Dica da Semana: um interessante branco espanhol dentro do espírito de vinhos para o verão.
Dica da Semana: um interessante branco espanhol dentro do espírito de vinhos para o verão.
José Paulo Gils, nosso experiente consultor, lembra: “Qualquer que seja o produto, você pode comprar um de boa qualidade sem ser conhecedor do assunto. Isto vale para os vinhos”.
Também não precisamos nos preocupar se o vinho era ruim. Neste caso ele sempre será um bom vinho e aqui começa a nossa aventura. Poderíamos, simplesmente, comprar outra garrafa idêntica. Estaremos absolutamente seguros que vamos repetir uma boa experiência, mas o que aprendemos? Nada!
Encontrar este vinho tão especial é quase um rito de passagem. Agora estamos seguros para tentar entender o que é ter paixão por vinhos, discutir sobre Chateau Petrús, Vega-Sicilia e Romanée Conti e, quem sabe, investir numa garrafa icônica.
Embora a Negroamaro seja considerada a casta emblemática da Puglia, foi a Primitivo que fez as engrenagens do progresso se movimentar e alavancar a indústria de vinhos desta região, por uma simples razão: com o nome de Zinfandel, ficou famosa na Califórnia. Vamos conhecer um pouco desta história.
A Zin, apelido carinhoso colocado pelos californianos, foi a casta que mais sucesso teve nos EUA, sendo a mais plantada naquele território. Em 1967 o professor da Universidade de Davis, Austin Goheen, visitou a Itália e ficou intrigado com a semelhança entre os vinhos produzidos com a Primitivo e a Zinfandel.
Estudos posteriores, com mudas levadas para os EUA, demonstraram que do ponto de vista ampelográfico eram a mesma uva. Em 1976, o professor italiano Dr. Lamberti, levantou a hipótese que ambas castas seriam descendentes da Plavac Mali, uma espécie da Croácia.
Este fato abriu uma nova série de estudos e pesquisas que culminaram, em 2011, quando foi encontrada uma antiga varietal denominada Crljenak Kaštelanski, que significa “Uva Tinta de Castela”. Através de desmembramento da cadeia de DNA concluíram que ela, a Primitivo e a Zinfandel eram a mesma uva, sendo a Plavac Mali uma prima.
Se o leitor pensa que o mistério foi esclarecido está enganado. Em 2012 surgiu um novo capítulo: as Mestres do Vinho Jancis Robinson e Julia Harding, junto com o geneticista suíço Dr. José Vouillamoz, após anos de pesquisas e testes de DNA concluíram que a Zinfandel/Primitivo/Crljenak descendem de outra casta croata, a Tribidrag, que existe desde o século XV.
Como estudioso do assunto e apreciador dos vinhos destas uvas, posso afirmar que ainda não se chegou ao fundo desta questão. Ao analisar o nome Primitivo, descobrimos que tem origem no fato desta varietal amadurecer precocemente. O que nos leva a pensar: uma casta espanhola, a Tempranillo, cujo nome tem o mesmo significado da italiana, o recebeu pelas mesmas razões… (há estudos em andamento, mas até o momento, são uvas distintas).
Existe outra possibilidade para explicar o nome, bastando trocar o gênero para o feminino: Primitiva. Alguns autores ainda afirmam que os vinhos produzidos seriam rudes, duros e mal-vinificados devido ao caráter irregular do amadurecimento. Nada mais distante da verdade, principalmente se olharmos o sucesso espetacular, em todo o mundo, conseguido com a irmã californiana. A italiana vai mais longe: já foi demonstrado que evoluiu para um clone bem superior em relação ao norte-americano.
Seus vinhos são simplesmente deliciosos e se os leitores ainda não provaram um Primitivo está na hora de fazê-lo. São alcoólicos e com taninos marcantes, cores intensas e profundas, muito saborosos e aromáticos.
A principal denominação é Primitivo di Manduria, uma cidade da província de Taranto.
Em 2012, a revista Gentelman, encartada no jornal Milano Finanza, analisou os 5 maiores guias italianos de vinho, Gambero Rosso, Bibenda, Veronelli, l’Espresso e Luca Maroni comparando os resultados. O grande vencedor foi:
Primitivo di Manduria ES 2010 de Gianfranco Fino
Um “caldo” descrito como monumental, carregados com sabores de cerejas negras e frutas vermelhas. Notas de baunilha temperadas pelo adocicado do Carvalho. Aveludado e fresco com ótima acidez. (sem representante no Brasil)
Dica da Semana: o irmão da dica da semana passada. Excelente relação custo x benefício. Difícil não gostar deste vinho.
Vamos começar esta coluna contando um pouco sobre a Puglia, uma região topograficamente muito diferente do resto da Itália. Olhando para a “bota”, estamos no que seria o calcanhar e salto.
Não existem montanhas aqui, é uma grande planície, com um solo muito bom para as videiras. Tem a maior produtividade de todo o país, com impressionantes 130 milhões de caixas de vinho por ano. Isto é mais do que muitos países produtores tradicionais. Com uma tradição vinícola de mais de 2000 anos e com pelo menos 25 áreas demarcadas, a Puglia só acordou para os vinhos de qualidade recentemente.
Uma das regiões mais pobres deste país, sempre produziu vinhos para serem transformados em Vermute, apesar de um clima e geografia idênticos aos dos principais produtores do novo mundo. Um dia “a ficha caiu” e importantes vinicultores redescobriram esta incrível região vinícola.
Existem diversas castas plantadas na Puglia, além de Negroamaro e Primitivo encontramos as tintas Malvasia Negra e Uva di Troia. Entre as brancas temos: Verdeca, Bianco d’Alessano, Bombino Bianco, Malvasia Bianca e Trebbiano.
Negroamaro é a uva emblemática desta região, embora vinhos com 100% desta uva não sejam comuns. Quase sempre está associada a outras varietais. Pesquisas genéticas apontam que é uma uva nativa desta área tendo como ponto de origem a mesma raiz genética da Sangiovese e da Verdicchio. Seu nome também gera interessantes questões: apesar de “amaro” significar amargo em italiano, não parece ser esta a tradução correta para a uva em questão. A melhor interpretação nos leva a dois idiomas, Latim e Grego antigo. Do primeiro reconhecemos ‘Negro’ e do segundo vem a termo ‘maru’ que também significa negro: Negro maru = Negro amaro = negro negro ou, numa interpretação moderna, negro intenso.
Maru tem a mesma raiz fonética de Merum, um vinho trazido para a Puglia por colonos que ali se estabeleceram antes dos gregos, no século VII AC. Na literatura clássica encontramos algumas referências a ‘mera tarantina’, por autores romanos, o que nos leva a crer que a Negroamaro poderia ser a uva usada no Merum.
Produz vinhos de cor escura muito profunda, com taninos que variam de médios a intensos. Medianamente aromática, tem sabores marcantes de frutas negras com notas de canela, cravo e outros temperos secos.
A principal região produtora é a planície de Salento, destacando-se a vila de Salice (DOC Salice Salentino) com seus tintos e rosados. Um produtor de destaque é a Masseria Candido que, brevemente, terá seus vinhos à venda no Brasil.
Dica da Semana: Um excelente representante desta DOC elaborado por uma jovem e moderna vinícola.
Masseria Trajone Salice Salentino Riserva
Uva: 80% Negroamaro, 15% Malvasia Nera di Lecce e 5% Malvasia Nera di Brindisi
Encorpado, cheio de fruta madura e com um delicioso acento regional, este saboroso tinto da Puglia mostra um estilo fácil de agradar, ideal para acompanhar comida. Uma bela descoberta, de excelente relação qualidade/preço.
Harmonização: Carnes assadas, cordeiro, massas, risoto e polenta.
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