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Listas de fim de ano

São piores que promessas de campanha dos políticos: ninguém as cumpre. Como toda regra que se preza tem exceções, os “Livros de Ouro”, lista de contribuições em dinheiro, continuam populares nas nossas portarias, garantindo um 14º salário para os empregados.

Resolvi que na última matéria do ano eu vou escrever sobre as minhas listas, sejam elas de melhores ou piores vinhos, desejos, esperanças e o que mais me vier a cabeça.

Começo pelos vinhos.

O melhor vinho degustado nesse maluco ano de 2020 foi:

Quinta da Ervideira Invisível 2017, um Blanc de Noirs elaborado com a casta Aragonez. Foi degustado antes da pandemia, lá no mês de fevereiro.

Seu contraponto, o pior vinho degustado, foi o Chiroubles 2015 do Domaine Marcel Joubert. É um Cru de Beaujolais, uva Gamay, vinificado por métodos naturais. Não caiu no meu gosto.

As Confrarias

Todas encolheram. Só me recordo de um encontro, no início do ano. O meu grupo principal, a Diretoria, é composto por amigos que estão no grupo de risco, eu inclusive. Ninguém quis se arriscar muito. Somente a partir de outubro aconteceram pequenos encontros, em restaurantes ao ar livre, com no máximo 3 confrades.

Fica o primeiro desejo: que no próximo ano as reuniões sejam mais frequentes para compensar o ano perdido.

Eventos de Degustação

Foram substituídos por “lives” ou degustações virtuais. Nova modalidade onde você fica vendo os outros beberem enquanto chupa o dedo ou paga um rio de dinheiro para ter os mesmos vinhos na sua frente.

Um belo desperdício.

Optei por assistir algumas master classes no Youtube. Consegui não dormir em 1 ou duas, e só. Chaaaaato…

Espero que essa modalidade desapareça naturalmente.

Compras e consumo pessoal

Honestamente, ficou bem mais fácil comprar vinhos durante essa epidemia. Empresas que nunca se preocuparam em vender pela Internet rapidamente se organizaram e colocaram seus portfólios a disposição de todos.

Muitas boas ofertas de lotes de vinhos, o que permitiu organizar compras em grupos, com vantagens para todos.

Meu desejo: que não voltem atrás encerrando as lojas virtuais e nem sobretaxem compras pela rede como anseia um determinado “ministro”.

Mais um desejo: que o vinho seja enquadrado e taxado como alimento e não como artigo de luxo.

Considerações finais

Este foi um ano complexo em vários aspectos. Há muitas lições a serem aprendidas por todos nós. Ficou evidente que a falta de cultura geral, por parte da grande maioria da nossa população, tem causado os maiores danos ao nosso país.

Resumo numa simples frase: Perdemos a capacidade de ter senso crítico!

Preferimos acreditar em redes sociais, em vez de ler, compreender, filtrar e avaliar o que é publicado na imprensa, TV ou rádio, seja nacional ou internacional.

Ninguém verifica mais nada, esta é a nossa verdade.

Por exemplo: recebemos um áudio de alguém que se intitula Dr. Fulano de Tal, de um conhecido Hospital, afirmando barbaridades como “se vc tomar vacina vai ter seu DNA modificado” e todo mundo não só acredita como repassa a mensagem como urgente.

Se você foi um destes, esta mensagem era fajuta…

Meus desejos finais para os próximos anos:

Não acreditem em falsos mitos, profetas, ídolos e assemelhados.

Chequem e rechequem os fatos antes de encaminhar mensagens sensacionalistas.

Deem valor ao seu voto, nas próximas eleições, principalmente os meus conterrâneos cariocas.

Feliz Natal e um ótimo 2021!

Esta coluna entra em recesso de fim de ano.

Créditos:

Foto de abertura: Foto de Hide Obara para StockSnap

Foto de encerramento: Imagem de OpenClipart-Vectors por Pixabay 

Wine Spectator TOP 100 2020

Chegou a lista mais esperada do ano pelos “Enófilos de carteirinha” e outros aficionados, a relação dos 100 melhores vinhos deste complicado ano de 2020, escolhidos pela equipe especializada da revista Wine Spectator.

Para começar, apresentamos os 10 melhores:

Um excelente e tradicional tinto espanhol encabeça a lista. Elaborado a partir das castas Tempranillo e Mazuelo. Recebe o título de “Vinho do Ano”. Bela escolha. Está à venda no Brasil, em outras safras.

Um Chardonnay norte-americano é o único branco desta relação de TOP 10, assim como o Champagne Bollinger La Grande Année, que representa a categoria de espumantes.

Um vinho argentino, o Piedra Negra Los Chacayes, poderia ser visto como o estranho no ninho. Nada disso! Já há algum tempo temos alertado para a excelente qualidade dos vinhos produzidos no nosso vizinho e eterno rival futebolístico. Estão melhores a cada dia e não se resumem mais só aos Malbec. Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon e Chardonnay, daquelas terras, não devem nada a nenhum outro.

A lista completa pode ser consultada neste link, em inglês:

https://top100.winespectator.com/lists/

A publicação oficial da revista será no último dia do ano.

Alguns dados curiosos.

Distribuição por países:

Distribuição por tipo de vinho:

O vinhos americanos, franceses e italianos dominaram as indicações. O Cone Sul foi agraciado com 7 indicações, entre Argentina (4), Chile (2) e Uruguai (1), por sinal, um ótimo Tannat, outra casta vista como difícil na Europa e que se adaptou muito bem por aqui.

Uma surpresa foi a pouca presença dos vinhos portugueses, sempre muito fortes em edições anteriores desta publicação. Simplesmente nenhum dos seus famosos vinhos generosos entrou na lista. Coube ao bom Wine & Soul Pintas, um tinto duriense, representar a terrinha, assim mesmo lá na posição 87.

Saúde e bons vinhos!

Sugestões para o Natal

Já está na hora de pensarmos nos nossos presentes de Natal. Com o intuito de ajudar a decidir, apresentamos uma seleção de mimos que seriam de nosso agrado. Focamos no aspecto prático, objetos que possam ser usados no dia a dia do Enófilo e que possam trazer boas recordações para quem for agraciado.

Há um pouco de tudo, inclusive alguns objetos de desejo que, se o orçamento não for apertado, podem ser uma boa oportunidade de ampliar o próprio acervo.

A primeira sugestão são livros.

Infelizmente a literatura em língua portuguesa não anda extensa. Duas boas novidades chegaram neste fim de ano:

– As novas regras do vinho: um guia útil… de Jon Bonne, editora: Companhia de Mesa

O mote desse livro é assim: “Às vezes nada é mais prazeroso do que uma taça de vinho. Então por que selecionar uma garrafa precisa ser tão estressante”?

– Gente, lugares e vinhos do brasil, de Rogerio Dardeau, editora: Mauad

Dardeau é incansável e apaixonado pelo vinho brasileiro.

Acessórios são as próximas sugestões. Começamos pelos sacarrolhas. Os modelos Garçon ou Sommelier são os preferidos dos profissionais. Existem diversas marcas no mercado. A melhor pedida é escolher um de boa qualidade para que seja usado e abusado, como este da Le Creuset, francesa.

– Saca rolhas Garçom Le Creuset preto – 1287

Outro tipo de saca rolhas extremamente útil é o de lâminas paralelas, perfeito para abrir vinhos de guarda sem destruir a rolha. Pode ser usado em qualquer tipo de garrafa.

– Saca Rolhas Aço Rabbit Inox

Outro gadget muito útil é um aerador. Existe grande número de modelos à disposição no nosso mercado. Acreditamos que o tipo projetado para ser adaptado ao bocal da garrafa é a melhor escolha, como este aqui:

Por fim os “objetos de desejo”. Escolhemos, dentro do critério já mencionado, dois deles. Fazemos uma ressalva: são caros e um deles é muito específico para aqueles que degustam vinho regularmente.

– Coravin – sistema de preservação e degustação de vinhos.

Uma inovadora tecnologia que permite, com toda a segurança, servir um vinho sem desarrolhar. Para evitar uma possível oxidação da bebida, uma dose de gás inerte, Argônio, é injetada na garrafa para ocupar o volume servido. Sonho de consumo para muitos.

– Adega Climatizada

Imprescindível para quem deseja montar uma adega completa. Prefiram as marcas nacionais, para garantir assistência técnica sem problemas. Este é o típico autopresente.

Por último, uma dica simples que quase sempre é esquecida.

Quando usada faz enorme sucesso: presenteie com uma garrafa Magnum!

Quase todas as boas importadoras dispõem destas garrafa que valem por duas. Aproveitem e inovem na escolha do vinho, fugindo das opções de sempre. Eis uma sugestão bem diferente:

Um Pinot do Uruguai vinificado em rosado pela excelente vinícola Garzon. Perfeito para o nosso verão.

Saúde e bons vinhos e boas compras!

Créditos: foto de abertura criada por Racool_studio para Freepik

Demais fotos obtidas nos sites de fabricantes e/ou importadores.

Sites consultados: Livraria da Travessa, Amazon Brasil, Americanas, Mistral, Vinci, Zahill, Grand Cru e World Wine.

IMPORTANTE:

– Não temos nenhuma relação comercial com esses fornecedores. As indicações não implicam em nenhum tipo de comissionamento de nossa parte. Façam suas compras onde encontrarem as melhores condições.

Prosecco Rosé e outras novidades

Chega o fim de ano e o tema espumantes pula para o primeiro lugar na lista de desejos e compras prioritárias, mesmo em tempos de pandemia. Seja para consumo ou presentear, as borbulhas numa taça são a perfeita representação dos nossos melhores sonhos e esperanças. Uma marca poderosa que exprime, verdadeiramente, aquele “tudo de bom para vocês”.

O nosso país é rico na produção de espumantes, já reconhecidos internacionalmente e muito apreciados nacionalmente. Champagne, por aqui, sempre foi mais um símbolo de status, principalmente por seu custo proibitivo. As boas Cavas nunca chegaram a ser sucesso ficando em um nicho quase exclusivo. Já o italianíssimo Prosecco caiu no gosto dos brasileiros, se tornando um dos espumantes mais populares e vendidos no comércio, onipresente em qualquer mercadinho.

Depois de uma dura batalha para obter a reserva da denominação Prosecco e da delimitação das áreas de produção, além da recuperação do nome original da casta, Glera, os produtores partiram para a inovação criando um corte com Pinot Nero (10% a 15%), obtendo um novo Prosecco com uma elegante cor rosada. Elaborado apenas nos estilos Brut Nature e Extra Dry.

Após muitas discussões, as autoridades italianas regulamentaram e permitiram a produção e exportação desta novidade em maio de 2020. O mercado foi rapidamente invadido por estes coloridos espumantes que já estão sendo imitados por nossos produtores e de outros países.

Uma boa pedida para os nosso quente verão. Muito refrescante e frutado é uma ótima alternativa para tornar nossas comemorações, presenciais ou virtuais, muito mais rosadas.

Há mais novidades neste segmento do mundo dos vinhos.

Enquanto o novo Prosecco Rosé é elaborado em duas opções, apenas, no resto do mundo as vinícolas estão ampliando as opções de estilos e de castas utilizadas. Isso acaba por confundir o consumidor que já estava habituado aos Brut e Demi-sec, de sempre.

Listamos e explicamos algumas dessas novas possibilidades:

Extra Brut – a taxa de açúcar residual é ainda menor que no Brut: de 0 a 6 gramas por litro. Muito seco;

Brut Nature – não recebe nenhuma adição de açúcar na sua elaboração, técnica empregada para estimular a segunda fermentação. A expressão Zero Dosage é similar, embora alguns críticos lembrem que sempre haverá açúcar residual, ou seja, nunca será zero;

Sur Lie – amadureceu sobre as borras de fermentação. Esta técnica permite que o vinho ganhe mais corpo e complexidade. Pode ser definido como um “espumante raiz”. Alguns produtores o engarrafam com estas borras e o consumidor decide quando vai consumir. Para apreciadores.

Safrado, Vintage ou Millesimé – vinificações muito especiais com safra declarada. A maioria dos espumantes não são safrados. Quando um produtor declara o ano da colheita pressupõe um produto de alta qualidade.

Blanc de Blancs e Blanc de Noirs – embora sejam classificações mais antigas, informando que o espumante foi elaborado só com uvas brancas ou só com uvas tintas, parece que se tornou um trend bem atual, principalmente o Blanc de Noirs. Castas como Tempranillo, Merlot, e Cabernet Franc, têm sido utilizadas na produção de vinhos brancos, espumantes e tranquilos, com enorme sucesso.

Saúde e bons espumantes!

Gelo no vinho pode?

Pode!

Obviamente, é uma exceção, uma correção momentânea e pontual. Mesmo assim, se algum enófilo purista estiver por perto, vai torcer o nariz e criticar.

Problemas no momento do serviço do vinho podem acontecer com qualquer um. Se a taça que lhe serviram parece mais quente do que o seu paladar pede, não hesite e coloque uma pedrinha de gelo na taça. Gire o vinho por 20 ou 30 segundos. Remova o cubo com uma colher e torne a provar. Se for necessário, repita. Use uma pedra retirada diretamente do congelador evitando as que já estão num balde.

O gelo vai alterar as principais características do vinho, seja ele branco, tinto, rosado, espumante ou generoso. Fica subentendido que não devemos fazer este procedimento com grandes vinhos, principalmente os que ficaram guardados por longos anos.

Regras existem para serem quebradas e tanto os produtores de vinhos como os criadores de acessórios para os enófilos estão sempre atentos, nos oferecendo boas alternativas para enfrentar o vinho que ficou muito quente num dia de verão.

Uma das tendências atuais é produzir vinhos para serem degustados com uma ou duas pedras de gelo nas taças. Espumantes e rosados se destacam neste segmento. A tradicionalíssima casa Moët & Chandon elabora o Ice Impérial, um champagne para ser bebido da forma mais informal possível.

Em 2015 escrevemos uma matéria sobre este produto: Vinhos “On the rocks”

Vinhos brancos, como os das castas Riesling e Sauvignon Blanc, aceitam um gelinho sem maiores problemas e até podem se beneficiar um pouco: não há nada pior que um branco muito aromático ser degustado quente…

Para os tintos, siga o conselho dado no início deste texto: gelo por pouco tempo, o suficiente para chegar na temperatura que seja do seu agrado.

Uma das opções, a seguir, podem simplificar a nossa vida.

Os que apreciam um bom Scotch estão familiarizados com o gelo metálico, um cubo de aço inox, mantido no congelador, que substitui o gelo tradicional, com a vantagem de não diluir nada. Vale para o vinho também.

Uma alternativa são “gelos” plásticos. Um recipiente inerte, muitas vezes com formatos inesperados, recheado com um líquido. Etileno glicol é o mais comum. Uma vez congelados podem manter sua bebida gelada por mais tempo, sem alterar suas características.

Outros caminhos que não envolvam cubos de gelo podem ser seguidos, tudo vai depender da ocasião e da vontade do anfitrião ou Sommelier, de dedicar algum tempo de preparação.

Um dos segredinhos é gelar as taças. Deixe-as na geladeira por algumas horas antes de usá-las. Podem ser embrulhadas em papel filme, evitando odores desagradáveis.

Uma variante deste truque é mergulhar a taça em um balde com água “estupidamente” gelada. Deixe em contato por alguns segundos, escorra rapidamente e use. Girar com uma pedra de gelo também funciona. Espere a taça ficar suada e descarte a pedrinha, passando para a próxima taça.

A turma dos cervejeiros, para quem baixas temperaturas são mandatórias, dispõem de um arsenal de recursos para deixar suas latinhas ou long necks no ponto, num piscar de olhos.

Quase todos eles podem ser adaptados para gelar, rapidamente, uma garrafa de vinho. O banho em uma salmoura gelada é um deles. O nosso preferido é envolver a garrafa num pano umedecido e colocar tudo num freezer por 10 a 15 minutos. Não se esqueçam de proteger os rótulos, seja com filme plástico ou com um saco tipo Zip Lock.

Mais um mito cai por terra.

Saúde e bons vinhos!

Créditos: Foto de Vincent Rivaud no Pexels

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