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Pagando algumas dívidas

Nenhum cronista gosta muito de usar chavões em seus textos. Algumas vezes perdemos um bom tempo procurando uma forma alternativa de passar uma ideia que é apresentada, de maneira simples e direta, por um daqueles provérbios que aprendemos quando criança. Quando decidimos ir contra as regras da boa escrita, embarcamos num novo problema: qual frase usar? 
O melhor é deixar a prosopopeia de lado. Hoje vamos começar a cumprir algumas promessas antes que entrem na relação dos arquivos mortos. Primeiro, as mais recentes. 
Uma das colunas que mais nos surpreendeu foi a das garrafas. Movimentou bem a caixa postal e trouxe uma nova visão sobre a curiosidade de nossos leitores. Na sequência, fizemos um pequeno desafio sobre as garrafas de Chianti, envoltas em palha. Havia uma foto, logo abaixo, mostrando a garrafa sem a palha e revelando, para os mais atentos, uma das razões da curiosa embalagem, mas não todas. A brincadeira era completada na Dica da Semana, quando sugeríamos um Chianti em garrafa Bordalesa e perguntávamos onde estava a forma tradicional. 

A primeira leitora a responder o teste foi a Mariana Almeida, de Uberlândia, sugerindo que a palha era uma forma de proteção, neste caso, para manter uma temperatura agradável para o consumo: acertou parcialmente, é uma forma de proteção, mas para outras finalidades. 
A resposta completa foi dada por um dos meus confrades, Mario Ramos, numa verdadeira aula sobre esta tradicional garrafa italiana. Saboreiem: 

“Caro Tuty, 
A palha era originariamente usada para proteger as garrafas (frágeis, sopradas à mão) e colocá-las em pé em cima das mesas graças ao formato achatado da base de palha. Facilitava muito a guarda das mesmas, com o hábito de pendurá-las no teto, paredes ou hastes, economizando espaço. Depois por tradição. Posteriormente a uma fase de conceito baixo (e as garrafas já eram seguras e perfeitas) alguns produtores resolveram mudar para o formato bordalês, numa tentativa de recuperar o prestígio. 
Mário” 

Resolvida esta questão, vamos propor outra: Por que será que existe aquele recesso no fundo das garrafas de hoje? Para ajudar, existem algumas explicações, mas uma é a razão original, as demais seriam usos alternativos para este detalhe. Cartas para a redação! (não resisti ao chavão)… 

O nosso comparsa José Paulo Gils está de volta:  
O assunto não poderia ser outro que o polêmico tema das Salvaguardas. Gils chamou a nossa atenção para dois textos publicados no Blog Wine Report. 
O primeiro, de Alexandre Lalas, intitula-se “A Luta Continua” e trata da audiência pública promovida pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) no dia 28/06/2012 para julgar a necessidade de aplicação das salvaguardas. (http://www.winereport.com.br/winereports/a-luta-continua/2021)
Reproduzo, a seguir, os dois últimos parágrafos: 

“Nos corredores do MDIC corre a certeza de que o pedido de aplicação de salvaguarda para o vinho nacional carece de embasamento técnico. No entanto, a pressão política exercida pela corrente gaúcha do Governo Federal pode fazer com que a salvaguarda seja adotada assim mesmo. Em recente entrevista a uma rádio gaúcha, o Ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, garantiu que o pedido seria aceito, independente da posição do MDIC.
Caso a salvaguarda seja adotada, um boicote aos vinhos nacionais dos produtores que não se manifestaram contra o pedido pode causar sérios prejuízos à indústria vinícola nacional. Um abaixo-assinado contra o pedido já ultrapassou as 10 mil assinaturas”.

De lastimável, somente a declaração inoportuna do Ministro do Desenvolvimento Agrário, Sr. Pepe Vargas, também conhecido por Gilberto José Spier Vargas, gaúcho de Nova Petrópolis. Acho que não é preciso falar mais nada… O segundo texto, de Rogerio Rebouças, “Não há Caso” , comenta a atuação na audiência de dois representantes da indústria vinícola europeia, o Secretário-geral do Comitê Europeu das Empresas de Vinho (CEEV), Sr. José Ramon Fernandez e o Sr. Nicolas Ozanam Secretário-geral da Federação dos Exportadores de Vinhos e Espirituosos da França (FEVS).
(http://www.winereport.com.br/winereports/nao-ha-caso/2023)
Reproduzo alguns trechos abaixo: 

“O que os europeus tentaram mostrar na audiência é que não existem as condições necessárias, como alega o IBRAVIN e demais entidades gaúchas, para a aplicação das Salvaguardas. “Com base em todos os argumentos técnicos apresentados não há caso”, afirma Ozanam. Fernandez garante que o momento é de deixar os técnicos analisarem com calma as informações fornecidas e não jogar gasolina no fogo, ao menos da parte dos produtores europeus. Acredita que a questão técnica prevalecerá e também o bom senso. Seu desejo é de que esta disputa não tivesse sido criada e que os esforços dos produtores brasileiros fossem direcionados, conjuntamente com os importadores e produtores estrangeiros, em prol do vinho e de seu consumo. “Preferia estar investindo em promoção e formação ao invés de estar pagando advogados em Brasília”, assegurou. 
A decisão técnica deve acontecer até o final de julho. “Fomos firmes, mostramos a real situação e aguardamos a decisão do Ministério. O abaixo-assinado, a mobilização dos consumidores, importadores, lojistas e donos de restaurantes, associações de Sommeliers e amantes do vinho e da imprensa foi muito importante”, constatou entusiasmado o Secretário do CEEV. “Não vamos nos precipitar, vamos aguardar agora a decisão. O ideal seria que todos no Brasil se unissem em prol do vinho e que não desperdiçassem tanta energia e recursos neste tipo de confronto que não ajuda o mercado. Se a indústria brasileira do vinho crescesse e puxasse o consumo seria melhor para todos. Prefiro uma pauta positiva”, concluiu”. 

Vale a pena, também, ler um texto do colunista Didú Russo, “Salvaguardas, chegou a hora do Bom Senso”. 
Dois pontos muito importantes ressaltados pelo colunista: 

“Se saírem as Salvaguardas e os técnicos do MDIC já sinalizaram que seria uma decisão política e que viria em cotas e que provavelmente limitaria o mercado importador a algo como 40 milhões de litros/ano, o desastre estaria feito para os dois lados: 
1) O mercado ficaria reduzido em relação ao volume de hoje, por tanto os preços subiriam para nós consumidores. 
2) Os supermercados (60% da venda dos nacionais com 90 mil pontos de venda) partiriam para a retaliação, pois não são obrigados a vender vinho brasileiro. Já declararam isso. Os consumidores então nem se fale, já boicotam os nacionais neste momento. 
3) Os importadores e suas associações entrariam no dia seguinte com pedido de mandado de segurança. Ainda existe Poder Judiciário no país graças a Deus. Aconteceu com o Selo Fiscal e deu no que deu. É muito provável que o mesmo roteiro se repita. 
Este é o cenário do PERDE–PERDE. Ou seja, os dois lados querendo ganhar fazem com que todos percam”. 

“Mas acontece que eu sou otimista, eu sou do GANHA–GANHA, onde os dois lados entram em entendimento, cada um negociando o que lhe é mais importante, cedendo daqui, concedendo dali e todos saem ganhando. E acredito nisso pelo seguinte: 
1) Os produtores brasileiros já sentiram que o boicote acontecerá e que poderá quebrar de verdade muita gente além de desvalorizar os enormes investimentos dos grandes produtores. 
2) A possibilidade de um mandado judicial é muito grande e muito provável. O que deixaria os produtores nacionais sem nada na mão para negociar e com a imagem lá em baixo. 
3) Os importadores não querem de forma alguma um mercado limitado para baixo. Quem é que monta um negócio que não pode crescer e ainda terá que diminuir? 
Pois por mais absurdo que possa parecer, este cenário é possível neste governo, como os fatos estão mostrando. Os técnicos do MDIC deverão encaminhar suas decisões técnicas ao Ministro até o fim de julho quando o assunto então iria aos Ministros que participam da Camex (*) para avaliar e decidir. Só então haverá uma decisão”. 

(*) Camex – Câmara de Comércio Exterior, do Conselho de Governo, tem por objetivo a formulação, a adoção, a implementação e a coordenação de políticas e atividades relativas ao comércio exterior de bens e serviços, incluindo o turismo. O Conselho de Ministros é composto pelos seguintes Ministérios: do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que o preside; Chefe da Casa Civil da Presidência da República; das Relações Exteriores; da Fazenda; da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; do Planejamento, Orçamento e Gestão e do Desenvolvimento Agrário. 
Vinhos não comentados 
Algumas das dívidas mais antigas surgiram durante a nossa viagem pelos grandes vinhos do mundo. Tivemos que fazer algumas escolhas, quase sempre muito difíceis. Na França, como decidir entre Bordeaux e Bourgone? Ou por que não optar pelos vinhos do Rhone, os mais premiados pelo respeitado Robert Parker? Na Itália, escolhemos o Barolo, deixando de lado joias como o Brunello di Montalcino, o Barabresco, os espetaculares Super- Toscanos e mais uma quase interminável relação de grandes vinhos. 
Outra enrascada, um nó-górdio que nem a espada de Alexandre, o Grande, é capaz de dar jeito: continuamos obrigados a fazer escolhas… Sabedores que uma falha será inevitável, imaginamos uma saída criativa. Vamos escrever sobre as uvas viníferas, afinal, está será uma tarefa fácil, são cerca de 3500 variedades das quais, apenas, 1500 são usadas na produção de vinhos. Moleza! 
Começamos na próxima semana! Um dia terminamos (se não descobrirem mais algumas durante este longo tempo). Para ajudar, vamos fazer algumas simplificações, por exemplo, nada destas uvas que estão nas garrafas do dia a dia, já estão mais que conhecidas e não gastaremos nenhum tempo com elas. Buscaremos outros caminhos para ampliar nossos horizontes. Como um efeito colateral, apresentaremos mais alguns grandes vinhos. Preparem-se! 

Dica da Semana: o clima anda bom para vinhos encorpados e saborosos. 

Zorzal Malbec 2010 
País: Argentina / Gualtallary, Tupungato 
Vinícola: Zorzal 
Variedade: 100% Malbec 
Zorzal representa a intensidade, o romantismo e a paixão Argentina. Localizada em um dos vales de maior altitude da Argentina, os vinhos surpreendem pela tipicidade, estrutura e personalidade, características únicas de um terroir de mais de 1.300 metros acima do nível do mar. Cor rubi intenso, aroma de framboesa. Na boca é redondo e bem equilibrado. 
93 pts WS; 90 pts Descorchados 2012

Atendendo aos pedidos

Vários leitores, por e-mail, expressaram suas dúvidas sobre a coluna da semana passada. Como o tema é interessante, preparamos esta nova página em cima dos questionamentos. A pergunta mais recorrente foi: 
As garrafas de vinho poderiam indicar a qualidade, a idade ou a origem? 
Com relação à qualidade ou à idade, a resposta é pura e simplesmente um não. Com relação à origem, em certos casos, é perfeitamente possível saber de onde vem o vinho. Vamos elaborar um pouco mais estes pontos. 
Não há como saber, pelo menos para o consumidor final, qual a qualidade do conteúdo, usando apenas a garrafa como indicador. Talvez nos brancos, em cascos claros, seja possível avaliar se o vinho está passado (cor âmbar), e nada mais. Este é o grande trunfo dos falsificadores, ninguém quer arriscar desarrolhar uma garrafa e prová-la antes de colocar num leilão de vinhos antigos… 
Mas há indicadores confiáveis que podem ser usados para qualificar um produto como melhor que outro. O mais visível é o rótulo: procurem por material mais encorpado e impressão nítida. Outro ponto a ser considerado é a chamada cápsula que envolve o gargalo protegendo a rolha: os melhores vinhos usam estanho ou lacre de cera, os vinhos comuns, plástico. A garrafa, hoje, funciona mais como um apelo mercadológico: pode haver novos formatos e rótulos em impressão direta sobre o vidro; o peso, muitas vezes, é usado para passar a sensação de que este é um produto superior – garrafas de mesmo formato com pesos bem diferentes. Dentro, o mesmo vinho… 
Falando em rótulos, nem sempre foram de papel: 

Seguindo certos parâmetros, poderíamos avaliar se uma garrafa é antiga ou nova, mas nada do que vamos aprender, a seguir, vai estar no nosso dia a dia de apreciador de um bom vinho. Observem a próxima foto: 

Está seria uma garrafa de Chateau Lafite, safra de 1789 da adega do Presidente Thomas Jefferson. Era uma fraude, embora a garrafa fosse antiga. Reparem no formato, não é uma bordalesa com pediria o Lafite, se aproximando do formato da Borgonha. 
Um outro exemplo de garrafa nitidamente antiga (ou pelo menos mal cuidada): 

Quanto ao conteúdo… 
O terceiro ponto: se uma garrafa pode indicar a origem do vinho, a resposta é um possível sim, dentro de certos limites. Os formatos descritos na semana passada têm origem precisamente neste fato – os produtores buscavam uma identidade visual para seus produtos. Com a chegada dos vinhos do novo mundo, esta lógica sofreu uma alteração: os novos produtores gostariam que a identidade visual dos seus vinhos remetesse aos vinhos franceses. 
Resumindo: o que se pode esperar de um vinho, numa garrafa Bordalesa, é que ele tenha sido elaborado com uma ou mais castas originárias de lá: Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot, Cabernet Franc, Malbec e Carmenére. O mesmo raciocínio vale para as varietais da Borgonha e do Vale do Ródano (Rhone). Já estamos escutando a nova dúvida: Há exceções? Sim, muitas! 
Não precisamos ir muito longe, Itália, Portugal e Espanha. Quais a garrafas para os vinhos de Touriga Nacional, ou do Tempranillo ou ainda das inúmeras castas italianas? O melhor a fazer, neste caso, é interpretar por aproximação. Por exemplo: vinhos portugueses em garrafa bordalesa são vinificados, com as castas locais, à moda de Bordeaux. 
Podemos ir mais longe: há garrafas italianas que são quase exclusivas. Dois exemplos abaixo: 

A primeira é o clássico Chianti e a segunda o formato usado para os vinhos produzidos na região de Alba, um meio-termo entre os formatos de Bordeaux e Bourgone. 
Algum dos leitores sabe a razão do corpo em palha da 1ª garrafa acima? 

Uma única linha sobre cores: alguns vinhos, principalmente tintos, devem ser protegidos da luz, logo, as garrafas escuras. 
Por que 750 mililitros? 
Esta foi outra dúvida que tem múltiplas respostas; não há consenso entre os pesquisadores. Começamos com um pouco de história. As primeiras garrafas variavam desde 600 ml até 800 ml. Quem mais se preocupava com isto, naquela época, era a Inglaterra: direito do consumidor é coisa séria até hoje. Eventualmente eles teriam padronizado um volume de 1/5 de galão, medida básica do sistema vigente de então. Os norte-americanos copiariam a ideia, adaptando-a para o seu galão (US gallon), o que dava aproximadamente 757 ml, mais tarde arredondada para 750 ml pelo Canadá e EUA, no início da adoção do sistema métrico por estes países (1979). Mas isto não explica a escolha por este tamanho. Eis algumas possibilidades: 
1 – como as primeiras garrafas eram sopradas individualmente, esta medida era equivalente à capacidade pulmonar média dos sopradores; 
2 – o peso de uma garrafa deste volume se aproxima de 1,5 Kg o que é conveniente para o transporte; 
Esta última é a mais curiosa; 
3 – 1/5 de galão era considerado como uma quantidade aceitável para um adulto consumir numa refeição! 
Os Grandes Tamanhos 
Esta foi uma pergunta intrigante: como servir as garrafas de grandes tamanhos? 
A resposta é meio sem graça: como se serve uma garrafa padrão! (mesmo que seja necessária a ajuda de outra pessoa) 
Mas vale a pena levantar outras dúvidas, por exemplo, quando devemos usar tamanhos maiores? 
Se vamos servir durante um evento apenas o mesmo vinho, tinto ou branco, vale a pena usar garrafas Magnum em lugar de várias garrafas normais. A Magnum dupla é mais complicada e servirá melhor para fazer uma performance. Os produtores gostam de exibi-las, é um chamariz! 
Mas se o assunto for espumante, surge um novo problema para ser resolvido: como gelar uma garrafa como a Melquisedec com seus 1,5 metro e 40Kg ou mais? Sinceramente, não é para os pobres mortais. Mas nos grandes restaurantes do mundo, isto não parece ser um grande problema! 

Para futuras referências, uma coleção de diversos formatos: 

Da esquerda para a direita: Bordeaux, Bourgogne, Flauta, Champagne, D’Alba, Marsala, Porto, Húngara, Bocksbeutel (Francônia). 

Dica da Semana: para deixar todo mundo sem entender nada! 

Chianti DOCG 2009 
Produtor: Piccini 
País: Itália 
Região: Toscana 
Fermentação tradicional com controle de temperatura e um longo período de maceração. Maturação: Não passa por madeira. 
Este eterno Best Buy, para a Wine Enthusiast, mostra um bouquet cheio de frutas maduras. No palato é rico e macio, com um toque fresco que o deixa perfeito para acompanhar comida. 
Combinações: Carnes, queijos, massas, risotos e aperitivos. 

(Cadê a garrafa típica?) 

Agradeço a colaboração dos leitores: Sérgio Pirilo, Felipe Carruncho, Augusto Escobar e Giancarlo Marreti, esperando que suas dúvidas tenham sido esclarecidas.

Algumas conclusões, salvaguardas e uma degustação notável

Terminamos o nosso primeiro giro pelos grandes vinhos, na semana passada. Visitamos todos eles? Não, isto é quase uma missão impossível. Provavelmente cometemos algumas injustiças que esperamos reparar em futuras colunas. 
Curiosamente, nenhum leitor acusou a falta deste ou daquele vinho, mas o fizeram com relação a determinados países que não foram mencionados. Algumas explicações são necessárias. 
Produz-se vinho em quase todo lugar, mas nem sempre são produtos de qualidade, que mereçam ser mencionados. No Peru, por exemplo, um dos primeiros países sul americanos a ter uvas europeias plantadas em larga escala em seu território, nunca se desenvolveu uma indústria vinícola digna de nota. Todo o vinho produzido por lá é usado na produção do famoso Pisco, um destilado. 
Na última coluna foi mencionado que a uva Pinotage estava sendo experimentada no Zimbábue. Teve sucesso? Ainda não, apesar de terem obtidos alguns prêmios interessantes em competições internacionais. No máximo, uma promessa, como o México. 
A Bélgica foi outro país que gerou curiosidade: será que existem vinhos por lá? Sim! Principalmente brancos obtidos a partir da Chardonnay. Mas a produção é minúscula e mal atende a demanda interna. Nada que valha a pena mencionar. 
Por último a Inglaterra. O que acontece neste país? Até hoje, o povo inglês é o maior importador de vinhos do planeta, com uma perspectiva de 152 milhões de caixas em 2014, um recorde! Produzem vinho por lá? Quase uma obviedade, mas a produção é muito pequena, significando apenas 1% do que é importado… 
Algumas injustiças que ainda não foram reparadas (podem cobrar!): 
Os excelentes Côtes du Rhone; 
Brunello di Montalcino e Vino Noble di Montepulciano; 
O Champagne e outros espumantes; 
Contador, da Espanha, outro mito; 
Poderíamos nos estender por mais algumas páginas. Hoje ficamos aqui. 
Uma notícia alvissareira 
Informa José Paulo Gils, nosso olheiro para o assunto salvaguardas: 
A revista Veja, na edição desta semana (2270 de 23/05/2012) publicou uma nota na seção Holofote, assinada por Otávio Cabral, intitulada “Protecionismo negado”, a qual transcrevo abaixo. 
“Protecionismo negado 
O processo de concessão de salvaguarda ainda está na fase inicial, mas o Ministério do Desenvolvimento já descarta a possibilidade de atender ao pedido da indústria vinícola nacional de criação de uma cota para a bebida importada. Estudos preliminares mostram que o setor voltou a crescer e o vinho brasileiro aumentou sua presença em mercados emergentes, como a China e a Rússia. O máximo que o governo pode conceder é a desoneração de impostos para o setor. Aliás, a única salvaguarda em vigor no Brasil cairá ainda neste ano: a proibição da importação de coco seco sem casca”. 
Uma degustação surpreendente 
Na terça-feira dia 15 de maio, comparecemos a uma degustação no restaurante Aprazível, em Santa Teresa, Rio de Janeiro. O propósito era reunir as vinícolas que não concordaram com o pedido de salvaguardas. No mesmo dia, em outro local, acontecia o Circuito Brasileiro de Degustação, com as demais vinícolas. 
A iniciativa foi de Pedro Hermeto, proprietário do simpático Aprazível. Presentes as seguintes vinícolas: Vallontano, Anghebem, Chandon, Millantino, Adolfo Lona, Quinta da Neve, Máximo Boschi, Villagio Grando, Era dos Ventos, Antônio Dias, Don Abel, Cave Geisse, Don Guerrino e Dezem, cujos vinhos não chegaram a tempo. 

Alguns produtores estavam presentes dando um charme todo especial ao evento: Adolfo Lona, Silvânio Antônio Dias e Sergio de Bastiani da Don Abel. 
Destacaram-se os espumantes, cada vez melhores, um delicioso Cabernet da Antônio Dias e um branco obtido a partir de uma uva quase extinta, a Peverella, produzido pela Era dos Ventos: diferente e misterioso. 
O meu momento especial foi quando o simpático Adolfo Lona promoveu a degustação de um especialíssimo espumante, o Orus, algo que vou lembrar para sempre. Dificílimo de ser adquirido, sua produção limita-se a poucas garrafas quando é vinificado. O melhor é experimentar os outros produtos desta vinícola, especializada neste segmento. 
Dica da Semana: 
Uma das vinícolas mais tradicionais da Argentina ficou em segundo plano nas colunas dedicadas àquele país: Rutini. Vamos conhecer um pouco desta tradicional empresa e saborear um de seus vinhos mais vendidos. 

A bodega La Rural, foi fundada em 1885, por Felipe Rutini, imigrante Italiano, com o objetivo de produzir vinhos de qualidade empregando as técnicas aprendidas em seu país natal. Seu lema, Labor et Perseverantia, é mantido até hoje. 
O museu do vinho, sediado nas instalações da bodega, é uma visita obrigatória para quem for a Mendoza pela primeira vez. São mais de 4500 peças que retratam bem a dureza e a falta de recursos da época. 
Don Felipe faleceu em 1919 deixando um legado para seus descendentes que mantiveram o espírito pioneiro. Em 1925, começaram a plantar uvas na região de Tupungato, já se antecipando ao sucesso das frutas plantadas neste vale. 

Nos anos 90, a operação da família Rutini foi adquirida por uma grupo de investidores, entre eles Nicolas Catena e Jose Bengas Lynch que promovem a renovação da bodega e a construção de uma nova vinícola no vale de Tupungato. A Rutini, hoje, é um dos grandes produtores Mendocinos. As duas empresas, La Rural e a Rutini Wines, mantêm suas linhas de produtos de forma independente.

Dica da Semana: A dica de hoje é o 

Trumpeter Malbec/Syrah 2010. 
País de origem: Argentina/Mendoza 
Produtor: Rutini Wines 
Cepa(s): Malbec, Syrah/Shiraz (50/50) 
É o vinho da linha Trumpeter de maior sucesso no Brasil. Produzido com uvas de vinhedos de altitude (1200 metros), é sedoso e frutado com bom aporte dos aromas das barricas, excelente frescor e aromas sedutores de violetas, ameixas, framboesas, chocolate e cravo. 
Notas: Wine Spectator 84 pontos (2005) Wine Enthusiast 86 pontos (2004)

Austrália e Nova Zelândia – Final

Se os brancos são a grande estrela por aqui, os tintos, embora ainda não tenham obtido o respeito conquistado pelos Sauvignon Blanc, não fazem feio. Duas uvas sobressaem: Pinot Noir e Syrah. 
Esta última cepa é a base para um extraordinário produto da vinícola Craggy Range, localizada em Hawke´s Bay: Syrah Block 14 Gimble Gravels Vineyard. 

O nome original foi simplificado para Gimblett Gravels Vineyard Syrah. No fim da década de 1980, um empresário australiano investiu em terras neozelandesas para a produção de um vinho. Não um vinho qualquer, queria criar algo lendário. Comprou um dos últimos espaços disponíveis na baía de Hawke, ao longo da estrada Gimblett. Gravels, em inglês, significa cascalho indicando o tipo de solo da região. 

Na época, foi considerado o maior investimento em vinicultura do país. As parreiras utilizadas eram clones das mudas trazidas há cerca de 150 anos. O vinho produzido de suas frutas tem características peculiares e representam o terroir perfeitamente. Sua vinificação é feita em tanques de aço inoxidável, com controle de temperatura, usando somente os frutos (nenhum engaço). O amadurecimento passa por barris de carvalho francês, 25% de primeiro uso, durante 16 meses. 

Notas de degustação da Safra de 2005, a mais famosa: 
Com uma coloração púrpura profunda e aparência viscosa, sugere um vinho potente, porém se mostra leve no palato. Os aromas presentes remetem a especiarias como tradicionalmente encontrado em rótulos congêneres. Na boca apresenta taninos vivos, com textura de cetim, sem nenhum vestígio de ardência ou álcool exagerado, típico dos tintos neozelandeses. Um excelente vinho! Perfeito para acompanhar pratos condimentados de carnes. 
Recebendo sempre notas muito boas dos críticos (Parker 93 pontos), não é um vinho caro tendo ótima relação custo benefício. No Brasil, é importado pela Decanter com preço de catálogo de R$ 172,00 (em 2012). Outro bom investimento para um ocasião especial. A vinícola produz uma série de outros vinhos, brancos e tintos, inclusive um sofisticado corte denominado Le Sol, que já foi comparado com o mítico Cheval Blanc. 

Dica da Semana: Assim com os brancos, os tintos da NZ são caros no Brasil. Para contrastar com o vinho apresentado, selecionamos um Merlot típico. 

One Tree Merlot 
País: Nova Zelândia / Hawke’s Bay 
Castas: 88% Merlot, 10% Cabernet Franc, 1% Malbec, 1% Cabernet Sauvignon 
Coloração vermelho rubi intenso com reflexos granada. Aromas de frutas escuras maduras (cereja e amora), sândalo, chocolate amargo e tomilho. Paladar seco, boa acidez, encorpado, taninos finos e macios com retrogosto de frutas. Amadurecimento em barricas de carvalho francês por 15 meses antes do engarrafamento. 
Harmonização: ideal para carnes vermelhas, carnes de caça e massa com molho untuoso.

Os Grandes Vinhos do Mundo – Argentina – Final

Um trio da pesada- Achaval Ferrer 
Para enfrentar a dura concorrência dos vinhos já apresentados, alguns produtores deste segmento Super Premium, adotaram táticas de guerrilha. A vinícola Achaval Ferrer foi um deles. Vamos conhecer um pouco mais sobre estes três vinhos top de linha: Finca Mirador, Finca Altamira e Finca Bela Vista. 
A jovem empresa foi fundada em 1968, por um grupo de amigos argentinos, Santiago Achaval Becú, Manuel Ferrer Minetti, Marcelo Victoria e Diego Rosso, que não estavam diretamente ligados ao mundo do vinho, e os italianos Tiziano Siviero e Roberto Cipresso, renomado enólogo Toscano e produtor de um delicioso Brunello de Montalcino. Em comum, o sonho de produzir grandes vinhos. 

A primeira safra foi produzida em 1999, em espaço alugado a outras empresas. Somente a partir de 2006 passariam a produzir em suas próprias instalações. Seus vinhedos são todos muito antigos e localizados em diferentes regiões. Contam com parreiras de quase 100 anos e plantadas em pé franco (sem enxertos). A Finca Altamira está em La Consulta, a 1050 metros de altitude, data de 1925; a Finca Bela Vista data de 1910 e está localizada em Pedriel a 950 metros; a Finca Mirador está em Medrano a 700 metros sobre o nível do mar. 

De cada uma são produzidos vinhos com características próprias pelas mãos de Cipresso. A colheita e dupla seleção dos frutos é manual. O Processo é todo por gravidade e se há necessidade de movimentação de líquidos são empregadas bombas peristálticas preservando a integridade do mosto. A fermentação é obtida nos mesmos moldes de um Brunello, em tanques de concreto com temperatura controlada. Passam por fermentação malolática e são envelhecidos em barricas de carvalho. Há uma preocupação constante do enólogo com a qualidade sendo feitas diversas provas durante todo o processo e, a seu critério, novos processos podem ser introduzidos. O vinho não é filtrado nem clarificado ao engarrafar. 
Três vinhos respeitados internacionalmente, recebendo ótimas notas de críticos e revistas especializadas. A safra 2003 do Finca Bela Vista recebeu 96 pontos da Wine Spectator e o título, na época, de Rei dos vinhos Argentinos. Em 2009 o Finca Bela Vista ganhou 98 pontos de Robert Parker. 

Finca Altamira: são produzidas 9.900 garrafas por ano. O vinhedo (finca), todo em pé franco, com mais de 80 anos, está localizado em La Consulta no Vale do Uco. São apenas 6 hectares com um rendimento de 400g de uva por planta. São necessários 1,2Kg de uva para fazer uma garrafa. Considerado um autêntico Grand Cru, amadurece por 15 meses em barricas novas de carvalho francês. Sua cor é púrpura profunda e seu perfil aromático combina potência e elegância, com nuanças tostadas, grafite, cereja negra e ameixa, notas terrosas, trufas. Na boca é pleno, super denso, mas com taninos elegantes, saboroso, fresco e com incrível persistência. A menor nota obtida foi 95+ (Robert Parker). 
Finca Mirador: são produzidas 10.100 garrafas. O vinhedo de 5 hectares, localizado em Medrano, foi plantado em pé franco em 1921. Trabalha com o mesmo rendimento de 400g de uva por planta. Vinificado e amadurecido como os anteriores têm coloração púrpura quase negro e brilhante. Seus aromas disparam notas de cereja e framboesa negra, especiarias doces, flores e um fino carvalho tostado. Na boca não nega ter nascido de vinhas velhas, é concentrado e potente, mas elegante, com taninos de qualidade, puro, fresco, saboroso e muito longo. Nunca recebeu pontuação inferior a 94 de Robert Parker. 
Finca Bela Vista: são produzidas 11.700 garrafas. O vinhedo de 5 hectares em pé franco foi plantado em 1921, é trabalhado nos mesmos moldes dos demais. Após vinificado, amadurece cerca de 15 meses em barricas novas de carvalho francês. Coloração Púrpura concentrada e brilhante apresenta aromas de fruta negra, violeta, nuanças tostadas e terrosas, especiarias, incenso… Boca densa, com taninos de alta qualidade e longa persistência. Nunca recebeu pontuação inferior a 96 da Wine Advocate (Robert Parker). 
Estes vinhos são trazidos para o Brasil pela importadora Aurora-Inovini e tem boa distribuição no país. Uma grande notícia são os preços bem mais palatáveis que o dos concorrentes, variando de R$ 350, 00 até R$ 800,00 dependendo da safra e do vinho. (dados de 2012)

Duas curiosidades: 

Durante muitos anos o Chateau Montchenot, da Bodega Lopez, foi considerado o melhor vinho argentino. Um corte Bordalês, muito bem vinificado, à moda antiga, em grandes dornas, envelhecido calmamente, como pedem os bons vinhos. Um porto seguro, delicioso até hoje e um preferido pelos consumidores tradicionalistas. Vale a pena experimentar e compará-lo aos vinhos modernos: algo surpreendente! 

Existe o vinho mais caro da Argentina e, inegavelmente, é um excelente produto, um super Premium como os demais. Não enfrentou, ainda, a prova do tempo, por esta razão, não foi um dos ícones citados. Mas tem tudo para se tornar um deles: Ultima Hoja da vinícola Bressia. Um corte secreto vinificado como se estivessem lapidando uma jóia. Walter Bressia é um tarimbadíssimo enólogo argentino que após passar por grandes empresas decidiu trabalhar por conta própria. O sucesso foi instantâneo e sua boutique de vinhos é um celeiro de grandes produtos. Define este corte como “o resultado das experiências anotadas em milhares de últimas páginas, que permitiram selecionar as melhores e inigualáveis barricas em uma experiência única e que não será repetida”. 

Dica da Semana: escolhemos um vinho básico da Achaval Ferrer. 

ACHAVAL-FERRER MALBEC MENDOZA 2010  
País: Argentina / Luján de Cuyo – Mendoza 
Uva – Malbec 
Vermelho púrpura. Nariz sedutor, com grande intensidade e pureza, revelando notas florais, de frutos vermelhos e negros maduros (como cereja e framboesa), especiarias e sutis nuanças de madeira. Boca gostosa, suculenta, densa, com taninos super aveludados, sabores frutados e puros, ótimo frescor e alta persistência. Ideal para acompanhar cordeiro assado, churrasco e pratos de carnes vermelhas em geral. Recomendamos decantar este vinho cerca de uma hora antes de bebe-lo.

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