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Uma pausa no passeio italiano

Governo não acata Salvaguardas!
Após uma importante reunião entre o nefando IBRAVIN, um verdadeiro antro de parasitas, acompanhado da Uvibra, Fecovinho e Sindivinho e, do outro lado da mesa, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e duas associações dos importadores de vinho (Abrabe e ABBA), o questionável pedido de salvaguardas para o vinho brasileiro teria sido retirado do Ministério do Desenvolvimento, encerrando temporariamente este lamentável episódio.
A nova proposta é aumentar o consumo de vinhos nacionais atingindo uma meta de 40 milhões de litros em 2016. A estimativa para este ano é de 19 milhões de litros. Meta ambiciosa sem dúvida. Nas entrelinhas ficou claro que uma vez não atingida a meta proposta, o pedido pode voltar.
Para conseguir tal nível de consumo, a exposição de vinhos brasileiros deve aumentar em supermercados e lojas especializadas ao mesmo tempo em que os importadores deixarão de trazer vinhos do segmento mais barato, criando um nicho mais favorável ao nosso produto.
Sem dúvida uma solução de bom senso, ainda assim cheia de pontos duvidosos, o mais importante deles é o custo absurdo do nosso vinho: poderiam diminuir a burocracia e classificar esta bebida como alimento nos moldes dos países civilizados reduzindo a taxação.
Vamos acompanhar o desenrolar dos fatos…
Quando começamos a usar taças de vidro para os vinhos?
Este tema foi proposto pela leitora Adriana Sampaio, do Rio Grande do Sul. Escreveu num e-mail:
“… aí, lendo a sua historinha me lembrei de uma coisa: quando assistimos a filmes de época, século XIV ou XV vemos a nobreza tomando vinho em canecas ou naqueles copos dourados. Quando exatamente se começou a beber vinho em taças?… e em taças de vidro?”
A história do vidro é mais antiga que a do vinho. Para aqueles que já estão duvidando desta afirmação, vale a pena lembrar que existe um vidro natural, de origem vulcânica, a obsidiana, muito utilizada pelas sociedades da Idade da Pedra para produzir ferramentas de corte. Eventualmente foi usada como moeda de troca.
Pesquisas arqueológicas revelam que a primeira manufatura de vidro pelo homem teria ocorrido na Mesopotâmia. Somente na Idade do Bronze houve um grande desenvolvimento na tecnologia de fabricação: surgem os vidros coloridos que teriam vários usos, principalmente decorativos. Interessante notar que o vidro nesta época não era moldado a quente, mas esculpido a frio com técnicas copiadas das que eram empregadas no trabalho com pedras.
Ao final da era do Bronze, o vidro era um material de alto valor comparável aos mais nobres metais. Por ser muito frágil foi sendo paulatinamente abandonado, criando-se um hiato na sua produção e utilização que só seria retomado no século IX AC, quando foi desenvolvida a fabricação de vidro incolor. O vidro soprado surgiria no século I AC, barateando o custo. Tornaram-se comuns recipientes de vidro que foram muito populares no Império Romano. No ano 100 DC os romanos já usavam vidro em sua arquitetura. Os produtos mais comuns eram vasos e outros recipientes. No exemplo a seguir alguns objetos romanos.

Embora existam vestígios de vinho datados em 6.000 anos antes de Cristo, o serviço desta bebida era feito em potes de barro, bolsas de couro ou mesmo em chifre de animais. Para sermos exatos, bebia-se diretamente do recipiente de guarda, (inclusive nos de vidro quando surgiram).
Os primeiros copos eram adaptações rudimentares de partes animais ou vegetais, como a casca de um ovo de avestruz ou uma cuia vegetal. Por não serem estáveis ao serem colocados sobre uma superfície plana, tomava-se todo o líquido de uma só vez, descartando o recipiente em seguida. O próximo passo foi criar uma base para estes objetos conforme a ilustração a seguir.

Copos de metal seriam produzidos a partir do desenvolvimento das técnicas de metalurgia do bronze. O inicialmente eram canecas, mas logo criariam base e haste tornando-os mais elegantes. Prata, cobre, estanho e ouro foram muito utilizados.


A partir do ano 1300 DC surgem recipientes de vidro, ainda sem a forma de taça. Franceses, Venezianos e Alemães desenvolvem a arte de fabricação de objetos em vidro copiando, naturalmente, os modelos existentes de metal ou cerâmica. A ilustração seguinte nos mostra um copo alemão do século XVII.

A primeira ocorrência de uma taça para vinho, de vidro, vem do Século XVI, produzida na República de Veneza pelos artesãos da ilha de Murano. Eram artisticamente decoradas e perfeitamente transparentes permitindo apreciar a cor da bebida. A foto mostra uma taça produzida naquela época.

Há um interessante registro feito pelo pintor Bonifacio Veronese (1487 – 1553). Sua “Última Ceia”, que está na Galeria Uffizi em Florença, nos mostra claramente vinhos em taças de cristal. A foto abaixo, registrada na abertura de uma exposição na Califórnia, nos permite observar o detalhe.

Até onde a imaginação do autor se confunde com a realidade?
 
Agradecemos a leitora Adriana Sampaio por sua colaboração.
 

Dica da Semana: comemorando o bom senso e o fim do pedido de salvaguardas, um bom vinho brasileiro.

Innominabile Lote IV
Produtor: Villaggio Grando
Origem: Campos de Herciliópolis/SC
Castas: Cab. Sauvignon, Cab. Franc, Merlot, Malbec, Pinot Noir, Petit Vernot e Marselan
Coloração rubi com reflexos violáceos. Aromas passando por fumo em rama, baunilha, coco e amoras silvestres. Em boca há um grande equilíbrio entre o teor alcoólico e acidez. Taninos macios que o definem como um vinho estruturado, redondo e aveludado que por apresentar uma boa persistência se faz sentir com elegância e singularidade após ser degustado. É um vinho complexo, de guarda.

Uvas autóctones da Itália – Sangiovese e seus vinhos

A história do Chianti começa lá no século XIII, como um vinho branco! Percorreu um longo e atribulado caminho até se tornar o vinho da Toscana mais conhecido internacionalmente. As principais mudanças passaram por alterações nas regiões demarcadas e no tipo de vinho que muda para tinto. Não podemos esquecer que estamos na Itália, obviamente, apaixonadas disputas políticas entre as cidades de Florença e Siena sublinharam isto tudo.
Na idade média, as províncias de Gaiole, Castellina e Radda, fundaram a “Liga do Chianti”, demarcando uma área de produção considerada, até os dias de hoje, como o coração da produção deste vinho. Com a crescente popularização, outras comunas começam a fazer pressão para que seus vinhos também pudessem ser rotulados como Chianti, gerando, durante alguns séculos, uma expansão sem muito controle e a consequente vulgarização do produto: qualquer coisa em uma garrafa de palha era vendida como Chianti…
A composição do vinho também passou por mudanças importantes passando, gradualmente, de brancos para tintos. Coube ao Barão Bettino Ricasoli (ilustração a seguir), em 1782, estabelecer uma “receita” para a elaboração: recomendava um corte de 70% Sangiovese, 15% Canaiolo e 15% Malvasia branca. Este corte, considerado clássico, foi endossado pelo governo em 1967 quando regulamentou a DOC Chianti, impondo a “Fórmula Ricasoli”, um blend com as uvas Sangiovese (até 90%) e Malvasia e Trebbiano (de 10% a 30%).

Mas esta aventura não termina aqui. Alguns produtores iniciaram um movimento para modificar a “fórmula”. Dois caminhos foram trilhados: a produção de vinhos com 100% de Sangiovese; a introdução das chamadas castas nobres no corte. Como estes vinhos não podiam ser classificados, pela lei, como Chianti, passariam a ser vendidos como “Vino da Tavola (vinho de mesa)” ou IGT. São vinhos simplesmente maravilhosos e tinham um preço de venda muitas vezes superior aos DOC, criando um paradoxo. Estes “super-Chiantis” se tornariam conhecidos como Super-Toscanos (anos 80). O sucesso foi enorme e acabou por dobrar as rígidas regras: alguns destes excepcionais vinhos já podem ser rotulados como Chianti.
Atualmente são consideradas duas regiões produtoras, a do Chianti Clássico DOCG e as demais que rotulam apenas como Chianti. O mapa a seguir é autoexplicativo.

Para serem enquadrados na DOCG Chianti Clássico, os vinhos devem ter em sua composição pelo menos 80% da Sangiovese e 20% de outras varietais. A partir de 2006, não são mais permitidas uvas brancas no corte. Para os Reserva, são exigidos 24 meses de amadurecimento em carvalho e 3 meses em garrafa.
Nas demais regiões, a regra é mais flexível: mínimo de 75 a 90% de Sangiovese, 5 a 10% de Canaiolo Nero, 5 a10% de Trebbiano Toscano, Malvasia Branca e até 10% de outras varietais.
Curiosidades
O nome deriva da pequena cadeia de montanhas que se distribui entre Florença e Siena. Durante a ocupação pelos Etruscos, a região era conhecida como “Clante” ou “Clanis” o que pode ter evoluído para a atual denominação.
Há um nítido paralelo entre este vinho e os de Bordeaux e isto teria influenciado a fórmula Ricasoli. A Sangiovese, muito aromática, tem os seus taninos suavizados pelo frutado proporcionado pela Canaiolo da mesma forma que a Cabernet Sauvignon é suavizada pelo corte com a Merlot. Alguns críticos consideram o Chianti como o Bordeaux italiano.
Desde 1980 foi criado o “Consorzio Chianti Classico” com o objetivo de aprimorar a qualidade do vinho, aumentar sua divulgação e impedir fraudes. Os produtores associados, todos da região do Chianti Clássico, colocam em seus rótulos a imagem do Galo Nero, que simbolizou a paz entre as cidades de Florença e Siena após anos de disputadas batalhas para delimitar fronteiras. A disputa final seria entre dois cavaleiros que partiriam de suas cidades, um ao encontro do outro. O cantar de um galo ao raiar do dia iniciava a corrida. O ponto de encontro seria o limite da cada território.
Os moradores de Siena criaram um galo branco que foi tratado com todo o carinho e respeito, tornando-se um belo e vistoso animal, enquanto os florentinos optaram por um galo preto que foi deixado à mingua. Como resultado prático, o “Galo Nero”, por estar faminto, cantou muito mais cedo permitindo ao cavaleiro de Florença ir muito mais longe e “encampar” toda a região do Chianti…

O primeiro “Super-Toscano”, o Tiganello, foi produzido por Marchese Piero Antinori em 1978 como um delicioso corte de Sangiovese e Cabernet Sauvignon. Foi uma revolução e permitiu a produção de outros vinhos fabulosos. Alguns, como o Sassicaia, já existiam desde 1944 como um vinho do patrão, só sendo comercializado após 1971, mas não era um estilo Chianti predominando a Cabernet.

Alguns vinhos icônicos
Há uma série de grandes produtores que se equivalem em seriedade e qualidade. O que os diferenciam é apenas um marketing melhor ou uma boa assessoria de imprensa. Somente alguns super toscanos atingiram os 100 pontos de Parker, mas o grande guia italiano, Gambero Rosso, já premiou com seus “tre bicchieri” diversos produtores. Eis alguns deles:
Isole e Olena, Castello di Fonterutoli, Fontodi, Marchesi Antinori, Fattoria di Felsina, Fattoria La Massa, Castello di Ama, Ruffino, Badia a Coltibuono, entre outros. 

Castello di Ama– Um dos melhores Chianti Classico, merecedor dos “tre bicchieri” do Gambero Rosso. Provavelmente o mais conceituado produtor desta denominação. Robert Parker: 93 pontos (safra 2007)
 

Chianti Classico Rancia Riserva – Este cultuado Chianti é, para muitos, o melhor Chianti da atualidade – “uma das melhores compras entre os vinhos de grande qualidade” para Robert Parker, que classificou a safra de 2007 com impressionantes 96 pontos! Uma das mais grandiosas expressões de Chianti clássico.

 Chianti Classico Riserva Badia a Coltibuono – Descrito como “incrivelmente expressivo, com notável profundidade” pelo Gambero Rosso e classificado como “outstanding” por Robert Parker, o Chianti Classico Riserva da Badia a Coltibuono é um dos maiores embaixadores da região, ostentando grande classe e imensa capacidade de envelhecimento. De fato, ele ganha em elegância e complexidade por mais de 20 anos! É um dos poucos vinhos orgânicos da região de Chianti Classico, sendo muito equilibrado – uma bela expressão da uva Sangiovese!
 

Semana que vem vamos abordar o famoso Brunello di Montalcino.

Dica da Semana: existem ótimos Chianti nas regiões fora do clássico. A denominação Rufina é das melhores. Não é barato, mas vale o investimento.

Chianti Rufina DOCG Nipozzano Riserva
Produtor: Marchesi de Frescobaldi
País: Itália/Toscana
Uva: 90% Sangiovese e 10% uvas complementares.
Vermelho púrpuro brilhante. Aroma expressivo de frutas silvestres como amora, mirtilo, framboesa e cereja escura que se mescla a notas de alecrim, baunilha e canela. Palato: Harmonia entre álcool, taninos, acidez e fruta. Final elegante e marcante. Acompanha carne assada, guisados e queijos maturados.

Uvas Autóctones da Itália

A partir desta semana faremos um novo passeio pela “Bota”, um país incrível do ponto de vista enológico com uma diversidade de uvas (e vinhos) difícil de equiparar. Observando o mapa a seguir, é possível identificarmos as diversas regiões em que se divide este cenário: cada uma tem, pelo menos, uma uva e um vinho, únicos.
Como não poderia deixar de ser, o italiano é um apaixonado por seus produtos e cada um vai puxar “a brasa para a sua sardinha”. Nunca vai haver um consenso sobre o que é melhor. O resto do mundo é quem vai escolher. Algumas vezes esta decisão é prejudicada, vinhos encantadores de minúscula produção não saem da comuna em que são produzidos.
São quase 2000 variedades nativas, algumas obscuras, outras bem conhecidas como a já mencionada Nebbiolo ou a Sangiovese. Mas já ouviram falar de Anglianico, Garganegra e Vernachia? Piemonte e Toscana são regiões que estão no vocabulário de qualquer enófilo iniciante, mas o que dizer sobre um vinho da região do Marche denominado “Verdicchio dei Castelli di Jesi”? Podemos assegurar que é um branco lendário (um passo à frente o leitor que conhece ou já provou).
Não se preocupem, não vamos fazer um aborrecido relato sobre todas estas uvas. Destacaremos algumas que, em nossa opinião, merecem ser mais divulgadas. Outras, mais que conhecidas, ainda não tiveram o devido destaque neste espaço e serão visitadas.
Para os leitores mais curiosos, vamos esclarecer algumas dúvidas que já devem estar surgindo ao mencionarmos aqueles estranhos nomes num parágrafo anterior: Anglianico é uma uva tinta das regiões da Basilicata e Campânia; Garganegra, outra tinta, da região do Veneto; Vernachia é uma varietal branca bastante difundida em todo o país. É associada a um excelente vinho da Toscana; Verdicchio é outra varietal branca. Mas ainda não é a hora de falarmos sobre elas o que acontecerá um pouco mais tarde.
Uma Emblemática Italiana?
Este tema está na moda. Até Portugal tenta emplacar a Touriga Nacional como seu eno-emblema. Na Itália este título seria dado para a Sangiovese, a uva mais plantada em seu território, com mais de 100.000 hectares e presente em 53 províncias. Pode produzir desde vinhos sublimes até intragáveis “água de lavar cachorro”. Tudo vai depender do binômio “onde e quem”.

Sangiovese deriva do latim “sanguis Jovis” que se traduz como “sangue de Júpiter”, Deus da mitologia romana. A versão mais aceita sobre sua origem está ligada à cidade de Santarcangelo di Romagna (Emília-Romana), onde um vinho produzido com esta cepa era armazenado em caves conhecidas como Grotte Tufacee, cavadas no Monte Júpiter (Mons Jovis).

Seu grande terroir é a Toscana destacando-se como a principal uva do celebrado Chianti. Mas não é o único vinho obtido com esta interessante uva: Carmignano, Vino Nobile di Montepulciano e Morellino di Scansano são algumas outras denominações. Um dos seus muitos clones produz o fabuloso Brunello di Montalcino (Sangiovese Grosso ou Brunello), para muitos o melhor vinho italiano superando o tradicional Barolo e o moderno Barbaresco.

Na próxima coluna trataremos destes vinhos.
Dica da Semana: um bom Chianti para começarmos a nos ambientar nesta jornada. Esta denominação andou muito desprestigiada e passou por grandes ajustes para recuperar o prestígio.

Confini Chianti Classico DOCG 2009
Produtor: Rocca dele Macie
País: Itália/Toscana
Uvas: 95% Sangiovese, 5% Merlot
Envelhecimento: 6 a 10 meses em barris de carvalho esloveno
Possui cor vermelho rubi vivo, é um vinho frutado, com leves aromas de especiarias, encorpado, com aromas persistentes. Harmoniza com massas, pizzas, carnes vermelhas, queijos duros

Atendendo aos pedidos

Vários leitores, por e-mail, expressaram suas dúvidas sobre a coluna da semana passada. Como o tema é interessante, preparamos esta nova página em cima dos questionamentos. A pergunta mais recorrente foi: 
As garrafas de vinho poderiam indicar a qualidade, a idade ou a origem? 
Com relação à qualidade ou à idade, a resposta é pura e simplesmente um não. Com relação à origem, em certos casos, é perfeitamente possível saber de onde vem o vinho. Vamos elaborar um pouco mais estes pontos. 
Não há como saber, pelo menos para o consumidor final, qual a qualidade do conteúdo, usando apenas a garrafa como indicador. Talvez nos brancos, em cascos claros, seja possível avaliar se o vinho está passado (cor âmbar), e nada mais. Este é o grande trunfo dos falsificadores, ninguém quer arriscar desarrolhar uma garrafa e prová-la antes de colocar num leilão de vinhos antigos… 
Mas há indicadores confiáveis que podem ser usados para qualificar um produto como melhor que outro. O mais visível é o rótulo: procurem por material mais encorpado e impressão nítida. Outro ponto a ser considerado é a chamada cápsula que envolve o gargalo protegendo a rolha: os melhores vinhos usam estanho ou lacre de cera, os vinhos comuns, plástico. A garrafa, hoje, funciona mais como um apelo mercadológico: pode haver novos formatos e rótulos em impressão direta sobre o vidro; o peso, muitas vezes, é usado para passar a sensação de que este é um produto superior – garrafas de mesmo formato com pesos bem diferentes. Dentro, o mesmo vinho… 
Falando em rótulos, nem sempre foram de papel: 

Seguindo certos parâmetros, poderíamos avaliar se uma garrafa é antiga ou nova, mas nada do que vamos aprender, a seguir, vai estar no nosso dia a dia de apreciador de um bom vinho. Observem a próxima foto: 

Está seria uma garrafa de Chateau Lafite, safra de 1789 da adega do Presidente Thomas Jefferson. Era uma fraude, embora a garrafa fosse antiga. Reparem no formato, não é uma bordalesa com pediria o Lafite, se aproximando do formato da Borgonha. 
Um outro exemplo de garrafa nitidamente antiga (ou pelo menos mal cuidada): 

Quanto ao conteúdo… 
O terceiro ponto: se uma garrafa pode indicar a origem do vinho, a resposta é um possível sim, dentro de certos limites. Os formatos descritos na semana passada têm origem precisamente neste fato – os produtores buscavam uma identidade visual para seus produtos. Com a chegada dos vinhos do novo mundo, esta lógica sofreu uma alteração: os novos produtores gostariam que a identidade visual dos seus vinhos remetesse aos vinhos franceses. 
Resumindo: o que se pode esperar de um vinho, numa garrafa Bordalesa, é que ele tenha sido elaborado com uma ou mais castas originárias de lá: Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot, Cabernet Franc, Malbec e Carmenére. O mesmo raciocínio vale para as varietais da Borgonha e do Vale do Ródano (Rhone). Já estamos escutando a nova dúvida: Há exceções? Sim, muitas! 
Não precisamos ir muito longe, Itália, Portugal e Espanha. Quais a garrafas para os vinhos de Touriga Nacional, ou do Tempranillo ou ainda das inúmeras castas italianas? O melhor a fazer, neste caso, é interpretar por aproximação. Por exemplo: vinhos portugueses em garrafa bordalesa são vinificados, com as castas locais, à moda de Bordeaux. 
Podemos ir mais longe: há garrafas italianas que são quase exclusivas. Dois exemplos abaixo: 

A primeira é o clássico Chianti e a segunda o formato usado para os vinhos produzidos na região de Alba, um meio-termo entre os formatos de Bordeaux e Bourgone. 
Algum dos leitores sabe a razão do corpo em palha da 1ª garrafa acima? 

Uma única linha sobre cores: alguns vinhos, principalmente tintos, devem ser protegidos da luz, logo, as garrafas escuras. 
Por que 750 mililitros? 
Esta foi outra dúvida que tem múltiplas respostas; não há consenso entre os pesquisadores. Começamos com um pouco de história. As primeiras garrafas variavam desde 600 ml até 800 ml. Quem mais se preocupava com isto, naquela época, era a Inglaterra: direito do consumidor é coisa séria até hoje. Eventualmente eles teriam padronizado um volume de 1/5 de galão, medida básica do sistema vigente de então. Os norte-americanos copiariam a ideia, adaptando-a para o seu galão (US gallon), o que dava aproximadamente 757 ml, mais tarde arredondada para 750 ml pelo Canadá e EUA, no início da adoção do sistema métrico por estes países (1979). Mas isto não explica a escolha por este tamanho. Eis algumas possibilidades: 
1 – como as primeiras garrafas eram sopradas individualmente, esta medida era equivalente à capacidade pulmonar média dos sopradores; 
2 – o peso de uma garrafa deste volume se aproxima de 1,5 Kg o que é conveniente para o transporte; 
Esta última é a mais curiosa; 
3 – 1/5 de galão era considerado como uma quantidade aceitável para um adulto consumir numa refeição! 
Os Grandes Tamanhos 
Esta foi uma pergunta intrigante: como servir as garrafas de grandes tamanhos? 
A resposta é meio sem graça: como se serve uma garrafa padrão! (mesmo que seja necessária a ajuda de outra pessoa) 
Mas vale a pena levantar outras dúvidas, por exemplo, quando devemos usar tamanhos maiores? 
Se vamos servir durante um evento apenas o mesmo vinho, tinto ou branco, vale a pena usar garrafas Magnum em lugar de várias garrafas normais. A Magnum dupla é mais complicada e servirá melhor para fazer uma performance. Os produtores gostam de exibi-las, é um chamariz! 
Mas se o assunto for espumante, surge um novo problema para ser resolvido: como gelar uma garrafa como a Melquisedec com seus 1,5 metro e 40Kg ou mais? Sinceramente, não é para os pobres mortais. Mas nos grandes restaurantes do mundo, isto não parece ser um grande problema! 

Para futuras referências, uma coleção de diversos formatos: 

Da esquerda para a direita: Bordeaux, Bourgogne, Flauta, Champagne, D’Alba, Marsala, Porto, Húngara, Bocksbeutel (Francônia). 

Dica da Semana: para deixar todo mundo sem entender nada! 

Chianti DOCG 2009 
Produtor: Piccini 
País: Itália 
Região: Toscana 
Fermentação tradicional com controle de temperatura e um longo período de maceração. Maturação: Não passa por madeira. 
Este eterno Best Buy, para a Wine Enthusiast, mostra um bouquet cheio de frutas maduras. No palato é rico e macio, com um toque fresco que o deixa perfeito para acompanhar comida. 
Combinações: Carnes, queijos, massas, risotos e aperitivos. 

(Cadê a garrafa típica?) 

Agradeço a colaboração dos leitores: Sérgio Pirilo, Felipe Carruncho, Augusto Escobar e Giancarlo Marreti, esperando que suas dúvidas tenham sido esclarecidas.

África do Sul – Final

Ùltima etapa nesta viagem

A vinícola Rust en Vrede só elabora tintos. Além do Shiraz apresentado, produz uma série de grandes vinhos, como o Estate ou o 1694 Classification. Dependendo da safra são considerados superiores, com várias premiações. 
A vinícola Glen Carlou é outra empresa que produz grandes rótulos, incluindo em sua linha alguns premiados vinhos brancos a partir das castas Chardonnay, Sauvignon Blanc, Viognier e Chenin Blanc. Um de seus ícones é um premiadíssimo Chardonnay. Nos tintos, trabalha com as castas Cabernet Sauvignon, Shiraz, Pinot Noir, Merlot e Zinfadel. 
Podemos citar mais vinícolas de primeira linha, por exemplo: a 4G Wines cuja 1ª safra em 2010 superou todas as expectativas tornando-se um clássico instantaneamente; a Cape Point Vineyards com seu espetacular corte de Sauvignon Blanc e Sémillon; a tradicional De Trafford ou a vinícola do campeoníssimo golfista Ernie Els. A lista é quase infinita. 
Mas há uma curiosidade: existe uma casta emblemática da África do Sul, a Pinotage. Nenhuma das vinícolas citadas tem um vinho emblemático com esta varietal. Vamos conhecer um pouco mais estas curiosa uva. 
Seu nome indica sua origem, um cruzamento feito com as europeias Pinot Noir e Cinsault, que era conhecida como Hermitage, uma região da França onde se fazem bons vinhos com ela. Tudo começa em 1925 quando Abraham Izak Perold, o primeiro professor de vinicultura da Universidade de Stellenbosch, tentou combinar a robustez da Hermitage com as qualidades vinícolas da temperamental Pinot. 

Plantou algumas sementes híbridas no jardim de sua casa, sem muitas preocupações. Em 1927, deixou a Universidade, mudando-se para Paarl e devolvendo a residência para a escola. O jardim ficou algum tempo sem manutenção. A experiência simplesmente fora esquecida. Para que a casa pudesse ser novamente ocupada, uma equipe de manutenção foi enviada com instrução de refazer o jardim. Acidentalmente, passava pelo local o Professor Charlie Niehaus que recolhe as parreiras já adultas e as replanta no Colégio Agrícola de Elsenburg, sob a orientação do substituto de Perold, o Prof. CJ Theron. Este as enxertaria em raízes resistentes, propagando a que melhor resultado obteve. Foi batizada como Pinotage, com as bênçãos de Perold que voltara a acompanhar o projeto. 

As primeiras plantações em larga escala foram na região de Myrtle Grove, próxima à Cidade do Cabo. O primeiro vinho seria produzido em 1941, em Elsenburg. O reconhecimento só aconteceria em 1959, quando um Pinotage da Bellevue recebeu o prêmio de melhor vinho do Cape Wine Show (Feira de Vinhos do Cabo). 

Apesar da fama, os vinhos produzidos têm a tendência de apresentar um desagradável aroma de tinta, atribuído à presença de um composto químico (acetato de isoamila), comum em vinificações sem muito cuidado. Este é um forte indício que esta casta é tão problemática para produzir quanto à Pinot que lhe originou. Vários produtores importantes da RSA nem consideram esta uva como uma possibilidade. Apesar das críticas, Brasil, Canadá, Israel, Nova Zelândia, Estados Unidos e Zimbabue estão experimentando com ela. 
O Melhor Pinotage 

A vinícola Kanonkop, que significa morro do canhão, foi uma pioneira na plantação da Pinotage iniciando seus vinhedos em 1941. Está na 4ª geração da família proprietária, continuando o trabalho de excelência que sempre norteou este empreendimento. Hoje é uma das vinícolas mais modernas e bem equipadas do país. Entre seus diversos vinhos, destacamos o premiado Pinotage. 

Um tinto poderoso e encorpado obtido a partir de vinhedos próprios situados nas encostas da colina Simonsberg, no distrito de Stellenbosch, a mais reputada região do país para tintos. Fermentado em cubas abertas, com temperatura mantida a 29ºC, com 3 a 5 dias de maceração com as cascas. A maturação dura 15 meses em barricas de carvalho francês de Nevers, sendo 90% novas e 10% de 2º uso. 
Harmonizações: carnes grelhadas, churrasco e ensopados. 
Pode ser guardado por cerca de 5 anos em condições ideais. A Kanonkop é o melhor e mais premiado produtor de Pinotage do país, verdadeira referência. 
Prêmios: Wine Spectator: 91 pontos (safra 08); Vencedor do Troféu de ouro da Decanter para vinhos tintos sul-africanos em 2009 (safra 05) 

No Brasil é importado pela Mistral (www.mistral.com.br) com um palatável preço de catálogo de R$ 150,00. (preço de 2012)

Dica da Semana: um bom Pinotage com ótima relação custo x benefício. 

Danie de Wet Pinotage Bio 
Produtor: De Wetshof País: 
África do Sul / Região: Robertson Valley 
Safra: 2010 
Pouco tempo após seu lançamento, o Pinotage Bio já é apontado como o Pinotage de melhor relação qualidade/preço do mercado. Elaborado com uvas de cultivo biológico, é macio e sedoso, mostra o caráter varietal da emblemática casta sul-africana sem os aromas desagradáveis encontrados nos exemplos mais comerciais. Uma ótima introdução a esta casta.

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