Mês: fevereiro 2012

Os Grandes Vinhos do Mundo – Argentina – 2ª parte

O Enólogo e Consultor Paul Hobbs tem uma história muito interessante. Um dos seus mentores foi o respeitado Robert Mondavi, com quem trabalhou de 1978 até 1984. O ponto alto foi participar da vinificação do grande vinho Opus One, realizado em associação com o Barão Philippe de Rothschild. Em 1985, quando trabalhava para um braço norte americano da Louis Vuitton-Moët Hennessy, a vinícola Simi, foi convidado para prestar consultoria para Nicolás Catena. Apesar de ter realizado este trabalho num período de férias, seu empregador não ficou satisfeito com este desvio de rota, insinuando que ele estaria passando informações para um concorrente. Pressionado, Hobbs optou por tornar-se independente, uma opção muito arriscada na época. Nem seus professores na Universidade de Davis aprovavam tal decisão. 
Ao ser questionado sobre porque ir para a Argentina – lá é muito quente! você só vai produzir zurrapas! diziam, Hobbs respondia com uma desconcertante simplicidade: os vinhedos são tão bonitos e as uvas deliciosas…. A decisão se mostrou acertada. Nicolás Catena foi mais que um patrão. Além de proporcionar a estratégia e os meios necessários, lhe deu total liberdade para experimentar. Hobbs sabia que existia um enorme potencial ali. Sua personalidade inquieta, sempre em busca de maiores desafios, fez com que em 1991, Catena lhe ajudasse a montar sua própria vinícola nos EUA, a Paul Hobbs Winery. Um investimento de alto risco. Naquele ano, a Filoxera havia voltado com força total na Califórnia e ninguém queria arriscar um centavo que fosse numa nova vinícola, exceto Catena. Hoje, esta empresa é um sucesso, produzindo vinhos fantásticos. 
Uma nova mudança aconteceria em 1998 quando um simpático casal de argentinos, Andrea Marchiori e Luis Barraud, o procurou na Califórnia para que os assessorassem num novo empreendimento. Apaixonado por Mendoza, Hobbs associou-se a eles e fundou a Viña Cobos, uma vinícola Super Premium, com vinhos de alta qualidade e pequenas produções.  

O nome é uma homenagem ao imigrante espanhol Juan Francisco Cobos. Coube a ele solicitar, ao reino de Espanha, sementes de álamo, a árvore emblemática de Mendoza. 
O principal vinho é o inacreditável Cobos Malbec, indiscutivelmente o melhor varietal produzido com esta casta. Sua vinificação só é feita em safras consideradas excepcionais. Os frutos são obtidos no vinhedo Marchiori, que pertence à família de Andrea. Com um terroir característico da região de Pedriel, nos pés dos Andes, situado a 995m de altitude, suas parreiras, com mais de 80 anos de idade, produzem frutos no ponto certo de amadurecimento e ligeiramente ácidos, permitindo uma produção de alto nível. 

O processo de vinificação é de um cuidado surpreendente. As uvas são selecionadas uma a uma, por equipes predominantemente femininas (são mais cuidadosas). 

Para a obtenção do mosto, as uvas não são prensadas, mas empilhadas num equipamento e deixadas sob a ação do próprio peso. Um método semelhante ao empregado na obtenção do Tokaj Essenzia. Isto significa um rendimento ultrabaixo. Após a extração deste primeiro sumo, as uvas serão prensadas para a obtenção de outros vinhos. Para o Cobos, só o melhor! 

Na fermentação e maceração são usados métodos naturais em tanques de aço inox com temperatura controlada. O processo todo dura cerca de 30 dias. O envelhecimento é feito em barris novos, de carvalho francês, por 18 meses. Passa por fermentação malolática (transformação do ácido málico em ácido lático = melhor qualidade) em barricas, durante 8 meses, para sua finalização. Não é filtrado e nem clarificado antes de ser engarrafado, onde permanecerá por mais um ano até de ser comercializado. 

A safra de 2006 obteve 99 pontos do rigoroso Robert Parker (Wine Advocate), tornando-se o vinho argentino de maior pontuação até o momento. Só para lembrar, vinho da semana passada conseguiu 98+ em sua melhor safra. Abaixo um resumo das notas obtidas: 
1999 – Wine Advocate 95pts 
2002 – Wine Advocate 96pts 
2003 – Wine Advocate 97pts 
2004 – Wine Advocate 98pts 
2005 – Wine Advocate 98pts 
2006 – Wine Advocate 99pts 
2007 – Wine Advocate 95pts 
2008 – Wine Advocate 95pts 

Notas de degustação safra 2008 
Coloração violácea profunda com reflexos azulados. Destacam-se os aromas de ameixas, mirtilo e (flor) de nogueira. No palato se mostra voluptuoso, encorpado com intensidade e estrutura nobre. Surpreende por seus taninos polidos e sabores de doce de leite, frutos do bosque, cravo da Índia e grãos de café. Um vinho perfeito para alta gastronomia ou para simplesmente pensar na vida. 
Existe um senão: caríssimo, quase R$ 1.000,00 na Grand Cru, seu importador exclusivo. (em 2012)

Qual é o melhor vinho argentino afinal? Escolha Impossível. Como diria um francês, entre les deux mon coeur balance. Para enfrentar esta dura concorrência, apresentaremos mais alguns protagonistas de peso na próxima coluna. 

Dica da Semana: a Viña Cobos produz uma gama de vinhos, em três linhas, todos de excelente qualidade. Escolhemos o chamado produto de entrada, a linha mais em conta. 

Cobos Felino Malbec 2010 
País: Argentina / Luján de Cuyo – Mendoza 
Casta: 100% Malbec 
Envelhecimento: 9 meses em barricas de carvalho. Pode ser guardado por 8 anos. Reflete características argentinas, pelas mãos do casal Andréa Marchiori e Luis Barraud, e californianas, seguindo o estilo de Paul Hobbs. Violeta intenso com reflexos azulados. Notas de pimenta e licor de cerejas. Corpulento, possui taninos marcantes. Harmoniza com carnes e pratos condimentados.

Os Grandes Vinhos do Mundo: Argentina – 1ª parte

A tradição faz a diferença 
A história do vinho neste país começa em 1556 quando o padre Jesuíta Juan Cedrón trouxe mudas das espécies País e Moscatel (Missiones), do vale central do Chile, plantando-as nas regiões que, mais tarde, seriam conhecidas como Mendoza e San Juan. Através de cruzamentos naturais, surgiria um clone conhecido por Criolla Chica, varietal utilizada nos vinhos argentinos por muitos anos e que promove um sabor típico que agrada ao argentino. A primeira vinícola, estabelecida pelos Jesuítas em 1557, ficava em Santiago del Estero. A expansão foi rápida principalmente devido à construção de diversos canais de irrigação para enfrentar o problema de escassez da água. Coube ao Governador da Província, Domingo Sarmiento, contratar o agrônomo francês Miguel Aimé Pouget e incumbi-lo de trazer mudas de castas europeias nobres para a região, entre elas, a hoje emblemática Malbec. 

A construção de uma ferrovia ligando a Buenos Aires e a mão de obra dos emigrantes europeus que fugiam da Filoxera são outros fatores que potencializaram esta indústria. Com um clima semelhante ao do vizinho Chile e protegida das pragas conhecidas, tornou-se outro porto seguro para uvas e vinhos, mas com uma importante diferença: 90% de sua produção eram comercializados no mercado interno – vinhos simples de castas não europeias. 
Esta filosofia de privilegiar a quantidade em lugar da qualidade perdurou até os anos 90. A Argentina sempre foi o maior produtor de vinhos fora da Europa, com um consumo per capita de 46 litros por ano. Mas era um exportador medíocre, seus vinhos não eram respeitados internacionalmente. 
Impressionado com a indústria californiana de vinhos, Nicolás Catena Zapata, professor visitante de economia, na Universidade de Berkeley, decidiu melhorar os produtos da velha Bodega Esmeralda, de sua família. Na sua volta a Mendoza, introduziu diversas modificações no sistema produtivo vigente: queria produzir vinhos finos de qualidade. Com a consultoria do experiente enólogo californiano Paul Hobbs, provocou uma revolução incrível que está transformando a Argentina: será, em breve, o maior produtor de vinhos de qualidade de todo o planeta (se a instabilidade política do país não atrapalhar…). Catena foi chamado de “Loco” por todos, mas como já sabemos, estava certo. 

A primeira observação de Hobbs foi que o sistema de condução das parreiras do tipo pérgola não era irrigado de forma adequada. Pediu que usassem menos água para que os frutos concentrassem mais açúcar, adotando o sistema de gotejamento. Novos parreirais são plantados acima de 1000 metros de altitude, em busca de um amadurecimento perfeito. 
Apesar de ter como missão produzir um Chardonnay de estilo californiano, surpreendeu-se com uma uva para ele desconhecida, a Malbec. Catena deu-lhe total liberdade para experimentar. Recebe 10 barris novos de carvalho francês da tanoaria Taraunsaud e começa a vinificar com técnicas nunca usadas naquela região. Um sucesso espetacular! A Malbec deixava de ser uma uva secundária. 
O Mito e seu vinho icônico 
Nicolas Catena tornou-se um dos personagens mais importantes do mundo do vinho. Um revolucionário, corajoso e inovador. Um Mito. Para vinificar suas joias, construiu uma vinícola em forma de pirâmide Asteca, orientada no terreno de tal forma que, em determinada hora do dia, sua superfície brilha como ouro. Seus vinhos sempre foram de qualidade indiscutível e seus métodos acabaram sendo adotados por todos que o chamavam de louco. 

O resultado mais significatvo e importante foi o estabelecimento de um novo padrão de vinhos: o Malbec Argentino, que não é uma tentativa de ser um vinho do Velho Mundo. Um produto de tipicidade única e que chamou a atenção para este país. Catena havia criado algo novo, uma fusão de estilos que incorporava, inclusive, o antigo padrão argentino. 
Somente em 1997, num excepcional ano e depois de vários enólogos e consultores, consentiu em dar seu nome a um de seus vinhos, como um coroamento de sua ousada aventura: 

Nicolás Catena Zapata 1997 

Um corte de Cabernet Sauvignon e Malbec, fora de série, elaborado unicamente em anos selecionados. A primeira vinificação foi testada exaustivamente, na Europa e nos EUA, em provas às cegas, sendo comparado com os famosos Chateau Latour, Haut Brion, Solaia, Caymus e Opus One. Classificou-se 4 vezes em primeiro lugar e 1 vez em segundo. O melhor vinho da América do Sul e, sem dúvida, um dos melhores do mundo. 
Robert Parker: 98 pontos (safra 07) 
Robert Parker: 97 pontos (06) 
Wine Spectator: 93 pontos (06) 
Robert Parker: 98 pontos (05) 
Robert Parker: 98+ pontos (04) / Wine Spectator: 95 pontos (04) 
Decanter: 5 Estrelas (04)
A safra de 2007 é composta por Cabernet Sauvignon (65%) e Malbec (35%). Utilizaram frutos dos vinhedos La Pirámide, a 940m, Domingo, a 1.130m, Adrianna, a 1.400m e Altamira, a 1.160m de altitude. As uvas, de cada vinhedo e variedade, foram vinificadas separadamente, com controle de temperatura e maturadas por 26 meses em barricas novas de carvalho francês. 
Com uma coloração violeta escura e intensa, oferece aromas de cerejas negras, chocolate escuro e alcaçuz, com notas de minerais, violetas, pimentas e ervas. No palato mostra um vinho muito estruturado e equilibrado, com marcantes sabores de frutas vermelhas e alguma mineralidade. Um final de boca vibrante, intenso e longo. Pode ser guardado por mais de 10 anos. Harmoniza com carnes e alta gastronomia. 
O Futuro 
Mendoza não é a única região que produz vinhos na Argentina, embora seja a mais importante. Salta e a Patagônia, entre outras, vêm se destacando e atraindo investimentos estrangeiros importantes. Na família Catena Zapata, a segunda geração já se destaca: a filha Laura Catena, tem sua própria vinícola a Luca enquanto seu irmão, Ernesto Catena, dirige a vinícola Tikal. Ambos produzem vinhos espetaculares e de muita personalidade. 
Na próxima coluna, vamos conhecer um vinho que faz frente a este. Seu produtor? Paul Hobbs… 

Dica da Semana: A uva Torrontés deve ser a nova sensação entre os brancos. Tipicamente argentina, cai muito bem neste verão brasileiro. 

Tahuantinsuyu Torrontés 2009 
Produtor: Tikal (Ernesto Catena) 
País: Argentina / Mendoza 
Esta esperada novidade de Ernesto Catena promete conquistar quem ainda tinha dúvidas do potencial da uva Torrontés. Elaborado em um estilo mais denso e menos alcóolico que a maioria dos vinhos da casta, mostra o perfil aromático típico da uva, com exuberantes notas exóticas e de frutas maduras. No palato é saboroso e fresco, com uma boa pegada. 
Combinações: Frutos de mar. Peixes brancos. Saladas.

Os Grandes Vinhos do Mundo – Chile – Final

O preferido dos especialistas 
Embora a expressão agradar a Gregos e Troianos seja bem conhecida, não é tarefa fácil. Deveria ser precedida de “não se pode”…. Transportando esta mitologia para o real mundo dos vinhos, a nossa tarefa se torna hercúlea. Selecionar este terceiro vinho icônico chileno foi muito difícil. São tantos produtos de 1ª grandeza por lá que é fácil fazer uma grande injustiça, isto sem levar em conta o número de especialistas que foram consultados. Afinal, gosto é pessoal. 
Conheçam a Lapostole 
Esta é uma vinícola jovem, inaugurada em 1994 pelo casal francês, Alexandra Marnier Lapostolle e Cyril de Bournet. O sobrenome Marnier tem enorme tradição no ramo de bebidas, o famoso licor Grand Marnier é seu o carro chefe. Mas atuam na vinicultura dirigindo o Chateau de Sancerre no Vale do Loire.

Começaram com uma arquitetura espetacular, 370 hectares de vinhedos em 3 áreas, o que há de melhor em tecnologia e a consultoria de Michel Rolland. O objetivo era um só: produzir um vinho de caráter europeu nos excelentes terroirs do Chile. Está localizada na área de Apalta, Vale de Colchagua, próximo à cidade de Cunaco, a região mais valorizada para vinhos no país. 

Dentre os diversos rótulos produzidos, destaca-se o Clos Apalta, um inacreditável corte de 78% Carménère, 19% Cabernet Sauvignon e 3% Petit Verdot (safra 2009), que tem recebido altas pontuações dos grandes críticos. Sua produção é artesanal. Para preservar todo o potencial da fruta, as uvas são colhidas à noite e colocadas em caixas de 14 Kg no máximo. Na vinícola, são selecionadas e desengaçadas manualmente, mantendo o alto padrão de qualidade. Os pequenos tanques de fermentação, de carvalho francês, são preenchidos por gravidade. Não há pressa. Pacientemente se espera que os agentes naturais façam o seu trabalho transformando o mosto em vinho. Nada de químicas alienígenas aqui. A temperatura é mantida em 28° e a maceração dura entre 4 a 5 semanas, com remontas manuais para se extrair o máximo das cascas e sementes obtendo estrutura e concentração no produto final. O amadurecimento é feito por 24 meses em barris novos e não há filtragem antes de engarrafar. 

Um colosso de vinho, apaixonante! Sua produção é minúscula e somente é vinificado em anos excepcionais. 

Mas não é um vinho fácil. Para apreciá-lo corretamente é preciso entendê-lo e ter um paladar bem apurado. Com um potencial de guarda em torno de 10 anos, temos que esperar que ele fique pronto, não deve ser consumido jovem. Como na foto, decantá-lo é fundamental. 
Notas de degustação (safra 2009) 
Coloração escura entre o roxo e o vermelho. No olfato, apesar de jovem, já demonstra muita fruta vermelha madura, ameixas e cerejas, além de notas de figo seco e moca. Percebe-se facilmente, aromas de baunilha e cravo da índia no final. 
No palato, é um vinho muito estruturado, com um ataque de boca compacto e sedoso. Taninos domados e um surpreendente e longo retrogosto (não falei que era um vinho para os especialistas?). 
Harmonização: carnes do tipo contra-filé, ovinos e carne de caça. Ótima combinação com sobremesas ricas em chocolate amargo. 
Um único fator contra: é um vinho muito caro! (e muito falsificado…). 
Críticas recentes: 
Wine Spectator: 93 pontos (safra 08) 
Wine Enthusiast: 95 pontos (safra 08) 
Wine Spectator: 94 pontos (safra 06) 
Wine Spectator: 96 pontos (safra 05) 
Cometemos alguma injustiça? 
São tantos vinhos maravilhosos no Chile que fica difícil dizer que não. Esta escolha foi baseada em análises de vários profissionais da área. Mas o universo de vinhos deste país é imenso, sem falar nas diversas vinícolas-boutique que produzem vinhos fora de série em pequenas quantidades e, portanto, desconhecidos. Dois outros grandes produtores merecem ser citados: 
– Emiliana Vinhedos Orgânicos – outra associação da poderosa Concha y Toro, que produz o fabuloso Coyan; 
– Viña Montes – do internacionalmente respeitado vinhateiro Aurélio Montes que, entre várias delícias, produz o Purple Angel, um dos vinhos mais celebrados da atualidade. 
Sem dúvida o Chile merece uma nova visita.  

Dica da Semana: mais um bom chileno da mesma região do Clos Apalta. 

Montes Selección Limitada Cabernet/Carmenère 2010 
País: Chile / Apalta 
Produtor: Viña Montes 
Uva: Cabernet Sauvignon e Carménère 
Um sucesso constante. Envelhecido em barricas de carvalho americano, que conferem ao vinho um delicioso toque de baunilha. Segundo a revista Wine Spectator, é difícil não gostar deste vinho. Harmoniza com carnes grelhadas, cortes de ovinos e de caça. 
Robert Parker: 90 pontos (safra 09) 

Na próxima semana cruzaremos os Andes!

Os Grandes Vinhos do Mundo – Chile – 2ª parte

O Mais conhecido! 
O Chile é um país privilegiado para vinhedos e vinhos. Um solo muito fértil, um clima perfeito para o desenvolvimento das uvas, obtendo-se resultados inigualáveis. Devido à sua curiosa localização geográfica, uma estreita faixa de terra espremida entre os Andes e o Pacífico, ficou imune à maioria das pragas, principalmente a temida Filoxera. Não foi por acaso que se tornou uma espécie de santuário das parreiras, preservando espécies, muitas vezes em pé franco, que já não existem mais em qualquer outra parte do mundo. Talvez nem se saiba, até hoje, a real dimensão deste repositório. A qualquer momento podem surgir novas espécies dadas como extintas. 
O exemplo mais conhecido é o da Carménère, hoje a uva emblemática do país, que só foi identificada corretamente em 1994 graças a um meticuloso trabalho do ampelógrafo francês Professor Jean-Michel Boursiquot. Esta uva, hoje raríssima na Europa, é uma das 6 uvas originais de Bordeaux (Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Malbec e Petit Verdot), que foram enviadas para a América do Sul para evitar a temida praga. Mesmo depois de descoberto o sistema de enxertia, ela nunca foi replantada, provavelmente por ser suscetível à outra doença, a Coulure, moléstia que ataca os bagos das uvas logo que começam a florescer. Resultou num belo trunfo para os chilenos, provocando a chegada de importantes vinícolas europeias para ali vinificarem e recuperarem algumas destas verdadeiras joias. 

Uva Carménère 

Em 1997 a Concha y Toro se associou com a bordalesa Baron Philippe de Rothschild SA, para produzirem um vinho excepcional, o Almaviva, talvez o vinho chileno de alta gama mais conhecido internacionalmente. 

Para produzi-lo, construíram uma espetacular vinícola, na região de Puente Alto, próximo a Santiago. 

O Almaviva é um corte de Cabernet Sauvignon vinificado com as mesmas uvas e métodos utilizados na produção do Don Melchor, com vinificações independentes de Carménère, Cabernet Franc e Merlot em proporções que variam a cada safra. A de 2007, que está no mercado, declara: 64% Cabernet Sauvignon; 28% Carménère; 7% Cabernet Franc e 1% Merlot. A decisão final desta mistura é feita por um colegiado de enólogos, chilenos e franceses. Um verdadeiro e respeitado Corte Bordalês produzido fora da França. Talvez o único no gênero. 
De cor vermelha rubi profunda e intensa, revela aromas puros e delicados de groselha maduras, amoras e morangos silvestres, combinados com notas minerais e toques de baunilha, café, alcaçuz, e especiarias. No palato, mostra-se muito equilibrado, taninos firmes e excepcionalmente longos, maduros, refinados e concentrados, contribuindo para densidade e textura elegante. Harmoniosamente perfeito. Excelente! ($$$$) 
Ótimo para acompanhar carnes vermelhas, cordeiro, carne de porco, queijos duros e pratos condimentados. 

Dica da Semana: um chileno delicioso e bem mais palatável no bolso. 

Chocalan Reserva Cabernet Sauvignon 2010 
País: Chile / Valle del Maipo 
Produtor: Viña Chocalan 
Uvas: 85 % Cabernet Sauvignon, 8% Syrah, 5% Carménère e 2% Petit Verdot 
Vinho de cor rubi com tons violáceos. Aromas de frutas vermelhas frescas e um pouco de mentol. No palato amora, cassis, ameixas, cerejas pretas. Saboroso e bem equilibrado, com madeira bem integrada. Grata acidez, bom volume e um final longo. Ideal para acompanhar queijo emmental e brie, carne de boi, carneiro, porco, veados e javalis, ou simplesmente com empanadas. 

Na próxima semana, o chileno predileto dos especialistas.

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