Categoria: O mundo dos vinhos (Page 47 of 77)

Qual o melhor vinho de sua vida?

A imagem que ilustra este texto (*) é a do famoso Château Mouton Rothschild, localizado na região de Pauillac, Medoc.

Considerado como um dos melhores vinhedos da França, seu bom nome foi, em grande parte, obra de um dos seus donos, Philippe, Baron de Rothschild, uma personalidade cheia de nuances interessantes além de ser um afamado frasista.

Sua resposta para a pergunta que titula esta coluna é simplesmente deliciosa. Todos imaginariam que com sua enorme fortuna e elegante estilo de vida, indicaria algum de seus próprios vinhos ou, então, qualquer dos mais icônicos e caros rótulos do mundo.

Nada disto. Eis sua resposta:

“Recordo que quando era muito jovem, convidei uma bela dama para irmos à praia. No caminho, compramos uma garrafa que não custou mais de cinco francos. Este foi o melhor vinho de minha vida”.

Uma colocação importante que chama a atenção para dois pontos: a simplicidade (do vinho) e a qualidade da companhia com quem vamos desfrutar os bons momentos.

Ao longo da vida de um enófilo sério, o simples gostar de vinhos passa a ser uma arte. O gosto fica mais requintado, as garrafas se tornam, obviamente, mais caras, os acessórios como saca-rolhas, taças, decantadores passam a ser ‘de marca’ e mais outras bobagens que tem, por objetivo, marcar terreno.

A adega torna-se um elemento importante da casa e nela estão guardados os mais preciosos tesouros.

Criam-se regras, não escritas, para abrir cada uma destas preciosidades, a tal ponto que na hora “H” as chances de tudo dar errado se tornam enormes.

Reparem na simplicidade do Barão: um vinho de 5 francos; mas uma bela dama ao seu lado.

Quanta sabedoria e que personalidade forte deste cavalheiro, muito seguro de si mesmo. No fundo, tudo o que ele planejou era cortejar sua dama, sem interferências, nem mesmo a do vinho.

Um momento perfeito!

Na última reunião da Diretoria (uma confraria), o confrade Sr. G, levou em belo vinho italiano, da Toscana, o Casalferro 2004. Lembrou que esta mesma garrafa já havia participado de outras reuniões e nunca fora aberta. Aos 15 anos, estava na hora de sacar a rolha e desfrutarmos de seu excelente conteúdo.

Ao fazer o exame da coloração, na taça, já se percebiam as bordas alaranjadas, primeiro sintoma que anuncia o fim de vida de um vinho.

Fomos degustando e beliscando petiscos árabes. A conversa fluía fácil sobre diversos assuntos e quando nos demos conta, o vinho estava com sinais de oxidação precoce. Morria em nossas taças…

Foi seu último suspiro para nossa alegria.

Entrou para o meu Top Ten.

Caro leitor, a bola está no seu campo.

Qual foi a sua melhor experiência vínica?

Saúde e bons vinhos!

(*) https://www.chateau-mouton-rothschild.com/

Borgonha para os Reis, Champagne para as Duquesas, Bordeaux para os Cavalheiros.

Este provérbio francês, anônimo, faz uma curiosa classificação entre os três maiores vinhos de França:

– Os Pinot, da Borgonha, estariam acima de todos;

– Os Champagne, só para o público feminino;

– Os cortes Bordaleses, seriam para os homens comuns.

Temos um ditado, por aqui, que é bem semelhante, e nos permite fazer uma deliciosa analogia:

“O Sol é para todos, a Sombra, só para os eleitos”.

Questionável é afirmar quem está sob a luz do Sol ou não. Os mais atentos certamente inverteriam a ordem dos vinhos e colocariam alguns “Chateau” acima de qualquer “Domaine”.

Então, o que realmente faz um vinho virar um ícone, um cult wine, o objeto de desejo daqueles que tudo se permitem?

Alguns fatos históricos colocaram os vinhos bordaleses em evidência: a classificação organizada por Napoleão e, antes disto, o consumo desenfreado pela corte inglesa. Leonor da Aquitânia, uma das mulheres mais poderosas de sua época, era proprietária de vários vinhedos em Bordeaux e foi esposa do Rei Henrique II da Inglaterra que também era o Rei Luís VII de França.

Os vinhos da Borgonha têm sua fama intrinsecamente ligada à sua qualidade. Isto se originou durante a incorporação destas terras pela França e a mudança de propriedade que passa das mãos da Igreja Católica para particulares, que vão formando os conhecidos Domaines.

Estes duas denominações resistem ao tempo. Nas lojas, se quisermos um Bordeaux, buscamos por um Chatêau, se a opção for Borgonha, procuramos por um Domaine.

Existem, por outro lado, rótulos em diversos países que, também, se tornaram famosos.

Barca Velha, em Portugal e Vega Sicilia, na Espanha são bem conhecidos nossos. Na Península Ibérica, as marcas são mais conhecidas que os produtores. Só para ilustrar, a Casa Ferreirinha produzia o Barca (agora é a Sogrape) e o Vega é homônimo de sua vinícola.

Na Itália, Barolos, Amarones e Brunellos são reconhecidos pelos seus produtores (Pio Cesare, Pieropan, Soldera…), o que nos dá uma outra pista para o caminho da fama: quem elabora estas preciosidades?

O Continente americano seguiu, por esta rota, com adaptações, para carimbar seus ícones. Por exemplo, alguns vinhos norte-americanos levam uma dupla assinatura, a do Enólogo e a do vinhedo. O famoso e disputado vinhedo, To-Kalon, produz, entre outros o sempre desejado Opus One. A simples sugestão de que as uvas procedem deste lugar torna-se um indicativo poderoso.

Olhando para a realidade sul-americana, o sobrenome Catena Zapata está sempre entre os melhores vinhos argentinos e do mundo. Entretanto, esta primazia é disputada, palmo a palmo, com outros nomes como Zuccardi, Vigil, Ricitelli (a lista é grande…), não descartando dois estrangeiros que ajudaram a moldar estes vinhos: Rolland e Hobbs.

Muito difícil separar seus vinhos de seus sobrenomes.

No Chile é parecido, com a ênfase caindo mais para as vinícolas do que seus enólogos/produtores. A Concha y Toro tem vinhos entre os mais importantes do mundo, alguns em associação com grandes produtores franceses (Almaviva, Don Melchor, Carmim de Peumo).

Lá se percebe outra disputa acirrada: Errazuriz, Lapostole (os donos são franceses), Undurraga, Cousiño Macul… E não podemos esquecer as vinícolas de garagem que fazem um sucesso indiscutível.

Incansável busca pela alta qualidade.

Temos nossos cult wines bem brasileiros também. O Lote 43, da Miolo, certamente entra em qualquer lista de vinhos importantes, assim como o Storia, da família Valduga. Entre os espumantes, Cave Geisse (Mario Geisse é chileno) é a nossa referência.

A estes nomes podem se juntar vários outros: Dal Pizzol, Salton…

Adotamos em nosso país a estratégia dos italianos: o nome do produtor é quem vai indicar a qualidade do vinho. Uma garantia.

Na sua próxima compra, desvie seus olhos do rótulo e avalie os outros parâmetros, como os citados neste texto.

Saúde e bons vinhos!

E as tendências?

Foto por GEORGE DESIPRIS para Pexels


No futuro, algum historiador terá como opção chamar esta era em que vivemos de “Época das Tendências”.

Parece que regem o nosso comportamento, quando deveria ser exatamente o oposto: o resultado do nosso comportamento.

Já foi chamada de modismo, mudança, alteração, desejos e outros sinônimos menos usuais. Os analistas de mercado estão sempre de olho nas subidas de preço de bens de consumo e novidades nas áreas de produtos e serviços. São sinais evidentes que novas tendências estão surgindo. Atrelado a isto pode estar uma boa oportunidade de auferir bons lucros.

O mercado do vinho é um negócio que deve estar sempre atento aos desejos de seus consumidores, que vão desde os mais conservadores aos mais influenciáveis pelos ‘trends”, como as gerações do Milênio e a Z.

Um dos modismos mais curiosos talvez nem possa ser chamado de tendência. Estamos falando dos Vinhos Naturais, afinal, no início, eram todos produzidos com o que, hoje, se estabeleceu como regras de vinificação naturais, onde não se utilizam defensivos e nem aditivos para corrigir problemas eventuais ocorridos no processo.

Numa vinificação convencional, dependendo das normas e cada país, podem ser usados cerca de 70 aditivos diferentes. Para os puristas, isto é inaceitável.

Querendo ou não, goste ou não, vinhos naturais, em suas diversas modalidades, vão, voltam e continuam em voga.

Outra tendência, que classifico como cíclica, é a dos vinhos rosados. Dois rótulos, bem conhecidos no Brasil, o Mateus Rosé, português e o Rose d’Anjou, francês, servem como exemplo. São elaborados há mais de 100 anos e embalaram o começo de namoro de muitos casais apreciadores de vinho.

Depois de um longo período de hibernação, os rosados voltaram com força total. Toda vinícola que se preze tem um rosado à venda…

No mundo dos espumantes temos opções mais interessantes. Não há dúvidas que o Champagne é uma tendência ‘per se’. O vinho das comemorações, do luxo, da sofisticação e do bom gosto.

Mas a moda é o simples Prosecco, o delicioso e refrescante espumante do Veneto. Em qualquer lugar do mundo se tornou chique bebê-lo. Elegante e acessível aos bolsos de qualquer mortal.

Mas a tal tendência dita que seu reinado está por receber um duro golpe: o Cava, outro espumante de qualidade, desta vez vindo da Espanha, apresenta suas credenciais e pede passagem, para alegria geral da galera…

Se o mercado dos vinhos borbulhantes está em plena efervescência, a turma dos vinhos tranquilos está acompanhando com muita atenção uma guinada, na preferência dos jovens consumidores, por vinhos mais leves e refrescantes.

Se pensou em brancos acertou na mosca. Os tradicionalíssimos tintos encorpados e pesados estão na tendência de permanecer nas prateleiras das lojas.

Para finalizar, uma tendência que está perdendo força é a de comprar seus vinhos baseados nos pontos atribuídos por algum crítico especializado. A moda agora é outra: vamos seguir quem recebe mais ‘likes’ nas redes sociais. Os novos críticos são os consumidores e as opiniões expressadas no Instagram, Facebook, Vivino, entre outros, valem muito mais que 100 pts Parker.

Qual caminho vocês vão seguir?

Saúde e bons vinhos, tendenciosos ou não.

Existe um vinho perfeito?

Provavelmente não.

Atingir a chamada perfeição é quase uma obsessão, buscada por atletas, artistas, empreendedores e até produtores de vinho, numa eterna tentativa de ser o melhor entre melhores ou, pelo menos, ser mais facilmente reconhecido.

Realizando uma pesquisa simples, na Internet, vamos encontrar uma série de citações por pessoas famosas que têm um elo incomum: é uma busca inútil, sempre vão aparecer defeitos a serem julgados por alguém.

No mundo atual a melhor definição de perfeição seria algo como “possui defeitos, imperceptíveis para os outros”.

Relativizamos a perfeição…

Sendo assim, o possível vinho perfeito seria aquele que apresentaria o menor número de defeitos, o que levanta outras questões:

– Que defeitos seriam estes?

– Quem julga se eles estão presentes, ou não, no vinho?

– Como o consumidor final é informado destes fatos?

Nenhuma destas perguntas tem uma resposta simples e direta.

Vamos examinar o ponto de vista do produtor: será que ele colocaria, conscientemente, um vinho defeituoso no mercado?

Vinhos não são produzidos a partir de uma “receita de bolo”. A cada safra há pequenas variações na qualidade das uvas, implicando em ajustes constantes na adega.

O processo é todo monitorado e as correções que se façam necessárias são aplicadas, sem maiores problemas. Depois de prontos, os vinhos ficam um período em estágio de maturação, sendo colocados no mercado somente depois de um OK da equipe de enologia.

O que nos leva a uma única conclusão: dentro dos parâmetros estabelecidos pelo produtor, seu vinho está perfeito.

A próxima etapa será definida por críticos e profissionais especializados, que tem como missão influenciar o consumidor final.

Uma forte dose de subjetividade vai reger esta fase.

Dentro deste ‘saco’, vamos encontrar os diversos sistemas de pontuação, os grandes críticos de ontem e hoje, as publicações especializadas, blogs, sites, etc…

Cada um vai ter uma opinião diversa sobre um mesmo vinho.

Há um consenso sobre as opiniões de críticos como Parker, Robinson, Johnson e outros: nenhum deles representa um gosto universal. Suas avaliações são melhor interpretadas se olharmos regionalmente.

Nossa memória gustativa decorre da forma como fomos alimentados desde criança. Na vida adulta isto será a eterna referência do que nos é agradável ou não.

Ninguém tem dúvidas de que podemos utilizar as opiniões de qualquer um deles a nosso favor, mas ajustes são necessários. O melhor caminho é provar e comparar: estes 100 pts Parker realmente me agradam ou estou apenas sendo levado pelo marketing quase perfeito?

Neste ponto, encontramos algumas respostas para a terceira interrogação mencionada anteriormente. Mas não é tudo.

Há muita coisa para nos fazer pensar, por exemplo:

– Um vinho caro é sempre bom? (ou seja, preço é um parâmetro confiável?);

– Analogamente, um vinho barato é ruim?

– Qual o meu verdadeiro perfil com relação ao vinho?

Aqui podemos desdobrar:

– Prefiro, tinto, branco, rosado ou espumantes;

– Vinhos tânicos e encorpados ou suaves e macios?

– Alguma casta se destaca em relação a outras?

– E as regiões produtoras, alguma em especial?

Se conseguirmos formar um perfil, pessoal, com a ajuda destas ideias, já estaremos bem perto de descobrir o nosso vinho perfeito.

Não importa se ele não for o mesmo de seus amigos.

O mais provável é que cada um de nós tenha descoberto a sua própria definição de vinho perfeito.

Saúde e bons vinhos!

Cartas de vinhos e o Sommelier

Este catálogo que está em minhas mãos é a carta de vinhos do excelente restaurante Castas e Pratos, em Peso da Régua, no coração do Douro.

Intimidante, sem dúvidas, mas um luxo que merecia ser examinada por um longo tempo.

Está era uma exceção, mesmo para os padrões portugueses. Mesmo assim, enfrentar qualquer carta de vinhos exige alguma ciência. Se for o caso, conversar com o Sommelier da casa pode ser a melhor solução, o que demanda mais um pouco de conhecimento.

Pedir a carta de vinhos já é um indício que se pretender elevar o nível de uma refeição. Quando bem elaboradas, seguem algumas regras, nem sempre respeitadas, que facilitam sua interpretação. Para relembrarem ou tirarem algumas dúvidas vejam esta matéria já publicada:

Escolhendo um Vinho no Restaurante

Para não cometer erros, o que pode acontecer até com gente experimentada, vamos apontar alguns caminhos que devem ser percorridos.

A primeira coisa a fazer é pesquisar um pouco sobre o restaurante e seu cardápio. Muitos já disponibilizam, on line, a sua carta de vinhos para uma consulta. Anote o que lhes agradam e, principalmente, o que não corresponde às suas expectativas, o que inclui, e é muito importante, o preço.

Se achar que os valores estão acima do esperado não hesite em optar por uma garrafa mais em conta. Os bons restaurantes costumam ter vinhos em ofertas, o que pode ser bem interessante do ponto de vista da relação custo x benefício.

Antes de se decidirem, examinem a carta com atenção. Não busque apenas o que conhecem, mas aventurem-se por mares nunca dantes navegados, em novas castas ou regiões produtoras. Uma carta bem elaborada sempre oferecerá um descritor de cada vinho.

Se após este exercício ainda não forem capazes de decidir, está na hora de pedir ajuda ao Sommelier.

Esta conversa tem que ser franca e aberta.

Comece esclarecendo qual o tipo de vinho que têm em mente, incluindo, castas, origem, cor, corpo, equilíbrio e faixa de preço. Sobretudo, digam o que não desejam.

Um bom recurso é usar a tecnologia como aliado. Usando um aplicativo sobre vinhos, mostrem um rótulo do que pretendiam consumir, caso este vinho não esteja na carta.

Perguntem sobre os vinhos em taça e se algum deles seria uma boa opção para vocês. Peça para provar. Se gostarem, encomendem uma garrafa.

Lembrem-se que um bom profissional tem por dever sugerir rótulos o mais próximo possível do que imaginaram. O ideal é ter a mente aberta e acatar sugestões fora da zona de conforto.

Para que fique tudo bem claro, usem termos comuns, deixando as tecnicidades de lado. Digam: frutado, doce, seco, leve, pesado, etc…

Façam comparações com o que gostam e estão habituados, isto ajuda muito na hora de encontrar alternativas e demonstra, para o Sommelier, que ele não está lidando com neófitos.

Para não cair nas mãos de um mau profissional, adepto da empurroterapia, deixe bem claro o quanto desejam gastar.

Quando o vinho chegar à mesa, será servida a prova para quem o encomendou. Existe uma razão para este gesto: vocês podem desistir desta garrafa, escolhendo outra em substituição. A primeira razão é o vinho estar defeituoso. A outra razão é não estar de acordo com o que foi “negociado” com o Sommelier.

Por isto é tão importante que que a conversa com este profissional seja a mais clara e aberta possível.

Todos saem ganhado.

Saúde e bons vinhos!

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