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Os Vinhos da Anakena, Chile

No dia 16 de outubro, a convite da Winebrands, participamos da apresentação dos vinhos da Viña Anakena. O evento aconteceu no restaurante Mira, anexo à Casa Daros em Botafogo, no Rio de Janeiro.
 
 
A apresentação foi feita pelo Gerente Comercial Nicolás Saelzer e pelo Enólogo Gavin Taylor, de origem sul- africana, radicado no Chile. A vinícola, relativamente jovem, foi fundada por dois amigos de infância, Felipe Ibañes e Jorge Gutiérrez, em Alto Cachapoal, com o objetivo de produzir vinhos de alta qualidade e com uma personalidade que distinguisse esta inovadora empresa.
 
Com uma enorme variedade de terroirs, 145 hectares em Alto Cachapoal, 125 hectares em Leyda, 43 hectares em Peumo e 44 hectares plantados no Vale de Colchagua, tem seus vinhos consumidos em mais de 50 países, recebendo as melhores críticas de seus consumidores.
 
Sua linha de produção está dividida em diferentes filosofias, que começam nos Varietais, vinhos jovens que enfatizam as características das cepas. O próximo degrau, a linha ENCO tem por objetivo oferecer boa relação custo x benefício. Os TAMA buscam representar as características de todos os terroirs da empresa, sendo a linha que oferece o maior número de produtos. Os vinhos da categoria ONA, já considerados como “top”, são inovadores e audaciosos, enquanto os ALWA são únicos, o melhor que se pode obter. O ótimo portfólio se completa com um expressivo Late Harvest.
 
Chama a atenção o cuidado com a apresentação de seus produtos. Os rótulos são elegantes e trazem uma representação icônica das denominações de suas linhas que remetem à história dos povos que habitaram estas regiões antes de existir o Chile com um país.
 
O próprio nome é uma homenagem ao “homem-pássaro” da cultura Rapa Nui, uma bonita lenda:
 
Anakena seria a caverna deste homem pássaro, o Tangata Manu, uma metáfora da gaivota da Ilha de Páscoa, que depositava seu ovo neste local secreto. Todo ano, bravos guerreiros nadavam desde Rapa Nui até a ilhota de Moto Nui em busca do precioso ovo. Aquele que conseguisse trazê-lo intacto era outorgado com o título de Homem-Pássaro, recebendo honrarias e fortuna.
 
 
Foram servidos oito vinhos, numa sequência que crescia dentro da filosofia de produção.
 
O 1º foi o Anakena Varietal Sauvignon Blanc 2012. Jovem, fresco, boa fruta e fácil de degustar. Com um custo muito competitivo, abaixo de R$ 50,00, se torna uma opção para dias de calor. (preços de 2013)
 
 
Subindo um degrau na escala, o próximo vinho degustado foi o Anakena Enco Reserve Chardonnay 2012. Muito bem elaborado, com boa acidez e permanência. Outro bom companheiro para o dia a dia no quente verão do Rio de Janeiro. Preço ligeiramente acima dos R$ 50,00.
 
 
A próxima degustação foi uma boa surpresa: o Anakena Tama Vineyard Selection Pinot Noir 2011 chamou a atenção de todos. Um vinho refinado, muito aromático e que passa por madeira. Boa acidez e perfeitamente balanceado com seus taninos. Ótimo! Custo na faixa de R$ 80,00.
 
 
Seguimos com os tintos. Voltando ao segmento ENCO, provamos o interessante Anakena Enco Reserve Carménerè 2011. Este vinho, obtido com a casta emblemática do país foi elaborado com um cuidado todo especial para fugir a características que enfatizam sabores “verdes” típicos da casta. A colheita foi deliberadamente atrasada obtendo-se uma fruta com qualidade ímpar para a vinificação. O resultado é perfeitamente sentido em aromas e sabores. Delicioso. Na mesma faixa de preço do Sauvignon Blanc. Ótima compra.
 
 
O 5º vinho apresentou uma casta diferente: Anakena Tama Vineyard Slection Carignan 2010. Uma uva algo rara no mercado, mas que tem bons resultados nas mãos do competente Gavin Taylor. Premiado com boas notas de diversos críticos (90 pontos ou mais) é uma bebida equilibrada, com boa acidez, maduro e um quase dulçor muito agradável. Uma alternativa a ser considerada. Seu custo acompanha o de outros produtos da mesma linha.
 
 
Em seguida, até para permitir uma comparação direta, for servido o Anakena Tama Vineyard Selection Cabernet Sauvignon 2010, outro produto premiado. Esta uva tem uma adaptação perfeita em território chileno, produzindo vinhos de classe mundial. Este é um deles. Generoso, intenso, taninos suaves e longa permanência em boca. Companheiro ideal para carnes de sabor marcante. Pela faixa de preço será difícil encontrar concorrentes à altura.
 
 
Os dois últimos vinhos representam o que há de melhor desta empresa. O Anakena Ona Special Reserve Red Blend é um sofisticado corte de cabernet Sauvignon (55%), Carménerè (25%) e Syrah (20%) que passa de 14 a 16 meses em barricas de carvalho. Um vinho sofisticado que combina a potência do Cabernet, a delicadeza da Carménerè e a complexidade da Syrah. Bem estruturado e complexo, chama a atenção por sua cor clara, ao contrário do que se espera. Excelente! No mercado do Rio de Janeiro será vendido na faixa de R$ 90,00. Uma pechincha.
 
 
O Anakena Alwa 2009 é realmente um vinho único, só produzido em safras ideais. Um corte de Cabernet Sauvignon, Carménerè, Syrah, Carignan e a branca Viognier. Premiado nesta safra com Medalha de Ouro no Concurso Nacional do Chile é autêntico, elegante e muito equilibrado entre seus taninos e acidez. Um produto de luxo que não deixa a desejar. Ainda assim, fica numa faixa de preço cara, mas não absurda (R$ 200,00), valendo cada centavo pago.
 
 
Foi uma tarde instrutiva e agradável. Só tenho que agradecer ao amigo Menandro Rodrigues, da Winebrands, pela lembrança do convite.

Dica da Semana: vamos respeitar as tradições chilenas.
 
Anakena Enco Reserve Carménère 2011
 
Vermelho-rubi profundo, com reflexos violetas. No aroma revela notas de frutas negras, chocolate amargo e especiarias. Em boca apresenta médio corpo, frutadas e especiarias bem mescladas e taninos macios.
Harmonização: Ideal para acompanhar carnes guisadas, massas, lasanha e queijos.
 
 
 Winebrands – www.winebrands.com.br

Denominações Chilenas

O Chile é reconhecidamente um dos grandes produtores mundiais de vinho e o mais importante do Novo Mundo devido às suas excepcionais características geográficas e diversidade de “terroirs”. A autoridade vínica deste país, Wines of Chile, formou uma comissão que elaborou um novo mapa das indicações geográficas, analisando uma infinidade de dados obtidos ao longo dos anos. Em 2012 este relatório foi aceito pelo Ministério da Agricultura. Sua implantação está prevista até 2020, mas muitos produtores já estão colocando em seus rótulos estas novas denominações.
 
Esta classificação se baseia numa divisão ‘Leste – Oeste’, em que as sub-regiões produtoras foram enquadradas numa das 3 (três) regiões pré-definidas, apresentadas a seguir com seus símbolos que poderão ser incluídos nos rótulos:
 
 
O mapa a seguir mostra todo o quadro. Interessante observar que a maioria dos vales abrange mais de uma região.
 

 
Região Costeira
 
Com mais de 4.000 Km de costa, os vinhedos desta região são refrescados por uma constante brisa do mar. O Vale mais famoso é o Casablanca com seus estupendos brancos, seu Sauvignon Blanc está entre os melhores do mundo.
 

 
Região Entre Cordilheiras
 
Esta planície que praticamente divide o país em leste e oeste é a mais importante área agrícola do Chile. Aqui foram plantadas as primeiras videiras trazidas pelos colonizadores espanhóis. Embora não seja absolutamente plana, há importantes relevos situados mais ao sul, tem solos muito ricos e um clima qualificado com ‘mediterrâneo’. Nesta região está concentrada cerca de 60% da produção vinícola e aqui estão alguns das regiões produtoras mais tradicionais. Basta observar o mapa a seguir.
 

 
Região Andina
 
Esta é a área mais emblemática do Chile. A mais extensa cadeia de montanhas do mundo que abriga desde famosas estações de inverno até inacreditáveis vinhedos que nos oferecem vinhos inesquecíveis. A espinha dorsal de toda a cultura chilena.
Considerada a mais importante região vinícola, está focada nas castas tintas que se beneficiam das condições climáticas únicas, de solos propícios e da altitude.
 

 
As Denominações de Origem 
 
Para finalizar, apresentamos as regiões que podem usar a sigla D.O em seus vinhos: 
 
Regiões de Coquimbo: Vale do Elqui, Vale de Limari, Vale de Choapa;
 
Regiões de Aconcágua: Vale do Aconcágua, Vale de Casablanca, Vale de San Antonio;
 
Regiões do Vale Central: Vale de Maipo, Vale de Cachapoal, Vale do Curicó, Vale do Maule;
 
Regiões Meridionais: Vale do Bio Bio, Vale de Itata, Vale do Malleco.
O quadro a seguir faz um resumo completo de tudo que foi exposto aqui.
 


Dica da Semana: um ótimo vinho produzido na região mais importante do Chile, com boa relação custo x benefício. Embora seja um corte de 3 uvas, a legislação permite que seja vendido como Cabernet Sauvignon devido à concentração de 85% no produto final.

Equus Cabernet Sauvignon 2010
 
Região: Valle del Maipo Alto
Produtor: Viña Haras de Pirque
Castas: 85% Cabernet Sauvignon, 6% Cabernet Franc e 9% Syrah – 12 meses em carvalho francês.
Vermelho rubi profundo com reflexos violáceos. Notas claras de chocolate amargo, com toques minerais e especiarias, seguido de frutas vermelhas maduras. Na boca é firme e equilibrado, com personalidade. O final é longo e complexo.
Harmonização: evolui muito bem e acompanha pratos de estrutura, carne e caça.

Um Evento Formidável!

Na semana passada José Paulo e eu fomos convidados para uma degustação de vinhos em Niterói, algo bem fora da nossa “zona de conforto”. Já foi o tempo que os cariocas, sempre bairristas, achavam graça em afirmar que o melhor da cidade do outro lado da “poça” seria a vista (deslumbrante…) do Rio de Janeiro. Não é mais assim. Apesar de estarem separadas por uma ponte, são duas culturas bem distintas e, desta vez, me pareceu que a cidade de Arariboia tem uma qualidade de vida bem superior.
 
A prova de vinhos, Wineshow 2013, foi organizada pelo Grupo Paludo, com o apoio de diversas empresas parceiras e fornecedores. O local escolhido foi o restaurante Família Paludo, em São Francisco, umas das ‘joias da coroa’ desta organização que inclui os restaurantes Ícaro, Queen e Paludo, todos excelentes.
 
As boas surpresas começaram na organização. Fomos recebidos pelo simpático Anderson Ribeiro, Coordenador Comercial. Como havíamos chegado um pouco cedo, nos acomodou numa mesa na varanda enquanto aguardávamos o início dos trabalhos. Logo recebemos uma pulseira de identificação que nos dava direito a uma taça de degustação personalizada e acesso ao salão onde estavam distribuídas as mesas dos expositores.
 
 
Só 1ª linha: Ana Import, Asa Gourmet, Decanter, Hannover, Ilha de Baco, Interfood, Miolo, Mistral, World Wine. Completava o salão uma mesa da Água das Pedras, um variado e delicioso Buffet de queijos, frios e pães e uma degustação de queijos de cabra artesanais a cargo da Queijaria Rancho dos Sonhos (www.queijariaranchodossonhos.com.br).
 
Impecável!
 
Todo enófilo sonha com um evento de degustação ideal: boa localização, vinhos que sejam relevantes no cenário enogastronômico, a participação de pessoas interessantes e interessadas, bom serviço de vinhos e um ambiente agradável que convide para esta experiência.
 
De nada adianta apresentar produtos de alta gama, caríssimos, que gravitam no mundo dos sonhos e na hora de servi-los, retirar a garrafa debaixo da mesa, como se fosse um favor (e para poucos). Muito melhor o que aconteceu aqui, com excelentes vinhos, acessíveis, e servidos sem nenhuma restrição. Mais um ponto a favor do Wineshow 2013.
 
 
Difícil saber por onde começar com tantas boas opções. A técnica tradicional é iniciar por um espumante para preparar o palato. Seguem os brancos e depois os tintos. Preocupados em voltar para o Rio em segurança, optamos por participar logo no primeiro horário e talvez este tenha sido o nosso pecado: os espumantes ainda não estavam no ponto de serem servidos.
 
Partimos para os brancos. Chamou a nossa atenção o ótimo Sauvignon Blanc, da vinícola chilena William Cole, oferecido pela Ana Import. Outro branco interessante e diferente foi o Gewurtztraminer Premium da vinícola Casa Valduga. No capítulo dos espumantes lá estavam os bons nacionais da Valduga, Miolo e Pericó enfrentando com galhardia a concorrência de italianos e espanhóis.
 
 
Após um breve descanso, passamos aos tintos e boas surpresas nos aguardavam. Ponto alto para o Petite Fleur da vinícola argentina Monteviejo, que está adotando a marca Lindaflor, e para os nacionais Quinta do Seival Castas Portuguesas e Vinhas Velhas Tannat, ambos da Miolo.
 
 
Nem a chuva que caiu copiosamente ao final da tarde tirou o brilho do Wineshow 2013. Estamos aguardando ansiosamente a próxima versão.
 
Parabéns ao Grupo Paludo pela ousada iniciativa.
 
Nossa zona de conforto ganhou novos contornos!

Dica da Semana: com as temperaturas subindo, nada como um bom branco refrescante que descobrimos nesta degustação.
 
William Cole Mirador Selection Sauvignon Blanc, 2011
Notas de maracujá, maçã verde, abacaxi e pêssegos, acompanhadas por notas cítricas tipo limão em um fundo herbáceo, tudo bem integrado, agradável, que expressa de excelente maneira o terroir do vale de Casablanca.
Ataca com muito frescor, de corpo leve e médio e sua acidez é intensa e fresca. Harmoniza com frutos do mar e pratos leves.

Por que ‘Castas Nobres’?

O uso do adjetivo ‘nobre’ para definir uvas ou vinhos é muito antigo e tem raízes muito interessantes, afinal o que faz uma determinada varietal ser classificada como nobre em detrimento de outras?
 
Uma rápida pesquisa em textos de autores consagrados nos forneceu uma boa definição:
“Uvas nobres são as uvas tradicionalmente associadas com os vinhos da mais alta qualidade”.
Sauvignon Blanc, Riesling, Chardonnay, Pinot Noir, Cabernet Sauvignon e Merlot, são as eternas castas agraciadas com títulos como Rainha disto ou daquilo. Entretanto, alguns críticos, talvez sentindo a exagerada influência francesa nesta lista, substituem a Sauvignon Blanc e a Merlot pela excelente italiana Nebbiolo.
 
Ainda assim, resta uma dúvida: seriam realmente superiores os vinhos produzidos com estas uvas?
 
Posso ir mais longe: e as castas típicas do Novo Mundo, Zinfandel, Carménère, Malbec, etc., ou as ibéricas Tempranillo e Touriga Nacional, não se enquadram?
 
Apesar de apaixonante, este tema exige um pouco mais de informação para ser compreendido. Por trás da “qualidade” está o que é denominado ‘Estrutura’, algo como o esqueleto do vinho. Aqui está a diferença: só será percebida na hora da vinificação, da elaboração.
 
A mais simples demonstração de que realmente há uma diferença pode ser observada nas relações de grandes vinhos publicadas por revistas especializadas ou nos mais variados guias internacionais: desde que a indústria do vinho existe, esta pequena relação de ‘nobres’ domina o cenário. Não é à toa que a fama dos vinhos franceses perdura por séculos. Na relação apresentada, apenas a Riesling (que existe na Alsácia) e a Nebbiolo não são de Bordeaux ou da Bourgogne…
 
A estrutura de um vinho é difícil de ser explicada e entendida. Envolve múltiplos aspectos e o relacionamento entre eles: acidez, taninos, álcool, etc., que em última análise vai determinar sabores, aromas, capacidade de envelhecimento e outras características.
 
Um dos elementos mais importantes é a Textura. Pode parecer uma ideia um pouco tênue se compararmos com outros materiais como tecidos, madeiras ou cerâmicas, mas definitivamente há diferentes texturas na nossa bebida predileta. Esta qualidade está associada àquelas sensações de grande amplitude (de aromas e sabores), permanência no palato e o gole aveludado ou o seu oposto (áspero), entre outras. Novamente, sobressai o conjunto em vez de valores individuais.
 
Este talvez seja o segredo das castas nobres: bem vinificadas, nos presenteiam com uma formidável estrutura e tudo de bom que dela decorre.
 
Um velho e batido jargão faz muito sentido neste momento: “Antiguidade é posto”.
 
Não há mais como ignorar a qualidade dos vinhos produzidos, hoje, no Chile, na Califórnia, na Argentina e em outros países, alguns europeus. Mas, para que um dia suas castas emblemáticas sejam elevadas de categoria, só há um fator a ser considerado: tempo, muito tempo.

Dica da Semana: não precisa esperar séculos, pode ser consumido já!
 
Hardys Nottage Hill Merlot 2011
Um vinho australiano de muita presença em boca, fresco com leve traço de hortelã, sabores de fruta vermelhas maduras, e noz-moscada.
Sua textura de densidade média o torna versátil para acompanhar diversos pratos.

8 Argumentos questionáveis

Quando comecei a escrever sobre vinhos para O Boletim decidi seguir alguns cânones, por exemplo, usar o jargão típico dos enófilos, mesmo sabendo que nem sempre isto faria muito sentindo para os leitores. Alguns e-mails até sugeriram a elaboração de um glossário.
 
Parece que esta linguagem muito específica começou a incomodar alguns pesquisadores que decidiram medir, no mercado inglês que é considerado o maior do mundo, o que realmente valia a pena ou era interessante saber para o consumidor final. O resultado é surpreendente, mostrando do que a força do marketing é capaz: termos restritos à profissão do enólogo acabam na boca do povo que não tem a menor ideia do que estão falando. Mas fica bonito… Eis alguns exemplos.
 
1 – As Notas de Degustação – honestamente, algum leitor já comprou um vinho por que se sentiu atraído por este tipo de informação? Saber que o que está na garrafa tem “Cor púrpura com reflexos violáceos” é fundamental na hora de comprar um vinho?
 
O estudo inglês mostrou que não, mais de 55% das respostas foram negativas, muitas apontando que esta descrição nem sempre era clara. Apenas 9% dos entrevistados afirmou que escolheu um rótulo baseado numa descrição do produto.
 
O resultado desta pesquisa pode ser usado em qualquer mercado sem grandes alterações.
 
2 – A Madeira dos Barris de Carvalho – saber de qual bosque veio a madeira usada numa barrica se tornou ponto de honra. Se vier de Alliers ou Tronçais tanto melhor, algo como ‘está é “a” barrica’…
 
Bobagem!
 
Só os muito ingênuos acham que vão notar alguma diferença se usarem esta ou aquela madeira. Um ponto é fundamental: o carvalho americano e o francês são diferentes acrescentando aromas e sabores distintos ao vinho que neles permaneceu. Mas quem decide o resultado final é o enólogo, que vai dosar o produto até atingir sua meta. Honestamente, é quase impossível saber ao degustar um vinho qual a origem das barricas.
 
Mais um ponto para pensar: o “carvalho francês” também existe em florestas que por muitos anos ficaram inacessíveis por trás da Cortina de Ferro. Hoje em dia já é possível falar em carvalho esloveno ou romeno. Do ponto de vista científico são exatamente iguais ao francês. Quem se arrisca a identificar um ou outro? Mais uma informação pouco relevante. Mas quanto prestígio…
 
3 – Vinhedo ou Parcela Únicos – esta frase está na moda e aumenta significativamente o preço dos vinhos que a trazem em seus rótulos. Se for realmente verdade que uma determinada vinícola faz regularmente vinhos somente com frutos obtidos de uma região específica de seu vinhedo, vamos ter que acreditar que o clima, naquela região, é imutável.
 
Não é bem assim. Ninguém dúvida que as melhores uvas vão para os melhores vinhos. Também é seguro afirmar que esta ou aquela micro região produz frutos de melhor qualidade. A dúvida fica por conta de o volume de uvas ser suficiente para elaborar uma quantidade de vinho que possa ser comercializada.
 
Este tipo de informação deveria ficar restrita aos Agrônomos e Enólogos, só a eles interessa. Mas vende o produto. O próximo passo vai ser algo como “Parreiras Selecionadas Individualmente”…
 
Vocês acreditam? Papai Noel existe?
 
4 – O Melhor Sistema de Fechar a Garrafa – Rolhas de cortiça versus o resto do mundo, uma batalha num ringue internacional: neste corner… e o juiz será o consumidor final.
 
Há muito para ser dito neste tema. O mais importante é: tampa de rosca vai ser o padrão em pouco tempo. A cortiça está cada vez mais cara, é produzida por um cartel, e para determinadas regiões do mundo é quase inacessível, por exemplo, a Nova Zelândia: mesmo seus vinhos top usam tampas de rosca.
 
Óbvio que vinhos icônicos e famosos vão continuar com o mesmo sistema que usam há séculos. Sempre funcionou e vai continuar funcionando. Trocar o sistema de fechamento de um vinho destes pode causar estranheza e desconfiança. A chave neste caso é que o preço da rolha não vai alterar em nada o custo final.
 
Mas o que dizer de um vinho do dia a dia? Para uma garrafa que custe 50 reais num supermercado não importa como ela foi fechada: quanto menor o custo melhor, desde que o sistema empregado cumpra sua função de vedação protegendo a bebida, melhor.
 
Deixem esta preocupação para os enólogos e aceitem sua decisão. Sempre será a melhor escolha para aquele produto.
 
5 – Dia e Hora da Colheita – este dado é de um preciosismo e de uma inutilidade assombrosos. Levante a mão o consumidor que for capaz de perceber esta nuance ao consumir um vinho. Nem o famoso Parker, aposto!
 
Pode parecer inverídico, mas já encontrei, num contra rótulo, um minucioso texto informando que as uvas teriam sido colhidas num dia do mês de Abril, à tarde. Em outro vinho, as uvas foram colhidas numa amena noite de março. Para quem isto é relevante afinal? Acho que a turma do Marketing pegou pesado aqui.
 
6 – Proporções de um Corte – apesar de ser uma informação relevante, estão levando isto ao extremo. É óbvio que fica frustrante ler um rótulo para descobrir que é um vinho obtido a partir de “uvas viníferas europeias”. Mas também não me adianta nada saber que um corte foi obtido a partir de 11,5% Cabernet, 15,7% de Carmenére, 13,87% de Malbec, 2,34% de Syrah e mais uma infinidade de uvas. Não precisamos nem desta, nem da outra informação; não ajudam em nada, confundem.
 
A grande maioria dos vinhos ditos varietais, ao contrário do que imaginamos, pode receber uma quantidade pequena de outras uvas que permitem um melhor acabamento do produto: pode melhorar a cor, aroma, tanino etc. Esta adição é legal, não precisa ser declarada e não muda a característica principal da casta, ou seja, um Cabernet com 10% de Merlot continua sendo um Cabernet.
 
Por outro lado, se um vinho for um corte em que as diferentes castas tiverem pesos semelhantes, está é uma informação válida que deve ser divulgada claramente. Fora disto, deixe para os ‘enochatos’.
 
7 – Teor Alcoólico – o que se discute aqui é se a quantidade de álcool num vinho tem realmente a importância que se atribui a este dado, que consta dos rótulos por obrigação legal. Países produtores que têm seus vinhedos em regiões de muito sol produzem vinhos mais alcoólicos, os frutos terão maior teor de açúcar para ser convertido. Mas este fator sozinho não torna um vinho melhor ou pior para ser consumido. Se realmente isto for um ponto de discussão válido é melhor esquecer o vinho e beber suco de uva: teor zero!
 
8 – A Cuba de Fermentação – a mais recente invencionice dos marqueteiros que resolveram distinguir os vinhos pelos recipientes em que são fermentados. Desta forma seriam sensivelmente diferentes vinhos que foram elaborados em tanques de inox, em barricas de madeira, piscinas de concreto (com ou sem epóxi) e até na última novidade um recipiente de forma oval construído em concreto.
 
Isto faz diferença? Creio que só para o enólogo ou algum especialista do assunto. Em todos os casos o resultado é vinho. Só de curiosidade, acho que seria mais útil saber qual a levedura utilizada, assim poderia esperar pela presença, ou não, de determinados aromas e sabores. O resto é subjetivo e fica a critério do leitor.

Dica da Semana: um excelente Syrah do Chile com uma característica que serve de exemplo para tudo que foi dito acima.
 
Polkura Syrah 2008
 
Composição: 94% Syrah, 2% Malbec, 1,5% Tempranillo, 5% Grenache Noir, 1% Viognier
Colheita: 22 de abril – 2 de maio 2007
Álcool: 14,6%; Açúcar: 2,6 g/l; Acidez: 5,9 g/l; PH: 3,62
Cor violáceo profundo. Aromas de pimenta branca e negra, acompanhado de frutas negras, ervas e aniz. Vinho de grande corpo, elegante, com taninos muito intensos, porém suaves. Acidez natural e doçura de álcool bem equilibradas. O vinho é muito complexo, integrando os diversos sabores que emergem no paladar. Final longo.
 
Precisa disto tudo ou bastaria dizer: Ótimo vinho!
 
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