma comunitária, como se fosse um chimarrão. (cada um com seu canudinho)

Preparar esta delícia não é difícil e a receita básica, que apresentamos a seguir, pode ser adaptada facilmente.

A primeira e mais importante escolha é o melão. Tradicionalmente do “Honey Dew” é o preferido, com o “Cantaloupe” como segunda opção.. Nada impede que outros tipos desta deliciosa fruta sejam utilizados.

O importante é que esteja bem maduro, doce e aromático.

O vinho preferido é um Sauvignon Blanc chileno. Optem por vinhos mais aromáticos e com um corpo médio, caso contrário, o gosto do melão vai sobressair e o vinho desaparece.

O terceiro e último ingrediente é açúcar de confeiteiro, a gosto.

Como fazer:

1 – Coloquem o melão e o vinho na geladeira por, pelo menos, duas horas. O ideal é gelar de véspera. Quanto mais frio, melhor:

2 – Cortem uma “tampinha” no fundo do melão, para dar estabilidade e abram a fruta na parte superior, como na imagem acima;

3 – Com uma colher retirem as sementes e descartem. Continuem escavando a polpa, colocando tudo numa tigela. Cuidado para não furar a casca;

4 – Piquem a polpa escavada em pedaços pequenos e salpiquem (ou não) com o açúcar. Misture delicadamente e deixem repousar por um tempo. Uma variação interessante é acrescentar uma banana madura, bem picada;

5 – Recoloquem parte da polpa de volta no melão e cubram com o vinho branco. Reservem a parte que sobrou para um refil;

6 – Espetem 1 ou mais canudos e se deliciem. A ideia é ir passando o melão de mão em mão.

Uma variação interessante é usar o melão apenas como uma poncheira. Com cuidado, retirem parte da bebida e sirvam em taças de boca larga.

Um truque muito usado no Chile é ter vários melões e usar um vinho em caixa.

Pena que não dá para levar no bloco, mas…

Para estes casos, prefiram os vinhos em lata, inclusive espumantes. Sigam o mesmo protocolo de uma cerveja em lata. Já existem várias marcas disponíveis no nosso mercado, nacionais e importadas.

Saúde, bons vinhos e um ótimo carnaval!

Que vinho eu levo?

Sempre que somos convidados para a casa de um amigo, não devemos chegar lá “de mãos abanando”. Mesmo que sejam companheiros de longa data, o gesto de levar um presente sempre será bem visto.

Presentear com uma garrafa de vinho está virando um hábito. Para não errar na escolha é preciso avaliar uma série de pequenos detalhes, nem sempre lembrados.

“Que vinho eu levo” se torna uma questão complexa e com múltiplas opções. Para simplificar, existem duas possibilidades que devem ser consideradas, a partir de a uma simples resposta:

Foi sugerido que fosse levado um vinho?

Se a resposta for negativa e, mesmo assim, levamos um vinho, ele automaticamente se torna um presente e não há, por parte do dono da casa, nenhuma obrigação de servi-lo.

Para escolher este vinho existem parâmetros que podem ajudar.

Levem um vinho que vocês gostem e que já tenha sido provado e aprovado pelo seu grupo de amigos. É uma opção segura. Prefiram vinhos que possam ser adegados, dando a chance de serem degustados numa futura reunião. Optem por vinhos tranquilos sempre que possível, reservando os espumantes para comemorações mais marcantes.

A segunda situação ocorre quando somos instados a levar um vinho, na maioria das vezes, um que que será sugerido pelo anfitrião.

Esta informação deve ser a mais completa possível, por exemplo, incluindo o que será servido. A menos que um rótulo específico seja mencionado, sempre há algum espaço para fazermos a nossa escolha.

Para um jantar, algo mais formal, onde carnes serão servidas, a escolha será um bom tinto. Prefiram vinhos mais jovens e de consumo imediato: Malbec, Tannat e Cabernet, de origem sul-americana, sempre agradam.

Para um almoço com base em peixes e frutos do mar prefiram os brancos e rosados. Além do tradicional Sauvignon Blanc chileno e do bom Chardonnay argentino, esta relação deve incluir brancos portugueses como Alvarinho (vinho verde), Arinto e Maria Gomes, ou os italianos Pinot Grigio e Verdicchio.

Os rosados de origem espanhola seja de Tempranillo ou Garnacha são estupendos.

Levem gelados, não se esqueçam.

Espumantes são como coringas e se adaptam a qualquer situação. Os elaborados no Brasil são de alta qualidade e têm preços muito competitivos. Para inovar, optem por um Pet-Nat, também brasileiro. Há muitas opções à venda.

Neste caso, a nossa recomendação é que o espumante seja usado para abrir a degustação, preparando o paladar para os demais vinhos que serão levados por outros convidados.

Saúde e bons vinhos!

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Imagem de 8photo no Freepik

A influência do rótulo no paladar

Não é fácil, mesmo para um grande vinho, se destacar entre os milhares de rótulos que são disponibilizados nos supermercados e lojas especializadas.

Escritórios de design são contratados para projetar etiquetas que atraiam o olhar do consumidor no meio das intermináveis filas de garrafas justapostas. Até os nomes são pensados como ferramentas de marketing.

Assim como as bulas de medicamentos, os contrarrótulos também são elaborados e redigidos por especialistas em passar, ao consumidor, uma ideia sobre o que ele vai degustar.

Esta é uma técnica de convencimento muito conhecida dos profissionais de publicidade, em geral. Faça com que o cliente pense num tema, sugerindo justamente o oposto, por exemplo: “nem pense nisso!”.

Pronto, está feita a armadilha. Nosso cérebro vai ficar constantemente preocupado com a razão do “não pense nisso”, não dando espaço para outras coisas.

É isto que acontece com o consumidor quando lê uma descrição do tipo “aromas de frutas silvestres, notas cítricas, paladar cremoso e retrogosto marcante. Harmoniza com tais alimentos”.

Uma vez induzida a ideia, fica difícil fugir da tentação de procurar estas características, em detrimento das outras que nos seriam mais óbvias. Há muito que aprender num momento como este.

Degustar um vinho pode ser cheio de rituais ou apenas uma coisa simples. Tudo depende da importância que cada um vai dar a este momento.

Aqueles que bebem vinho apenas para passar uma imagem, não sendo verdadeiros apreciadores, são sempre os mais vulneráveis a este tipo de influência. Enófilos experimentados têm uma atitude bem diferente, preferindo confrontar suas próprias observações com as do elaborado contrarrótulo.

Leva tempo para chegar lá, mas não é uma impossibilidade. Encontrar, ou não, descritores do vinho não deve ser visto como uma obrigação, mas como um prazer, algo que vai nos enriquecer naquele momento.

Alguns nunca vão conseguir, mesmo treinando olfato e paladar, outros parecem que nasceram com um dom e, se não tomarem cuidado, acabam se tornando uns enochatos, por excesso.

Para dominar esta técnica e não se deixar influenciar, é necessário calma e paciência antes de qualquer coisa. Nunca se percebe tudo que um vinho está nos apresentando, num primeiro encontro. Muitas vezes temos que “procurar” por aromas e sabores, estimulando o vinho a entregá-los, seja agitando o líquido ou mudando, levemente, a sua temperatura.

Um segundo fator, muito importante, é a limitação de nossa memória olfativa/degustativa: não tentem encontrar sabor de alcaçuz se vocês nunca provaram esta especiaria. Não tomem como uma limitação. Se aquele marcante aroma/sabor lhes sugere um outro nome, é este que deve ser usado, talvez seja uma experiência única e valiosa!

Não existem regras universais para o que cada indivíduo percebe no olfato e no paladar.

Criem suas próprias observações e habituem-se a discuti-las com os amigos. Todos vão ganhar e, aos poucos, a sensação de segurança sobre o que está sendo provado vai aumentando.

Começa a ficar óbvio o que deve ser consumido com este ou aquele vinho, fica mais fácil presentear os queridos amigos com base no gosto de cada um e muito mais.

Um dia, voltem a ler os tais contrarrótulos descritivos e vejam se “conferem”.

Vai ser uma tremenda experiência.

Saúde e bons vinhos!

CRÉDITOS:

Imagem de Kerstin Riemer por Pixabay

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