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Não cometam estes erros!

Foto de Jakob Rubner para Unsplash

Lojas de vinho são sempre tentadoras. Estas, como a da foto que ilustra este texto, despertam um tipo de curiosidade que vai além do normal. É preciso se conter para não cometer nenhuma insanidade.

Estão em extinção. No meu último passeio em terras portugueses ainda encontrei algumas: pequenas, escuras, com garrafas de vinho num organizado caos. Só faltariam aqueles sacos de cereais, a granel, para serem confundidas com os armazéns de ontem.

Hoje as prateleiras de supermercados dominam as ofertas de vinhos nas grandes cidades. Enófilos mais radicais afirmam que nada de bom vai estar num destes mercados. Para comprar um grande vinho só mesmo em lojas especializadas.

Verdadeiro, mas totalmente fora de contexto. As grandes redes varejistas precisam de enormes volumes de produtos, vinhos inclusive, para poder abastecer suas lojas. Obviamente, quantidade nunca foi sinônimo de qualidade, mas não é uma regra exclusiva.

Dentre as várias opções disponíveis, podemos encontrar bons vinhos. O mais difícil será abrir mão de alguns preconceitos e, quem sabe, criar novos hábitos ou padrões para escolher nossos vinhos do dia a dia, sem problemas.

Pensem nos seguintes tópicos:

1 – Qual a sua opinião sobre tampas de rosca?

Se você é da turma que acha que este tipo de fechamento é indicador, seguro, de um vinho de baixa qualidade, errou feio.

Rolhas de cortiça são caras e só valem a pena, do ponto de vista dos produtores, para os vinhos de ponta. Alguns países, como Austrália e Nova Zelândia, onde o custo de uma rolha é proibitivo, a tampa de rosca é o padrão, até para seus melhores vinhos.

Não é um parâmetro confiável para indicar qualidade.

2 – Se o vinho está em oferta, deve ser bom…

Está é uma técnica bem conhecida para desencalhar o estoque de qualquer produto. Vale para os vinhos, também.

Se forem produtos perecíveis, é importante olhar a data de vencimento. No caso dos vinhos ou outras bebidas alcoólicas isto não é tão importante assim.

Neste caso, o mais provável é que não tenha sido uma boa compra pelo varejista. Na dúvida, leve 1 garrafa e experimente.

3 – Cor, forma e peso da garrafa são bons indicadores?

Negativo!

Outro truque muito comum para impressionar os incautos. Pode incluir os rótulos bonitos também, principalmente aqueles que prendem nossa atenção.

Lembrem-se: a qualidade de um vinho está no equilíbrio entre acidez, taninos, fruta, teor alcoólico etc…

Embalagens bonitas podem estar escondendo uma desagradável e, às vezes, cara surpresa!

Comprar num supermercado não chega a ser uma arte, mas devemos estar atentos para não cair nestas armadilhas.

Para se tornarem peritos nestas compras e perderem o medo ou a vergonha de consumir vinhos desta origem, aconselhamos fazer compras exploratórias.

Procurem por produtores que lhes são familiares ou por países e regiões mais conhecidas. Não se intimidem com castas diferentes ou vinhos de corte: o varietal, via de regra, não é a melhor escolha.

Experimente, experimente e experimente.

Fixe um orçamento e divirta-se.

Em pouco tempo vocês estarão dominando mais esta opção de compra.

Saúde e bons vinhos.

II Encontro com Vinhateiros no Cru Natural Wine Bar

Este animado Wine Bar carioca repetiu o sucesso do ano anterior (leia aqui), trazendo dez produtores, um deles chileno.

O tópico Vinhos Naturais está entre os 10 mais comentados nas conversas entre enófilos, de qualquer geração, seja nas redes sociais ou nos encontros de diferentes confrarias.

Não vamos entrar na discussão se são iguais, melhores ou piores que outros vinhos. Certamente são diferentes.

Há muito o que descobrir e muito mais, ainda, elogiar o enorme esforço que estes pequenos e abnegados produtores estão fazendo em busca de um vinho que se aproxime daqueles produzidos antes da industrialização, seja no cultivo das uvas, nos métodos de vinificação e até na forma de envelhecimento: não usam conservantes. A maioria deles são elaborados tendo em vista um consumo mais imediato. Devem ser degustados ainda jovens.

Vinificados em pequenos lotes, usam castas que nem sempre aparecem no leque de produtos das grandes vinícolas, inclusive castas híbridas, trilhando um caminho desconhecido e repleto de armadilhas. Mas é desta forma que aprendem os segredos para produzir um vinho que prefiro denominar como “raiz”.

O primeiro destaque vai para os diversos ‘Pét-Nat’ ou pétillant naturel, espumantes produzidos com uma única fermentação, já dentro da garrafa onde serão comercializados. Este é o processo conhecido como método ancestral.

Na foto acima, a mesa da Cantina Mincarone. Reparem nas garrafas fechadas com chapinha, são os Pét-Nat. Estes eram muito refrescantes e saborosos.

Os vinhos tranquilos, normalmente, são de corpo leve a médio, pouca opacidade e teores alcoólicos na casa dos 12% ou menos. São vinhos de muita personalidade e com registros olfativos e gustativos bem peculiares.

Vanessa Medin, Vinhateira e Sommelière, nos deu uma super aula sobre seus métodos de produção. Não deixou pergunta sem resposta. Obrigado!

Além do bom Pét-Nat, seus vinhos tranquilos se destacam facilmente. Vejam o cuidado de sua cantina em Bento Gonçalves.

Uma casta híbrida que quase todos os expositores estão trabalhando é a Lorena, criada pela Embrapa Uva e Vinho em 2001, a partir do cruzamento de Malvasia branca e Seyval. Os espumantes e vinhos apresentados foram muito apreciados pelo público feminino.

Como a oferta, em cada mesa, era enorme, não foi possível avaliar todos os produtores. Dentre os que provamos, destaco mais estes:

Flávio Penzo

Eduardo Zenker e Gabriela Schafer (Arte da Vinha), localizado em Garibaldi e a Vinícola Weingärtner de Pelotas RS, que elabora um interessante Riesling, uma uva incomum nas nossas terras.

Eis a relação de todos os expositores:

Marina Santos (Vinha Unna): https://www.vinhaunna.com.br/

Eduardo Zenker e Gabriela Schafer (Arte da Vinha): http://www.eduardozenker.com.br/arte-da-vinha/

Flavio Penzo (Penzo): https://www.instagram.com/flavioluizpenzo/

Eduardo Mendonça Vinhos Artesanais

Marimônio Weingartner: http://vinicolaweingartner.blogspot.com/

Vanessa Medin: https://www.facebook.com/Vanessa-Kohlrausch-Medin-1767599306667996/

Acir Boroto (Famiglia Boroto): https://www.instagram.com/famiglia.boroto/

Ana Mincarone (Cantina Mincarone):  https://www.instagram.com/cantina_mincarone/?hl=pt-br

Sara e Vivian (Casa Viccas): https://casaviccas.com.br/

Ignácio Pino – Chile

Mais algumas fotos:

Saúde e bons vinhos!

Chardonnays brasileiros

Participamos de uma ótima degustação de sete Chardonnays brasileiros, na Cave Nacional, conduzida por seu proprietário, Marcelo Rebouças.

Uma seleção de rótulos muito interessante e organização impecável, elevaram o status deste evento. Este restobar é especializado em vinhos nacionais com foco em pequenos e médios produtores de alta qualidade.

Para abrir os trabalhos foi servido o espumante Cave Geisse Blanc des Blancs Brut, 2015, elaborado com 100% de Chardonnay.

Correto, como sempre, mostra a razão por ser considerado como um dos melhores espumantes do Brasil.

O primeiro vinho tranquilo foi o Pizzato Reserva Chardonnay 2018.

Único vinho desta degustação que não passa por madeira. Bem fresco, boa acidez, notas cítricas que agradam o paladar. Boa escolha para frutos do mar.

O terceiro vinho veio da vinícola Torcello, safra 2019 (a foto é de outra safra).

Envelhecido por 4 meses em barricas de carvalho americano, apresenta um registro aromático e gustativo completamente atípico. Uma grande aposta de seu produtor, que vai na direção oposta dos demais, que preferem o carvalho francês.

Um vinho muito perfumado trazendo notas de frutas brancas como pêssego e abacaxi.

Diferente.

O Casa Marques Pereira, Segredos da Adega, Gran Reserva, Chardonnay 2015 foi outra boa surpresa, em que pese seu enorme nome.

Premiado como o melhor de 2018 pela Grande Prova de Vinhos do Brasil, mostrou-se um vinho muito versátil, bem equilibrado, com corpo médio a intenso e ótima acidez. Boa escolha.

O 5º vinho servido, Monte Agudo Chardonnay 2014, da região de São Joaquim, foi o único representante dos excelentes vinhos da Serra Catarinense e também o mais antigo, entre os degustados neste evento.

Envelhecido por 10 meses em carvalho francês, apresenta um ótimo equilíbrio entre corpo, acidez e teor alcoólico. Fácil perceber as diferenças de terroir entre este vinho e seus congêneres do Rio Grande do Sul. Muito elegante.

O próximo rótulo é produto de uma vinícola que está sendo muito comentada e seus vinhos tem se destacado facilmente. O Almaúnica Parte 2 Chardonnay, 2018, foi outra surpresa.

Com 12 meses em barrica francesa, mostrou-se muito aromático, o que não é uma característica desta casta. Na prova, remeteu facilmente aos amanteigados Meursault ou os chardonnays californianos que passaram por malolática e madeira. Um dos melhores deste evento.

O último vinho foi o Viapiana Chardonnay 2015, um dos brancos brasileiros que mais se destacaram em concursos internacionais, recebendo duas medalhas de prata.

Na nossa avaliação foi o melhor da noite. Muito bem elaborado, com 14 meses em barricas de carvalho francês. Novamente, um vinho que remete aos sabores láticos, como o anterior. Perceptíveis notas de frutos secos e maçã.

Não fica devendo nada a nenhum vinho estrangeiro, de mesma categoria.

Como sempre acontece em eventos com este, num ambiente descontraído e muito animado, com poucos participantes e todos comentando os vinhos, ao final, Marcelo nos brindou abrindo mais uma garrafa: Plume Chardonnay, 2017, da vinícola Pericó, de São Joaquim, SC.

Um ótimo vinho que encerrou a noite em alto nível. Típico Chardonnay, com as tradicionais notas de abacaxi e maçã. Fermentado em barricas de carvalho.

A Cave Nacional é visita obrigatória para qualquer amante de vinhos. Tem um cardápio enxuto e delicioso para os que desejam fazer suas próprias harmonizações. Os vinhos degustados podem ser encontrados em sua loja.

Saúde e bons vinhos!

Qual o melhor vinho de sua vida?

A imagem que ilustra este texto (*) é a do famoso Château Mouton Rothschild, localizado na região de Pauillac, Medoc.

Considerado como um dos melhores vinhedos da França, seu bom nome foi, em grande parte, obra de um dos seus donos, Philippe, Baron de Rothschild, uma personalidade cheia de nuances interessantes além de ser um afamado frasista.

Sua resposta para a pergunta que titula esta coluna é simplesmente deliciosa. Todos imaginariam que com sua enorme fortuna e elegante estilo de vida, indicaria algum de seus próprios vinhos ou, então, qualquer dos mais icônicos e caros rótulos do mundo.

Nada disto. Eis sua resposta:

“Recordo que quando era muito jovem, convidei uma bela dama para irmos à praia. No caminho, compramos uma garrafa que não custou mais de cinco francos. Este foi o melhor vinho de minha vida”.

Uma colocação importante que chama a atenção para dois pontos: a simplicidade (do vinho) e a qualidade da companhia com quem vamos desfrutar os bons momentos.

Ao longo da vida de um enófilo sério, o simples gostar de vinhos passa a ser uma arte. O gosto fica mais requintado, as garrafas se tornam, obviamente, mais caras, os acessórios como saca-rolhas, taças, decantadores passam a ser ‘de marca’ e mais outras bobagens que tem, por objetivo, marcar terreno.

A adega torna-se um elemento importante da casa e nela estão guardados os mais preciosos tesouros.

Criam-se regras, não escritas, para abrir cada uma destas preciosidades, a tal ponto que na hora “H” as chances de tudo dar errado se tornam enormes.

Reparem na simplicidade do Barão: um vinho de 5 francos; mas uma bela dama ao seu lado.

Quanta sabedoria e que personalidade forte deste cavalheiro, muito seguro de si mesmo. No fundo, tudo o que ele planejou era cortejar sua dama, sem interferências, nem mesmo a do vinho.

Um momento perfeito!

Na última reunião da Diretoria (uma confraria), o confrade Sr. G, levou em belo vinho italiano, da Toscana, o Casalferro 2004. Lembrou que esta mesma garrafa já havia participado de outras reuniões e nunca fora aberta. Aos 15 anos, estava na hora de sacar a rolha e desfrutarmos de seu excelente conteúdo.

Ao fazer o exame da coloração, na taça, já se percebiam as bordas alaranjadas, primeiro sintoma que anuncia o fim de vida de um vinho.

Fomos degustando e beliscando petiscos árabes. A conversa fluía fácil sobre diversos assuntos e quando nos demos conta, o vinho estava com sinais de oxidação precoce. Morria em nossas taças…

Foi seu último suspiro para nossa alegria.

Entrou para o meu Top Ten.

Caro leitor, a bola está no seu campo.

Qual foi a sua melhor experiência vínica?

Saúde e bons vinhos!

(*) https://www.chateau-mouton-rothschild.com/

Borgonha para os Reis, Champagne para as Duquesas, Bordeaux para os Cavalheiros.

Este provérbio francês, anônimo, faz uma curiosa classificação entre os três maiores vinhos de França:

– Os Pinot, da Borgonha, estariam acima de todos;

– Os Champagne, só para o público feminino;

– Os cortes Bordaleses, seriam para os homens comuns.

Temos um ditado, por aqui, que é bem semelhante, e nos permite fazer uma deliciosa analogia:

“O Sol é para todos, a Sombra, só para os eleitos”.

Questionável é afirmar quem está sob a luz do Sol ou não. Os mais atentos certamente inverteriam a ordem dos vinhos e colocariam alguns “Chateau” acima de qualquer “Domaine”.

Então, o que realmente faz um vinho virar um ícone, um cult wine, o objeto de desejo daqueles que tudo se permitem?

Alguns fatos históricos colocaram os vinhos bordaleses em evidência: a classificação organizada por Napoleão e, antes disto, o consumo desenfreado pela corte inglesa. Leonor da Aquitânia, uma das mulheres mais poderosas de sua época, era proprietária de vários vinhedos em Bordeaux e foi esposa do Rei Henrique II da Inglaterra que também era o Rei Luís VII de França.

Os vinhos da Borgonha têm sua fama intrinsecamente ligada à sua qualidade. Isto se originou durante a incorporação destas terras pela França e a mudança de propriedade que passa das mãos da Igreja Católica para particulares, que vão formando os conhecidos Domaines.

Estes duas denominações resistem ao tempo. Nas lojas, se quisermos um Bordeaux, buscamos por um Chatêau, se a opção for Borgonha, procuramos por um Domaine.

Existem, por outro lado, rótulos em diversos países que, também, se tornaram famosos.

Barca Velha, em Portugal e Vega Sicilia, na Espanha são bem conhecidos nossos. Na Península Ibérica, as marcas são mais conhecidas que os produtores. Só para ilustrar, a Casa Ferreirinha produzia o Barca (agora é a Sogrape) e o Vega é homônimo de sua vinícola.

Na Itália, Barolos, Amarones e Brunellos são reconhecidos pelos seus produtores (Pio Cesare, Pieropan, Soldera…), o que nos dá uma outra pista para o caminho da fama: quem elabora estas preciosidades?

O Continente americano seguiu, por esta rota, com adaptações, para carimbar seus ícones. Por exemplo, alguns vinhos norte-americanos levam uma dupla assinatura, a do Enólogo e a do vinhedo. O famoso e disputado vinhedo, To-Kalon, produz, entre outros o sempre desejado Opus One. A simples sugestão de que as uvas procedem deste lugar torna-se um indicativo poderoso.

Olhando para a realidade sul-americana, o sobrenome Catena Zapata está sempre entre os melhores vinhos argentinos e do mundo. Entretanto, esta primazia é disputada, palmo a palmo, com outros nomes como Zuccardi, Vigil, Ricitelli (a lista é grande…), não descartando dois estrangeiros que ajudaram a moldar estes vinhos: Rolland e Hobbs.

Muito difícil separar seus vinhos de seus sobrenomes.

No Chile é parecido, com a ênfase caindo mais para as vinícolas do que seus enólogos/produtores. A Concha y Toro tem vinhos entre os mais importantes do mundo, alguns em associação com grandes produtores franceses (Almaviva, Don Melchor, Carmim de Peumo).

Lá se percebe outra disputa acirrada: Errazuriz, Lapostole (os donos são franceses), Undurraga, Cousiño Macul… E não podemos esquecer as vinícolas de garagem que fazem um sucesso indiscutível.

Incansável busca pela alta qualidade.

Temos nossos cult wines bem brasileiros também. O Lote 43, da Miolo, certamente entra em qualquer lista de vinhos importantes, assim como o Storia, da família Valduga. Entre os espumantes, Cave Geisse (Mario Geisse é chileno) é a nossa referência.

A estes nomes podem se juntar vários outros: Dal Pizzol, Salton…

Adotamos em nosso país a estratégia dos italianos: o nome do produtor é quem vai indicar a qualidade do vinho. Uma garantia.

Na sua próxima compra, desvie seus olhos do rótulo e avalie os outros parâmetros, como os citados neste texto.

Saúde e bons vinhos!

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