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Vinho na Semana Santa

Por ser um país de raízes católicas, a maioria dos brasileiros respeita a tradição da abstinência na Sexta Feira Santa: não se consome carne ou seus derivados. Entram em cena os tradicionais frutos do mar e o bacalhau costuma ser a estrela do cardápio. Mas existem opções interessantes.
 
Vamos lembrar um pouco da história deste período. Tudo começa no Domingo de Ramos, celebrando a chegada de Jesus em Jerusalém e termina no Domingo de Páscoa comemorando sua ressureição. O ponto culminante desta celebração é marcado pela Santa Ceia ou Última Ceia, que ocorre na quinta-feira. As cenas pintadas pelos mais famosos artistas mostram que o vinho estava presenta nesta mesa.
 
O dia seguinte, sexta-feira, é um dia de pesar e lamento pela morte de Cristo. Antigamente se observava o jejum além da abstinência, as cozinhas não funcionavam e não se trabalhava.
 
No Sábado de Aleluia aguarda-se a ressureição. Um dos ritos mais curiosos deste dia é “malhar o Judas”, tradição mantida em muitos lugares.
 
O grande dia festivo é o Domingo de Páscoa comemorando a Ressureição. É o dia do grande banquete, dos ovos de chocolate e de muita alegria. Nos costumes brasileiros, herança de nossos descobridores portugueses, praticamente só se consome peixes, entre eles o bacalhau, e os frutos do mar. Mas em outras culturas há o hábito de assar um caprino ou ovino (cordeiro, cabrito, ovelha) que é servido ao fim do dia. Porco e coelho (lebre) também são comuns.
 
Apenas como uma curiosidade, naquela época era mais seguro beber vinho do que água, mesmo que a nossa bebida favorita já tivesse se convertido em vinagre. Por esta razão, o vinho não era um símbolo de comemoração, mas uma necessidade. Ao longo dos anos, com as descobertas de filtração e esterilização da água, o vinho paulatinamente tornou-se um artigo de exceção, só usado em ocasiões especiais. A Semana Santa é uma data muito particular para todos os cristãos.
 
Tomar um cálice de vinho na Quinta-Feira Santa é uma bela maneira de homenagear a Santa Ceia. Mas nada de exageros. É um vinho de reflexão, de comunhão, sem nenhuma extravagância gastronômica. Para combinar com este momento tem que ser algo de solene, com textura aveludada, cor fechada e belos aromas. Um vinho ao estilo Bordalês seria boa opção. No momento que escrevo imagino um Miguel Escorihuela Gascon, um corte de Malbec, Cabernet Sauvignon e Syrah elaborado em Mendoza.
 
 
Na Sexta-feira da Paixão, em algumas casas brasileiras, é dia de peixe. Todos conhecemos a harmonização clássica com vinhos brancos, mas isto não é uma regra fixa.
 
Tintos jovens e frutados ou Rosés podem se tornar escolhas interessantes valorizando a receita escolhida. Para não errar lembrem-se:
 
– pratos mais gordurosos pedem vinhos com mais acidez e algum tanino. Um tinto leve (Pinot ou Gamay) tem seu lugar;
 
– molhos salgados ou alimentos defumados casam melhor com vinhos jovens e frutados;
 
– espumantes quase sempre são coringas, mas neste dia…
 
Bacalhau, também consumido no Domingo de Páscoa, mereceria um capítulo inteiro. Vem de Portugal a combinação de tintos encorpados com este prato. Mas não é para qualquer receita: tem que ser um Bacalhau com Natas ou um Zé do Pipo. Precisa haver uma boa quantidade de gordura para enfrentar o turbilhão de taninos e acidez dos tintos da terrinha.
 
Obviamente, se a receita for de origem espanhola, nada melhor que um Tempranillo, que vai ficar perfeito, também, com uma Paella. Para preparações mais leves um Chardonnay que tenha passado por madeira e fermentação malolática é perfeito.
 
 
Na era da globalização o salmão virou boa opção. Não é difícil combiná-lo com vinhos: tintos leves como um Pinot ou mesmo um Syrah australiano dão conta do recado.
 
Uma saborosa combinação pode ser obtida com pratos mais leves como peixes cozidos no limão ou com molhos salgados como alcaparras e azeitonas – o sal excessivo pode ser equilibrado com um bom fortificado como o Jerez, o Porto branco ou o rosé, todos gelados.
 
Carne de caprino ou ovino no domingo de Páscoa é a grande pedida para quem gosta de bons vinhos e boa harmonização, embora não seja uma presença habitual nas mesas brasileiras. As opções são múltiplas, todas deliciosas, um casamento quase sagrado. Alguns autores afirmam que nada combina melhor com os grandes vinhos do mundo do que uma paleta de cordeiro assada ou mesmo as deliciosas costeletas. Estamos falando de Vega Sicilia, Petrus, Penfolds Grange, Don Melchor ou Catena Malbec Argentino. Todos “monstros sagrados” do mundo dos vinhos.
 
 
Mas não precisamos gastar muito, há muitas opções com excelente relação custo x benefício. Particularmente gosto dos vinhos em que a Syrah é a casta predominante. Cabernet americanos, chilenos e argentinos casam perfeitamente com este tipo de carne. Para fugir um pouco do habitual, há bons Tannat uruguaios, os vinhos portugueses sempre se saem bem assim como os Merlot produzidos por aqui. (vejam a dica da semana)
 
A sobremesa!
 
Para a turma que quer manter o peso e a silhueta a coisa fica difícil: chocolate, chocolate e mais chocolate. Infinitas variações!
A combinação tradicional sugere Vinho do Porto, Banyuls, Vin Santo, Ice Wines e outros de colheita tardia, todos doces ou muito doces.
 
Entretanto há exceções. Que tal harmonizar com um belo tinto seco, tal e qual ao usado no cordeiro?
 
É perfeitamente possível, mas para isto dar certo temos que escolher o chocolate adequado: esqueçam os Ovos de Páscoa, bombons e as barras de chocolate ao leite tão comuns. A combinação ideal seria um chocolate amargo com 75% de cacau ou mais – quanto maior for esta porcentagem melhor. Quem vai brilhar aqui será um bom e encorpado Cabernet, Merlot ou Syrah. Não tenham medo.

Dica da Semana:  
um belo e elegante tinto que pode ser servido com o cordeiro e o chocolate.
 
 

La Flor de Pulenta Cabernet Sauvignon 2011 
Vermelho profundo, seus aromas lembram pimentão e especiarias, com notas de baunilha e tabaco provenientes do carvalho.
Na boca apresenta boa concentração e taninos suaves que lhe conferem uma estrutura volumosa.
Seu final elegante e longo fazem dele um grande vinho.

Aromas! – 1ª parte

Nesta semana vamos tratar de coisas mais simples e menos técnicas e, nem por isto, mais compreendidas por todos.
 
Nas descrições aromáticas dos vinhos é sempre mencionado algum aroma “genérico”, como “cítrico”, ou “frutas vermelhas”. A coluna de vinhos a partir desta semana vai mostrar algumas possibilidades para ajudar a compreender estas colocações que, para alguns, são quase enigmáticas.
 
Serão apresentados alguns gráficos com uma relação de nomes das principais frutas ou produtos à base de frutas que compõem estas escalas aromáticas. Algumas delas simplesmente não se encontram à venda no Brasil, outras são as que usualmente temos em casa.
 
Além de informativos, estes gráficos servirão para ajudar a treinar o nosso olfato e paladar. Habituem-se a cheirar estas frutas, principalmente aquelas que não conhecemos: examinem a casca, o interior, o suco ou sumo e até mesmo as raspas. Cada um vai produzir um odor característico que devemos registrar em nossa memória. Vamos começar com os tintos.
 
Quando falamos de “Frutas Negras”, estas são as mais marcantes:
 
 
Alguns nomes chamam a atenção. “Mirtilo” é o conhecido “Blueberry”, em grande moda atualmente devido a algumas propriedades benéficas.
 
 
Amora “Marion” é um clone desta fruta silvestre muito comum nos EUA.
 
 
Outra curiosidade é a distinção feita entre Ameixa Preta e Ameixa Seca.
 
O termo Geleia, obviamente, se refere à compota feita com uma ou mais destas frutas.
 
No segundo gráfico estão as “Frutas Vermelhas”:
 
 
Novamente vamos encontrar nomes pouco comuns. O primeiro deles, “Oxicoco” talvez seja mais conhecido por aqui como “Cranberry”.
Outro nome pouco conhecido é “Ginja” que pertence à família da Cereja. A partir dela é produzido um famoso licor em Portugal, a Ginjinha, delicioso por sinal.
 
 
“Goji” é outra fruta estranha para os brasileiros. É originária das montanhas do Tibete e vem sendo vendida desidratada como uma espécie de suplemento alimentar, “Goji Berry”.
 
 
A “Pitaia”, ou Fruta-Dragão vem se tornando uma “habitué” das mesas brasileiras. As espécies mais comuns são as de casca vermelha, seguido pelas de casca amarela. São muito saborosas e doces.
 
 
Por último é feita uma distinção entre Cereja e Cereja Cristalizada. Talvez a melhor denominação fosse “em calda”, mas preferimos seguir o que está nos livros. “Frutas Cristalizadas”, assim como a “Geleia” do gráfico anterior, se refere ao conjunto destas frutas.
 
Na próxima semana vamos fazer o mesmo com os aromas dos Vinhos Brancos. Até lá, dever de casa: procurem e provem estas frutas.
 
Dica da Semana:  ainda aproveitando a estação “caliente”, espumantes são sempre bem vindos. Este é especial…
 
 DON GUERINO MOSCATEL
Castas: 50% Moscato Bianco e 50% Moscato Giallo
Produtor: Vinhos Finos Don Guerino, Alto Feliz – Serra Gaúcha
Apresenta coloração cítrica com reflexos esverdeados caracteriza-se por um intenso aroma floral e frutado. Equilibrado frescor e doçura, perlage fino e persistente. Harmoniza com sobremesas, ideal para ser consumido em momentos especiais.
 
 

Quebrando alguns mitos – III

#3 – Para as Damas o vinho deve ser leve, rosado e doce ou “Mulheres não bebem vinho tinto”… 
 
Este mito é o oposto do anterior, publicado na coluna da semana passada. Outra mentira deslavada. Há vários caminhos para desmontar esta inverdade, o mais simples deles é nos lembrarmos do delicioso Vinho do Porto, um favorito de ambos os sexos. Embora existam versões em branco e em rosado, o tradicional é tinto e doce existindo, também, os estilos Dry (seco) e Semi-Sweet (meio doce).
 
Mas a melhor maneira de demonstrar como é falso este conceito é falar de enólogos, ou melhor, de enólogas, fantásticas mulheres que conseguiram se sobressair num mundo que, até bem pouco tempo, era 100% masculino. E não são poucas: perceberam, finalmente, que elas têm mais sensibilidade para criar vinhos!
 
Portugal é um dos produtores que apostam nas mãos femininas há algum tempo. Poderia citar um punhado de nomes, mas fico com uma das mais famosas para os brasileiros, Filipa Pato, filha de Luís Pato, um dos mais importantes enólogos portugueses. 

“Se eu não vivesse no meio das vinhas, nunca poderia pensar em fazer vinho”.

 
Na terra dos vinhos tintos generosos e fortes, Filipa é uma apaixonada pelo que faz e incansável “workaholic”: além de trabalhar na empresa de seu pai, tem sua própria marca “FP” e ainda encontra tempo para se dedicar a uma empresa de exportação, a “Vinhos Doidos”.
 
Na Argentina vamos encontrar outro grupo feminino muito importante. Já mencionei aqui o vinho Vida e Alma Malbec, “filho único” de três enólogas, Marcela Casteller, e as irmãs Graciana e Eloisa Moneret. Outra enóloga de ponta é Andrea Marchiori sócia da cultuada Viña Cobos, profissional respeitadíssima. Seus vinhos da categoria Ultra Premium são distinguidos com as mais altas notas em todo o mundo.
 
Mas o grande exemplo é Suzana Balbo, enóloga e proprietária da “Domínio del Plata”, considerada como a Grande Dama do Vinho Argentino e que nos brinda com vinhos das linhas que levam seu nome (Suzana Balbo); Crios; Benmarco; Virtuoso; Nosotros e Anubis.
 
 
Consultora internacional de vinhos, por mais de 20 anos, decidiu em 1999 realizar o sonho de ter sua própria vinícola, escolhendo Lujan de Cuyo como seu terroir. O sucesso chegou rapidamente e se mantém até hoje. Desde 2009, conta com a ajuda de seu filho, José, enólogo formado na Universidade de Davis, Califórnia, e de sua filha Ana, graduada em Administração. Outro sonho realizado.
 
Embora não sejam formadas em enologia, duas outras “winemakers” promovem grandes revoluções no vinho argentino: Adriana Catena, filha do lendário Nicolas Catena Zapata, com sua inovadora vinícola “El Enemigo” e Alícia Mateu Arizu, proprietária da Viña Alicia e esposa de Alberto Arizu da Luigi Bosca.
 
O Chile também é pródigo em mulheres comandando a enologia de grandes vinícolas. Podemos citar, entre muitas, Cecilia Guzmán que está à frente da excelente Haras de Pirque (já recomendamos o Equus) e Paula Muñoz que conduz a inigualável Casa Lapostolle (Clos Apalta) pelos caminhos da excelência.
 
Na França as mulheres estão dando as cartas nas principais áreas produtoras, sejam enólogas ou eficientes dirigentes do negócio, uma tradição que remonta a 1805 quando Nicole-Barbe Ponsardin ficou viúva de François Clicquot e assumiu os negócios da família. Com mão de ferro eternizou a Marca Veuve Cliquot conhecida em todo o mundo.
 
Catherine Péré Vergé, recentemente falecida, é outro grande exemplo. Totalmente dedicada ao seu negócio que envolve as vinícolas Chateau La Violette, Chateau Le Gay e Chateau Montviel em Pomerol, La Graviere em Lalande-de-Pomerol, e a Bodega Monteviejo na Argentina. Supervisionava pessoalmente desde a poda até a venda de seus vinhos.
 
Poderia citar, tranquilamente, mais uma dezena delas.
 
Talvez o exemplo mais impressionante venha da Itália, dentro da família Antinori, produtores de joias como Tiganello, Solaia, Guado al Tasso e Cervaro della Sala. A empresa, que por 26 gerações foi comandada exclusivamente por varões, agora passa o bastão para 3 mulheres, filhas de Piero Antinori, atual comandante, que não teve filhos homens.
 
 
Albiera, Allegra, e Alessia estão promovendo uma fantástica modernização desta importante empresa, em todos os sentidos, para que ela dure, no mínimo, outras 26 gerações mantendo tradição e qualidade.
 
A nova sede da empresa, localizada numa colina próxima a Florença, no coração da Toscana, tem um projeto futurista e espetacular que representa fielmente a linha de trabalho atual. A um custo de 67 milhões de Euros, construíram o que poderia ser chamado de um castelo moderno, com total respeito ao meio ambiente: a vinícola fica “enterrada”. A imagem, fala por si.
 
 
Mais fotos neste link (role a tela): http://www.archea.it/pt-br/vinicola-antinori/ 
 
Agora, queridos leitores, imaginem se “elas” não bebessem vinhos tintos…
 
Dicas da Semana 1: para saber mais sobre a história da família Antinori, não deixem de ler este livro. Pode ser um belo presente para seu “amigo oculto” 
 

O Perfume do Chianti

É o relato, em primeira pessoa, do atual patriarca Piero Antinori. O livro é uma biografia de sua família e, também, de suas sete criações – os vinhos Montenisa Rosé, Villa Antinori, Solaia, Tignanello, Cervaro Della Sala, Antica Napa Valley Cabernet Sauvignon e Mezzo Braccio Monteloro.
 
 
Dica da Semana 2: Como ninguém é de ferro, vamos ao vinho, uma homenagem à Dama do vinho Argentino. 
 
Susana Balbo Signature Cabernet Sauvignon 2010
 
Com bela e intensa coloração violeta tem marcantes aromas de mirtilo, cerejas negras e violetas, amparado por notas de madeira e menta. Mesmo perfil de aromas se repete no paladar, com presença de ameixas maduras, baunilha e chocolate amargo. Seu paladar é redondo e de grande persistência.
 
Harmonização: carnes vermelhas grelhadas, queijos variados.

Um Convite Irrecusável!

Uma das melhores coisas que pode acontecer com um enófilo, como eu, é ser convidado para uma prova de avaliação de novos vinhos. Esta, em particular, foi especial.
 
Começou com o local, a agradável adega e restaurante Enoteca DOC, anexa à tradicional Chapelaria Esmeralda, situada no centro do Rio de Janeiro. Os atuais donos, Fabio Soares e sua esposa Christiane Faria, entraram neste negócio quando Chris herdou a chapelaria, propriedade de sua família desde 1920. Ouvindo os clientes que comentavam que “ficariam por ali se houvessem charutos e vinhos à venda” promoveram uma alinhada reforma dividindo a loja em dois charmosos segmentos. De um lado a renovada loja de chapéus que funciona de 9:00 às 18:30. Do outro a adega com ênfase em vinhos e cervejas que atende seus clientes de segunda a sexta a partir das 11:00 até as 21:00.
 
 
Marcada para às 15h, ao chegar já encontrei Fabio, José Paulo Gils e Alexandre Ventura, da importadora DOCG, finalizando uma garrafa de um belo tinto português que não deu nem para sentir o gostinho. O confortável e aconchegante ambiente do andar superior da casa pedia que fosse aberto mais um vinho. Desejo realizado! Alexandre propôs que enquanto aguardávamos os demais participantes, derrubássemos uma garrafa de um dos seus melhores vinhos, um excelente tinto do Douro, o Mapa.
 
 
Este nome foi inspirado pelos mapas da região do Douro elaborados pelo Barão de Forrester, um empresário inglês radicado em Portugal que promoveu importante reforma no comércio de vinhos em 1831.
 
Sua morte, em condições no mínimo curiosas, aconteceu num naufrágio em 1861. Relatos de época dão conta que ele teria sido “arrastado para o fundo por causa do cinto com dinheiro que levava consigo, nunca tendo sido encontrado o seu corpo. Nessa derradeira viagem, fez-se acompanhar por D. Antónia Adelaide Ferreira, mais conhecida como “Ferreirinha”, que segundo reza a história, não se afogou porque as saias de balão que então vestia, a fizeram flutuar até à margem do Rio Douro”.
 
Fácil perceber que este vinho é cheio de referências, a mais importante delas a região (e as famílias) onde era produzido o aclamado vinho Barca Velha, ícone da vinicultura portuguesa. O MAPA é um projeto pessoal de Pedro Garcias, jornalista e crítico de vinho do Jornal Público.
 
Começou a ser desenhado há cerca de uma década, com a compra das primeiras terras em Muxagata, Vila Nova de Foz Côa, na mesma região da famosa Quinta do Vale Meão que forneceu, durante muitos anos, as uvas para a elaboração do Barca Velha. Hoje a Quinta produz seu próprio vinho, homônimo, carinhosamente apelidado de Barca Nova.
 
O MAPA é no mínimo excepcional!
 
Um corte de Touriga Nacional, Touriga Franca, Sousão e Tinta Roriz, passa 20 meses em barricas de carvalho francês. São produzidas apenas 2.900 garrafas. Joia rara. Para harmonizar optamos por pequenos pedaços de queijo tipo Grana Padano regados levemente com um Vinagre Balsâmico de Modena 18 anos, um luxo.
 
 
Isto nos criou um pequeno problema. A degustação seguinte seria para avaliar um Champagne que, em breve, será trazido para o Brasil pelas mãos de Soraya Vasconcelos. Embora de origem francesa, as garrafas são exportadas para a Califórnia onde recebem um acabamento em malha de cobre, obtida com reciclagem de materiais. Muito interessante, vejam a foto.
 
 
Nosso palato precisava ser ‘limpo’ para apreciarmos corretamente as duas “Beau Joie”, uma Rosé e outra Brut. A solução foi degustar uma cerveja. A escolhida foi a “Blanche de Bruxeles”.
 
 
Devidamente preparados, partimos para as duas garrafas que restavam.
 
Este Champagne tem uma trajetória bem diferente. Concebida para ser um produto de alto luxo, é produzida em Epernay pela Maison Bertrand Senecourt. Exportada para os EUA, recebe um revestimento em malha de cobre que tem múltiplas funções. Funciona como a armadura de um cavaleiro dos tempos medievais. Segundo seu produtor norte americano, esta era a época de Reis, Rainhas e seus Cavaleiros, onde se valorizava o romance, o amor, a honra e as paixões. A ideia por trás desta rica embalagem é nos remeter a estes tempos, como uma mágica. Além disto, a malha por ser feita com cobre (reciclado) é ótima condutora do frio ajudando a manter a garrafa na temperatura ideal por mais tempo e aumentar a segurança no manuseio. Um programa especial deste produtor reutiliza os revestimentos de garrafas usadas.
 
A Brut é um corte de 60% Pinot Noir e 40% Chardonnay, sem dosagem de licor de expedição (sem adição de açúcar) garantindo sabores marcantes desde o primeiro gole. Alguns degustadores deste painel acharam que a amostra estava levemente oxidada, o que não comprometia em nada o produto. O perlage era perfeito, acidez equilibrada, como deve ser um Champagne seco.
 
A Rosé foi a que mais agradou. Com um corte em partes iguais das duas castas já citadas, tem uma bela e sedutora coloração, suave como pétalas de rosa. Perfeitamente equilibrada com um delicioso sabor frutado. Ideal para ocasiões muito especiais. Bom perlage e boa acidez.
 
Um produto único e para poucos, sua produção não é grande. Mas o espetáculo visual é incrível. Torcemos para que Soraya consiga vencer todos os entraves burocráticos deste nosso país e traga este produto com preços competitivos.
 
 
A foto abaixo foi tirada ao final da prova. Em pé estão Chris e Soraya, sentados, da esquerda para a direita Luis Miguel Duarte, da Duaber, José Paulo e eu.
 
 
Só nos resta esperar…

Dica da Semana: mais que um vinho, um investimento. Vale cada centavo. Melhor: podemos guardá-lo para grandes ocasiões.

 
MAPA Reserva Tinto 2009

CLASSIFICAÇÃO: Douro DOC CASTAS: Touriga Nacional, Touriga Franca, Sousão e Tinta Roriz. VINIFICAÇÃO: Desengace total seguido de pisa a pé. Estágio de 20 meses em barricas novas de carvalho francês. De cor vermelho carregado, apresenta uma boa paleta aromática e um buquê intenso e convidativo. Na boca, taninos presentes, boa acidez. O teor alcoólico (14,5%) induz alguma sensação de doçura.

Importado pela DOCG Vinhos.
 
Enoteca DOC – Fabio Soares – Av. Marechal Floriano, 32 – Centro.

Tel.: (21) 2516-4220 – www.enotecadoc.com.br

 
DOCG Vinhos – Alexandre Ventura – www.docgvinhos.com.br

Tel.: (21) 3936-321

Portugal e as novas denominações vinícolas da EU – Final

Região de Lisboa 
 
Embora não seja uma nova região, apenas uma troca de denominação, desde o tempo que era conhecida como Estremadura tornou-se uma das regiões mais importantes no cenário vitivinícola de Portugal, com seus vinhedos cultivados há muitos séculos e uma enorme contribuição cultural com vinhos históricos.
 
 
Em termos de volume de produção é a mais importante região do país. Está subdividida em nove sub-regiões, todas classificadas como DOC ou DOP segundo as novas regras. Vejam a ilustração acima:
 
1 – Encostas de Aire;
2 – Lourinhã;
3 – Óbidos;
4 – Torres Vedras;
5 – Alenquer;
6 – Arruda;
7 – Colares;
8 – Carcavelos;
9 – Bucelas.
 
Com uma desconcertante variedade de vinhos produzidos por diversas castas, destacam-se as brancas Arinto, Fernão Pires, Malvasia, Seara Nova e Vital. Entre as tintas encontramos Aragonês, Castelão, Tinta Miúda, Touriga Franca, Touriga Nacional e Trincadeira. Em termos de terroirs há um pouco de tudo, desde vinhedos plantados à beira-mar até solos mais interioranos.
 
Alguns produtores são famosos e bem conhecidos no Brasil, por exemplo, Bacalhoa Vinhos de Portugal e Quinta da Chocapalha. Mas algumas regiões são de importância histórica como Bucelas, Carcavelos e Colares.
 
O vinho branco de Bucelas é produzido desde o tempo dos Romanos. Coube ao Duque de Wellington levá-lo para o Reino Unido onde se tornou um vinho de muito sucesso. Hoje a produção é bem pequena, mas a qualidade deste vinho obtido com a casta Arinto se mantém entre as melhores de Portugal.
 
A sub-região de Colares recebeu sua denominação protegida em 1908, embora a produção vinícola remontasse a 1255 quando D. Afonso III fez a doação do “Reguengo de Colares”. Seus tintos são especiais, muito escuros e encorpados, características decorrentes da peculiar localização e terreno dos vinhedos: junto à costa em solos muito arenosos e soltos. As castas estão plantadas diretamente na areia, sem enxertos. Foi uma das poucas regiões que nunca sofreu com a Filoxera.
 
O “Vinho de Carcavelos” é um vinho generoso, muito famoso e raro nos dias de hoje. Sua história remonta ao Reinado de D. José I (1750 a 1777) quando, por influência do Conde de Oeiras e Marquês de Pombal, este vinho produzido na Quinta de Oeiras conquistou fama internacional sendo enviado até para Pequim. O mesmo Duque de Wellington, já citado, foi outro apreciador e divulgador das qualidades deste ‘licoroso’.
 
Atualmente esta região está dentro de áreas urbanas (grande Lisboa e Estoril) quase impossibilitando sua produção. Desde 1977 grandes esforços tem sido feito no sentido de recuperar as áreas produtivas e assegurar uma maior produção desta preciosidade. Como estratégia de marketing, a nova marca comercial deste vinho é “Conde de Oeiras”.
 
Cito o nosso leitor Laureano Santos, morador de Oeiras: “Dificilmente encontrará à venda aqui em Portugal, pelo que no Brasil”…
 
Região do Tejo
 
Outra região que apenas mudou sua denominação. A antiga era Ribatejo. Subdivide-se em Almeirim, Cartaxo, Chamusca, Coruche, Santarém e Tomar. Tem como característica importante uma legislação mais frouxa que permite, sem muitas restrições, o plantio de castas ‘estrangeiras’ junto com castas locais.
 
Brancas: Arinto, Fernão Pires, Tália, Trincadeira das Pratas e Vital, às quais se juntam Chardonnay e Sauvignon Blanc;
 
Tintas: Castelão e Trincadeira, além de Aragonez, Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon e Merlot.
Conscientemente deixamos de mencionar as regiões mais conhecidas e outras que nos últimos anos deixaram de ser importantes neste cenário. Em breve voltaremos a escrever sobre o fantástico mundo dos vinhos de Portugal.

Dica da Semana: vamos homenagear os bons tintos da região do Douro.

 

Crasto Douro DOC
Castas: Uvas: Tinta Roriz, Tinta Barroca, Touriga Franca e Touriga Nacional.
Localizada na margem direita do rio Douro, a meia distância entre a Régua e o Pinhão, a Quinta do Crasto já figurava no mapa do Barão de Forrester. Este vinho revela um aroma muito vigoroso de frutos vermelhos, com boas notas de especiarias. Na boca mostra uma boa estrutura, com taninos firmes e uma acidez equilibrada. Quinta do Crasto Douro foi ligeiramente filtrado antes de ser engarrafado.
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