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Ícones Espanhóis – III

Mais um par de excelentes vinhos para aumentar a nossa cultura enológica, embora os preços sejam quase proibitivos. Mas são histórias muito interessantes.
 
4 – Clos Erasmus, Priorat
 
Este é um vinho raro por vários aspectos: a região era pouco conhecida quando de sua primeira elaboração; é produzido por mãos femininas, algo quase inconcebível na Espanha; recebeu 100 pontos de Parker.
 
 
Poderia citar mais fatos curiosos, mas o que me parece mais importante é que tudo isto tem a “ajuda” de Alvaro Palacios, um dos personagens da coluna da semana passada. Explico a seguir.
 
A proprietária desta microscópica vinícola, Daphne Glorian, de origem Suíça, trabalhava para um comerciante de vinhos inglês quando conheceu, numa Feira de Vinhos, Alvaro Palacios e Rene Barbier, proprietário do Clos Morgador no Priorado. Ciceroneada por ambos, visitou um vinhedo, o Clos i Terraces, pelo qual se interessou e o adquiriu na década de 90.
 
 
Com muito trabalho e tenacidade, nenhum investidor se interessou por este projeto, levou adiante sua vinícola, seguindo princípios orgânicos e mais tarde (2004) biodinâmicos. Produziu um dos vinhos mais importantes do planeta. Mesmo assim não foi fácil obter o reconhecimento da crítica especializada, foi preciso algum tempo.
 
 
Elaborado a partir da casta Garnacha, é descrito como “rico, complexo, com diversas camadas de frutas, especiarias, alcaçuz, erva-doce e taninos maduros. O mais importante é sua intensa mineralidade que o distingue dos demais vinhos e forma sua espinha dorsal”.
 
Curiosidades:
 
– o nome é uma homenagem ao filósofo holandês Erasmo de Roterdã, que escreveu “O Elogio da Loucura”. Segundo Daphne, uma perfeita descrição de sua aventura e do resultado;
 
– em 2011 não houve uma safra do Erasmus (1ª safra em 1989). Para compensar, elaborou o Laurel, um corte de diversos outros vinhos elaborados na vinícola. Outro sucesso de vendas, um “mini Erasmus” a preços convidativos;
 
– é uma vinícola muito jovem, 25 anos apenas, que com sua alta qualidade provocou uma importante mudança na forma como apreciamos os vinhos espanhóis, principalmente se olharmos para as empresas mais tradicionais como as centenárias Marqués de Riscal (1860), Marqués de Murrieta (1852), López de Heredia (1877), CVNE (1879), Montecillo (1872) e La Rioja Alta (1890).
 
Prêmios:
Clos Erasmus 2004 – 100 pts Parker;
Clos Erasmus 2005 – 100 pts Parker; 94 pts Guia Peñín;
Clos Erasmus 2006 – 97 pts Parker;
Clos Erasmus 2008 – 99 pts Parker; 94 pts Guia Peñín;
 
5 – Pesus, Ribera del Duero
 
A vinícola familiar Hermanos Sastre ou simplesmente Viña Sastre tem uma bonita história. Em 2010 foi distinguida com o título de “mejor bodega europea del año” pela importante publicação norte americana Wine Enthusiast, particularmente devido aos excelentes caldos elaborados: Regina Vides; Pago de Santa Cruz e especialmente pelo Pesus.
 
Para chegar a este patamar de reconhecimento há muito trabalho e dedicação que remontam aos anos 50 quando o patriarca desta família, Severiano Sastre, começa a produzir alguns vinhos na região de La Horra. Em 1957 funda a Cooperativa Virgen de la Asunción junto com outros vinhateiros e seu filho Rafael Sastre que, em 1992, ajudado por seu pai e os dois filhos Pedro e Jesus, daria início à sua própria vinícola, a Viña Sastre.
 
 
Com o falecimento de Rafel em 1998 e dois anos depois de Pedro, a empresa passa a ser comandada por Jesus Satre, sua esposa Isabel e o amigo Eugenio Byon.
 
 
“Pesus” foi formado pela junção dos nomes dos irmãos Pe(dro) e (Je)sus. Um espetacular corte de 80% Tempranillo, 20% Cabernet Sauvignon e Merlot, a partir de uvas colhidas em vinhas com 80 anos ou mais. Sua produção é de apenas 1.500 garrafas por ano. Só é elaborado em safras ideais.
 
Curiosidades:
 
– A Sastre forma um time de vinícolas junto com a Vega Sicilia e a Pingus que se traduz em grande prestígio e reconhecimento para os vinhos espanhóis;
 
– o Pesus é um dos vinhos mais caros do país;
 
– Parker atribuiu 98 pontos para as safras de 2001, 2003, 2004, 2006;
 
– a revista especializada Wine Enthusiast atribuiu 100 pontos para a safra de 2006.
 
– a safra de 2009 se encontra à venda no Brasil: aproximadamente R$ 3.000,00 a garrafa…
 
Dica da Semana: não é para os “pobres mortais”, mas pensem como um investimento.
 
Laurel 2010 – $$$
Corte de 80% Garnacha, 20% de Syrah além de Cabernet. Envelhecido em dornas e barricas de carvalho francês. Muito maduro, apresenta aromas de frutas negras e violetas. No paladar é encorpado com taninos macios corretamente equilibrados por uma boa acidez. Presença de frutas escuras, cítricos e alecrim.
 
 
 
 
 
 
Notícias do CORAVIN: o fabricante, após diversas análises, está enviando para todos os compradores que registraram o produto, uma solução para resolver ou pelo menos minimizar o problema de garrafas explodindo, até que uma solução final seja desenvolvida.
O paliativo é um envelope de silicone que deve envolver a garrafa quando se utiliza o CORAVIN.
 
 

Ícones Espanhóis – II

Seguindo em nossa caminhada pela Espanha, vamos apresentar dois vinhos, L’Ermita e o La Faraona, produzidos por enólogos de uma mesma família, Alvaro Palacios e Ricardo Perez Palacios, tio e sobrinho. Um está no Priorado o outro em Bierzo.
 
2 – L’Ermita
 
 
Alvaro Palacios (foto acima), após estudar enologia em Bordeaux, decidiu que não retornaria para os vinhedos de sua família na Rioja e saiu em busca de novos terroirs. Encantou-se com a região do Priorado, Catalunha, adquirindo a hoje conhecida Finca Dolfi, em 1990. Em 1993 adquiriu um segundo vinhedo, hoje considerado como o melhor desta região, o L’Ermita, plantado com a casta Garnacha nas inclinadas encostas de uma colina.
 
 
O talento deste enólogo elevou a qualidade dos vinhos desta região aos mais altos níveis. Este seu espetacular vinho, um corte das castas Garnacha e Carinena, entra na categoria dos “emocionantes”, um daqueles que se dá a vida para prova-lo: sedoso, elegante, cheio de frutas como cereja negra e amora além de uma equilibrada acidez.
 
Outros vinhos de sua autoria são os excelentes Camins del Priorat, Les Terrasses, Gratallops Vi de Vila e Finca Dolfi.
 
3 – La Faraona
 
Em 1999 nasce, pelas mãos de seu sobrinho, outro vinho que fez história no mundo da enologia. Com trajetória muito semelhante, Ricardo Perez Palacios, após completar seus estudos de enologia, trabalhou por muitos anos no Château Margaux em Bordeaux, em busca de aperfeiçoamento. Retornando ao seu país, inicia uma busca por novos territórios com vocação para grandes vinhos optando pela região de Bierzo. Com a ajuda de Alvaro, compram terras, plantam algumas castas, entre elas a Mencia, montando a vinícola Descedientes de J. Palacios. Desta parceria nasceriam alguns vinhos do mais alto nível.
 
 
A grande estrela, o La Faraona, beira o inacreditável. Elaborado a partir de uma parcela selecionada de apenas 1 hectare, rende pouco mais de 1 barrica (500 a 600 litros): muito poucos privilegiados podem desfrutar de uma destas exclusivas garrafas. Um autêntico “Single Vineyard”.
 
 
Apesar de pequena, esta vinícola produz uma interessante série de ótimos vinhos que vão desde outros “single vineyards”, Fontelas, Las Lamas, Moncerbal e San Martin, passa pelo estupendo Corullón e tem como vinho de entrada o que está na dica desta semana.
 
Curiosidades:
 
– um irmão de Alvaro, Rafael Palacios, produz excelentes vinhos na região de Valdeorras;
– a família Palacios tem um grande vinícola em Rioja, a Palacios Remondo;
– os dois vinhos mencionados nesta coluna estão entre os 10 mais caros da Espanha: de US$ 400.00 a US$ 1,000.00.
 
Com um Clã destes nada poderia dar errado…
 
Dica da Semana: o vinho de entrada desta segunda vinícola e que já foi comentado em uma de nossas colunas (http://oboletimdovinho.blogspot.com.br/2013/06/um-otimo-exemplo.html).
 
Petalos del Bierzo – $$$
Produzido na fria região de Bierzo com a uva Mencia, uma rara casta local que lembra a Cabernet Franc, recebeu na safra 2009 nada menos que 93 pontos da Wine Spectator, que o descreveu como “um tinto sem arestas, com densidade e harmonia” e “cheio de caráter”. Potente, concentrado e muito elegante, é um vinho de grande apelo, que já se tornou um enorme sucesso.
Robert Parker: 92 pontos (safra 11)
Wine Spectator: 93 pontos (safra 09)
Robert Parker: 90 pontos (safra 09)
Robert Parker: 90 pontos (safra 08)
Wine Spectator: 90 pontos (07)

Ícones Espanhóis – I

Vamos iniciar uma pequena série e reparar uma injustiça: comentamos muito pouco sobre os vinhos da Espanha. Em 2013, este país ibérico se tornou o maior produtor de vinhos do planeta com um impressionante volume de 50 milhões de hectolitros. É muito vinho!
 
Por razões históricas preferimos os vinhos de Portugal, mas fora isto não existe motivo para relegar a Espanha a uma nota de pé de página. Algumas castas são comuns em toda a Península Ibérica como a emblemática Tempranillo que recebe outros nomes na terrinha: Aragonez e Tinta Roriz. Há outros exemplos.
 
Na terra das touradas, boa gastronomia e de um futebol muito competitivo (foram prematuramente eliminados na copa de 2014) são produzidos alguns dos melhores vinhos do mundo. Em 2011 apresentamos o Vega Sicilia (http://oboletimdovinho.blogspot.com.br/2011/11/um-icone-espanhol.html), mas ele não é o único “monstro sagrado” de lá. Vamos conhecer alguns outros.
 
1 – Pingus
 
Talvez seja o vinho mais procurado da Espanha e não é fácil encontra-lo: artigo raro. O Domínio de Pingus é uma minúscula vinícola, localizada na Ribera del Duero. Conta com 5 hectares de vinhedos, 100% Tempranillo, com idade média de 65 anos. O método de produção, que segue os princípios orgânicos e biodinâmicos, é totalmente artesanal. Utilizam um prensa rudimentar e a fermentação é feita em grandes dornas de madeira: o vinho é meio que deixado por conta própria. Para o amadurecimento são utilizadas poucas barricas novas de carvalho, onde o vinho passa por fermentação malolática. Só é engarrafado após 20 meses de repouso, sem filtração ou clarificação. São produzidas apenas 500 caixas por ano. A primeira vinificação foi em 1995, conseguindo notas altíssimas de vários críticos, inclusive Parker, que lhe atribuiu 100 pontos sem maiores delongas, afirmando ser um dos vinhos mais espetaculares que provou.
 
 
Por trás deste sucesso encontra-se o enólogo e proprietário Peter Sisseck, um dinamarquês que trabalhou e aprendeu suas técnicas em diversos grandes produtores. Pingus era seu apelido de infância.
 
 
Dois outros vinhos são produzidos por ele, o Flor de Pingus, também 100% Tempranillo, considerado como o segundo vinho da empresa, obtido a partir de vinhedos de outros produtores. Desde 2003, elabora, também, o limitadíssimo Ribera del Duero Amelia, a partir de vinhas com 100 anos ou mais. Em parceria com outros produtores da região colabora no vinificação do PSI, outro interessante projeto.
 
Por ser um vinho caro e quase é necessário ser “amigo do rei” para colocar a mão numa destas míticas garrafas do Pingus, mesmo que tenhamos os recursos disponíveis: o preço médio, nos EUA, ultrapassa os 1.000 dólares podendo chegar a cinco vezes este valor, dependo da safra.
 
Para os mais aventureiros há uma curiosa forma de conseguir um: em 1997 um navio, que transportava 75 caixas desta preciosidade para os Estados Unidos, naufragou no meio do Atlântico Norte.
 
Já encontram até o Titanic, então…
 
Dica da Semana: outro bom Tempranillo espanhol com preços para os pobres mortais…
 
Senda 66 – 2011 – $
Cor púrpura, com aromas de amora e carvalho. No palato é médio encorpado, acidez moderada, taninos médios, intensidade de moderada a alta. Destacam-se notas de café, cereja preta e creme de cassis. Final de médio a longo.
RP 88 pts

Vinho na Copa do Mundo 2014

No dia 12 de junho deste ano no inacabado Itaquerão, que deveria ter sido chamado de “Curingão”, ocorreu o 1º jogo da tão esperada Copa do Mundo FIFA, na qual o nosso esquadrão “Canarinho” tentará ser hexacampeão, acalmando os nervos de governantes e cidadãos… Vamos torcer, obviamente, mas sem o mesmo entusiasmo observado em outras épocas, notadamente 1970.
 
Chega de saudosismo!
 
A grande novidade introduzida pela poderosa D. FIFA foi a liberação de bebidas alcoólicas nos estádios, que era proibida por resolução da CBF e foi, tecnicamente, ratificada pelo Estatuto do Torcedor (existem brechas jurídicas). Como um dos patrocinadores desta Copa é a Cervejaria Budweiser, da Inbev, o nosso Senado aprovou, em regime de urgência, A Lei Geral da Copa que, entre outras benesses concedidas para a D. FIFA, libera a venda de bebidas alcoólicas durante os jogos.
 
Além da cervejota, estarão presentes 3 vinhos tranquilos brasileiros e 1 espumante, que a nossa poderosa e arrogante personagem principal decidiu que seria francês: um Taittinger. Uma tremenda deselegância com os nossos excelentes produtos. Só por isto já valia um protesto!
 
O Sr. Blatter, velho conhecido nosso, é um daqueles personagens que tem até assessor para pegar coisas que caem no chão. Muito necessário no caso dele, pois se abaixar, não levanta mais…
 
Intriga? Olha a prova aqui:
 
 
Para fornecer os vinhos, um branco, um tinto e um rosé, escolheram uma vinícola boutique localizada no Vale dos Vinhedos, a Lidio Carraro. Interessante escolha, pois esta empresa já havia fornecido os vinhos dos Jogos Pan Americanos de 2007 no Rio de Janeiro. Naquela época foram selecionados 5 rótulos da vinícola, entre eles, 2 espumantes.
 
 
Para a Copa foi desenvolvida uma linha especial denominada Faces FIFA World CUP™.
 
Segundo a vinícola:
 
“A cor, os aromas e os sabores do Brasil. A sua terra e a sua gente traduzidos no vinho. Um “time de uvas” em perfeita harmonia, provenientes de distintos terroirs brasileiros, para valorizar a diversidade, vocação e identidade do País verde-amarelo! A combinação de uvas escolhida forma o caráter do vinho onde cada uva é responsável por um atributo na composição da cor, aroma e sabor”.
 
O Branco
 
Um corte de três uvas bem adaptadas ao terroir Gaúcho: Chardonnay, Moscato e Riesling Itálico. Foram vinificados em separado utilizando-se métodos adequados para cada casta. Depois de amadurecidos em tanques de Inox foi feita uma assemblage na proporção de 1/3 para cada vinho.
 
Na taça mostra cor amarelo dourada brilhante com lágrimas preguiçosas. As primeiras notas sentidas são as que têm como origem a Moscato: rosas brancas, frutas cítricas e frutas exóticas, complementadas com notas de flor de tília e pêssego maduro passadas pelos demais vinhos. O Riesling Itálico contribui com frescor e persistência, além de uma nota delicada de flores brancas cabendo ao Chardonnay ser a estrutura de ligação entre os vinhos, contribuindo com notas frutadas, volume e consistência em boca. O retrogosto é agradável e convidativo.
 

O Rosé

Este vinho foi pensado para ser o preferido nas cidades de clima mais tropical. Algo para ser consumido nos dias quentes, em vez da cerveja. Um vinho descompromissado. A embalagem foi estudada para ter pouco peso e ser fechada com tampa de rosca simplificando sua abertura. Ainda assim, é um vinho elaborado com todos os cuidados exigidos e com o padrão de qualidade da Lidio Carraro.
 
Novamente 3 castas foram selecionadas, Pinot Noir, Merlot e Touriga Nacional, representando as diferentes regiões onde se cultivam as viníferas no Rio Grande do Sul. O corte, obtido a partir de vinificações em separado, como no vinho branco, contemplou a seguinte proporção: 50% Pinot Noir, 35% Merlot e 15% Touriga Nacional. Segundo a Enóloga Monica Rossetti, está foi a melhor combinação, obtida após numerosos ensaios.
 
A coloração rosa salmão produz agradável impacto visual convidando a uma degustação descontraída. Os 50% Pinot Noir produzem um caráter essencialmente frutado, com notas como cereja, groselha e pomelo. Aromas complementares de framboesa e morango, que aparecem depois de alguns minutos de evolução na taça, são devido à casta Merlot, exercendo um papel determinante na boca, conferindo um agradável volume e um perfil refrescante e jovial ao vinho. A casta de menor proporção, Touriga Nacional, marca a personalidade do vinho com uma nota floral de rosas e especiarias orientais.
 
 

O Tinto

Foi elaborado com uma interessante característica: 11 castas diferentes, como se fosse um time de futebol, com uma escalação pensada cuidadosamente. Sem dúvida é o vinho mais interessante do grupo. A elaboração foi muito trabalhosa: cada uva foi vinificada de forma independente, utilizando diferentes processos para cada casta. A preocupação da enologia era ressaltar as diferentes combinações de solo, clima e uvas que caracterizam a produção de vinhos no Rio Grande do Sul. Um resultado interessante. Eis a “escalação”:
 
Goleiro: Malbec;
 
Defesa: Tannat, Nebbiolo, Alicante e Ancelotta;
 
Meio-Campo: Pinot Noir, Touriga Nacional, Tempranillo e Teroldego;
 
Ataque: Cabernet Sauvignon e Merlot.
 
 
Para o corte, os vinhos passaram por fermentação malolática e após vários testes escolheram a seguinte proporção:
 
50% Cabernet e Merlot;
 
35% Tannat, Malbec, Pinot Noir e Teroldego;
 
15% Ancelotta, Nebbiolo, Touriga Nacional, Tempranillo e Ancelotta.
 
Na taça, este vinho remete imediatamente às duas uvas “atacantes” em cor e aromas marcantes. Como num time de verdade, as “meio-campistas” marcam sua presença através de sutis notas de ameixa, chocolate, framboesa e violetas, além de proporcionar volume. Coube ao grupo da “defesa” cuidar da estrutura e dos aveludados taninos. A Malbec, firme no gol, responde pelo final de boca com suas notas frutadas e de especiarias doces.
 
 
Apesar das descrições elaboradas, fornecidas pela vinícola, são vinhos para serem consumidos já. Foram elaborados com todo o cuidado e preocupação com a qualidade, mas isto só não os torna “grandes vinhos” e nem poderia ser diferente. O principal objetivo é comemorar nas vitórias ou consolar nas derrotas. Findo o torneio, serão lembrados como bons companheiros. Tempo de guarda máximo de 3 anos.
 
Dica da Semana: escolham a sua versão preferida.
 
Faces FIFA World CUP$

Escolhendo um Vinho no Restaurante

Este é um assunto obrigatório para quem gosta de vinhos, principalmente para não fazer nenhuma bobagem quando nos entregam a temida Carta de Vinhos e somos convidados a selecionar uma garrafa para acompanhar a nossa refeição.

Existem regras para se elaborar uma boa carta. Para interpreta-la corretamente precisamos conhecê-las. Este é o assunto desta coluna.

Uma carta preparada corretamente deve conter algumas informações, seguir uma ordem de precedência e estar em sintonia com o tipo de gastronomia oferecida e a localização do restaurante.

A título de exemplo vamos usar a organização de uma carta de um restaurante de comida italiana no Brasil. Para efeitos didáticos ele será equipado com uma completa adega e um sistema de serviço de vinhos em taça: este deve ser o primeiro item da carta.

Pela ordem seguiriam:

– vinhos de aperitivos, em geral os espumantes. Eventualmente podem aparecer os fortificados secos (Porto e Jerez) e os Brandys;
– vinhos brancos secos;
– vinhos rosados;
– vinhos tintos;
– vinhos de sobremesa;
– fortificados doces.

Dentro de cada tipo de vinho acima os produtos disponíveis serão apresentados seguindo esta organização lógica:

– por país
      – por região
            – por varietal (casta)

Mas isto só não basta. Precisamos de uma ordem de precedência dos países produtores. O mais comum é encontrá-los listados em ordem alfabética, sinal que este restaurante não tem um bom Sommelier e provavelmente o seu serviço e a Carta de Vinhos são sofríveis.

Um local de classe adotaria a seguinte ordem de precedência:

– vinhos nacionais (se houver);
– vinhos do continente ou do pais do estilo gastronômico (neste caso, Itália);
– vinhos de outros continentes, por ordem de importância.

Em cada item destes, havendo diversos produtores, os mais importantes aprecem em primeiro lugar.

No nosso exemplo listaríamos os vinhos nesta ordem:

Brasil;
Chile; Argentina; Uruguai; (vinhos do continente)
Itália; (linha gastronômica)
Outros países produtores.

 
Para finalizar a carta e deixá-la a mais profissional possível, precisamos passar as informações que são realmente relevantes:

– Nome e tipo do vinho;
– produtor;
– safra;
– país de origem e região (os vinhos devem estar dentro de seus segmentos);
– volume da garrafa;
– preço.

Testem sua capacidade de observação: a carta a seguir tem alguns defeitos se considerarmos as regras apresentadas. O restaurante tem Pizza como prato principal…

 
Descubram os erros. (comentários no fim da coluna)

Com a chegada dos Tablets, as Cartas de Vinhos dos bons restaurantes deixam as limitações do papel de lado e embarcaram em novas dimensões. Agora é possível fazer diversos cruzamentos de informações que, até então, só podiam ser feitos com o auxílio do conhecimento daquele que manuseava a carta. Curiosamente, era sempre o homem mais velho da mesa. Resquício de uma era patriarcal em que só os machos tomavam decisões, vinhos inclusive. Os leitores já repararam que só nos é oferecido uma única cópia da Carta de Vinhos, enquanto cada comensal recebe um cardápio?

 
A qualidade da informação ganhou muito. A Carta de Vinhos cibernética pode apresentar uma infinidade de informações que vão desde uma foto do rótulo, passam por algumas críticas relevantes e terminam com sugestões de harmonização com o cardápio da casa. Show!

Numa carta tradicional isto é quase impossível.

Dica da Semana: estamos na época em que podemos consumir bons tintos sem se preocupar com as temperaturas elevadas dos dias de verão.

Q do E Baga-Merlot 2011 – $

À pungente variedade Baga, típica da Bairrada, juntou-se a maciez do Merlot e surgiu esse tinto, um vinho gastronômico e descomplicado, de excelente custo x benefício. A presença generosa de taninos e a boa acidez deste vinho sugere a harmonização com carnes vermelhas e gordas. O acompanhamento com molhos é bem-vindo

 

Defeitos da carta apresentada:

1 – não apresenta os preços;
2 – logo no início, apesar de ser um restaurante brasileiro, coloca o Champagne e espumantes argentinos antes dos espumantes nacionais;
3 – nos tintos, lista corretamente os vinhos brasileiros e do continente, mas pula, em seguida, para os espanhóis. Ou não tem vinho italiano, um erro, ou os colocou fora de ordem (só é apresentada uma página da carta).

Avaliação: se o leitor encontrou…

1 erro – precisa treinar mais;
2 erros – já pode pedir o vinho sem medo;
3 erros – Sommelier

Um alerta! – na coluna passada “Garrafas de vinho abertas: o que fazer?“,  mencionamos um acessório, o Coravin, capaz de servir o vinho sem retirar a rolha da garrafa. Nesta semana o produto foi retirado do mercado devido a uma falha em seu projeto: as garrafas preenchidas com o gás Argônio estavam explodindo. Um risco desnecessário.

Manteremos os leitores informados do desenrolar deste “imbróglio”.

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