Categoria: O mundo dos vinhos (Page 44 of 72)

Mudanças no Mundo do Vinho

Imagem de Arek Socha por Pixabay

Há uma grande expectativa entre os apreciadores de vinho, no Brasil, por conta da assinatura do acordo comercial entre o Mercosul e a Comunidade Europeia.

Teria chegado, finalmente, a nossa hora de adquirir vinhos fantásticos a preços menos extorsivos que os praticados atualmente?

Especialistas neste mercado preferem adotar uma postura mais conservadora. O ato de assinar este acordo ainda não garante nada, é preciso que haja uma ratificação, por parte de todos os envolvidos. Para isto acontecer, deverão ocorrer diversas mudanças em inúmeros setores para que os produtos sul americanos, vinhos inclusive, possam se enquadrar às normas europeias e vice-versa.

Estas adequações não serão imediatas e alguns aspectos, como a redução das tarifas, podem levar cerca de 12 anos para serem zeradas.

Acima de tudo, no nosso país, é preciso que haja uma profunda mudança de mentalidade, por parte de produtores e de governantes: não podemos continuar a gerir nossos negócios pensando unicamente no escopo individual. Simplificando, o que é bom para um, pode não ser bom para todo o resto.

Esta é a mentalidade em voga no nosso setor de produção de vinhos. Os principais órgãos reguladores, que deveriam se preocupar com os aspectos técnicos de produção de uvas e vinhos, preferem servir de lobistas para interesses de poucos (e grandes) produtores ou servir de trampolim para uma carreira política.

Nosso vinho é difícil de ser produzido devido a certas condições climáticas. Mesmo assim, com muita tecnologia, estamos atingindo um bom nível, mas ainda longe de nossos vizinhos, Uruguai, Chile e Argentina.

Ainda não percebemos que, fora deste domínio, estão mudando, profundamente, vinhos e consumidores.

Há um importante marco: a aposentadoria do grande crítico norte-americano, Robert Parker.

Coube a ele criar, através de seus comentários, um estilo de vinho que dominou o mercado por algumas décadas. Vinhos intensos, marcados por muita fruta e madeira presentes.

Saiu de cena no momento que o mercado cansou deste tipo de vinho. Suas ideias e seu paladar refletiam a cultura da América do Norte, baseada no homem branco de raiz caucasiana.

O grande legado de Parker não foi o seu estilo de vinho, mas a enorme popularização que ele proporcionou à nossa bebida favorita.

Novos mercados se abriram para as vinícolas, principalmente no Oriente. O corolário imediato é o surgimento de Enólogos, Sommeliers e Críticos de outras origens que não caucasiana. E isto muda absolutamente tudo.

Sensacional!

Agora o nosso querido vinho precisa atender a outros paladares: de africanos, filipinos, chineses, coreanos e japoneses…

Imaginem, por um instante, o quanto isto é fundamental. Cada cultura destas pode ser representada por sua gastronomia específica, que difere, muito, da nossa. Isto implica em introduzir novos aromas e paladares.

Um enólogo chinês, por exemplo, mesmo que produza um vinho em Bordeaux, vai trazer um novo e diferente viés para os nossos sentidos.

Um Sommelier negro pode aumentar o leque de ofertas num restaurante se optar por indicar algumas escolhas pessoais, calcadas na sua história de vida. Esta refeição pode se tornar muito interessante!

Acrescente mais uma mudança: o consumidor também está diferente, e são eles que vão pagar a conta.

Há uma grande discussão sobre o que poderá acontecer com os famosos “vinhos icônicos”, que simplesmente não estão mais vendendo como antes.

Seus preços atingiram patamares estratosféricos.

Os novos e jovens consumidores não são mais aqueles Yuppies que adoravam ostentar. São mais comedidos e se preocupam mais com a origem, de qualquer coisa que vão consumir, do que uma fama napoleônica…

Podem, a qualquer momento, não consumir mais vinhos, simplesmente por que não querem, ou não acham mais que isto seja importante.

Este grupo foi quem alavancou a onda dos vinhos naturais. Tem tudo a ver com a cabeça deles: é mais importante como são produzidos do que o resultado final. É quase como uma consciência coletiva, interligada eletronicamente pelas redes sociais. Filmam, fotografam, comentam e aprovam, ou não, tudo que comem ou bebem.

Não será nada fácil acertar com esta turma.

Vamos precisar de toda a ajuda possível desta nova sopa cultural do mundo dos vinhos.

Saúde e bons vinhos!

Como você descreve um vinho?

Saber descrever um vinho, ou seja, passar para um possível cliente ou amigo as sensações que você percebeu ao degustar, é uma arte que deve ser perfeitamente dominada por Sommeliers, críticos e demais autores sobre este tema.

Embora pareça uma tarefa rotineira, nem sempre os descritores utilizados podem fazer sentido para quem os escuta. Há uma grande dose de subjetividade e regionalização, deixando quem recebe estas avaliações com algumas dúvidas sobre o que realmente está sendo descrito.

Por exemplo: “Aromas de compostagem”; “Água de frutos silvestres”.

Acaba parecendo um misto de pedantismo com frases de efeito.

Uma das melhores tentativas de padronizar este tipo de linguagem partiu da Dra. Ann C. Noble, da Universidade da Califórnia em Davis, que criou a Roda dos Aromas (foto que ilustra esta matéria) com o objetivo de sistematizar os descritores a serem usados no mundo do vinho.

Dividiu os possíveis aromas em 12 classes, e os distribuiu pelo disco:

– Químicos;
– Pungentes;
– Oxidativos;
– Microbiológicos;
– Florais;
– Especiarias;
– Frutados;
– Vegetais;
– Frutos secos;
– Caramelizados;
– Madeira;
– Terrosos.

Estes eram os grupos originais do trabalho da Dra. Noble. Ao longo do tempo foi necessário simplificar e adicionar novos descritores, incluindo termos que ajudariam na identificação de outras características do vinho como corpo, coloração, estilo, etc…

A ideia de padronizar a forma de apresentar um vinho foi bem aceita, mas ainda está longe de se tornar uma unanimidade. Esta é a principal arma de quem tenta ‘vender’ um vinho para um cliente de um restaurante ou loja. Precisam encantar o comprador, falando numa linguagem que seja compreensível. Neste aspecto, esta sistematização cumpre seu papel.

Mas e os simples degustadores, não profissionais? Podemos usar estes termos sem problemas?

Vamos ser bem realistas para responder a estas questões: tudo vai depender dos seus objetivos.

Mesmo os profissionais já citados, que foram treinados para utilizar estes termos em seu benefício, não se limitam a eles, criando expressões próprias que complementam o descritor padronizado, muitas vezes seco e sem sentido.

Surgem expressões que acabaram consagradas: xixi de gato, cachorro molhado e estrebaria, entre outras.

Um outro grupo de estudiosos, mais preocupados com a pouca precisão dos termos em uso, advoga que deveríamos empregar somente as designações científicas para cada grupo de aromas. Eis alguns exemplos:

– Mercaptanos ou Tióis: lembra os aromas de alho, cebola, etc… e representam defeitos no vinho;

– Terpenos: engloba os aromas florais;

– Pirazinas: lembram pimentões, gramíneas e outros vegetais;

Provavelmente ficaria ridículo descrever um vinho degustado numa reunião com os amigos como “cheio de Lactonas e uma nota de Indol”.

Pesquisas científicas já demonstraram que nossa memória olfativa é bem limitada. Perfumistas, muito treinados, alegam que seriam capazes de reconhecer mais de 1000 aromas diferentes (nunca 100% comprovado) enquanto um reles mortal consegue memorizar 20 aromas no máximo.

O caminho deve ser outro, mais simples e mais autêntico: sejam vocês mesmo, ao tentar descrever um vinho.

Em lugar de se aterem às regras existentes, que muitas vezes nem compreendemos bem, descrevam as sensações que aquele momento lhes proporcionou.

Trouxe memórias de uma viagem, de outro encontro, é isto que deve ser mencionado.

Lembrou de uma bela refeição que até hoje sonha em repetir? Quem sabe não é a hora de tentar reproduzir este bom momento?

Se a degustação passou a sensação de momentos de tristeza, certamente estes vinhos não deverão mais voltar à sua adega.

Pensem nisto. Troquem a preocupação por momentos de simplicidade e alegria.

Saúde e bons vinhos!

Vinho da semana: mais um ótimo rótulo provado na degustação dos Vinhos do Brasil. Desta vez, de Santa Catarina.

Thera Sauvignon Blanc 2017 – $$

Apresenta coloração amarelo palha, com reflexos esverdeados, nariz marcante por sua potência aromática, destacando notas de maracujá e ervas fresca, entrelaçados por um toque mineral. No paladar apresenta intenso frescor e suculência com final bastante longo e persistente.

Mudando para melhor

Não perder contato com as tendências do mercado é uma das mais complexas tarefas que qualquer produtor de vinho tem que enfrentar.

Não é fácil.

Modismos vão e voltam constantemente, sem falar nas novidades que a tecnologia, de modo geral, proporciona. Basta um crítico renomado afirmar que apreciou um vinho elaborado dentro da mais avançada metodologia para que este fato atraia a atenção dos consumidores e dos concorrentes.

Para termos uma boa ideia de como isto funciona, vamos olhar para os tanques de fermentação e de amadurecimento dos vinhos. Três aspectos são considerados: materiais, formatos e tamanhos.

Existem reservatórios destinados para a fermentação elaborados com uma variedade de matérias como argila (terracota), madeira, plástico, aço inoxidável e concreto.

Os formatos variam desde as antigas e agora renovadas ânforas, barricas ou dornas (madeira), cilindros ou troncos de cone (aço) e ovais, esféricos ou cúbicos (concreto).

Quanto aos tamanhos, não há uma regra definida e tudo vai depender da quantidade de vinho a ser produzida e, também, para o caso das ânforas, a capacidade de fabricação destes artefatos por seus artesãos.

Ainda estamos na fase das barricas de carvalho. Embora testem outras madeiras, um substituto ideal ainda não foi encontrado. Dois tipos dominam as opções: as barricas de origem francesa e as de origem americana. Cada uma, dependendo do tamanho e do tempo de contato, vai acrescentar ao vinho características que ainda são desejadas pelos consumidores: toques de baunilha, coco, caramelo, ervas aromáticas etc…

O carvalho sempre foi companheiro do vinho. O que mudou profundamente foi o tamanho das barricas. Originalmente eram usadas grandes dornas ou tonéis com capacidades em torno de 20 mil litros. Paulatinamente foram sendo substituídas pelas barricas bordalesas, principalmente para o amadurecimento, com a reduzida capacidade de 225 litros.

Atualmente há uma tendência em diminuir o uso de madeira na elaboração de vinhos. Os conhecidos ovos de concreto, com desdobramentos para esferas e cubos, andam bem cotados entre produtores mais jovens, bem como a volta das ânforas.

Mas há quem busque por outras soluções.

Um belo exemplo vem da Rioja. A Espanha tem as regras mais rígidas para a elaboração de seus vinhos. Um Gran Reserva desta DOC deve permanecer em barricas por um mínimo de 2 anos, seguido de 3 anos na garrafa, antes de ir ao mercado. Tradicionalmente estas barricas são americanas, deixando estes vinhos com sua assinatura característica.

Alguns produtores estão utilizando o carvalho francês, como alternativa, buscando novos resultados, sem perder sua principal característica, que é a capacidade de envelhecer por mais de 10 anos.

A contrapartida da troca do tipo de madeira é que estes mesmos vinhos poderão ser consumidos mais cedo: a influência no sabor final é mais sutil do que a proporcionada pela madeira americana. Não vamos nos esquecer que embora tudo isto pareça uma grande obra de arte, é um negócio, acima de tudo, que precisa de bons resultados.

Sabem onde fica a Rioja?

Existe uma na Espanha e outra na Argentina, gerando uma disputa pelo nome no rótulo de seus vinhos. O pleito da Espanha, de ter o nome Rioja como marca protegida, foi derrotado em 2011. Um dos mais curiosos argumentos usados pelos argentinos foi lembrar que os espanhóis não só colonizaram o país, como fundaram e batizaram, em 1591 a cidade de Todos los Santos de la Nueva Rioja, hoje Província de La Rioja. Como se isto não bastasse, também introduziram o cultivo de uvas e produção de vinhos…

Já que estamos falando de Argentina, a produção de vinhos por lá também passa por uma nova revolução, que olha para o passado com a intenção de produzir vinhos mais de acordo com o paladar de consumidores mais jovens.

O caminho, que volta a ser percorridos pelos vinhateiros, é diminuir consideravelmente o uso das pequenas barricas, que permitiram o sucesso do Malbec argentino e cunharam o apelido de ‘suco de carvalho’. Passam a utilizar, novamente, as enormes dornas para fermentar e armazenar.

Ganha força a ideia de elaborar vinhos menos invasivos.

Não vai errar quem achar que, por trás disto, está a onda dos vinhos naturais.

Melhor para os consumidores, com opções para todo e qualquer gosto.

Saúde e bons vinhos!

Vinho da Semana: um bom Riojano.

Bodegas Ramirez Reserva Tempranillo 2012

91 pontos por Robert Parker. Exibe bonita cor vermelho rubi com reflexos granada. Um nariz intenso de madeira, balsâmico e almíscar, contra um fundo de frutas vermelhas. Na boca é amplo, macio e fácil de beber, mas, ao mesmo tempo, à medida que vai se abrindo, fica cada vez mais saboroso e cheio. Mais tarde, notas de alcaçuz, especiarias e frutas vermelhas emergem. No fim de boca seu acabamento é longo e persistente.


Evento em Belo Horizonte:

NOITE DE MASSAS E VINHOS, DIA 12, NA VILLA ALBERTINI, EM SANTA TEREZA (BH), TEM PARCERIA DA CASA RIO VERDE E INGRESSOS GRATUITOS

Na próxima sexta-feira, dia 12 de julho, a partir das 18h30, tem Feira de Massas e Vinhos no espaço Villa Albertini no bairro de Santa Tereza. Para esquentar a noite, a importadora Casa Rio Verde fez uma seleção de vinhos com rótulos tintos e brancos de diversos países.

O Sentido do Agosto e o Beco D´Itália assinam as massas e molhos artesanais. Entre as delícias para o casamento perfeito com o vinho estão o talharim ao molho funghi secchi, nhoque ao molho bolonhesa, capeletti de muçarela com manjericão ao molho de tomate, rondeli 4 queijos e muito mais!

Para descontrair o ambiente, a música fica por conta do cantor Maell di Santê, com um repertório de clássicos da MPB.

Serviço: Feira de Massas e Vinhos da Villa Albertini
Data: 12/07/2019 (sexta-feira)
Horário: 18h30 às 23h30
Local: Villa Albertini- Rua Cristal 137 – Santa Tereza – Belo Horizonte
Contato: Érica Fonseca- Produtora- (31)9 8818 04 57
Os convites gratuitos podem ser retirados no site da Central dos Eventos.
https://www.centraldoseventos.com.br/events/show/feira-de-massas-e-vinhos-da-villa-albertini

Vinhos de meditação

Imagem de congerdesign por Pixabay

A pergunta surgiu num almoço com o amigo, Sr. L. A.: “Existe vinho para ser bebido sem o acompanhamento de um alimento? Por que você não escreve sobre isto?”

Segundo seu raciocínio, é quase impossível encontrar uma matéria, crítica ou mesmo análise técnica de um vinho sem que seja feita uma referência sobre possíveis harmonizações. Lembrou, num efeito comparativo, que no caso de outras bebidas alcoólicas, destilados e cervejas, por exemplo, nunca é mencionada nenhuma combinação com alimentos específicos.

L. A. não deixa de ter razão, e sua ótica poderia até estar correta se um único fato não fosse verdadeiro:

Nenhuma vinícola elabora um vinho tendo como objetivo harmonizá-lo com determinada preparação.

Enólogos não são Chefs de cozinha.

Vinhos são elaborados a partir de uma matéria-prima que varia de qualidade a cada safra. É na cantina onde são tomadas as decisões sobre a melhor forma de vinificar, em função da matéria-prima que se tem à mão e não para atender esta ou aquela receita culinária.

Entretanto, vinho e comida é uma combinação milenar, citada até no mais antigo dos livros, a Bíblia.

Em diversos países, o vinho é considerado um alimento, sendo sempre consumido nas refeições. Talvez esteja neste fato a origem desta associação, que implica na existência de combinações melhores ou piores entre o vinho e certos alimentos.

Em suma, um dia a mama errou a mão e o vinho, em vez de descer macio e redondo, transformando aquela refeição num momento de prazer, se tornou “duro de engolir”.

Quem se preocupa com harmonizações são os Cozinheiros e não os Enólogos: buscam receitas que combinem com um determinado vinho e não ao contrário.

Existem diversos argumentos a favor e contra esta ideia de sempre consumir vinhos acompanhados de alguma comida.

Um dos mais interessantes é o fato, bem conhecido, que o consumo de bebidas alcoólicas aumenta o apetite. De acordo com alguns compêndios médicos, o álcool desidrata o nosso corpo. Um alerta é enviado para o cérebro, que não é capaz de distinguir corretamente entre sede e fome.

Uma boa imagem disto é a famosa “larica”.

Fica clara a razão dos aperitivos, por exemplo, aquela cachacinha antes da feijoada, ou o drink antes do jantar, depois de um pesado dia de trabalho.

Muito comum atualmente é substituir o Scotch por uma taça de vinho, que vai se estendendo até o jantar. Prestem atenção em filmes e séries de TV, de qualquer origem, principalmente se o personagem é feminino: chegando em casa abrem uma garrafa de vinho.

Afinal, o que é um vinho de meditação?

Mais um chavão para o nosso glossário: seria um vinho que, por suas qualidades, deveria ser consumido sozinho, enquanto se pensa nas coisas boas da vida.

Nada deveria atrapalhar este momento, ele deve ser completo.

Nova questão: como determinar a qualidade de um vinho e decidir se é adequado para este tipo de degustação?

A resposta é complexa. Não existe uma unidade de mensuração da qualidade de vinhos. Logo, o gosto pessoal é quem vai definir. O conhecido “gosto ou não gosto” é a palavra final.

Mas é possível balizar se lembrarmos de duas qualidades do vinho: tanicidade e acidez. São estas duas características que, em algum momento, vão ditar se um alimento harmonizou ou não e, por extensão, se gostamos deste vinho ou não.

Um vinho de meditação deve ser, sobretudo, equilibrado, ou seja, nenhuma de suas características básicas, inclusive seu teor alcoólico, deve sobressair. Este seria um vinho adequado para ser degustado solo.

Caso contrário, seria necessária a presença de algum alimento que compensasse o desequilíbrio. Por exemplo, algo mais gorduroso para amenizar os taninos.

Alguns parâmetros, bem conhecidos, podem indicar vinhos de melhor qualidade do que os comumente encontrados em prateleiras de supermercados. O preço talvez seja o mais significativo, mas não é o único. Denominações de origem como DOC, DOCG, IP, quase sempre nos levam por um bom caminho, mas também não são verdades absolutas.

Técnicas de marketing podem se utilizar desde garrafas mais pesadas, passando por preços elevados, rótulos bem desenhados e até prêmios em concursos pouco conhecidos para empurrar um vinho de baixa qualidade.

Conselho final: vinho bom é o que você já conhece e gosta. Experimente-o, num momento adequado, sem maiores preocupações, confirmando ou não que é do seu agrado.

Este é o verdadeiro vinho de meditação.

Saúde!

Vinho da Semana: para meditar…

Arturo Garcia Solar de Sael Crianza 2012

Elaborado com a casta Mencia de videiras com mais de 80 anos de idade, na região D.O. Bierzo.

De cor vermelha com reflexos violáceos. O nariz é complexo com aromas de cereja, baunilha, figo seco e notas lácticas. Na boca é concentrado, suculento, elegante e com ótima acidez. O equilíbrio é perfeito, com taninos adocicados e uma excelente persistência.

Truques do ofício

A ideia deste texto teve origem numa situação vivida por um Sommelier durante o atendimento a um cliente.

Instado a sugerir um vinho para uma refeição de peixes e carnes brancas, o profissional ofereceu um belo Chardonnay sul americano, com ótima relação de preço. Ouviu a seguinte resposta:

“Não gosto de Chardonnay, prefiro um Chablis”.

Ficou claro que o cliente nada sabia sobre vinhos, apenas decorara algumas marcas ou nomes que usava para não parecer um leigo total.

Provavelmente muitos leitores não vão perceber a bobagem dita pelo nosso personagem. O mundo do vinho é cheio destas ‘pegadinhas’. Para dificultar um pouco as coisas, algumas destas pequenas armadilhas nunca são totalmente esclarecidas, seja para alunos de um curso ou para leitores assíduos de livros e colunas, como esta.

Aqui vai o mapa do tesouro: Chablis é um Chardonnay produzido na região, homônima, da Borgonha.

A quase confusão começa na maneira como vinhos são designados no Velho Mundo e no Novo Mundo. Anotem a regra básica para não passarem por este vexame:

No Velho Mundo os vinhos são denominados segundo suas regiões produtoras. No Novo Mundo, o mais comum é designar pela uva que foi usada na sua produção. Exemplos:

Bordeaux – talvez a mais clássica denominação, indica um corte de, pelo menos, Cabernet Sauvignon e Merlot. Para os brancos, Sauvignon Blanc e Semillon;

Bourgogne – tinto é Pinot Noir, branco é Chardonnay que pode receber denominações como Chablis, Meursault, Macon, entre muitas outras;

Além destes, produzem o Beaujolais a partir da casta tinta, Gamay, quase nunca lembrada por quem pede este vinho.

Vinhos produzidos pelos vinhateiros do Novo Mundo são mais diretos e fáceis de identificar pelo consumidor final: Cabernet, Merlot, Malbec, Carménère, Sauvignon Blanc, Torrontés, etc.

Normas de vinificação, específicas de cada região produtora, permitem pequenas adições de outras uvas sem que seja obrigatório mencionar em rótulos.

Isto nos leva a outra confusão bem comum entre apreciadores de vinho: a multiplicidade de nomes de uma mesma casta. Algumas são fáceis de perceber, como Alvarinho/Albariño, Syrah/Shiraz.

O trio Grenache/Garnacha/Cannonau é menos comum mas a dupla Zinfandel/Primitivo ficou famosa e poucos erram atualmente.

Existem uvas menos conhecidas. Eis algumas delas:

Jaen (Portugal) é a Mencia (Espanha);

Tinta Roriz ou Aragonez (Portugal) é a Tempranillo (Espanha);

Maria Gomes ou Fernão-Pires é a mesma casta portuguesa;

Malbec também é conhecida como Cot.

Como se isto não bastasse, existem as confusões regionais.

Muitos apreciadores acabam confundindo a região que está no rótulo como sendo a casta vinificada. A mais comum é a denominação italiana Chianti, um vinho elaborado, basicamente, com a uva Sangiovese, podendo conter parcelas menores de outras uvas locais ou europeias.

Pois esta mesma Sangiovese produz, também, o Brunello di Montalcino e o Morelino di Scansano.

Com esta versátil casta ainda é elaborado mais um grande vinho da Toscana, o Vino Nobile di Montepulciano, que é fonte de outra grande confusão com o vinho Montepulciano d’Abruzzo.

O primeiro faz referência à cidade onde é produzido. O segundo cita a casta, homônima, que produz este bom vinho na Pescara, região de Abruzzo.

Outra uva que vale a pena saber um pouco mais sobre suas denominações é a Sauvignon Blanc, conhecida por seus deliciosos vinhos produzidos aqui no cone sul e na Nova Zelândia.

Na França, duas denominações são importantes, Sancerre, no Loire e Pouilly-Fumé, em Nivernais. Esta última é o motivo de preocupação, pois existe um Pouilly-Fuissé que é um Chardonnay da Borgonha. Confusão na certa.

O truque é lembrar que a Sauvignon Blanc também atende pelo nome de Fumé Blanc.

Esta relação não pretende esgotar o assunto. Nem mencionamos a mais recente confusão entre Glera e Prosecco. Fica para outra matéria.

Saúde e bons vinhos!

Vinho da Semana: mais uma dobradinha de nomes, Monastrell/Mourvèdre.

Tarima Monastrell 2015

Orgânico com uvas colhidas à mão. No palato, apresenta notas de alcaçuz e chocolate. Tem aromas florais e de frutas vermelhas. Sua aparência é vibrante, com coloração vermelho rubi.

91 pontos de Robert Parker

« Older posts Newer posts »

© 2024 O Boletim do Vinho

Theme by Anders NorenUp ↑