Tag: Chile (Page 13 of 16)

Os Grandes Vinhos do Mundo – Lendas norte-americanas – 1ª parte

Dois vinhos importantíssimos. Foram os grandes campeões da famosa degustação às cegas organizada em Paris, no ano de 1976. Derrotaram marcas famosas e causaram, de forma indiscutível, uma grande alteração no mapa mundi do vinho. 
A Califórnia entrou em cena! (em grande estilo). 
O Tinto 
Imaginem uma vinícola, com apenas 6 anos de fundada, enviar um de seus vinhos para ser julgado, na França, sendo comparado com os fabulosos Château Haut-Brion, Château Mouton-Rothschild, Château Leoville Las Cases, Château Montrose e ser considerado o melhor da prova? 
Os julgadores? Nomes do maior respeito na época: 
Pierre Brejoux (França) – Instituto das Denominações de Origem 
Claude Dubois-Millot (França) – Guia Gault e Millau 
Michel Dovaz (França) – Instituto dos Vinhos da França 
Patricia Gallagher (Americana) – Academia do Vinho 
Odette Kahn (França) Editora da La Revue du Vin de France 
Raymond Oliver (França) – Restaurante Le Grand Véfour 
Steven Spurrier (Inglês) – crítico de vinhos e organizador do evento 
Pierre Tari (Frença) – Chateau Giscours 
Christian Vanneque (França) – Sommelier do Tour D’Argent 
Aubert de Villaine (França) – proprietário do Domaine de la Romanée-Conti 
Jean-Claude Vrinat (França) – Restaurante Taillevent 
O vinho apresentado foi o Stag’s Leap Wine Cellars Cabernet Sauvignon, safra de 1973. Vinificado por Winiarsky e seu enólogo, na época, Tchelistcheff, utilizou uvas colhidas de videiras extremamente jovens da área denominada S.L.V. O processo de vinificação ainda estava sendo ajustado. Um produto que tinha tudo para dar errado, um azarão. No entanto, tornou-se o vinho mais comentado da época e elevou a vinícola ao status de grande estrela.

O vinho, embora tenha uma denominação varietal, é um corte de 93% Cabernet e 7% de Merlot, respeitando a legislação americana. Por seguir uma receita de vinificação considerada clássica, os produtos da Stag’s Leap são muito diferentes daqueles dos produtores vizinhos, embora todos compartilhem um mesmo terroir. Os vinhos de Winiarsky são considerados dinâmicos, harmoniosos, equilibrados e transcendentes. Após a compra do vinhedo Fay, em 1986, houve um replantio das videiras o que forçou a mudança do nome, deste vinho, para Cask 23. Atualmente é considerado o melhor Cabernet dos EUA. Caríssimo!

Curiosidades: 
– existe uma outra vinícola com um nome semelhante, a Stags’ Leap Winery. Reparem que a diferença entre os nomes é, basicamente, a posição do apóstrofo – Stag’s e Stags’ – fruto de uma decisão judicial de 1986 que aproximou os dois vinhateiros, Winiarsky e Doumani. Para selar a nova amizade, produziram um vinho com uvas das duas propriedades, denominado Accord (Acordo);
– uma das poucas garrafas existentes faz parte da coleção do Smithsonian National Museum of American History;
– há uma garrafa desta mitológica safra para vender, em Hong Kong, por R$ 1.400,00; (pesquisa realizada em 2012).

Em 2007 a vinícola foi vendida para um consórcio formado pelo Chateau Ste. Michelle, uma vinícola do estado de Washington e pela italiana Marchesi Antinori Srl. O valor foi 185 milhões de dólares. 

Dica da Semana: A Stag’s Leap produz uma linha de vinhos mais acessíveis, a Hawk Crest, que se encontra à venda no Brasil. São um pouco mais caros que produtos chilenos ou argentinos, mas vale o investimento. 

Hawk Crest Cabernet Sauvignon 2006 
Produtor: Stag’s Leap Wine Cellars / 
Estados Unidos Elaborado pela aclamada vinícola Stag’s Leap Wine Cellars, produtora do mítico Cask 23, o Hawk Crest mostra concentração e profundidade de fruta e excelente relação qualidade/preço. 

Na próxima semana, vamos conhecer o Chardonnay que abalou a França.

Retomando o tema Grandes Vinhos – O Novo Mundo

Simbolicamente, vamos cruzar o Atlântico e iniciar uma jornada pelo continente americano. Esta segunda etapa vai abranger, também, África e Oceania. Antes de partir e para aproveitarmos bem esta aventura, são necessários alguns importantes esclarecimentos. A coluna de hoje é sobre isto. 
A dispersão das videiras 
Talvez tenha sido Cristovão Colombo quem trouxe as primeiras mudas para as Antilhas em sua viagem de descoberta em 1493. Mas foram os missionários que pregavam a fé cristã que as levaram a todos os países das Américas. O propósito era produzir um vinho de comunhão usado nos ritos religiosos. 

Colombo
No Brasil, coube a Martin Afonso de Souza introduzir as primeiras videiras na capitania de São Vicente em 1532. O primeiro vinho seria produzido por Brás Cubas, em Piratininga, no ano de 1551. 

Na maioria das vezes, estes empreendimentos não tiveram o resultado esperado. Diversos fatores contribuíram, desde o desconhecimento sobre as condições ideais de cultivo até o ataque por diversas pragas, até então inexistentes no continente Europeu. Como existiam uvas nativas, estas foram usadas, com algum sucesso, na produção destes vinhos simples. 
Aclimatação 
A Norte-América chegou a ser chamada de Vinholândia, pelos europeus, face ao enorme número de uvas autóctones encontradas. Vinhos seriam produzidos, regularmente, a partir de 1560, com as uvas locais. Mas o sabor não era, em nada, parecido ao que os colonizadores estavam acostumados. Em 1619 começam as primeiras tentativas sérias de adaptar as viti-viníferas europeias ao continente americano. Muitos problemas foram enfrentados e a solução ideal foi descoberta por acaso: um agricultor da Pensilvânia plantou uvas europeias no meio de um parreiral nativo (1683) dando origem a uma uva híbrida, por cruzamento natural, a Alexander, usada até hoje na produção comercial de vinhos. 
Filoxera e Lei Seca 
A partir desta descoberta acidental, a indústria vinícola na América floresceu rapidamente. Seguindo este modelo de uva híbrida, as videiras foram sendo distribuídas ao longo do continente. Os padres Franciscanos as levaram para a Califórnia onde estabeleceram a 1ª vinícola em 1769. Mas a qualidade do vinho ainda não era o esperado. Novas mudas europeias são trazidas para a costa oeste onde, finalmente, na Califórnia, começam a produzir bons frutos. 
Dois novos fatores iriam alterar de forma drástica este quadro e dar início a uma revolução que mudaria, para sempre, o mundo do vinho: a Filoxera e a Lei Seca nos EUA. 

A Filoxera é uma praga que ataca as raízes das parreiras. Originaria dos Estados Unidos, teria sido levada para a Europa nas mudas, norte-americanas, de uvas híbridas, nas últimas décadas do século XIX. O minúsculo pulgão se espalhou, rapidamente, dizimando os vinhedos europeus. Não havia solução: arrancavam-se as plantas e as queimavam, numa tentativa, desesperada, de evitar a propagação. Como as espécies do novo mundo eram imunes, gerou a única solução conhecida até o momento: replantar os vinhedos enxertando as uvas europeias em raízes vindas das Américas (tecnicamente, não existem mais pés-francos na Europa). 

A Proibição ou Lei Seca, que vigorou em território americano por 14 anos (1920 – 1933) produziu um desastre para a vinicultura local. Como não era mais um bom negócio, a maioria dos vinhedos foram erradicados e replantados com outras culturas. Mesmo depois de cair o veto à produção e consumo do álcool, a indústria vinícola estava quebrada, nada de qualidade seria produzido até a década de 60, quando surgem novos nomes neste cenário. 

O Vinho Moderno 
A recuperação da indústria vinícola norte-americana foi lenta e gradual, mas muito bem conduzida. Da Universidade de Davis, na Califórnia, que se tornaria um dos maiores centros de referência sobre a vinicultura, surgiriam as diversas técnicas que são empregadas, universalmente, no plantio de uvas e produção vinícola. O vinicultor americano transformou a arte de fabricar vinhos num negócio lucrativo. Isto mudaria tudo! 
Argentina e Chile 
A introdução das uvas viníferas nestes dois países se deu de forma semelhante. Entretanto, além do trabalho dos missionários religiosos, foi igualmente importante a introdução da cultura do vinho nas refeições, trazida pelos imigrantes europeus, principalmente italianos e espanhóis. 
A região de Mendoza, Argentina, começou a ser colonizada em 1553. O primeiro religioso a se estabelecer por lá trouxe mudas de uva. Exatamente como no norte, as primeiras experiências com castas europeias não frutificaram, mas rapidamente passaram a vinificar com a uva criolla, que resultava num vinho de sabor muito característico e que, até hoje, agrada ao paladar dos nossos Hermanos. 
Coube ao Chile a primazia de criar a primeira indústria de vinhos finos da América do Sul, em 1850, usando castas europeias nobres, algumas em pé franco, que haviam se adaptado perfeitamente ao clima e terreno junto a cordilheira dos Andes. Foram imigrantes franceses que escreveram esta parte da história. A ideia de vinhos varietais (uma só casta) surgiu ali. 
O que mudou e quem foram estas importantes pessoas? 
As técnicas adotadas no novo mundo foram abrangentes e influenciaram, definitivamente, a produção vinícola mundial. Na agricultura, estabeleceram parâmetros para a condução das videiras, observando a influência dos microclimas locais. Adotaram a irrigação por gotejamento, com excepcionais resultados inclusive na preservação do meio ambiente. As uvas do continente americano atingem um ponto de maturação que jamais será igualado no continente europeu, obtendo-se vinhos com surpreendente qualidade. Na área industrial, surgem técnicas e equipamentos que permitem a maceração e a fermentação com controle de temperatura, amadurecimento em barris de menor volume, uma enorme gama de testes e análises durante o processo e uma infinidade de equipamentos auxiliares. 
Entram em cena grandes vinhateiros, até então pouco conhecidos, como o russo radicado nos EUA, André Tchelitscheff, formado em enologia na França; Robert Mondavi o grande incentivador na busca por um vinho de melhor qualidade; Warren Winiarski que deixa de lado sua profissão de cientista político em Chicago para trabalhar e aprender na adega de Mondavi, até fundar sua própria vinícola. Uma decisão acertada: um de seus vinhos, o Stag´s Leap, derrotou os grandes vinhos franceses no famoso Julgamento de Paris. 
Mais recentemente, Paul Hobbs, um dos mais famosos “flying winemakers” (consultores internacionais) que, junto com Nicolas Catena, seria o responsável por introduzir as modernas técnicas, na Argentina, para produção de vinhos finos. Não existem vinhos icônicos como os do velho mundo, ainda. Mas há uma coleção de produtores que estão, sem nenhum favor, entre os melhores do mundo. Basta ver as notas dos principais críticos do setor. 
O mundo do vinho nunca mais foi o mesmo! 
Dica da Semana: Para começar bem o ano, vamos homenagear outro país produtor, o Uruguai. 
Rio de los Pájaros Merlot / Tannat 2008 
Produtor: Pisano /Uruguai 
Tinto saboroso, frutado e macio, elaborado com as castas Merlot e Tannat, a grande estrela do Uruguai. A Merlot, macia e redonda, ajuda a amaciar a tanicidade da Tannat. O bouquet é intenso e concentrado, com bastante fruta. Na boca, é macio, acessível e frutado, bem saboroso. Combina bem com massas, carnes e pizza.

Uma coluna para o Natal e Ano Novo – 1ª parte

Apesar do nosso clima tropical, as festas de fim de ano são sempre uma boa oportunidade para presentear e consumir bons vinhos. Difícil é acertar uma combinação do que vai ser servido nas tradicionais ceias com sua contraparte enológica ou acertar a lembrancinha para o nosso mais querido enochato. Vamos ajudar! 
Começando bem o dia 
Que tal nos presentearmos com um diferente café da manhã no Natal ou no último dia do ano? Esta receita, apesar de inusitada, vai nos preparar para enfrentar este movimentado dia e servir de introdução para um delicioso assunto: Espumantes! 
Ovos mexidos com salmão defumado, sobre fatias de pão torrado, servido com uma taça de espumante! 
Vamos precisar: 
75g de manteiga amolecida 
2 colheres de chá de massa ou purê de tomate 
2 colheres de sobremesa de ervas (endro, salsa, cebolinha) picadas 
2 colheres de sobremesa de alcaparras drenadas e picadas 
Sal e pimenta do reino a gosto 
4 fatias de pão rústico ou italiano com 2 cm de espessura 
4 ou 5 ovos batidos 
100g de salmão defumado cortado em tiras pequenas 
Preparo: 
1- Separe 50 da manteiga e misture com a massa de tomate, as ervas e as alcaparras. Tempere com sal e pimenta e reserve. 
2– torre as fatias de pão e as mantenham aquecidas. 
3– utilizando uma frigideira em fogo médio/baixo, derreta o restante da manteiga e prepare os ovos mexidos com metade do salmão, de modo que fiquem macios ou baveuse como dizem os franceses. Não deixe secar. 
4 – passe um pouco do creme de manteiga em cada torrada, cubra com os ovos, algumas tiras do salmão e decore com ervas e tomates picados. 
Para acompanhar, uma taça de bom espumante Brut, branco ou rosé. Mas qual? 
Há ótimos vinhos da França, Itália, Espanha, alguns muito caros. Portugal, Argentina e Chile já exportam boas borbulhas também. Mas nem tudo que reluz é ouro. Cuidado com algumas ofertas: nem sempre o barato é bom. 
Os nacionais são excelentes. Procure por linhas que levam as denominações Ouro, Milléssime, Reserva ou Gran Reserva. Algumas sugestões: 

Chandon – sempre entre os melhores 

Casa Valduga – edição especial de 130 anos, delicioso 

Miolo Millésime – outro peso pesado 

Pouco conhecido, o Don Guerrino tem excelente relação custo x benefício 

O Villagio Grando é um ótimo representante da Serra Catarinense 

Presenteando 
Comprar uma boa garrafa de vinho e presentar é a coisa mais fácil do mundo e ainda faz um grande efeito. Para fugir da mesmice, que tal escolher um bom acessório ou mesmo um livro sobre vinhos. Eis algumas sugestões. 
Saca rolhas tipo Sommelier – é aquele que a maioria dos profissionais usa. Prático, fácil de usar e, com os seus 2 estágios, simplifica muito o esforço necessário para tirar uma rolha. 

Um modelo mais sofisticado é o Rabbit, mas só vale a pena para aqueles que abrem muitas garrafas. 

Outras boas sugestões são termômetros, decantadores e taças (sempre 1 par). 

Para incrementar a biblioteca do bom enófilo: 

1001 vinhos para beber antes de morrer – este é imperdível! Até os menos aficionados vão adorar 

Guia Ilustrado Zahar de Vinhos do Mundo Todo – livro de referência, muito bem elaborado e completo.Um must 

A Arte de Fazer um Grande Vinho – interessantíssimo documentário sobre Angelo Gaja, o maior nome do vinho italiano na atualidade e sua obsessão em produzir um grande vinho, o Sori San Lorenzo. Apaixonante. 

Na semana que vem, falaremos da harmonização dos pratos natalinos e mais algumas receitinhas.

Grandes vinhos do Mundo – uma série interminável…

Fechamos um ciclo no Boletim. As colunas iniciais tiveram um objetivo: apresentar uma parte do universo dos vinhos. Fomos bem longe, entrando até na seara dos destilados. A partir desta semana, vamos apresentar os vinhos icônicos, aqueles que todos sonham em provar um dia. Escolhemos um vinho Português, para começar. 
Portugal já foi o principal exportador de vinhos para o Brasil, lugar ocupado por Chile e Argentina, atualmente. Mas ainda está firme no mercado, lutando, com qualidade, para retornar ao topo do pódio. Dois fatores contribuíram para ofuscar o brilho dos produtos lusitanos: o preço e a qualidade. 
Infelizmente, a busca por um lucro fácil provocou uma enxurrada de vinhos de baixíssima qualidade em nosso mercado, a preços nem sempre convidativos. Mesmo lá na terrinha as coisas não estavam indo bem. Mais preocupados com a quantidade, os produtores não se atualizaram, insistindo em técnicas artesanais e obsoletas enquanto outros países modernizaram vinhedos e vinícolas. 
Portugal é um país com ampla diversidade de uvas, vinhos e regiões produtoras. Há desde os deliciosos Vinhos Verdes até vinhos sérios e encorpados como os das regiões do Douro, Dão e Alentejo. 

A modernização dos vinhos portugueses é recente. Somente a partir da entrada do país na comunidade europeia foi quando grandes investidores aportaram capitais nas principais vinícolas, introduzindo técnicas atuais de manejo do vinhedo, equipamentos de aço inoxidável e controle de temperatura na vinificação. Mas alguns pioneiros já haviam trilhado por estes caminhos. Fernando Nicolau de Almeida, vinicultor da Casa Ferreirinha, uma das mais importantes empresas do Douro, foi um deles. 

O Douro era famosos pelos vinhos do Porto, mas seus tintos, não fortificados, nunca se destacaram. Fernando visitou a região de Bordeaux, em 1940. Voltou encantado com que viu, decidindo produzir um vinho que se equiparasse aos bordaleses. Nascia uma das glórias do vinho português: o mítico Barca-Velha, um excepcional corte das uvas Tinta Roriz, Touriga Nacional e Touriga Franca. 

A primeira safra desta maravilha surgiu em 1952 (só foi comercializado 8 anos depois). Foram selecionados os vinhedos, todos de pequeno porte e localizados na parte mais alta das encostas. Na vindímia, só as melhores uvas eram aproveitadas. A temperatura de fermentação foi controlada com gelo trazido da cidade do Porto, que dista 100 Km. Foi envelhecido em barricas novas de carvalho francês, durante 12 a 18 meses, seguido de um período em garrafa. A ideia era colocar o vinho, no mercado, pronto para o consumo. 
A busca, quase obsessiva, pela qualidade gerou bons dividendos. Só foram comercializadas poucas safras até hoje (15 ou 16): se o vinho não estivesse de acordo com a prova do enólogo, recebia o rótulo de Reserva Especial Ferreirinha e não o de Barca Velha. 
Notas de Degustação do Barca-Velha 1999 
Sabores concentrados de frutas negras e grande frescor. Nos aromas nota-se cedro e baunilha, com toques florais e achocolatados. Um vinho encorpado, vigoroso e de grande elegância. Degustar um Barca Velha exige uma preparação cuidada de acordo com a exigência do momento. Deve ser saboreado com calma, acompanhado por pratos mais cuidados de carne, caça ou mesmo alguns queijos, com sabores requintados e bem integrados. Recomenda-se que seja servido à temperatura de 17º-18º. 
O Barca-Velha moderno 
No início dos anos 90, a casa Ferreirinha foi vendida para o grupo português Sogrape. Apesar de algumas mudanças óbvias, o vinho continua sendo produzido e ainda é muito respeitado. O principal vinhedo que fornecia as uvas para o Barca permaneceu com os descendentes da fundadora, D. Antônia Ferreira. Em 1998, decidiram produzir o seu próprio vinho, com as mesmas uvas, empregando as mais modernas técnicas de vinificação. Este vinho é o Quinta do Vale Meão ou, como preferem alguns, o Barca Nova, sem dúvida o mais espetacular vinho português do momento. 
Para os leitores aventureiros, há garrafas de Barca Velha à venda no Brasil. Procurem em boas e confiáveis lojas de vinho e prefiram as safras mais recentes 1999 ou 2000. O custo é acima de R$ 1.000,00 por garrafa. 

Dica da Semana: um bom português vindo da região do Douro, com as mesmas castas do Barca e com preços mais em conta: 

Cadão Douro Reserva 2005 
Produtor: Quinta do Cadão 
Uvas: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Touriga Franca 
De cor granada intensa, tem sabores macios, volumosos e delicados. Nos aromas mostra boa evolução. Harmoniza com carnes de caça, queijos e defumados. 

Mudando o Foco: Derivados do Vinho – 1ª parte

Nas últimas semanas mencionamos as aguardentes vínicas que compõem os fortificados. Hoje, vamos conhecê-las detalhadamente. Surgiram como subproduto do vinho, mas algumas se tornaram tão importantes que passaram a ser produzidas a partir de uma vinificação própria, dedicada. Assim, na Itália, a Grappa; em Portugal, a famosa Bagaceira e a Aguardente Vínica; na França, o Marc, o Cognac e o Armagnac; na Espanha, o sofisticado Sherry Brandy, ou Aguardente de Jerez, e o popular Orujo. No Peru e no Chile, nossos vizinhos, o Pisco. A lista é grande, mas essas são as mais conhecidas. 

O destilador

Para quem nunca visitou um alambique, ou não se lembra mais das aulas de química na época do curso científico, a foto acima dará uma boa ideia sobre esta indústria. Uma vez fermentado, o mosto é colocado nestes curiosos caldeirões, e aquecido fortemente. O vapor é coletado na tubulação superior e conduzido para um sistema de resfriamento. O resultado é um álcool de uva. Só para refrescar a memória, existe álcool de cana de açúcar, de cereais, de legumes e de quase qualquer fruta.

Coleção de aguardentes de diferentes frutas 

Comecemos pelas bebidas obtidas a partir da destilação dos bagaços: Grappa, Bagaceira, Marc e Orujo. Tecnicamente trata-se do mesmo produto. O que os diferencia são as uvas e pequenos detalhes do processo produtivo, alguns obrigatórios por lei. O Pisco sul-americano tem origem semelhante, mas é produzido de outra maneira. 
Grappa 
Existe uma lenda em torno desta bebida, que teria sido obtida, pela primeira vez, por meio de um destilador roubado do Egito, durante o reinado de Cleópatra, e levado para a cidade de Bassano del Grappa, na região do Veneto, nordeste da Itália. Estudos recentes, porém, mostram que somente depois de 1600 é que a tecnologia de destilação sofisticou-se a ponto de permitir a produção. 

Bassano del Grappa 

A União Europeia estabeleceu normas para o seu reconhecimento: 
1 – dever ser originária da Itália, da parte italiana da Suíça ou de San Marino; 
2 – deve ser destilada dos bagaços, isto é, cascas, sementes, polpa e caules das uvas prensadas para a produção vinícola; 
3 – não pode sofrer adições (água, alcool etílico, etc.). 
A destilação exige extremo cuidado, pois a presença das sementes e caules implica na obtenção de metanol, que é tóxico. A legislação italiana é muito severa a este respeito. 

Coleção de Grappas 

A Grappa é uma bebida clara. Alguns produtores, no intuito de sofisticá-la, a envelhecem nos barris usados na vinificação, do que resulta uma bebida de cor escura. No Brasil, além da produção de vinhos, os colonos italianos destilaram uma aguardente conhecida por Graspa, denominação de origem veneziana e conforme o processo do seu país de origem. Alguns adotam a denominação mais comum, Grappa. São servidas como digestivos, após uma lauta refeição, geladas ou na temperatura ambiente. Outra opção deliciosa é adicionar ao café expresso ou fazer como em Veneza: ao terminar o café, lave a xícara com uma dose e beba num só gole. 

Bagaceira 
Para os brasileiros, apreciadores de uma boa cachacinha, a Bagaceira desempenhou papel fundamental. Explica-se: foi a partir do know how português que, nos séculos XVI e XVII, aqui se instalaram as primeiras casas de cozer méis, ou destilarias de cachaça. A técnica original, aprendida com os mouros, era utilizada para produzir a Bagaceira, em Portugal. No Brasil de então, à falta de uvas, destilava-se o fermentado de cana de açúcar 

A lei portuguesa define como Bagaceira a aguardente de vinho com teor alcoólico de 35% a 54% em volume, obtida a partir de destilados alcoólicos simples de bagaço de uva, com ou sem borras de vinhos, podendo ser retificada parcial ou seletivamente. Admite-se o corte com álcool etílico potável, da mesma origem, para regular o conteúdo de congêneres. É justamente esta adição que a torna diferente da Grapa. Assim como sua irmã italiana, a Bagaceira é servida como digestivo, colocada no café ou utilizada na culinária. 

Marc e Orujo 
França e Espanha produzem versões do destilado de bagaços. Embora não tenham conquistado o mundo, são conhecidas e apreciadas regionalmente. O Marc ainda é utilizado na produção do Macvin, vinho fortificado da região montanhosa do Jura. 

O Pisco Peruano e o Chileno 
Nossos vizinhos produzem este delicioso destilado que se tornou famoso por causa de um drinque, o Pisco Sour, quase tão popular quanto a caipirinha. A curiosidade fica por conta da disputa travada entre os dois países pela origem da bebida. 
São duas bebidas na verdade, com o mesmo nome, mas diferentes matérias primas e técnicas de produção. Do ponto de vista histórico, o Pisco se originou no Peru. Os colonizadores espanhóis foram os primeiros a fabricá-lo a partir de vinhas transplantadas das ilhas Canárias. O Pisco chileno é produzido a partir de um vinho; o Peruano, a partir de um suco de uva. Ambos são deliciosos. 

Para quem gosta de se aventurar como Bar Tender, eis uma das muitas receitas do coquetel nacional do Chile e Peru: 
Pisco Sour 
Pisco – 100 ml 
Suco de limão – 100 ml 
Açúcar – 1 colher de chá (ou a gosto) 
Clara de ovo – 1/4 
Essência de rosas – 2 gotas (opcional) 
Gelo picado 
Bata tudo num liquidificador e sirva numa taça, ou copo de boca larga. Salpique canela em pó sobre a espuma. 

Dica da Semana: escolha uma! 

Grappa de Cabernet Sauvignon da Casa Valduga 
Elaborada através da destilação natural de uma das mais finas castas, a Cabernet Sauvignon, pelo processo lento e artesanal em alambiques de cobre. O efeito do solo, a ação do clima, a paciência e a atenção resultaram neste produto exclusivo e de alta qualidade. Produzido no Vale dos Vinhedos Bento Gonçalves, RS. Graduação alcoólica 40,8% vol. 

Aguardente Bagaceira Caves Aliança 
Produzido pela tradicional vinícola Aliança, a partir de uvas selecionadas. Graduação alcoólica 46% vol. 

Pisco Capel (Chile) 
O Pisco mais vendido no mundo. De sabor adocicado, trata-se de um destilado de uvas Moscatel, utilizado na confecção de inúmeros drinques, desde o mais famoso, o Pisco Sour, até a versão chilena do Manhattan, e a caipirinha. O Pisco Capel é produzido na zona pisquera do Valle de Elqui, ao norte do país. Graduação alcoólica 40% vol.

Saúde!

« Older posts Newer posts »

© 2025 O Boletim do Vinho

Theme by Anders NorenUp ↑