Quem resiste ao cheiro de um cafezinho recém-coado ou daquele delicioso aroma de pão fresquinho na porta da padaria? Os dois juntos então…
Enófilos têm uma especial ligação com os aromas de um vinho, que surgem logo ao sacar a rolha: quanta informação está ali!
Naquele momento do primeiro contato, olfativo por definição, é que vai ser decidido o próximo passo.
Para compreender tudo isso é preciso ter um pouco de conhecimento.
Essa peculiar característica de nossa bebida predileta começa a ser desenvolvida no solo onde as uvas estão plantadas. É um dos pilares do pouco compreendido “terroir”. A combinação da casta e do tipo de solo (granítico, arenoso, cascalho etc.) vai implicar num tipo de cheiro. Mais tarde, outras características vão se juntar por conta dos processos de fermentação e de maceração empregados, passagem ou não por madeira e por quanto tempo.
Cada tipo de vinho nos proporciona uma coleção de sensações olfativas únicas, também conhecidas por buquê ou nariz. Para os que têm boa memória, é quase uma carteira de identidade do que vem a seguir, no momento do provar. Pode-se identificar a origem, casta e método de vinificação só por aquele curioso gesto de colocar o nariz na taça do vinho e aspirar, levemente. Mas leva tempo e muita disciplina. Não é uma coisa que se consegue de um dia para o outro.
Identificar os aromas é um dos ritos mais celebrados de qualquer degustação.
Alguns exemplos são clássicos, como o aroma de couro molhado dos cortes bordaleses, o famoso pimentão verde (pirazina) do Carménère chileno e muitos outros. Importante mesmo é saber distinguir bons aromas dos aromas ruins, como o conhecido “papelão molhado” que é associado a um defeito da rolha, a contaminação por T.C.A. (tricloroanisol): bouchonée, no nosso jargão.
Para os que desejam se aprofundar nesse tema, desafiar o seu olfato é o primeiro passo. A ideia é procurar por experiências que estão no nosso dia a dia, na nossa rotina. Por exemplo, o cheiro de terra molhada nos dias de chuva, o ar salitrado da praia no dia ensolarado, o respirar limpo do campo ou do alto da montanha. Cada um será um registro único e pessoal. A pessoa que está ao seu lado terá, necessariamente, impressões diferentes das suas.
Aromas caseiros também são importantes, como os temperos usados na sua culinária, a mistura de cheiros de uma quitanda ou mercado, incluindo os que não são agradáveis. Um ótimo exemplo é o das ruas e calçadas após uma feira livre.
Para os que tem um viés mais científico, o Disco dos Aromas e os kits de essências, como o Nez du Vin são boas ferramentas.
O passo seguinte é associar toda essa experiência ao momento que sentimos os aromas de um vinho recém-aberto. Muito importante é ter em mente que sempre existirá um leque de opções e não um único e monótono cheiro. Se não identificar mais que um ou dois não significa que é um problema, com o tempo outros surgirão. O objetivo é registrar as associações dos aromas vínicos com o (seu) olfato. Serão únicas. É a chave para futuras aventuras nesse universo.
Para não deixar dúvidas, vinhos que foram abertos e novamente arrolhados, vão desenvolver novos aromas. Alguns deles indicativos da qualidade da bebida: se for estranho, descarte.
A partir do momento que dominarmos, com confiança, esta técnica teremos uma poderosa ferramenta que vai nos ajudar e entender as razões pelas quais apreciamos determinados vinhos e não gostamos de outros. Depois do binômio cor/visão, a dupla olfato/aromas é quem vai reger a nossa capacidade de apreciar ou rejeitar.
Um corolário importante é desenvolver a habilidade de identificar as melhores harmonizações, algo muito bem visto entre os apreciadores de vinho: evitem aromas que não se combinam.
Desafio lançado, caminho e ferramentas indicadas. Só depende de cada um.
Saúde e bons vinhos e bons aromas!
Foto de abertura: “The smell of the portuguese wine” por pedrosimoes7 está licenciada sob CC BY 2.0
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