Tag: Merlot (Page 13 of 17)

Bordeaux – Os Monstros Sagrados

Entender as diversas nuances da vitivinicultura bordalesa é quase uma arte. São diversas regiões, cada uma com características próprias, uvas predominantes, técnicas de produção que variam de porta em porta e até mesmo um complexo sistema de comercialização que envolve a figura de um “Courtier” (literalmente – cortesão) uma espécie de corretor enológico: os produtores raramente vendem diretamente ao consumidor final envolvendo, quase sempre, um “Negociant” que vai cuidar da venda final do produto, seja no mercado interno ou externo. Esta negociação, que pode incluir uma safra futura, é realizada com ajuda do mencionado Courtier, remunerado com 2% do valor do negócio. Nada mal! 
Vamos apresentar uma simplificação do que é importante em Bordeaux. 
A Geografia 

Tudo gira em torno de três rios, o Dordogone e o Garone que se juntam para formar o Gironde. As áreas vinícolas estão separadas por eles: margem esquerda e margem direita do Gironde e Entre-Deux-Mers a região limitada pelos outros dois rios. O mapa ajuda a visualizar esta divisão. 
Margem Esquerda – aqui estão situadas, além da cidade de Bordéus, as seguintes regiões e suas subdivisões: 
Medoc (Bas Medoc e Haut Medoc) onde se destacam as comunas de St.-Estèphe, Pauillac, Margaux e St.-Julien 
Graves – Pessac-Léognan 
Sauternes e Barsac (vinhos doces) 
Cérons 
Aqui brilha a uva Cabernet Sauvignon que se adaptou ao solo de cascalhos (graves) desta área. 
Margem Direita – aqui estão situadas as seguintes regiões e suas subdivisões: 
Saint-Émilion 
Pomerol 
Lalande-de-Pomerol 
Fronsac e Canon-Fronsac 
Côtes de Blaye 
As castas predominantes são a Merlot e a Cabernet Franc perfeitamente adaptadas aos solos de calcário, argila e areia desta região. Vale a pena ressaltar que tanto em St. Emilion como em Pomerol estão os terrenos mais valorizados da França, com preços estratosféricos por hectare. 
Entre-Deux-Mers– nesta região são produzidos os vinhos mais simples de Bordeaux, dentro da AOC (denominação de origem controlada). Existem oito sub-regiões: 
– Loupiac 
– Saint-Croix-Du-Mont 
– Saint-Foix-Bordeaux 
– Cadillac 
– Côtes de Bordeaux St.-Macaire 
– Premieres Côtes de Bordeaux 
– Graves de Vayres 
– Entre-Deux-Mers – brancos secos de excelente qualidade 
As diversas classificações e os Monstros Sagrados 
Em 1855 surgiu a Classificação Oficial do Vinho Bordalês elaborada a partir do preço de venda. Contemplou a região do Medoc. A partir da década de 1950, Graves e Saint Emilion adotaram suas classificações. Curiosamente, a região de Pomerol, onde são produzidos os vinhos mais valorizados, nunca recebeu uma classificação oficial. 
Esta divisão criou os grandes vinhos, que estamos chamando de Monstros Sagrados: 
1er Cru do Medoc 

– Château Lafite-Rothschild 
– Château Margaux 

– Château Latour (100 pts 2009) 
– Château Mouton Rothschild 

1er Cru de Graves 
– Château Haut-Brion (Pessac–Léognan) (100 pts 2009) 

1er Cru A de Saint Emilion 
– Château Ausone 
– Château Cheval Blanc 

Pomerol 
– Château Pétrus (100 pts 2009) 
– Château Le Pin (100 pts 2009) 

Observações importantes: 
1 – esta classificação engloba os vinhos tintos; 
2 – existe uma classificação exclusiva para os brancos; 
Apesar de serem todos vinhos maravilhosos, não são os únicos vinhos de Bordeaux que merecem respeito e admiração. A melhor prova disto são as notas 100 obtidas pela safra de 2009. Naquela relação já apresentada, aparecem apenas quatro dos grandes vinhos, o que demonstra que a classificação de 1855 está ultrapassada. Os demais são vinhos classificados como Deuxième Cru, ou Grand Cru Classe, existindo um Cinquième Cru, entre eles, o fabuloso Pontet Canet de Pauillac. 
Na próxima coluna vamos apresentar o Château Petrus, um ícone francês tão importante quanto o Romanée-Conti e um dos vinhos mais falsificados do mundo. As fotos a seguir foram obtidas no que poderíamos chamar de laboratório de um falsário recentemente encarcerado. Elas falam por si… 

Dica da Semana: um Bordeaux branco, para variar 

Château Timberlay Branco 
País: França / Bordeaux 
Uva: Uva: Semillon, Sauvignon Blanc 
Teor alcoólico: 12% 
Um vinho que se destaca por seus intensos aromas cítricos, de peras e maçãs, com notas florais. Delicado e fresco, com ótima persistência. Acompanhamento perfeito para peixes e frutos do mar.

Um desvio de rota para celebrar vinhos perfeitos

Pelo menos na opinião do celebrado Robert Parker, o Imperador do Vinho. Para surpresa geral, até mesmo de experimentados enófilos, a safra de Bordeaux de 2009 foi distinguida com 19 (dezenove) notas 100, 18 tintos e 1 branco. Um fato inédito e digno de grandes comemorações. 
Ainda não havíamos falado sobre este país vinícola encravado na França. Citamos a Borgonha e deixamos, conscientemente, a região de Bordeaux para uma segunda visita. Aqui nasceram os grandes vinhos do mundo, desenvolveram-se as mais sofisticadas técnicas de viticultura e vinificação e criou-se um modelo copiado por todos: não há um enólogo na face da terra que não sonhe em incluir um corte bordalês no seu portfólio. Quase uma reverência aos deuses da enocultura. 

Um pouco de história 
A produção de vinhos nesta região data de 48 DC, durante a ocupação romana de St. Emilion, quando foram implantados os primeiros vinhedos com a finalidade de produzir bebida para as tropas de Roma. No ano 71 DC já havia diversos vinhedos produtivos em Bordeaux, embora estudos tenham encontrado, na região do Languedoc a presença da uva desde 122 AC. 
O vinho ali produzido era de agrado dos franceses e raramente exportado. A partir do século XII estes vinhos ganham o mundo, através do casamento de Henry Plantagenet, que se tornaria o Rei Henrique II da Inglaterra e Eleanor d’Aquitaine, incorporando a província da Aquitânia ao território inglês e absorvendo a produção vinícola. Este quadro só seria alterado ao final da guerra dos 100 anos quando a província foi reincorporada à França. 

Apesar de guerras e pragas, os vinhedos foram se expandido obrigando à introdução de regiões demarcadas a partir de 1725, para que os consumidores pudessem identificar as diversas origens dos vinhos. O Instituto das Denominações Controladas, foi criado para coibir falsificações, determinando que só os vinhos de Bordeaux ostentassem esta indicação em seus rótulos. 
A classificação de 1855 
Não é possível compreender estes vinhos sem conhecer a legislação sugerida pelo Imperador Napoleão III. Ele exigiu uma forma de classificação para os grandes vinhos que seriam expostos e negociados na Exposição Universal de Paris. A seleção levou em conta a reputação do Château e o preço de venda, o que era diretamente relacionado à qualidade. 
Basicamente os tintos são enquadrados como Premier Crus até Cinquièmes Crus, com ligeiras variações entre as regiões do Medoc, St. Emilion e Graves. 
Os brancos foram divididos em Premier Cru Superieur, Premier Cru e Deuxième Cru. 
Houve apenas duas alterações nesta classificação até hoje, a mais significativa foi a reclassificação do Château Mouton Rothschild, em 1973, de segundo para Primeiro Cru. 
Os 20 vinhos de 100 pontos: (nome seguido da região produtora) 
Tintos: (todos Château) 
– Beausejour Duffau Lagarrosse – St. Emilion 
– Bellevue Mondotte – St. Emilion 
– Clinet – Pomerol 

– Clos Fourtet – St. Emilion 
– Cos D’Estournel – Saint Estephe 
– Ducru Beaucaillou – Saint Julien 
– L’Evangile – Pomerol 
– Haut Brion- Pessac – Léognan 
– Latour – Medoc 
– Leoville Poyferre – Saint Julien 
– La Mission Haut Brion – Pessac – Léognan 
– Mondotte – St. Emilion 
– Montrose – Saint Estéphe 
– Pavie – St. Emilion 
– Petrus – Pomerol 

– Le Pin – Pomerol 
– Pontet Canet – Pauillac 
– Smith Haut Lafitte – Pessac – Léognan 
Branco: 
– Pape Clément – Pessac – Léognan 
Todos ótimos vinhos, entre eles grandes ícones que confirmam suas lendas. Mas… Caríssimos! Os 1er Crus são considerados os mais caros vinhos do mundo. Depois dos 100 pontos, o céu é o limite. 
Curiosidade: 
– após 30 anos criticando vinhos, Parker deu poucas notas 100. Foram 224 rótulos, muitos distinguidos em várias safras. O interessante é a divisão destas notas por região produtora: 30% vinhos do Rhone, 24% de Bordeaux (não computadas as atuais notas), 20% da Califórnia e 1,3 % da Itália. Os restantes 24,7% estão distribuídos entre outros países. 
Na semana que vem, um pouco mais sobre Bordeaux. 

Dica da Semana: um Bordeaux bom, bonito e barato (será que existe?)  

CHÂTEAU SAINTE MARIE ROUGE 2006 
Produtor: Château Sainte Marie 
País: França / Bordeaux 
Uva: 64% Merlot, 28% Cabernet Sauvignon e 8% Cabernet Franc 
Utilizando práticas raríssimas na região de Entre Deux Mers, como cultivo orgânico e colheitas totalmente manuais, conseguem elaborar um vinho bastante superior aos normalmente encontrados nesta denominação. Os vinhedos antigos, com mais de 35 anos, e a maturação de 12 meses em barricas de carvalho, contribuem para deixar o vinho ainda mais complexo e atraente. Uma bela surpresa! Harmoniza com carnes grelhada, confit de pato, magret e carnes assadas.

Os Grandes Vinhos do Mundo – Chile – 2ª parte

O Mais conhecido! 
O Chile é um país privilegiado para vinhedos e vinhos. Um solo muito fértil, um clima perfeito para o desenvolvimento das uvas, obtendo-se resultados inigualáveis. Devido à sua curiosa localização geográfica, uma estreita faixa de terra espremida entre os Andes e o Pacífico, ficou imune à maioria das pragas, principalmente a temida Filoxera. Não foi por acaso que se tornou uma espécie de santuário das parreiras, preservando espécies, muitas vezes em pé franco, que já não existem mais em qualquer outra parte do mundo. Talvez nem se saiba, até hoje, a real dimensão deste repositório. A qualquer momento podem surgir novas espécies dadas como extintas. 
O exemplo mais conhecido é o da Carménère, hoje a uva emblemática do país, que só foi identificada corretamente em 1994 graças a um meticuloso trabalho do ampelógrafo francês Professor Jean-Michel Boursiquot. Esta uva, hoje raríssima na Europa, é uma das 6 uvas originais de Bordeaux (Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Malbec e Petit Verdot), que foram enviadas para a América do Sul para evitar a temida praga. Mesmo depois de descoberto o sistema de enxertia, ela nunca foi replantada, provavelmente por ser suscetível à outra doença, a Coulure, moléstia que ataca os bagos das uvas logo que começam a florescer. Resultou num belo trunfo para os chilenos, provocando a chegada de importantes vinícolas europeias para ali vinificarem e recuperarem algumas destas verdadeiras joias. 

Uva Carménère 

Em 1997 a Concha y Toro se associou com a bordalesa Baron Philippe de Rothschild SA, para produzirem um vinho excepcional, o Almaviva, talvez o vinho chileno de alta gama mais conhecido internacionalmente. 

Para produzi-lo, construíram uma espetacular vinícola, na região de Puente Alto, próximo a Santiago. 

O Almaviva é um corte de Cabernet Sauvignon vinificado com as mesmas uvas e métodos utilizados na produção do Don Melchor, com vinificações independentes de Carménère, Cabernet Franc e Merlot em proporções que variam a cada safra. A de 2007, que está no mercado, declara: 64% Cabernet Sauvignon; 28% Carménère; 7% Cabernet Franc e 1% Merlot. A decisão final desta mistura é feita por um colegiado de enólogos, chilenos e franceses. Um verdadeiro e respeitado Corte Bordalês produzido fora da França. Talvez o único no gênero. 
De cor vermelha rubi profunda e intensa, revela aromas puros e delicados de groselha maduras, amoras e morangos silvestres, combinados com notas minerais e toques de baunilha, café, alcaçuz, e especiarias. No palato, mostra-se muito equilibrado, taninos firmes e excepcionalmente longos, maduros, refinados e concentrados, contribuindo para densidade e textura elegante. Harmoniosamente perfeito. Excelente! ($$$$) 
Ótimo para acompanhar carnes vermelhas, cordeiro, carne de porco, queijos duros e pratos condimentados. 

Dica da Semana: um chileno delicioso e bem mais palatável no bolso. 

Chocalan Reserva Cabernet Sauvignon 2010 
País: Chile / Valle del Maipo 
Produtor: Viña Chocalan 
Uvas: 85 % Cabernet Sauvignon, 8% Syrah, 5% Carménère e 2% Petit Verdot 
Vinho de cor rubi com tons violáceos. Aromas de frutas vermelhas frescas e um pouco de mentol. No palato amora, cassis, ameixas, cerejas pretas. Saboroso e bem equilibrado, com madeira bem integrada. Grata acidez, bom volume e um final longo. Ideal para acompanhar queijo emmental e brie, carne de boi, carneiro, porco, veados e javalis, ou simplesmente com empanadas. 

Na próxima semana, o chileno predileto dos especialistas.

Os Grandes Vinhos do Mundo – Chile – 1ª parte

Uma Pequena Introdução 
Antes que alguns leitores estranhem, fizemos um salto consciente sobre a América Central, saindo da Califórnia e chegando ao sul do continente. Há uma razão, só um país tem um futuro promissor neste subcontinente: o México. O Vale de Guadalupe, quase uma extensão dos vales californianos, já tem nomes importantes produzindo bons vinhos. Destacam-se as vinícolas Monte Xenic, uma associação de 5 amigos e Casa de Piedra, do enólogo Hugo D’Acosta, a grande figura por trás do desenvolvimento desta região. Entre suas diversas atividades, fundou e administra uma boa escola de enologia, formando a mão de obra necessária para o sucesso destes empreendimentos. Com certeza em alguns anos teremos importantes caldos vindos de lá. Enquanto isto não ocorre, vamos conhecer um pouco de deste nosso vizinho com o qual não temos fronteiras. 
Vinicultura no Chile 
O desenvolvimento da indústria vinícola, neste país, passa por duas fases bem caracterizadas. A primeira ocorre na chegada dos conquistadores espanhóis, em 1548, que trazem na sua comitiva o padre Francisco de Carabantes. Como era comum, este plantou as primeiras videiras para produzir o vinho de missa. Dois fatos interessantes: existiam uvas nativas e o povo local dominava, perfeitamente, o processo de fermentação, embora não produzissem nenhum vinho. Havia uma bebida alcoólica obtida a partir de grãos. 

Carabantes 

A segunda fase surge por volta de 1850, com o Chile consolidado como país e independente da Espanha. A mineração, principalmente de nitrato (fertilizante), forma uma geração abastada que tem a França como modelo de riqueza. Esta influência abrange várias áreas da cultura chilena: arquitetura, moda, comida, etc. Grandes áreas começam a ser plantadas com varietais nobres da Europa, fato inédito até então. Criam-se as primeiras vinícolas, contratam agrônomos e enólogos de Bordeaux. O Chile se torna o primeiro país americano a produzir vinhos de qualidade. 
Para escapar da filoxera, diversas espécies de videiras são enviadas para serem replantadas neste exuberante terroir situado entre o pacífico e a cordilheira dos Andes, com resultados magníficos, a tal ponto que diversas empresas francesas investem neste país. O Chile se torna uma nova fronteira do vinho. Todos os aspectos eram favoráveis: o terreno, o clima e não haver um ataque da praga.

Sendo um dos maiores exportadores de vinhos de qualidade, atraiu as grandes vinícolas europeias que montaram operações no Chile. Quase toda a produção é exportada – o chileno não é um consumidor do seu excelente vinho. 
Os vinhos icônicos 
Não é possível fazer uma comparação direta com vinhos do velho mundo. A matéria prima daqui é muito superior, em todos os aspectos, à da Europa. Mas ainda falta um pouco de tempo para atingir a excelência dos Bordaleses, por exemplo. Mas já há alguns vinhos muito importantes. 

Um dos pioneiros na vinificação, Don Melchor de Concha y Toro, funda a vinícola homônima em 1883, a partir de um vinhedo de uvas nobres de Bordeaux que pertencia à sua esposa, D. Emiliana. Esta empresa, hoje a maior do Chile, produz diversos vinhos e está associada a grupos estrangeiros em operações independentes. Mas, se perguntarmos a qualquer chileno qual o melhor vinho do Chile, a resposta será unânime: o Don Melchor. Um vinho que começou a ser elaborado em 1987, em homenagem ao fundador da empresa. 

Este espetacular Cabernet é produzido com uvas do vale de Maipo, plantadas numa área de 114 hectares, composta de diferentes parcelas. Cada lote fornece material para uma vinificação com características próprias que serão provadas, inclusive na França, para compor este verdadeiro quebra-cabeças que vai definir a melhor proporção para esta assemblage. O envelhecimento passa por 12 a 14 meses em barris de carvalho francês, novos ou com 1 ano de uso. Após ser engarrafado, descansará por um par de anos, no mínimo, antes de ser colocado no mercado. Muitos afirmam que é um mito engarrafado. 
O Don Melchor é um vinho caro mas muito respeitado nos principais polos consumidores. O famoso Robert Parker o classifica com 95 pontos (safra 2006), sendo acompanhado pela respeitada Wine Spectator com 94 pontos. 
Um vinho de cor púrpura opaca que tende a colorir a taça. Predominam aromas tostados, tabaco, cedro, couro, moca e cereja negra. Na boca é equilibrado, frutado sem ser explosivo, suave e complexo, com diferentes camadas de sabor. Pode ser guardado por 30 anos com segurança. 
Mas não reina sozinho! Há pelo menos mais dois vinhos de mesmo teor que vamos conhecer nas próximas semanas. Este é o preferido dos chilenos. Apresentaremos o mais famoso e aquele que é o preferido dos especialistas. Aguardem!

Dica da Semana: um bom chileno que não vai fazer feio. 

Perez Cruz Cabernet Sauvignon 2008 
País: Chile / Valle del Maipo 
Uvas: Cabernet Sauvignon(90%), Merlot e Syrah(9%). 
Tinto com excelente aroma frutado, com notas de pimenta e violetas. Bem estruturado, de taninos maduros, final longo e suave. Harmoniza com carnes assadas, massa com molho cremoso, aves de caça e queijos de cura média.

Os Grandes Vinhos do Mundo – Lendas norte-americanas – 1ª parte

Dois vinhos importantíssimos. Foram os grandes campeões da famosa degustação às cegas organizada em Paris, no ano de 1976. Derrotaram marcas famosas e causaram, de forma indiscutível, uma grande alteração no mapa mundi do vinho. 
A Califórnia entrou em cena! (em grande estilo). 
O Tinto 
Imaginem uma vinícola, com apenas 6 anos de fundada, enviar um de seus vinhos para ser julgado, na França, sendo comparado com os fabulosos Château Haut-Brion, Château Mouton-Rothschild, Château Leoville Las Cases, Château Montrose e ser considerado o melhor da prova? 
Os julgadores? Nomes do maior respeito na época: 
Pierre Brejoux (França) – Instituto das Denominações de Origem 
Claude Dubois-Millot (França) – Guia Gault e Millau 
Michel Dovaz (França) – Instituto dos Vinhos da França 
Patricia Gallagher (Americana) – Academia do Vinho 
Odette Kahn (França) Editora da La Revue du Vin de France 
Raymond Oliver (França) – Restaurante Le Grand Véfour 
Steven Spurrier (Inglês) – crítico de vinhos e organizador do evento 
Pierre Tari (Frença) – Chateau Giscours 
Christian Vanneque (França) – Sommelier do Tour D’Argent 
Aubert de Villaine (França) – proprietário do Domaine de la Romanée-Conti 
Jean-Claude Vrinat (França) – Restaurante Taillevent 
O vinho apresentado foi o Stag’s Leap Wine Cellars Cabernet Sauvignon, safra de 1973. Vinificado por Winiarsky e seu enólogo, na época, Tchelistcheff, utilizou uvas colhidas de videiras extremamente jovens da área denominada S.L.V. O processo de vinificação ainda estava sendo ajustado. Um produto que tinha tudo para dar errado, um azarão. No entanto, tornou-se o vinho mais comentado da época e elevou a vinícola ao status de grande estrela.

O vinho, embora tenha uma denominação varietal, é um corte de 93% Cabernet e 7% de Merlot, respeitando a legislação americana. Por seguir uma receita de vinificação considerada clássica, os produtos da Stag’s Leap são muito diferentes daqueles dos produtores vizinhos, embora todos compartilhem um mesmo terroir. Os vinhos de Winiarsky são considerados dinâmicos, harmoniosos, equilibrados e transcendentes. Após a compra do vinhedo Fay, em 1986, houve um replantio das videiras o que forçou a mudança do nome, deste vinho, para Cask 23. Atualmente é considerado o melhor Cabernet dos EUA. Caríssimo!

Curiosidades: 
– existe uma outra vinícola com um nome semelhante, a Stags’ Leap Winery. Reparem que a diferença entre os nomes é, basicamente, a posição do apóstrofo – Stag’s e Stags’ – fruto de uma decisão judicial de 1986 que aproximou os dois vinhateiros, Winiarsky e Doumani. Para selar a nova amizade, produziram um vinho com uvas das duas propriedades, denominado Accord (Acordo);
– uma das poucas garrafas existentes faz parte da coleção do Smithsonian National Museum of American History;
– há uma garrafa desta mitológica safra para vender, em Hong Kong, por R$ 1.400,00; (pesquisa realizada em 2012).

Em 2007 a vinícola foi vendida para um consórcio formado pelo Chateau Ste. Michelle, uma vinícola do estado de Washington e pela italiana Marchesi Antinori Srl. O valor foi 185 milhões de dólares. 

Dica da Semana: A Stag’s Leap produz uma linha de vinhos mais acessíveis, a Hawk Crest, que se encontra à venda no Brasil. São um pouco mais caros que produtos chilenos ou argentinos, mas vale o investimento. 

Hawk Crest Cabernet Sauvignon 2006 
Produtor: Stag’s Leap Wine Cellars / 
Estados Unidos Elaborado pela aclamada vinícola Stag’s Leap Wine Cellars, produtora do mítico Cask 23, o Hawk Crest mostra concentração e profundidade de fruta e excelente relação qualidade/preço. 

Na próxima semana, vamos conhecer o Chardonnay que abalou a França.

« Older posts Newer posts »

© 2025 O Boletim do Vinho

Theme by Anders NorenUp ↑