Mês: fevereiro 2018

A Evolução do Vinho Argentino

Numa recente reunião enológica, alguém comentou sobre a importância das famosas “uvas emblemáticas”, como um atestado de qualidade para os vinhos de diversos países que se apoiam nesta estratégia de mercado.

Isto nem sempre é verdadeiro, e talvez nem seja o melhor caminho para países produtores do Novo Mundo. O Zinfandel norte-americano, o Carménère chileno, o Tannat uruguaio e o inconfundível Malbec argentino, já estão perto de atingir, ou já atingiram seu potencial como vinhos varietais.

Novos caminhos precisam ser descobertos.

Vinhos de corte são os ícones do Velho Mundo, Bordeaux se destacando indiscutivelmente e influenciando Enólogos de todos os cantos do mundo com o estilo do Corte Bordalês.

Misturar vinhos não é uma tarefa simples, envolve ciência e uma boa dose de arte ou intuição. Não é, e nunca será, um produto de laboratório. Tudo que a tecnologia pode oferecer se limita aos níveis alcoólicos, Ph, taninos, acidez e outras características físicas e químicas.

Para que surja um vinho de sucesso o Enólogo é desafiado constantemente num processo que começa com a escolha do ponto de colheita de cada cepa, sua fermentação e amadurecimento, para finalmente entrar na etapa de dosagem, o que será feito em múltiplas combinações e provas até se atingir o resultado esperado ou ficar bem perto disto.

Muito conhecimento e sensibilidade são exigidos aqui. As comparações são obrigatórias e vão servir de referência para o resultado final.

No início deste ano, foi realizado, em Mendoza, o 1º encontro dos Master Blenders Argentinos, uma grande prova de degustação dirigida unicamente para vinhos cortados, que buscava responder algumas questões e desbravar uma nova rota vínica “pós Malbec”.

Organizada pela Sommelière María Laura Ortiz, da Winifera  e por Jorge Cabrera do Caminos del Vino , convidaram 25 dos mais importantes Enólogos do país, para degustar e classificar os melhores vinhos de corte argentinos.

Participaram deste evento: Walter Bressia, Pablo Cúneo, Matías Ciciani, Cristian Moor, Fernando Buscema, Marcos Fernández, Mariano Di Paola, David Bonomi, Alejandro Sejanovich, Daniel Pi, José Morales, Juan Roby, Juan Manuel González, Alejandro Vigil, José Galante, Javier Lo Forte, Andrea Marchiori, Germán Berra, Giuseppe Franceschini, Eduardo Olivera Scotti, Victoria Prandina, Estela Perinetti, Mauricio Vegetti, Gabriela Celeste e Juan Arizu.

Foram analisados 29 tintos e 1 branco. As principais cepas utilizadas foram as bordalesas Malbec, Cabernet Sauvignon, Petit Verdot, Cabernet Franc e Merlot.

Top 10:

1 – Antología XLIV 2014 – Mariano Di Paola da Bodega Rutini;

2 – Gauchezco Gran Corte 2012 – por Mauricio Vegetti Lui da Gauchezco Vineyard & Winery;

3 – Pyros Blend 2013 – por José Morales da Pyros;

4 – Marchiori&Barraud Corte 2013 – por Andrea Marchiori da Marchiori & Barraud;

5 – Gernot Langes 2014 – por David Bonomi da Bodega Norton;

6 – Bacán 2017 (branco) – por Giuseppe Franceschini da La Giostra del Vino;

7 – Escarlata Elegido 2010 – por Gabriela Celeste da Escarlata;

8 – Numina Gran Corte 2013 – por José Galante da Bodegas Salentein;

9 – Perdriel Vineyard Selection 2010 – por David Bonomi da Pedriel;

10 – Iscay 2012 – por Daniel Pi da Trapiche.

Como uma alternativa muito interessante e realista, organizaram um ranking dos vinhos com a melhor relação custo x benefício.

1 – Bacán 2017 (branco);

2 – Doña Paula 1350 2015 – por Marcos Fernández da Doña Paula;

3 – Artesano 2014 – por Alejandro Sejanovich da Manos Negras;

4 – Escarlata Elegido 2010 – por Gabriela Celeste da Escarlata;

5 – Lejanamente Juntos 2014 – por Victoria Prandina da Trivento.

No momento, por terem sido escolhidos por quem os elaborou e por seus pares, devem ser os melhores vinhos argentinos.

Saúde e bons vinhos!

Vinho da Semana: outro belo corte da Argentina.

Finca El Origen PHI 2010

Baseia-se no equilíbrio entre múltiplas castas: Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Malbec e Petit Verdot.

O resultado é um vinho tinto com excelente concentração, estrutura e notas de frutas negras. Maciez, complexidade e elegância num longo final.

Para guardar.

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“Vitimologia” carnavalesca

Para os menos informados ou os que não se lembram mais, ‘vítimas’, no jargão desta coluna, são as garrafas de vinho que foram devidamente derrubadas nos sempre deliciosos encontros de qualquer das confrarias que participo.

Mas tem tudo a ver com a atual cidade onde resido, a ‘decantada’ Cidade Maravilhosa, que em breve nem poderá ser mais chamada de cidade. A fama de malandro do Carioca escoou ralo abaixo, como se fosse possível. Com os desmandos de uma série de desgovernos de bandidos, incompetentes e omissos, ao menor sinal de chuva descobre-se, para desespero geral dos cidadãos, que nem ralos existem mais: foram roubados…

Passamos de Malandros para Otários, stricto sensu, e temos que ficar de ‘bico calado’. Escolhemos estes pilantras que nem merecem ser citados nominalmente. Melhor esquecê-los, para sempre.

Devidamente desiludido com esta cidade, resolvi brincar o carnaval de 2018 no bloco do ‘eu sozinho’, antes isto do que estar mal acompanhado, além de evitar o caos generalizado.

A primeira vítima foi o excelente Rosé da Santa Augusta, elaborado com Cabernet Sauvignon e Merlot. Cheio de personalidade e uma bela cor, foi o acompanhamento correto para uma delicada sopa de batatas e tomates. Numa segunda oportunidade harmonizou perfeitamente com um gnocci de aipim ao molho de tomates e gratin de parmesão.

Um vinho leve, muito frutado com notas marcantes de frutas vermelhas, boa acidez e com taninos discretamente presentes.

A próxima vítima foi o Sarau Moscato, um simpático e refrescante branco, vinificado com a casta que está no rótulo. Um belo vinho, com intenso aroma de frutas amarelas, o que era confirmado no palato. Uma delícia para ser consumido com acepipes diversos ou simplesmente para passar o tempo entre o batuque do bloco que passa debaixo de nossa janela, uma espiada no noticiário da TV e a série que acompanhava no streaming de vídeo.

Tão gostoso que já foi indicado duas vezes como vinho da semana.

A última vítima foi um vinho que chamei de desafiador: Santa Augusta Chardonnay.

Muito interessante, com um surpreendente equilíbrio entre aroma, paladar, acidez e teor alcoólico, digno de estar em qualquer lista de melhores.

A primeira surpresa foi no palato: intrigante, meio misterioso, cheio de presença e atitude. Impossível identificar algum sabor ou aroma predominante. Salada de frutas com melado seria uma boa descrição. Por ter sido parcialmente fermentado em barricas de carvalho, são perceptíveis as notas madeiradas ou de baunilha além de um discreto tostado.

Degustei-o acompanhando uma das receitas mais curiosas do meu repertório, um estrogonofe de palmito, arroz de jasmim e batata palha. Ficou delicioso.

Saúde e bons vinhos, como estes!

Vinho da semana: qualquer um dos três mencionados acima, sendo o Chardonnay o meu favorito.

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Adegar um vinho: sim ou não

Este é um tema que divide opiniões. As discussões recaem, quase sempre, nos seguintes pontos: quais vinhos, como e por quanto tempo.

Para tomar uma decisão acertada é preciso saber um pouco sobre a origem desta forma de armazenar vinhos e seus mais escondidos mistérios.

Historicamente, há duas razões importantes, que remontam há quase 200 anos atrás. A primeira delas é que, do ponto de vista da nossa saúde, era mais seguro beber vinho do que água. Acreditem.

As condições sanitárias das grandes cidades de então eram inexistentes ou precárias. O simples fato de uma bebida ser fermentada era uma garantia que não haveria germes ou bactérias nocivas. O mesmo não podia ser afirmado em relação ao líquido ‘incolor, insípido e inodoro’…

Ter algumas garrafas de vinho bem armazenadas podia ser a diferença entre estar vivo ou morto.

A segunda razão é mais técnica: a produção de vinhos, naquela época, era muito primitiva. Resultava num produto de difícil consumo, muito duro, tânico e alcoólico, exigindo um bom par de anos de descanso e amadurecimento, nas adegas de quem o comprou, para se tornar palatável.

Esta etapa ainda é realizada, não mais pelo comprador, mas pelos vinificadores: uma vez engarrafado, o vinho fica armazenado por um longo período antes de ser comercializado (foto).

Outro cenário a ser considerado é olhar o vinho como um negócio, desta vez pensando nas duas pontas, a do produtor e a do comprador. Na economia global de hoje é quase impensável se produzir um vinho para ser guardado por 10 ou mais anos. Ninguém ganha, todos perdem, inclusive o vinho.

Vinhos modernos, cada vez mais, estão sendo produzidos para consumo imediato. São vendidos prontos para beber. Apenas ajuste a temperatura, saque a rolha e bons goles. Nada mais simples.

“Exceptio probat regulam in casibus non exceptis” é um princípio legal da Roma republicana, usado por Cícero na defesa de Lucius Cornelius Balbus. Traduzindo do Latim para o nosso idioma, resulta num ditado bastante conhecido: “a exceção que confirma a regra”…

Faço esta citação para lembrar que existem situações em que somos obrigados a manter bem guardadas as nossas preciosas garrafas, seja por conta de uma compra maior, recebidas de presentes e até mesmo aqueles rótulos especialíssimos que compramos para celebrar alguma data inesquecível (que acaba não acontecendo…).

Se não forem muitas garrafas e o espaço e orçamento doméstico permitirem, comprem uma adega. Mantenham o termostato a 18ºC e não guardem por uma eternidade: 5 anos está de bom tamanho.

A segunda opção são os racks ou prateleiras em um armário muito bem localizado: longe de luz solar, ventilado e fresco, porões são ótimos para isto (para quem mora em casas).

Vinhos do chamado Velho Mundo se prestam para ficarem ‘esquecidos’: Barolo e Bordeaux são bons exemplos, mas não únicos.

Vinhos do Novo Mundo, bebam assim que puderem.

Saúde e bons vinhos

Vinho da Semana: A revista Bom Vivant, edição 179 de 2018, classificou dois vinhos da Vinícola Santa Augusta, o já recomendado Sarau Sauvignon Blanc, com 92 pontos (excelente) e a este outro, a seguir, com 90 pontos.

Moscato Sarau

Visual amarelo palha, límpido e brilhante, com reflexo esverdeado. Aroma intenso, franco e elegante, muito frutado onde se destacam as frutas, abacaxi, mamão papaia, banana, pêssego e aroma floral com uma nota flor de laranjeira. Na boca é fresco, muito frutado, persistente e harmônico.

Harmoniza com peixes em geral, camarão, crustáceos, culinária japonesa e oriental, carnes brancas, comidas leves.

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Que vinho todo mundo quer beber?

Um recente estudo publicado pelo site e loja ‘on line’, Wine Access, apresentou uma comparação entre os consumidores de vinhos finos da chamada Geração X (nascidos entre 1960 e 1980), da geração anterior, os ‘Baby Boomers’ (nascidos entre 1940 e 1960), e da Geração do Milênio (nascidos entre 1980 e o final dos anos 90).

Enquanto os “X” gastam em média US$ 70.00, pelo menos 1 vez por mês, numa boa garrafa de vinho, uma média bem maior que a da geração anterior, são os “Mileniais” quem surpreendem o mercado com um potencial de compra considerado surpreendente.

Mas há uma característica toda especial: preferem passar por uma “experiência”, em vez de gastar um bom dinheiro na compra de uma garrafa, digamos, icônica.

E isto pode mudar todo o mercado do vinho…

Um dos parâmetros estabelecidos atualmente, reza que produtores e compradores gravitam em torno de um número de uvas, denominadas genericamente de Nobres, cujos vinhos são eternos campeões de venda, em qualquer parte do mundo.

Cabernet Sauvignon, Merlot e Sauvignon Blanc, de Bordeaux, Pinot Noir e Chardonnay da Borgonha e a Riesling, da Alemanha, compunha o sexteto original. Era de bom tom degustar vinhos produzidos com estas castas.

Com o tempo, alguns importantes autores incluíram outras variedades, como a Syrah, a Malbec ou a Pinot Grigio, triplicando este número e dividindo a nobreza entre 9 tintas e 9 brancas.

Muito democrático, mas irreal. Afinal, se existem cerca de 1.300 uvas que são vinificadas atualmente, por que olhar apenas para dezoito?

O mercado ficou chato e é exatamente isto, a variedade, novas ideias, a busca por um prazer único e diferente, a tal ‘experiência’ que a atual geração exige. Provar um vinho perde todos os seus tradicionais ritos e pode se tornar uma coisa inigualável nas pupilas gustativas da turma que gravita em torno dos 30 anos de idade, ou um pouco mais, mas não muito.

O mercado vai ficar descomplicado, sem dúvidas, mas dividido em dois grandes grupos, uma dicotomia. De um lado, os vinhos elaborados com as castas tradicionais, com um bom corpo, passagem por madeira, frutados e ricos. Do outro, vinhos que chamaremos de modernos, elaborados com castas atualmente consideradas com obscuras, alta acidez, com texturas e baixo teor alcoólico, preferencialmente seguindo as regras orgânicas ou biodinâmicas, mas não é obrigatório.

Nossa previsão é que o domínio Francês vai se diluir ao longo do tempo deixando conceitos como Terroir, Safra e as uvas icônicas apenas como a lembrança de uma “Era” que poderá ser referenciada como Jurássica.

Outro ponto que deverá mudar é o conceito de vinhos do Velho ou Novo Mundo. Vai existir apenas Vinho. As castas deixam de ser as protagonistas e os vinhos famosos passam a ser relíquias ou peças de museu.

Todo o conhecimento será voltado para a busca do inusitado, do diferente, daquele sabor ou textura que nunca existiu ou acabou de ser descoberta.

Um mundo mais que novo.

Enquanto isto…

Saúde e bons vinhos!

Vinho da Semana: experiências não são exatamente baratas, mas podemos oferecer algumas alternativas. Eis uma delas.

Camporengo Le Fraghe VEN.IGT Biologico 2012

Um vinho biológico com a uva Garganega.

Entre no espírito da coisa e simplesmente prove.

Harmonização (para ajudar): Frango assado, queijos Gouda, Ementhal e Gruyère, Hors d’oeuvres, Massas aos quatro queijos, Bruschetas, Crostines e Canapés, Lagosta, Massas à Carbonara, Matriciana e Putanesca, Massa recheada com ricota, Risotos com Frutos do Mar.

Compre aqui: www.vinhosite.com.br

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