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Mendoza 2014 – 1º dia

Já estava na hora de retornarmos à capital dos vinhos da Argentina e nos atualizarmos. A grande novidade é que seriamos acompanhados por um grupo de seis amigos: Ronald, Marcio, Fabio, Lobianco e o casal Gustavo e Lu. Partimos do Rio numa 5ª feira em voo direto para Buenos Aires de onde embarcamos para Mendoza. Foi um dia inteiro de viagem chegando já de noite em nosso destino.
Para este dia não passar em branco havíamos programado um jantar de boas vindas num dos excelentes restaurantes de alta culinária, o Anna Bistró, com um variado cardápio e excelente adega. A tônica, obviamente, foram os pratos à base de carne com algumas pedidas de massa. Para harmonizar, abrimos os trabalhos com o Petite Fleur da vinícola Monteviejo. Duas garrafas foram consumidas rapidamente devido à baixa temperatura da cidade e à “sede” do grupo.
 
 
O segundo vinho servido com a chegada dos pratos foi o excelente Bressia Profundo, categoria Premium, nitidamente superior ao primeiro. Para finalizar brindamos com um dos bons espumantes da nova geração, o Cruzat, e fomos descansar, no dia seguinte iniciaríamos uma maratona de vinícolas e almoços harmonizados que se estenderia até Domingo.
 
 
6ª feira
 
Nosso roteiro de 3 dias, organizado pela Divinos Rojos (www.divinosrojos.com.ar – María José), foi montado sobre a ideia de conhecermos os terroirs mais importantes: Vale do Uco, Lujan de Cuyo e Maipu. Neste dia nos deslocamos para Tupungato, um dos distritos dentro do vale, para visitar o empreendimento Clos de Los Site, um consórcio de vinhedos e vinícolas de diversos proprietários franceses, comandado pelo famoso enólogo Michel Rolland.
 
São 5 empresas: Menteviejo, Flecha de Los Andes, Cuvellier de Los Andes, Diamandes e Rolland Collection. Visitamos estas duas últimas.
 
A Diamandes impressiona por sua premiada arquitetura. Um prédio muito bem estudado que cumpre as funções de integrar com a bela paisagem e ser perfeitamente funcional para a atividade que se propõe. Vejam as fotos a seguir e tirem suas conclusões.
 
Após esta visita seguimos para a vinícola de Michel Rolland, um contraste impressionante, era apenas um rustico galpão, apelidado de “Concrete Box” (caixa de concreto) que nada tinha de charmoso, pelo contrário, era uma forte presença afirmando claramente: aqui se produz (excelentes) vinhos.
 
 
Fomos recebidos pelo enólogo chefe, o simpático Rodolfo Vallebella. Mais que uma bodega, aqui é um laboratório onde são testadas as mais recentes inovações na arte de produzir vinhos. Tudo é muito simples e direto, sem frescuras. A imagem abaixo mostra a atual tendência, um “ovo” de concreto onde o vinho é produzido e amadurecido.
 
 
Seguimos para a sala de barricas onde seria feita a degustação. A sequência começou com um Sauvignon Blanc em fase final de produção, retirado diretamente do tanque de aço inoxidável, seguido de Pinot Noir, Merlot, Malbec e terminando com o excepcional Camille, dedicado para a neta de Rolland. Este é um produto fora de série elaborado com um cuidado redobrado que inclui especialíssimos barris de carvalho montados com madeira de mais de 200 anos (foto). Tudo o que foi servido veio das barricas, nada em garrafa. Segundo o enólogo, esta é a forma correta de se visitar uma bodega. Vinho engarrafado qualquer um prova…
 
Observação registrada!
 
 
A sequência preparada por Rodolfo nos mostrou diversas possibilidades e foi altamente instrutiva: vinhos jovens, Malbec de diferentes vinhedos e vinhos de sonho. Valeu a pena!
 
O dia terminaria num delicioso almoço harmonizado preparado na Finca Blousson (finca = vinhedo) do simpático casal Victoria e Patrick, dois Portenhos que praticamente largaram suas atividades de origem (áreas financeira e de sistemas) e se mudaram para Mendoza para plantar uvas e, um dia, fazer vinhos.
 
 
Sem dúvida que o projeto é muito sério, lá estão 2 “ovos” já em pleno funcionamento com a assessoria de Matias Michelini, um dos bons enólogos argentinos.
 
 
Eis o cardápio do almoço e os vinhos servidos, todos muito exclusivos:

Recepção:

Empanadas de carne;

Vinho: Espumante Rosé Laureano Gomez;

Entrada: Sopa de cebolas ao Gruyere;

Vinho: Sabato Cabernet Sauvignon (Susana Balbo);

Prato Principal: Cordeiro no Forno de Barro com verduras assadas;

Vinho: Montesco Parral (Passionate Wine/Matias Michelini);

Sobremesa: Torta de maçãs com sorvete;

Café/Chá/Licor de Malbec (Artesanal Finca Blousson).

 
O melhor vinho, minha opinião, foi o Montesco Parral que merece um comentário: Parral significa Latada ou Pérgola, um sistema de condução da parreira em franco desuso. Michelini não só descobriu um vinhedo assim em Mendoza como o recuperou e produziu um belo vinho, mostrando que este tipo de arranjo para as vinhas ainda tem seu lugar. O sistema mais usado é a Espaldeira. Comparem as fotos:
 
 
Já estava escuro quando retornamos ao nosso hotel.
 
Dica da Semana:  não poderia ser outro, mas não é figura fácil por aqui.
 
Montesco Parral 2012
 
Elaborado a partir de 40% Cabernet Sauvignon, 30% Malbec e 30% Bonarda de vinhedos de mais de 30 anos plantados em latada, com estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês e americano.
Bem estruturado e encorpado, com estilo vibrante e com acidez refrescante, envolto por taninos de textura quase granulada. Consegue aliar opulência e austeridade.
94 pontos em 2010 e 90 pontos em 2012 (Parker).
 
 P.S.: só para constar, este vinho nas lojas em Mendoza ou em Buenos Ayres custa 140 pesos, algo como R$ 28,00 pelo câmbio paralelo…

Defeitos comuns no vinho

Por ser um produto em constante evolução, o vinho pode ser atacado por diversos males que acabam por destruir suas boas qualidades. Um bom enófilo certamente já encontrou defeitos ao abrir uma estimada garrafa. Quase sempre o destino é o lixo.
Alguns defeitos têm origem no próprio manuseio (inadequado) da uva, outros na fase de elaboração ou mesmo durante o armazenamento. Vamos descrever os mais comuns.
 
1 – Vinho “bouchonné” ou com cheiro de rolha
 
Muito fácil de ser reconhecido até por enófilos principiantes, pode ser descrito como um aroma de papelão úmido ou como preferem alguns críticos de língua ferina “cheiro de cachorro molhado”. Isto decorre da presença de TCA ou Tricloroanisol. Este composto ataca as rolhas e as barricas de envelhecimento produzindo o desagradável odor.
 
Nada a fazer se encontramos uma garrafa contaminada: jogue pelo ralo da pia. Nem para cozinhar serve…
 
2 – Vinho avinagrado
 
Sabemos que a palavra vinagre deriva da expressão francesa “vinaigre” que significa vinho agre ou azedo. Um vinho avinagrado foi contaminado pela bactéria “mycoderma aceti” conhecida como “vinagre mãe”. Isto decorre por baixa higiene na cantina ou por guarda incorreta associada à rolhas de baixa qualidade: nem todo o vinho serve para ser guardado.
 
Assim como no caso anterior, descarte…
 
3 – Aroma de “ovos podres” e similares
 
Este defeito denominado “redução” tem origem na presença acentuada de compostos à base de enxofre (mercaptanos), muitos deles usados como conservantes. Alguns autores descrevem este aroma como fósforo ou borracha queimada. A origem pode estar ligada ao excesso de sulfeto de hidrogênio usado na preservação do vinho ou por más condições de higiene durante a trasfega do vinho entre as diferentes fases de elaboração.
 
Segundo alguns especialistas, seria possível recuperar um vinho neste estado fazendo uma prolongada decantação em contato com uma ou duas moedas de cobre até que o aroma desapareça. Há um risco…
 
4 – Vinho oxidado
 
Este defeito pode ser descrito como o oposto do anterior. Em lugar do olfato, vamos precisar da nossa visão para identificar o problema: uma coloração quase laranja, sem brilho. Líquido velado. Em certos casos cheira a mofo ou coisa velha.
 
Isto é resultado de uma guarda excessivamente prolongada onde a rolha ressecou e houve uma indesejada entrada de ar na garrafa. O vinho morreu.
 
Curiosamente há quem consiga apreciar vinhos assim. Experts sugerem que se a gravidade não for intensa que se experimente um pequeno gole. Quem sabe não se descobre novas emoções.
 
Na maioria dos casos, lixo!
 
 
5 – Aromas de estrebaria
 
Este defeito decorre da presença de uma levedura natural, bem comum nas vinícolas a Brettanomyces. Há quem a classifique como uma super-levedura e a utilize na fermentação alcoólica. Mas qualquer descuido pode estragar tudo. Em condições normais as leveduras selecionadas na elaboração de vinhos conseguem neutralizar este defeito sem muitos problemas. Um rígido controle da fase de fermentação e boa higiene da cantina são suficientes.
 
Se o aroma não for dos mais intensos a vinho pode ser consumido. Caso contrário, descarte.
 
6 – Outros defeitos menos comuns
 
Embora raros, podem aparecer diversos outros aromas ou sabores que listamos a seguir. Vinhos com estes defeitos são candidatos a não serem consumidos:
 
– sabor de água de piscina ou alvejantes decorrente de excesso de alcalinidade;
 
– aromas e sabores de “remédio” ou “fármacos”. Ocorre em vinhos cujas uvas estavam atacadas pela podridão produzida pela “botrytis cinérea” ou que tenham sido adulterados;
 
– sabores metálicos decorrente do contato com alguns metais que não deveriam estar presentes na fase de elaboração.
 
7 – Vinho sem aroma ou sabor
 
Comumente denominado de vinho fechado ou chato. Em geral é um vinho ainda muito jovem ou que foi transportado em condições muito rudes: está em choque.
 
Dê uma chance a ele e o esqueça no decantador por um par de dias. Se não resolver, descarte.
 

Dica da Semana:  este não tem defeitos!
 
Chakana Malbec Reserva 2011
 
Produtor: Bodegas Chakana, Mendoza, Argentina
Púrpura intenso com reflexos violáceos.
No nariz, revela notas de frutas secas como ameixa adornadas por notas de especiarias exóticas e toques de chocolate.
Na boca, apresenta ótima concentração de frutas e taninos bem equilibrados.
Acompanha churrasco, carnes assadas e defumadas, pratos condimentados e queijos maduros.
 

Comprando um vinho desconhecido

 Esta é uma situação típica: entramos numa loja de vinhos ou num supermercado e nos deparamos com rótulos desconhecidos. Qual devemos comprar?
 
 
Para responder esta pergunta precisamos nos fixar em alguns pontos muito importantes e que envolve um pouco de disciplina e autoconhecimento. Vamos explorar estes aspectos embarcando numa interessante aventura.
 
1 – Explicando a estrutura de um vinho.
 
Parece complicado, mas não é. Podemos resumir em 4 aspectos: Fruta, Acidez, Madeira e Tânino.
 
Fruta ou Vinho Frutado são aqueles em que predominam os aromas e sabores das frutas. Bebidas mais suaves que enganam o nosso paladar parecendo quase adocicadas.
 
Acidez é quase o oposto, são os vinhos transmitem uma sensação de aspereza, sem ser desagradável, percebida na lateral e no fundo da nossa língua. Nos fazem salivar. Típico dos brancos.
 
Madeira ou Vinho Madeirado são os que foram elaborados e ou amadurecidos em contato com Carvalho. Apresentam aromas bem característicos como baunilha, manteiga e tostado. Mais comum entre os tintos, mas há excelentes brancos com algumas destas características.
 
Tânicos são os vinhos que tem um característico amargor percebido no céu da boca (enrugamento) ou nas gengivas. Uma exclusividade dos tintos por serem elaborados com suas casacas.
 
A compreensão e identificação destes 4 tipos são um conhecimento básico para definir o que cada um de nós aprecia mais na sua bebida favorita. Isto nos leva ao próximo passo.
 
2 – Descobrindo o nosso “estilo de paladar”.
 
Lá no início destas coluninhas, na fase que muitos leitores apelidaram de “curso”, sugerimos que fossem feitas anotações relativas aos que estávamos consumindo. Desta forma elas poderiam ser úteis mais tarde. Vamos nos valer deste recurso acrescentado uma pequena tabela que irá relacionar, na experiência gustativa de cada um, os 4 pontos descritos acima em um vinho qualquer. Não precisa ser nada muito elaborado. Abaixo um exemplo que serve perfeitamente: (atribua notas de 1 a 10 para intensidade de cada item)
 
Nome: “Château do Tuty”
Casta: Cabernet Sauvignon (se for um corte anote a casta predominante)
Fruta – 6
Acidez – 4
Madeira – 5
Tanino – 7
 
Experimente diferentes vinhos e castas, brancos e tintos sem se preocupar com uma avaliação global do tipo bom/ruim ou gosto/não gosto. O importante é associar o paladar de cada um com os descritores sugeridos. Com algum tempo será possível perceber uma tendência, que será pessoal. Tente apenas lembrar se foi uma boa experiência ou não. Exemplo: as notas mais frequentes podem sugerir, para um apreciador de vinhos tintos, que o ideal seria tanino e madeira médios, predominância de fruta e baixa acidez.
 
3 – Entendendo o jargão do vinho.
 
Este passo vai nos ajudar a decifrar o que está escrito nos contra-rótulos ou em eventuais etiquetas de avaliação que costumam acompanhar as garrafas nas lojas especializadas.
 
Quase sempre os descritores utilizados estão associados a sabores ou aromas. Por exemplo: cítrico; achocolatado; etc..
 
Algumas são simples e diretas, mas o que falar de “terroso”, “mineral” ou “tabaco”? O melhor é pesquisar em livros ou na Internet as melhores explicações para estes termos. Uma boa conversa com alguém que seja mais experiente no tema, acompanhado de uma boa garrafa que produza a explicação desejada é a melhor lição.
 
4 – Usando os críticos a nosso favor.
 
Tornamos a repetir os nomes mais conhecidos: Robert Parker, Wine Spectator, Wine Enthusiast ou os nacionais Descorchados, Adega e Jorge Lucki que escreve no jornal Valor Econômico, em nossa opinião, o melhor crítico brasileiro.
 
Com poucas exceções, empregam um sistema de 100 pontos para classificar os vinhos que analisam. Se o seu crítico preferido adota outro sistema basta uma aritmética simples para fazer a correlação.
 
Tudo que precisamos saber para escolher um bom vinho é que uma nota de 85 pontos representa uma faixa que engloba 15% dos melhores vinhos.
 
Com grande certeza, a maioria dos produtos encontrados numa loja especializada está abaixo desta faixa. Obviamente há uma relação direta entre preço e nota atribuída: quanto maior, mais caro.
 
5 – Escolhendo um vinho desconhecido.
 
Munidos de todas estas informações podemos partir para a última parte de nossa aventura. Escolham a loja e busquem pelos vinhos com esta nota base de 85 pontos.
 
Leiam os rótulos detalhadamente procurando por descrições como “taninos aveludados, boa fruta, envelhecido em Carvalho”, etc.. Usando nossas anotações, podemos filtrar corretamente o que nos interessa e fazer uma boa compra.
 
6 – Um Bônus.
 
Persistência é tudo que precisamos para dominar esta arte da boa compra. Mas há uma grande vantagem: podemos utilizar estas novas habilidades para presentear alguém que gostamos.
Já pensaram nisto?
 
Dica da Semana:  um francês, para variar…
 
 
Auguste Bessac Côtes du Rhône 2010
 
Côtes du Rhône é o vinho mais vendido da região sul do Vale do Rhône, um tinto de bom corpo, aromas de amora, framboesa, cassis e notas de especiarias.
Em boca é equilibrado e saboroso, possui taninos maduros e final duradouro.
Harmonização: Bife ancho, carne de panela com batatas, medalhão de alcatra, massas ao molho carbonara e cassoulet.
 

Ícones Espanhóis – Final

Estes dois últimos vinhos de nossa pequena saga tem uma história que se entrelaça: “Viña el Pisón” da Vinha Artadi e o fabuloso “Contador” de  Benjamin Romeo, um dos primeiros vinhos espanhóis que recebeu 100 pontos de Parker.
 
8 – Viña el Pisón
 
Fundada em 1985 como uma cooperativa de agricultores e vinhateiros, a Artadi sempre teve o foco no respeito ao terreno e nas tradições que são mantidas até hoje. Seguindo preceitos orgânicos autossustentáveis e mais recentemente biodinâmicos, foi escolhida pelo importante Guia Peñin como a “Mejor Bodega” de 2014. Escolha mais que merecida.
 
Dentre os diversos vinhos que produz se destaca o Viña el Pisón, nome dado a um particular vinhedo de 2,4 hectares que fornece as uvas para esta vinificação.
 
 
Seguindo fielmente o princípio de que os vinhos são feitos no vinhedo e que seus segredos descansam e são guardados com zelo na Bodega, vinificam com extremo cuidado utilizando as leveduras autóctones e baixos teores de enxofre. Toda a movimentação dos frutos e líquidos é feita por gravidade.
 
 
Considerado por seus produtores com um reflexo de seus antepassados e da paixão dos que desejam manter vivo o espírito de um vinhedo, o “el Pisón” reflete, ainda, todo o equilíbrio entre os agentes naturais que se configuram no seu entorno que permitem a produção de um vinho cheio de características minerais muito sutis, frutas finas, especiarias complexas e delicadas além de taninos volumosos e acariciantes. Surpreendente, elegante, com sensações novas a cada gole.
 
 
Talvez a expressão máxima da casta Tempranillo.
 
Curiosidades:
 
– a safra de 2004 recebeu os 100 pontos de Parker;
 
– a Bodega Artadi não respeita integralmente os preceitos da Denominação DOC Rioja, por esta razão este vinho não recebe nenhuma classificação oficial;
 
– sua produção é minúscula o que o torna um vinho muito raro.
 
9 – Contador
 
Benjamín Romeo, proprietário e enólogo que produz esta joia da coroa espanhola das vinificações, foi o enólogo da Artadi até o ano 2000. Em 1996 já produzia alguns vinhos num caverna (cave/cueva) sob o Castelo de San Vicente de la Sonsierra. Pacientemente foi adquirindo diversas parcelas de vinhedos e elaborando vinificações experimentais na “cueva”. Seu primeiro vinho recebeu o nome de “Cueva del Contador”.
 
 
Em 2001, embalado pela boa receptividade de seu vinho, transforma a garagem da casa de seus pais em uma vinícola e parte para projetos mais ambiciosos. Nascia, assim, o mítico Contador, um vinho que recebeu nota máxima de Parker em duas safras consecutivas, 2004 e 2005. Benjamín Romeo passou a ser denominado o “Colecionador de 100 pontos”.
 
 
Este vinho é muito diferente de qualquer outro “Riojano” segundo seu produtor. Com uma complexa combinação de frutas no aroma e no palato e uma densidade fora do comum, o destaca como um vinho da era moderna, o oposto do que foi apresentado no início desta matéria, embora seja outro produto que traduz, com perfeição, os terrenos das diversas parcelas de onde foram colhidas as uvas para sua produção. Um corte de Tempranillo, Graciano e Mazuelo.
 
 
O gráfico acima é um retrato da complicada equação que rege a produção deste maravilhoso vinho: os diferentes segmentos mostram a participação de cada vinhedo na safra de 2008. Esta escolha é feita levando em conta a idade das parreiras e o volume que cada uma produziu. Só interessam plantas de pouca produção e idades provectas. A fermentação é realizada em barris de carvalho francês, de diferentes volumes. Não é utilizado o carvalho americano.
 
Uma loucura, quase uma obsessão. A eterna busca pela perfeição.
 
Curiosidades:
 
– depois de 2 notas 100 consecutivas, não houve uma safra em 2006: os frutos não atingiram a qualidade desejada;
 
– o nome decorre das salas, dentro das cuevas onde, antigamente, eram contados os odres de vinhos produzidos;
 
– a terceira e muito esperada terceira nota 100 ainda não aconteceu, mas não só o produtor como vários críticos acham que é só uma questão de tempo;
 
– em 2008 inaugurou uma moderníssima vinícola;
 
– o volume de produção não ultrapassa 5.000 garrafas por safra.
 

 
Dica da Semana:  um vinho da Bodega Contador que podemos desfrutar.

Predicador
 
O nome é uma homenagem ao personagem “The Preacher” (o Pregador) de Clint Eastwood. Está é a razão da imagem do rótulo.
Aromas de frutas vermelhas e negras, madeira fina, especiarias e notas minerais, mostrando grande complexidade. No paladar, é potente, fresco e maduro, com grande volume e pleno de frutas. Bom equilíbrio entre acidez e taninos suaves; boa estrutura e persistência. Um vinho muito fino, delicado, bastante longo e agradável.
 

Ícones Espanhóis – IV

Nestas duas últimas colunas sobre alguns vinhos fora de série da Espanha, vamos nos dedicar a quatro “Riojanos”. A Rioja, junto com a Ribera del Duero são as joias da coroa na vinificação espanhola.

6 – Remirez de Ganuza Gran Reserva

Fernando Remirez de Ganuza fundou esta vinícola em 1989 com uma única ideia: ser o mais fiel possível e total respeito às uvas. Com um vasto conhecimento obtido na comercialização de vinhedos, soube escolher com precisão as suas próprias parcelas dando início ao que muitos jornalistas especializados consideram com uma nova era do vinho espanhol.

 
Sua preocupação com detalhes, aliada ao que tem de mais moderno em tecnologia proporcionou a vinificação de vinhos de alta gama, entre eles este Gran Reserva.
 
A elaboração começa na seleção dos grãos que serão utilizados: apenas a parte superior dos cachos. As duas fases de fermentação (alcoólica e malolática) são realizadas em dornas de madeira (carvalho francês) ou em tanques de aço inoxidável com um desenho próprio e inovador.
 
A vinícola é reconhecida por seus pares como uma das mais inovadoras. Muitos deles acabam por incorporar as diversas técnicas por ela desenvolvidas. Impossível serem mais atuais.
 
 
O Gran Reserva recebeu 100 pontos de Parker na safra de 2004, única que provou até hoje. Descreveu como um “vinho que mostra um bouquet surreal, sendo impressionantemente potente, mas repleto de elegância”.

Um belo entrosamento entre tradição e modernidade.

Curiosidades:

– é o vinho preferido da Família Real Espanhola;
– só foi elaborado nas safras de 1994, 1995, 2001 e 2004;
– está à venda no Brasil (2004) por módicos R$1.770,00, mais frete;
– a vinícola Elabora tem um extenso leque de produtos onde se destaca a linha María Ramirez de Ganuza: a renda obtida com sua comercialização é doada para a Asociación Española Contra el Cáncer ou para a Fundación Síndrome de Down.

Show!

7 – Martinez Lacuesta Reserva Especial

Este vinho, mais que icônico, é uma raridade. Foi produzido em poucas ocasiões: a primeira foi em 1922 seguida por 11 outros anos aleatórios. A mais recente safra é de 2004. A maioria se encontra à venda, principalmente em leilões de colecionadores.

Esta não é uma vinícola jovem como muitas outras aqui apresentadas, foi fundada em 1895, pelo jovem advogado Félix Martínez Lacuesta, de 21 anos, junto com seus irmãos. Foi um personagem de grande importância nesta região, tendo sido o primeiro presidente da Associação Nacional de Vinhateiros, presidindo, também, o Sindicato dos Vinhos da Rioja. Foi ele quem estabeleceu as bases para criar a Denominação de Origem Rioja.

 
A inclusão deste vinho entre os grandes da Espanha se deve à filosofia de trabalho desta empresa que é estritamente familiar até hoje: o esforço e o entusiasmo de melhorar a cada dia. Os atuais dirigentes promoveram uma grande modernização da vinícola em 2009, deixando-a atualizadíssima.
 
 
O vinho é descrito como “suave, elegante, sutil e perfumado. Seus taninos são perfeitamente equilibrados com as notas de carvalho” Segundo o atual Diretor Geral, Luis Martinez Lacuesta, isto se deve aos solos de saibro e calcário, ao clima do Atlântico, à nobreza da casta Tempranillo e o respeito da empresa por tudo que foi criado por seus ancestrais.
 

Curiosidades:

– assim como o vinho anterior, este também é um preferido dos Reis de Espanha;
– foi servido ao Papa João Paulo II em sua visita a este país em 1982
– a empresa produz uma série de ótimos vinhos e um vermute de excelente qualidade.

Dica da Semana:  um riojano a preços camaradas.

Marquês de Cáceres Crianza 2008

Perfeito para quem aprecia os típicos vinhos riojanos.
Tem um estilo único, com aromas de frutas vermelhas maduras, madeira e couro que lhe é atribuído pelo amadurecimento em barricas e garrafa.
Harmoniza com Paella Valenciana, cabrito assado, medalhão de alcatra grelhado com batatas assadas, pizza napolitana e arroz de pato.

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