Categoria: O mundo dos vinhos (Page 44 of 77)

Uma casta, um vinho – Chardonnay

Fonte: https://glossary.wein-plus.eu/chardonnay

Se a Cabernet Sauvignon é considerada como a mais importante uva vinífera tinta, e seus vinhos verdadeiros soberanos, a sua consorte seria a branca Chardonnay, uma casta tão importante quanto.

Indiscutivelmente uma Rainha entre as uvas brancas, é uma espécie de camaleoa, capaz de se adaptar aos mais diversos solos e climas, razão pela qual, é plantada universalmente. Seu habitat mais natural são os solos calcáreos.

Apesar deste caráter “Urbi et Orbi”, se a vinificação estiver em mãos competentes, os resultados serão excelentes.

Por outro lado, esta universalização fez com esta varietal entrasse no capítulo das coisas que são amadas ou odiadas por diferentes pessoas. Entre seus detratores está a turma do ABC ou “Anything But Chardonnay”.

Sua origem é francesa, da região denominada Saône-et-Loire. Os primeiros registros de sua existência datam de 1583, sob o nome de Beaunois. Entretanto, este apelido também foi dado a outras castas, como a Aligoté, sugerindo que não é o registro mais exato. Em 1685, no histórico da vila de Saint-Sorlin, podem ser encontrados alguns trechos afirmando que “a uva ‘Chardonnet’ produzia ótimos vinhos”.

A denominação atual, Chardonnay, vem da vila homônima da região de Mâconnais, ao sul da Borgonha.

Recentes análises de DNA demonstraram que ela decorre de um cruzamento espontâneo entre a Pinot e a Gouais Blanc. Pertence, portanto, à mesma família da Gamay Noir, Melon, Aligoté, entre outras.

Seus vinhos mais famosos, depois dos Champagnes, são os brancos da Côte d’Or: Meursault, Corton-Charlemagne…

No continente americano, os ‘Chards’ de Napa Valley são, indiscutivelmente, os mais respeitados. O Chateau Montelena Chardonnay foi um dos campeões do “Julgamento de Paris”, uma degustação comparativa entre famosos vinhos franceses e alguns desconhecidos vinhos norte americanos. Este episódio mudou, para sempre, o mundo do vinho. Foi retratado, de forma ficcional, num filme homônimo (Bottle Shock no original).

Dois estilos se destacam: os vinhos ao estilo de Chablis, com ótima acidez refrescante, precisos e límpidos no sabor e o estilo norte americano, com suas notas amanteigadas, decorrente de passagem por madeira e de uma controlada conversão malolática, onde o ácido málico é transformado em ácido lático, dando origem às notas de laticínios. Certamente calcado nos vinhos de Meursault.

A Chardonnay pode ser vinificada de diversas maneiras, gerando vinhos que apresentam características únicas, que vão desde os secos, saborosos e ricos, passam pelos vinhos base para espumantes e terminam com vinhos doces de uvas botritizadas. Super versátil.

Além da França e dos EUA, outros países se destacam com excelentes vinhos desta uva: Itália, Espanha, Alemanha (onde reina a Riesling), Áustria, Austrália e Nova Zelândia. Na América do Sul, Uruguai, Chile produzem excelentes varietais com essa casta. Na Argentina existe um clone denominado Mendoza, já reconhecido e aceito.

No Brasil estão plantados cerca de 650 hectares, usados para produção de nossos bons espumantes e para alguns vinhos tranquilos, com ótimos resultados.

Escolher um vinho para caracterizar esta casta é quase impossível, há muitas e importantes opções.

Minha escolha vai recair num vinho argentino: Linda Flor, da Bodega Monteviejo.

Essa vinícola, uma das pioneiras do grupo Clos de los Siete, tem origem francesa. Sua proprietária original, Catherine Peré-Vergé, já falecida, foi quem escolheu o atual Enólogo e diretor técnico desta e de outras vinícolas francesas, o premiado e respeitado Marcelo Pelleriti, responsável por esta obra de arte.

Após a prensagem dos grãos, que são mantidos em contato com as peles por um bom tempo, o mosto é fermentado em barricas de carvalho francês, com temperatura controlada e battonage diária. Parte do vinho passa por conversão malolática em barricas.

O vinho obtido é untuoso e com acidez equilibrada. No olfato destacam-se notas de frutas de polpa branca e algumas especiarias. No palato apresenta um bom corpo, com sabores frutados e refrescantes. Final de boca interminável. Um vinho elegante, equilibrado e delicioso, como poucos em sua categoria.

Imperdível, para aqueles que realmente desejam compreender esta casta única.

Saúde e bons vinhos!

Fonte consultada: Wine Grapes: A Complete Guide to 1,368 Vine Varieties, Including Their Origins and Flavours, por Jancis Robinson, Julia Harding, Jose Vouillamoz.

Em tempo: recebemos este comunicado com relação ao evento de lançamento do Guia Descorchados.
“Colocamos a segurança de todos os parceiros, amigos, profissionais da área e clientes em primeiro lugar”.

Por esta razão, devido a crise do Coronavírus, estamos transferindo a data do evento de lançamento do Guia Descorchados 2020, para o mês de agosto. O evento do Rio de Janeiro , será remarcado em breve , e São Paulo, fica para a data do dia 11 de agosto de 2020.

Lamentamos os inconvenientes”.

Críticos de vinhos: para que servem?

Foto por Matthieu Joannon para Unsplash

O mundo do vinho tem diversos reis e rainhas, eternas referências para um tipo de vinho ou mesmo para determinadas castas que são tão populares que recebem este apelido.

Curiosamente, também existe um “Imperador” do vinho, um crítico tão influente que mudou os rumos de diversos produtores e foi mentor de diversos outros autores. Estamos falando de Robert Parker, o “cara” dos 100 pontos.

Parker já se aposentou, abrindo espaço para uma miríade de outros críticos. Muitos faziam parte da equipe da Wine Advocate, publicação que divulgava as análises do “Imperador”. Nenhum deles ocupou, realmente, o espaço aberto.

Pudera! Os tempos são outros.

O mundo digital e as diversas redes sociais mudaram completamente este panorama, se encarregando de oferecer um serviço mais completo e barato que o de qualquer crítico de vinhos, ou de qualquer outro produto/serviço, quase sempre a custo zero. Agora, nós somos os críticos ou influenciadores, palavrinha da moda, no Instagram, Vivino e outros mais.

O problema é a confiabilidade. As “fake News” estão à solta por aí, e a falta de senso crítico, por nossa parte, é um combustível de fácil ignição.

Uma recente pesquisa sobre os fatores que realmente influem na compra de um vinho, realizada pela Wine Opinions, mostrou que o peso da opinião dos profissionais do vinho está perdendo força neste mercado. Eis os principais destaques:

– O vinho é de um determinado país ou região do meu agrado – 91%

– Provei o vinho na loja antes de comprar – 89%

– Indicação de amigos ou familiares que compram vinhos – 86%

– Recomendações dos vendedores – 82%

– Análises de publicações, inclusive on line – 79%

– 90 pontos ou mais de algum crítico – 75%

– Pontas de estoque ou preços reduzidos – 57%

– Recomendação pelo app do celular – 39%

– Boa aparência de rótulo ou embalagem – 39%

A tendência é clara e bem objetiva: os melhores críticos somos nós mesmos e a forma de divulgação é o antigo boca a boca. Este papel, atualmente, é desempenhado pelo Twitter, Facebook e principalmente pelo Instagram.

Atire a primeira pedra quem nunca postou uma foto de uma garrafa de vinho numa destas redes…

A coletividade também tem boa voz ativa neste cenário: o app Vivino, especializado em vinhos, pode ser considerado como o “grande” crítico especializado, computando os votos e opiniões de todos que degustaram este ou aquele rótulo.

O Boletim do Vinho faz parte desta rede. Veja nossas avaliações neste link:

www.vivino.com/users/tuty.pi

Para arrematar esta análise sobre críticos e suas influências, não poderíamos deixar de citar os grandes guias de vinhos, impressos ou na rede.

São sempre muito especializados e os mais famosos se dedicam, exclusivamente, a um país. Por exemplo o Guia Peñin da Espanha, O Guia de vinhos portugueses de João Paulo Martins, Gambero Rosso na Itália, etc…

Na América do Sul, o mais importante é o Guia Descorchados, um grande trabalho realizado por Patricio Tapia, abrangendo Chile, Argentina, Uruguai e Brasil.

A edição 202º será lançada agora neste mês. Vejam os detalhes nesta nota de divulgação:

“O maior guia de vinhos sul-americanos do mundo, é lançado em eventos de grandes degustações em São Paulo e Rio de Janeiro

Na edição deste foram batidos todos os recordes de amostras provadas, nada menos que 4.664 vinhos, de 540 vinícolas, estiveram sobre a mesa de degustação do Descorchados.

Com isso temos mais de 3.000 rótulos descritos e pontuados na 21ª edição do Guia que será lançado em grande estilo, nos dias 31 de março, em São Paulo, e 2 de abril, no Rio de Janeiro.

Os eventos que acontecerão em São Paulo e no Rio de Janeiro contarão com representantes das vinícolas que apresentarão seus destaques e rótulos avaliados nesta edição do Guia.

Mais do que isso, o lançamento do Guia Descorchados 2020 conta com uma série de palestras ministradas pelo próprio Patricio Tapia.

Lançamento Guia Descorchados 2020

São Paulo, 31 de março 2020

Villagio JK – R. Funchal, 500, Vila Olímpia, São Paulo – SP. Tel.: (11) 3044-3022.

Das 14h às 17h, exclusivo para imprensa e profissionais do vinho

Das 18h30 às 21h, aberto ao público.

Ingressos no site Evenbrite – https://descorchados-2020-sp.eventbrite.com.br

Rio de Janeiro, 2 de abril

Village Mall – Av. das Américas, 3900, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro – RJ.

Das 18h às 22h30, para imprensa, profissionais do vinho e aberto ao público.

Ingressos no site Evenbrite – https://descorchados-2020-rj.eventbrite.com.br

Associados ativos do Clube Adega e do Clube Sabor.club têm condições especiais para compra. Mais informações em [email protected]

Profissionais do vinho devem fazer pré-cadastramento através do email [email protected] para receber o código de desconto exclusivo para a categoria.

Pré-venda do Guia Descorchados 2020 – https://www.selecaoadega.com.br/pre-venda-guia-descorchados-2020-guia-de-vinhos-da-argentina-brasil-chile-e-uruguai-p814/

Saúde e bons Vinhos!

Estariam as garrafas de vidro com os dias contados?

Foto por Ion Ceban para Pexels

Parece que o vidro é o novo vilão da sustentabilidade no mundo do vinho. Esta discussão já ocorre a algum tempo, a novidade é incluir o meio ambiente como um dos pontos negativos atribuídos a esta tradicional forma de embalagem.

Quase tudo está sendo questionado: o formato pouco eficiente das garrafas, o volume e principalmente as formas de transporte, estes sim, grandes vilões, levando-se em conta a ineficiência de todo este sistema.

Há, inclusive, pesquisas sobre o destino das garrafas vazias. Acreditem, raramente são recicladas…

Historicamente já se armazenou vinhos em diferentes tipos de materiais, entre eles, cerâmica, madeira e couro. O vidro foi a grande novidade, a quatro séculos atrás!

Já existem embalagens alternativas, como as latas e as caixas de papelão que, na verdade, são a roupa para um saco plástico onde está o vinho.

As conhecidas caixinhas de leite também já estão sendo utilizadas para embalar vinhos, sem muito apelo, na verdade.

Uma das novidades mais interessantes vem da Inglaterra, uma garrafa feita de material plástico reciclado, com um formato achatado. Muito mais leve, perfeita para empacotamento e com todos os méritos de ser um produto sustentável.

Nesta mesma linha há uma outra opção, que seria o resultado de “tirar a embalagem plástica que está dentro da caixa”.

Ficou alinhado!

Mais uma variante, desta vez australiana, com raízes espanholas:

Este é um sachet com 250ml, um pouco menos que o conteúdo de uma latinha de cerveja. Super prático e fácil de carregar. O plástico usado é certificado para alimentos e aceito pelos ambientalistas.

Não podemos dizer que esta última embalagem seja uma novidade. É uma atualização das famosas “botas”, muito populares na Espanha, até hoje. Avaliem:

Saúde e bons vinhos!

Vinho na folia

Imagem de lumpi por Pixabay

As comemorações carnavalescas têm múltiplas origens, todas na antiguidade. O carnaval não é uma festa brasileira, mas somos os especialistas nesta comemoração, que descende de ritos ou celebrações originais da Babilônia, Mesopotâmia, Roma e Grécia.

Muito ligada ao catolicismo, o que explica a denominação carnaval, decorrente do Latim Carnis Levale, que pode ser compreendido como “sem carne”, numa referência direta ao jejum realizado durante a Quaresma.

Os ritos mencionados envolviam situações como a subversão de posições sociais, o que explica a fantasia, ou mesmo a humilhação, com surras diante da estátua de um Deus, muito semelhante ao que fazem hoje os “bate-bolas” ou “Clóvis”, por sua vez uma corruptela de clown ou palhaço, no idioma Inglês.

Não podemos esquecer das festas que celebravam Baco ou Dionísio, onde o vinho era consumido em larga escala.

Esta é a parte que nos interessa: vinho, durante o carnaval, sempre foi uma tradição.

No Brasil é que houve mais uma subversão, entrando a cerveja como a libação predileta dos foliões.

Dois fatores são preponderantes nesta análise: a praticidade das latinhas e a forma moderna desta festa, quase sempre comemorada a céu aberto.

Ainda existem bailes carnavalescos, em grandes salões ou clubes, mas perdem feio para as comemorações mais populares como os blocos, que podem desfilar ou não, e o show das espetaculares Escolas de Samba.

Honestamente, cerveja tem tudo a ver.

Já existe o vinho em lata, inclusive espumantes. Será sempre uma opção, mas creio que jamais encontraremos um ambulante nos oferecendo estas delícias.

Numa analogia ao papel das louras suadas, que são perfeitas para o “terroir” das ruas e arquibancadas, o vinho é a bebida que vai preencher os salões e, melhor ainda, o conforto de nossas casas, se optarmos por um bom ar condicionado, uma TV de última geração, bons petiscos, um animado “bloco” de amigos, para assistir tudo que se passa nas ruas, Sambódromos e nos bailes que ainda resistem aos modismos.

Este é o “terroir” dos vinhos, particularmente os espumantes.

Se algum leitor decidir por este caminho, aqui vão alguns conselhos:

– Moderação é a chave de tudo;

– Além dos espumantes, vinhos tranquilos rosados e brancos são os mais indicados. Escolha os mais jovens, leves e frutados. Gelados, por favor;

– Um único tinto poderia fazer bonito nesta festa – Beaujolais Noveau;

Evoé!

(Significa bons vinhos…)

Entendendo a “estrutura” de um vinho.

Nem sempre os descritores de um vinho são claramente compreendidos pelos leitores. A definição de estrutura pode tomar rumos bem complexos, podendo beirar as ciências ocultas e esotéricas.

Não há um consenso entre os diversos autores e críticos que tentam, cada um a seu modo, explicar esta colocação.

Usando uma aproximação, bem cartesiana, podemos entender que sem uma estrutura não existiria nem vinho e nem uma série de outras coisas em nossas vidas, por exemplo, as edificações onde residimos ou o próprio ser humano, que sem seu esqueleto não sobreviveria.

Deixando de lado os ossos, pilares, vigas e lajes, vamos refletir sobre quais elementos constituem a estrutura de um vinho.

Alguns deles são óbvios e de fácil reconhecimento como os taninos e a acidez. Outro fator, de fácil compreensão, é o teor alcoólico.

A partir destes, precisamos usar algumas metáforas, nem sempre aceitas, para enriquecer esta importante definição.

Podemos acrescentar: glicerol, corpo e doçura.

São conceitos um tanto subjetivos e a inclusão do “corpo”, nesta explicação, é muito questionada pelos profissionais do mundo do vinho. Há quem afirme que corpo ou estrutura é a mesma coisa. Glicerol é um álcool e a doçura decorre de um maior ou menor teor alcoólico.

Aproveitando, ainda, a analogia com uma estrutura predial, os taninos seriam a viga mestra desta construção, o que nos traz um novo problema: será que vinhos brancos não têm estrutura?

É um conceito bem amplo, e a melhor maneira, de compreender e usá-lo, é pensar que a nossa estrutura vínica é maleável e adaptável, esquecendo a rigidez dos outros tipos estruturais mencionados.

Imaginemos um equilíbrio entre os três elementos básicos: tanino, acidez e teor alcoólico. Um vinho tinto, mais tânico, com pouca acidez e com 14%, ou mais, de álcool é uma bebida bem estruturada, ou com uma estrutura pesada e marcante.

Por outro lado, um branco, sem taninos, com ótima acidez e um álcool compatível, tem uma estrutura leve ou pouco estruturado.

Para classificar a estrutura de um vinho podemos usar algumas indicações visuais e no paladar.

Começamos pelo volume de álcool, que está no rótulo. Assumindo que o vinho está bem equilibrado: quanto maior o teor, mais pesada é a estrutura. O nível de álcool funciona como um compensador dos taninos e da acidez. Uma regrinha prática seria: 10-12% vinhos leves; 12.5-13.5% médios e 14-15.5% pesados.

Servido o vinho, observemos as discutidas “lágrimas”, que são indicadores da presença, mais intensa ou não, de glicerol, um dos componentes do teor alcoólico: se escorrem rapidamente, o vinho é pouco estruturado, e vice-versa.

A coloração é outro fator que ajuda a classificar mas, cuidado! Há diversas exceções aqui. A regra seria direta: quanto mais denso o vinho, maior a estrutura. Algumas castas como a Nebbiolo ou a Pinot Noir, produzem vinhos de coloração suave e transparente, mas que são muito estruturados.

Na prova, podemos identificar mais algumas pistas: vinhos estruturados nos deixam a sensação que poderiam ser mastigados. Sabores advindos da passagem por madeira acrescentam peso ao vinho. Vale para os brancos que foram barricados, também.

Para encerrar esta pequena aula sobre a estrutura, aqui vai mais uma regrinha de algibeira:

Vinhos estruturados ficam melhores se combinados com comidas mais pesadas.

Saúde e bons vinhos!

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