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Lidando com os Enochatos

Tudo na vida tem uma origem e os Enochatos não são uma exceção.

O vinho, desde os tempos bíblicos, é uma bebida do dia a dia. Sempre fez parte da mesa em diversas culturas do velho mundo. Imaginem que, em determinadas eras, era mais seguro bebê-lo do que água!

Ao longo da linha do tempo, o vinho foi se sofisticando até se tornar uma bebida dos ricos e cultos. Degustar uma taça passou a ser um símbolo de status. Para apreciar corretamente esta preciosidade, é preciso passar por um treinamento e ter uma boa dose de conhecimento sobre esta bebida.

A culpa é nossa!

Vamos fazer um curioso paralelo com a mais antiga competição entre barcos à vela do mundo, a Copa América, que disputa neste ano de 2024, a sua 37ª edição. A primeira regata ocorreu em 1851, em águas inglesas.

Sua história, além de bonita e interessante, traz um importante subsídio para compreendermos as razões da sofisticação do vinho. O objetivo desta regata, disputada originalmente entre barcos mercantes, era descobrir qual seria o mais rápido.

Existe mesmo uma lenda relatando que o desafio de dois mercadores, cada uma afirmando que seu veleiro era o melhor, foi a verdadeira origem desta disputa esportiva.

Partindo do “meu barco é mais veloz que o seu”, fica fácil perceber que, em algum momento, um vinhateiro levantou a mesma dúvida: “meu vinho é melhor que o seu” .

Para resolver esta questão, surgiram os primeiros especialistas em provar vinhos, talvez o protótipo do “enochato”. Sua função era dirimir a dúvida.

Pode parecer estranho, mas os primeiros membros desta aborrecida classe de apreciadores foram os críticos e suas pontuações. Os vinhateiros passaram a se preocupar mais com as notas recebidas do que com o público consumidor.

O mundo do vinho nunca mais seria o mesmo. Desde então, o que interessa é saber “quantos pontos eu tenho na taça”.

Múltiplos desdobramentos vêm ocorrendo, por exemplo, as diferentes safras destes “doutores” em perturbar a boa ordem, até um preocupante afastamento, por parte das novas gerações, que trocam o vinho por outras bebidas “menos complicadas”. Esta atitude, está refletindo na produção vínica, quando grandes produtores como França, Espanha e Itália estão erradicando vinhedos para diminuir a produção e segurar os preços de venda.

Culpa dos enochatos.

Tudo bem que existem diversas versões destes “mala sem alça”. Alguns são bem toleráveis, enquanto outros, principalmente aqueles que optam por criticar quem, na sua visão, consome o vinho de forma errada, são insuportáveis.

Estão sempre atrás de pequenos erros, que todos cometem, para nos chamar a atenção e soltar um daqueles velhos e conhecidos chavões.

Se formos espertos, podemos deixá-los falando sozinhos. Aqui estão umas boas dicas para contra-argumentar:

1 – “Você não examinou o vinho antes de provar”.

Não é preciso seguir o habitual rito ao degustar um vinho – olhar a cor, sentir os aromas, aerar e provar. Pergunte se ele precisa saber ler uma pauta musical para apreciar uma orquestra sinfônica;

2 – “Estas taças não são adequadas”.

Neste caso, chute o balde e indique o local da compra, por exemplo, no mercado da esquina. A taça não faz diferença;

3 – “Sua taça está muito cheia, não há espaço para o vinho respirar”.

A melhor resposta seria um “gostei do vinho e estou com sede”. Se você não é da turma que segue o rito, não tem o menor problema. Só cuidado para não derramar o precioso líquido num movimento brusco.

4 – “Este vinho custa $ no supermercado”

Não é um argumento válido. Há vinhos caríssimos que não nos agradam, enquanto vinhos mais modestos podem acertar em cheio. Um dos rótulos de maior sucesso na Espanha, atualmente, é um produto exclusivo de uma rede de supermercados e custa 4 Euros. 95 pontos Parker;

5 – “Não está na temperatura ideal”

Na verdade, não existe uma temperatura ideal, cada vinho é um caso, seja ele tinto, branco ou rosado. Existem recomendações. Se achar que é necessário esfriar ou esquentar um vinho, existem muitos recursos para tal. Dentro de certos limites, vale até colocar uma pedra de gelo na taça. O ideal é ter algumas uvas congeladas, ou cubos metálicos que são vendidos para este fim. Não diluem a bebida;

6 – “Que rótulo feio ou que garrafa esquisita”

Outra grande bobagem. A qualidade de um vinho não é medida pela beleza da sua embalagem. Com a preocupação sobre as mudanças climáticas, o vidro virou um vilão. Novas formas de embalar o vinho estão em uso e a qualidade do que está dentro não mudou. Já existem garrafas 100% de papelão reciclado, outras de alumínio e, finalmente, os grandes produtores se curvaram para a sempre preterida “bag in box” (vinho em caixa de papelão revestido). São embalagens muito econômicas.

Agora que vocês já têm ferramentas para se livrar dos Enochatos, fiquem com a Dica desta semana.

Saúde e bons vinhos!

Dica da Karina – Cave Nacional

Villa Bari – Doppio Cabernet Franc e Sauvignon 2013

O vinhedo da Villa Bari está localizado nas colinas de Porto Alegre, no Estado do Rio Grande do Sul. Nessa região do Brasil, o clima subtropical, caracterizado por chuvas bem distribuídas durante todo ano, e por verões quentes e invernos frios, é apropriado para o cultivo de uvas. O produtor Luiz Barichello é neto de italianos do Vêneto, que chegaram ao Sul do Brasil em 1885 e fundaram a cidade de Garibaldi, reconhecida por sua produção de vinhos e espumantes. Cresceu envolvido no ambiente da vinicultura e aprendeu com seu pai e com seu avô a cultivar a paixão pelos vinhedos e pelo vinho, formando, assim, uma memória olfativa e sentimental que agora procura reproduzir em seus próprios vinhos. O Villa Bari Doppio 2013 é elaborado com as variedades Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon produzidas na Villa Bari.  De coloração vermelho rubi com nuances alaranjados e ótimo brilho.  Apresenta aromas complexos, com presença de frutas como ameixa e compota de morango.  Em boca, equilibrado, com uma acidez perceptível além de boa intensidade e persistência.

Para comprar este vinho, clique no nome ou na foto. A Cave Nacional envia para todo o Brasil.

CRÉDITOS: Imagem de abertura por Pixabay

Degustamos 6 Pinot Noir brasileiros

A Cave Nacional, uma empresa especializada em vinhos brasileiros aqui no Rio de Janeiro, promove regularmente degustações comparativas muito interessantes.

Nesta oportunidade, prepararam um “flight” com vinhos elaborados com a Pinot Noir, contemplando seis “terroirs” diferentes: cinco do Rio Grande do Sul e um de Santa Catarina. Além das diferentes regiões, cada produtor optou por um método de elaboração.

Chama a atenção a escolha desta casta, tida por todos como a mais importante e temperamental varietal tinta. Com ela são produzidos os famosos vinhos da Borgonha, entre eles o icônico Romanée-Conti, bem como os melhores Champagnes do mundo, quando é vinificada em branco.

Para os menos atentos, pode parecer exótico que esta uva seja produzida no nosso país. Mas é fácil entender as razões: também produzimos ótimos espumantes!

Implantada, aqui, nos anos 70, esta casta é de difícil manejo e adaptação ao nosso clima mais úmido. Mesmo assim, mestres da vinificação conseguiram dominá-la, elaborando produtos de alta qualidade.

Apresentamos os vinhos degustados e nossos comentários, na ordem em que foram servidos.

1 – Peruzzo 2022 (Campanha Gaúcha)

Ficha técnica resumida: “Um Pinot de boa complexidade. Traz no nariz os aromas de frutas vermelhas como morango e cereja seguindo com especiarias como pimenta preta e cravo além de notas terrosas. Na boca acidez marcante e taninos bem macios trazendo um final de eucalipto.”

Este vinho não passa por madeira. As notas frutadas sobressaem no olfato e no paladar. Perfeito para uma degustação informal.

2 – Pericó Basaltino 2021 (SC)

Ficha técnica resumida: “Elegante, com notas expressivas de amora, ameixa, mirtilo e cereja e notas discretas de pimenta rosa e baunilha, que se entrelaçam com os taninos macios devido à permanência em barricas francesas, tornando-o um vinho envolvente e harmônico.”

Um dos vinhos que mais agradou aos participantes deste evento. Os descritores mencionados são percebidos com facilidade. Muita mineralidade devido ao solo basáltico, que dá nome ao vinho.

3 – Antônio Dias Crespim 2022 (Alto Uruguai)

Ficha técnica resumida: “Aromas de frutas secas, chocolate e especiarias. Na boca, apresenta-se leve, com taninos macios. Amadureceu por 4 meses em barris de carvalho francês de primeiro uso.”

Escolhido ao final da degustação como o melhor de todos. Muito bem vinificado, com excelente tradução do terroir onde é produzido.

4 – Casa Eva 2023 (Flores da Cunha)

Ficha técnica resumida: “Apresenta complexo aroma de frutas vermelhas, como cereja e ameixa passa, com leves notas de damasco e especiarias como o cravo. Em boca tem bom volume, com taninos macios e acidez sutil, retrogosto longo e marcante. 6 meses em barricas de carvalho francês e americano (50%/50%).”

Uma verdadeira bomba de frutas no olfato e no paladar. Foi o vinho mais criticado, com observações como ‘bala tutti-frutti’ ou ‘gelatina de framboesa’. Apesar das críticas, é um vinho bem elaborado. Talvez sua juventude tenha influído no resultado. Alguns anos em garrafa lhe farão muito bem.

5 – Torcello 2022 (Vale dos Vinhedos)

Ficha técnica resumida: “Aroma de frutas vermelhas como cereja, framboesa e morango mescladas com um leve toque de caramelo e chocolate. Em boca apresenta-se em harmonia, com acidez equilibrada e taninos elegantes.”

Um vinho bastante atípico para as características tradicionais desta casta. A coloração mais fechada já era um primeiro sinal. Esta vinícola tem como método de trabalho usar barricas de carvalho americano. A presença de madeira era evidente, mascarando outras notas típicas da Pinot.

6 – Manus 2023 (Encruzilhada do Sul)

Ficha técnica resumida: “Notas terrosas, frutas vermelhas como cereja, framboesa, também chocolate amargo, notas de baunilha e especiarias. Em boca é persistente, equilibrado, com taninos macios e excelente acidez.”

Este foi o vinho que mais nos impressionou. Apesar da safra recente, suas notas aromáticas eram muito difíceis de serem percebidas. Demorou muito para “abrir”. A grande surpresa estava no palato, um delicioso leque de sabores que surpreendeu a todos. Um belo investimento para quem aprecia este estilo.

Foi uma grande oportunidade para aprender mais um pouco sobre a Pinot Noir, os diferentes “terroir” e métodos de elaboração em uso no Brasil. Não havia dois vinhos iguais ou parecidos. Cada um tinha sua personalidade, dividindo as opiniões dos presentes. Todos com muita qualidade.

Entre os melhores o Antônio Dias teve o maior número de votos, seguido pelo Torcello. A única unanimidade foi o Casa Eva.

Saúde e bons vinhos!

Dica da Karina – Cave Nacional

Antônio Dias Crespim – Pinot Noir 2022

ANTÔNIO DIAS CRESPIM, é uma homenagem ao patriarca da família, que inspirou o nome da Vinícola. Este vinho vem para enaltecer a história da família e a expressão do terroir do Alto Uruguai.

De coloração rubi de média intensidade, característico desta uva. Aromas de frutas secas, chocolate e especiarias. Na boca, apresenta-se leve, com taninos macios.

Amadureceu por 4 meses em barris de carvalho francês de primeiro uso.

Produção: Foram elaboradas 1.332 unidades.

Para comprar este vinho, clique no nome ou na foto. A Cave Nacional envia para todo o Brasil.

Vinho e massas: qual a melhor harmonização?

A pauta do dia bem que poderia ser a famosa macarronada da Mama. Mais do que isto, este alimento composto de farinha, água e algumas vezes ovos, se tornou um símbolo da Itália.

Embora historiadores aleguem que a origem do macarrão é chinesa, com a receita trazida para a “Bota” por Marco Polo, foram os italianos que a elevaram aos altos níveis da gastronomia, criando diversos formatos, molhos e recheios.

Pasta, como preferem muitos, é basicamente neutra. Fica sem sentido uma abordagem, como nos textos anteriores a este, criando grupos e as respectiva harmonizações.

Quem vai comandar este show são os preparos mais clássicos desta fantástica gastronomia. Um deles, o popular molho à bolonhesa fica de fora. Harmonizem como se fosse um prato de carne.

Pasta al Pomodoro

O mais clássico e, aparentemente, mais simples de todos: massa, tomates e manjericão.

A receita original pede os famosos San Marzano, condimentos, azeite de oliva de altíssima qualidade e folhas de Basílico colhidas na hora. Cozimento lento, em fogo fátuo …

A primeira harmonização é a regional, um belo Chianti Clássico. Um vinho de corpo médio e com a acidez necessária para contrabalançar os sabores ricos e adocicados dos tomates.

Outra joia italiana, ou sua versão californiana, o Primitivo/Zinfandel, seriam escolha perfeitas.

Opções mais exóticas poderiam ser um bom Syrah ou Sauvignon Blanc.

Pasta al Pesto

Pesto, basicamente, significa algo que foi triturado num pilão e almofariz, “pestello e mortaio”, em italiano.

A receita mais conhecida é a do Pesto genovese, mistura de alho, sal, folhas de manjericão, pinoli e azeite.

Muito cuidado com este alho. A receita original pede uma pequena quantidade deste forte condimento. Para usá-lo corretamente, é preciso dividi-lo ao meio, no sentido longitudinal e remover o seu miolo.

Os vinhos brancos dominam esta harmonização: Vermentino, Sauvignon Blanc e uma casta pouco conhecida a Grechetto.

Para os que gostam de experimentar outras possibilidades, pensem num Grüner Veltliner austríaco ou num Cabernet Franc.

Carbonara

Talvez o prato de massa mais popular, nos restaurantes ditos típicos, aqui no Brasil. Com uma origem bastante controversa, a lenda mais aceita liga esta preparação às rações dos soldados norte-americanos na 2ª guerra.

Discussões à parte, é uma receita deliciosa. Para complicar um pouco, existem diversas versões deste prato. Giram em torno de bacon, pancetta ou guanciale, além dos queijos, Parmesão, Pecorino, Grana Padano e Ricota.

Procurem por tintos com mais personalidade: Dolcetto, Valpolicella ou um Cru de Beaujolais. Entre os brancos, Pinot Gris ou Pinot Bianco.

Pasta Caccio e Pepe

Esta receita com 2 ingredientes bem comuns, queijo Pecorino ou Parmesão e pimenta moída, é extremamente difícil de executar. Acertar o ponto da emulsão entre o queijo ralado bem fino, a pimenta e a água de cozimento do macarrão é só para os mestres cucas de primeira linha. São muitas varáveis a serem controladas: temperatura, granulometria do queijo e, principalmente, a origem dele. Pecorino Romano é o produto original.

Mas quando tudo se acerta é um sabor incrível. Entre os tintos, Morellino di Scansano ou um Chianti simples. Se a opção for por um branco, pensem num Verdicchio, Pinot Grigio ou Chardonnay.

Pasta ai Frutti di Mare

Dentro da gastronomia da “Bota”, este é um universo a parte. São tantas possibilidades que é praticamente impossível listar todas. Ficamos nas mais conhecidas: camarões, lulas, vieiras, mariscos e as sempre presentes ameijoas (vôngole).

Escolham um branco, sempre. Não há nada que combine melhor. Pode ser Sauvignon Blanc, Riesling, Garganega, Pinot Grigio ou Bianco.

Caso a proteína seja polvo, podemos harmonizar com um tinto. Um bom Pinot Noir vai brilhar neste caso.

Saúde e bons vinhos!

Dica da Karina – Cave Nacional

Pizzato – Legno – Chardonnay Barricado – 2023

A Pizzato acaba de lançar mais uma safra do seu icônico Chardonnay, o Pizzato Legno. Fermentado e amadurecido em barris Perle Blanche (feitos com os melhores carvalhos e com tostagem sutil) o vinho apresenta toda a riqueza e predicados relacionados à delicadeza dos Chardonnay do Vale dos Vinhedos, enriquecido pelos traços de amadurecimento em barris de carvalho, que respeitam a origem do vinho. A safra 2023 é a última lançada pela vinícola.

Para comprar este vinho, clique no nome ou na foto. A Cave Nacional envia para todo o Brasil.

CRÉDITOS: Imagem de vecstock no Freepik.

Vinho e carne: qual a melhor harmonização?

Vinhos tintos, com certeza, diriam muitos. Será? Questionariam uns poucos enófilos.

Não vamos comprar esta briga, vinhos tintos dominam esta cena, principalmente se a harmonização for com cortes bovinos. Neste texto, não vamos comentar aves, suínos ou ovinos. Ficam para outra ocasião.

Fazendo um paralelo com o texto anterior a este, onde foi possível agrupar e harmonizar peixes, podemos usar os diversos cortes mais comuns no nosso país para sugerir vinhos mais adequados.

Esta classificação será baseada no teor de gordura de cada tipo de corte.

Magros:

Filé Mignon;

Maminha (da Alcatra);

Patinho;

Lagarto.

Gordos:

Picanha

Fraldinha

Costela

Alcatra

Contrafilé

Cupim

Peito de boi

A regrinha, induzida por esta simples separação é bem direta: quanto mais gorduroso o corte, mais tânico deve ser o vinho, para ajudar a limpar o nosso palato após cada garfada.

Começamos pelas carnes gordas.

O Brasil, assim como dois nossos vizinhos, a Argentina e o Uruguai, é um campeão tanto na produção de carnes, como no seu consumo. Nos outros países citados, além de terem gado de excelente qualidade, produzem vinhos que, na concepção de muitos especialistas, são a combinação perfeita para carnes gordas: Malbec e Tannat.

Se existe um vinho que poderíamos chamar de “pau para toda obra” é o Malbec argentino. Esta uva, de origem francesa, se adaptou de forma espetacular no terroir sul-americano, tornando-se um ícone mundial.

Mas já não está voando sozinha. Brasil, França (Cahors), EUA, Chile e alguns outros, elaboram ótimos vinhos com esta casta.

A Tannat, de origem meio francesa e meio espanhola (região dos Pirineus), também se adaptou por aqui. Tem como principal característica produzir vinhos muito tânicos. Daí vem o seu nome. Além dos vinhos do Uruguai, nossas vinícolas, principalmente as da região da Campanha gaúcha, já elaboram excelentes Tannat.

Prefiram vinhos que sejam elaborados de forma mais atual, com madeira muito discreta ou nenhuma, apresentando notas mais frutadas e perfumadas. Picanhas e Alcatras agradecem ao Malbec, enquanto Costela e Cupim se rendem ao Tannat.

Mas não podemos ficar só nisso. Antes do surgimento deste novo clássico argentino, as “grelhas” eram dominadas pelo não menos famoso Cabernet Sauvignon. Esta uva francesa, originária de Bordeaux, rodou o mundo e talvez seja um dos estilos de vinho mais fáceis de encontrar em qualquer loja ou supermercado.

Além dos franceses, Chile e EUA são os grandes produtores desta casta/vinho. Não precisam ser varietais 100%, corte com predominância da Cabernet está totalmente correto.

Outras opções a considerar: Syrah/Shiraz, Touriga Nacional.

Para as carnes mais magras, entre elas o sempre nobre Filé Mignon, os vinhos devem ser um pouco menos tânicos e com maior acidez. O Pinot Noir é uma boa primeira opção. Um tipo de vinho que também é “all around”, indo além dos cortes bovinos.

Outras castas a serem consideradas: Tempranillo, principalmente os riojanos, Chianti clássico, Zinfandel, Gamay como nos Beaujolais Villages, Garnacha e Merlot.

Este segundo grupo de cortes bovinos são servidos, comumente, em preparações mais elaboradas ou com molhos mais ricos, que vão influir, diretamente, na escolha do vinho.

Estamos falando de Sauce Bernaise, au Poivre ou o sul-americano Chimichurri. Os vinhos, em linha gerais, serão os mesmos já citados. O Sirah/Shiraz, neste caso, se torna muito versátil.

Para os molhos mais condimentados, escolham vinhos com maior acidez, alguma madeira e teor alcoólico mais baixo.

Para não deixar dúvidas, é possível se obter boas combinações com alguns brancos e rosados. Mas se impõem certas condições:

– Devem ser bem encorpados e com muita personalidade.

A lista não é longa. Busquem um Chardonnay mais maduro e com passagem por madeira. Entre os rosados, optem pelos mais escuros, como os espanhóis feitos com a Garnacha, os italianos elaborados com Aglianico ou os sul-americanos obtidos a partir de Malbec, Merlot ou Syrah.

(Para a sobremesa, a dica de hoje, da Karina, é imperdível!)

Saúde e boas harmonizações!

Dica da Karina – Cave Nacional

Casa Marques Pereira Cachos Temporões – Licoroso tinto doce 2023

A Vinícola Casa Marques Pereira produz uvas viníferas desde 2004 e em 2015, passou a ter vinhedo próprio na cidade de Monte Belo do Sul, Rio Grande do Sul. O vinho Cachos Temporões safra 2023 é um licoroso fortificado com Brandy e amadurecido em barris de carvalho francês. Límpido, de coloração rubi brilhante e intensidade média, possui notas de mirtilo, ameixas, tabaco, groselha e cedro. Apresenta taninos leves, com textura fina, acidez e corpo médios e final adocicado. Harmoniza com macarons de frutas, queijo azul, cheesecake de chocolate, palha Italiana.

Para adquirir este vinho, clique no nome ou na foto. A Cave Nacional envia para todo o Brasil.

CRÉDITOS: Imagem de abertura obtida no Freepik

Vinho e peixe: qual a melhor harmonização?

A velha regra já dizia: para peixes (e outras carnes brancas) harmonize com vinho branco. Acho que já nascemos sabendo disto.

Não está necessariamente errada. Em linhas gerais, ela nos impede de cometer um dos pecados capitais da gastronomia, quando não escolhemos um vinho adequado e estragamos tudo …

Harmonizar vinho e comida não deveria ser complicado, mas a gastronomia é cheia de detalhes. Um simples ingrediente coadjuvante pode mudar tudo e alterar, de forma drástica, a escolha do vinho a ser degustado.

Outro fator que cria mais um grau de complexidade, neste nosso caso, é a múltipla variedade de peixes que habitualmente consumimos. Notem que cada tipo possui uma textura de sua carne, cor (salmão, atum), teor de gordura e intensidade de sabor, independente da forma de cocção.

Acho que já imaginaram: na outra face desta moeda, temos uma enorme diversidade de vinhos brancos. São diferentes castas, formas de vinificação, terroir de diversos países produtores e assim por diante.

Quase seria necessária uma enciclopédia para decifrar tudo isso.

Podemos simplificar.

Para começar, vamos deixar de fora deste texto os crustáceos e moluscos.

Usando exemplos bem conhecidos, vamos agrupar os peixes da seguinte forma:

– Linguado, Tilápia e assemelhados: carne magra, escamosa e sabores suaves;

– Truta, Bacalhau, Robalo Negro etc.: carne mais firme e texturada, sabores típicos;

– Salmão, Atum e outros: carnudos, com alguma gordura e sabores marcantes;

– Enchova, Sardinha, Arenque e Cavala: sabores muito pronunciados.

Examinando esta divisão, é possível intuir uma regrinha básica que vai harmonizar, diretamente, a delicadeza ou intensidade do sabor do prato com um vinho congênere.

Alguma atenção precisa ser dada à forma de preparo: peixes grelhados são diretos no nosso palato, enquanto os preparados com molhos, principalmente os à base de laticínios, mascaram os sabores característicos, pedindo um vinho com maior acidez.

Para o primeiro grupo, o vinho ideal seria um clássico italiano, o Pinot Grigio. Para os gourmets, que adoram explorar outras possibilidades, experimentem um Vermentino ou um Fiano. A dupla ibérica Alvarinho/Albariño é ótima opção. Enfrentam, galhardamente, alguns molhos mais encorpados.

Devemos considerar um Chablis, também. Mas um bom Chardonnay da Borgonha, com passagem por madeira, é perfeito para acompanhar o clássico “Linguado à Belle Meunière”.

No segundo grupo temos sempre que lembrar o mote dos queridos portugueses: “Bacalhau não é peixe. Bacalhau é Bacalhau!”

Lá na terrinha, com sua enorme variedade de vinhos, o que manda na escolha é 100% o preparo. Tintos, brancos e rosados são opções totalmente aceitas.

Em geral, estes peixes pedem vinhos mais encorpados, maduros e com alguma madeira. Brancos espanhóis, Chenin da França ou África do Sul, são típicos. Entre os exóticos, escolham vinhos da Alsácia como o Riesling, o Pinot Gris, com pouco açúcar residual ou o Gewurztraminer.

Ceviche, preparado com Robalo ou Garoupa, pede um Torrontés argentino ou Sauvignon Blanc chileno. Estes vinhos funcionam bem em outros preparos com molhos cítricos.

Para o grupo do Salmão e do Atum, os tintos leves como o Pinot Noir são a escolha ideal. Devem ser degustados bem frios. Entre os brancos, optem por similares aos do grupo anterior: Sauvigon Blanc do Chile ou Nova Zelândia, Chardonnay mais aromáticos, como os da Califórnia e Riesling germânico.

Outros tintos possíveis: Beaujolais (uva Gamay), Chinon e Dolcetto.

O último grupo, peixes de sabor marcante, sempre são servidos com preparos simples e diretos. Algumas vezes são pequenos bocados oferecidos como aperitivos. Os vinhos devem ter presença tão impactante quanto esta paleta de sabores, e sempre com boa acidez.

Destacam-se os Vinhos Verdes portugueses, o Sauvignon Blanc, o Verdejo e o exótico Txacoli do país Basco, lembrem dos Pintxos.

Outras opções contemplam os vinhos rosados ao estilo provençal (Provence) e um possível tinto, elaborado com a casta espanhola Mencia, da região de Bierzo, servido refrescado. Pode ser uma ótima surpresa.

Por último, o nosso eterno vinho coringa, um bom espumante, Brut, pode ser o par ideal para qualquer um dos grupos.

Saúde e boas harmonizações!

Dica da Karina – Cave Nacional

Valparaíso – Vitale Garganega

A Vinícola Valparaiso possui filosofia de oferecer vinhos, na sua forma mais natural e genuína, através de técnicas que permitem produzir uvas perfeitas e sadias. Um vinho produzido em conceito laranja, com leveduras selvagens, sem correções enológicas. Aroma floral onde se destacam também amêndoas, damasco e maçã vermelha. Denso e untuoso, com acidez expressiva. Muito gastronômico, permite diversas harmonizações, inclusive com pratos com maior teor de gordura, como o carré suíno, ou ainda, pratos leves como o suflê de cogumelos.

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CRÉDITOS:Fish on fire” por jaycross está licensiada sob CC BY 2.0.

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