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A Origem das Uvas Viníferas

Uma das grandes alegrias de ter uma idade ‘Senior’ é poder se deliciar com novas descobertas de coisas que identificamos no passado. Desde que me interessei por vinhos, uma ou duas questões nunca tiveram respostas satisfatórias. Até recentemente.
 
A origem das videiras denominadas Viníferas sempre me deixou intrigado. França foi o melhor palpite por muito tempo. Depois achei que a Itália tinha mais chances de ter sido o produtor original de vinhos. Mas ninguém era capaz de confirmar ou negar com segurança.
 
Somente com a ajuda de dois brilhantes cientistas, um Botânico e Geneticista de uvas, o suíço Dr. José Vouillamoz e um Arqueólogo Biomolecular, o norte americano Dr. Patrick McGovern (fotos), após dez anos de pesquisas, acreditam terem encontrado o local onde existe o maior número de semelhanças entre as uvas nativas e as cultivadas hoje em dia. Isto sugere que teria sido ali que o homem domesticou a videira selvagem dando origem a todas as castas que produzem vinhos atualmente
 
 
A grande surpresa é a localização geográfica: Turquia! Especificamente na região da Península de Anatólia, embora não descartem totalmente algumas regiões vizinhas como a Geórgia, a Armênia, o Azerbaijão e o Irã. Após milhares de testes de DNA e comparações de genomas foi possível constatar que na região sudoeste desta península se concentra o maior número de similaridades. A origem da uva vinífera é asiática! Isto é uma grande surpresa.
 
 
Numa entrevista para a revista Wine Spectator (12/2012) o Dr. Vouillamoz formulou uma interessante hipótese para descrever o que teria acontecido:
“A nossa pesquisa revelou que havia uvas selvagens em abundância naquela região. Provavelmente uma quantidade não consumida foi armazenada num cesto e naturalmente se rompeu dando origem a um suco que fermentou. Um homem ou uma mulher que provou este néctar pode ter experimentado sensações inebriantes, muito mais interessantes que apenas consumir as uvas. Uma ideia seria predominante neste momento: fazer de novo”.
Este teria sido o ponto de partida para o homem domesticar as videiras selvagens, entre 6.000 e 8.000 A.C., e começar a produzir o que seria chamado de vinho.
Um dos desdobramentos mais curiosos desta pesquisa é o resultado da análise das cadeias de DNA das diversas castas. Descobriram uma série de interligações muito interessantes, por exemplo:
 
A uva Syrah seria tataraneta da Pinot Noir!
 
Nenhum enófilo poderia imaginar que dois vinhos completamente diferentes originassem de uma mesma família de videiras.
Uma nova surpresa aconteceu quando examinavam a casta Gouais Blanc, usada hoje em dia em vinhos secundários. Ela gerou mais de 80 outras espécies, entre elas a Gamay, a Chardonnay, a Riesling e a Furmint. Uma Casanova das videiras…
 
Isto demonstra que várias ideias sobre a origem das nobres viníferas europeias estavam enganadas. A pesquisa foi capaz de identificar 13 castas que seriam a fundação para o que existe hoje. Apresentamos, a seguir, um resumo destas descobertas aliadas aos países onde se desenvolveram:
 
França: Pinot Noir (Pinot Blanc e Gris são mutações), Gouais Blanc, Savagnin, Cabernet Franc e Mondeuse Noire;
 
Itália: Garganega, Nebbiolo, Teroldego, Luglienga;
 
Grécia ou Itália: Muscat Blanc à Petits Grains;
 
Espanha: Cayetana Blanca;
 
Suíça ou Áustria: Rèze;
 
Croácia: Tribidrag.
 
Isto é só o começo, há muito trabalho pela frente ainda.

Dica da Semana: um bom Malbec que é pouco conhecido.
 
 
Naiara Malbec 
Notas frutadas de amoras e cerejas, típicas do varietal.
Da sua passagem por madeira, ficaram aromas de chocolate e torrado.
Na boca é redondo, de corpo médio, fácil de beber e bom retro gosto. Harmoniza com Carnes vermelhas, massas e queijos.
 

A Poção Mágica

Como em qualquer indústria, a do vinho também tem seus segredos, suas fórmulas mágicas, suas receitas. Nunca são divulgadas, apenas passadas de geração em geração.
 
O mundo hoje caminha para uma era dos poucos segredos, documentos classificados como secretos pipocam aqui e ali causando espanto a todos. O mesmo está acontecendo na área vitivinícola: existe no mercado um “melhorador de vinho” que todos os produtores conhecem, mas nenhum afirma que o usa.
 
Nem sempre uma vinificação resulta num produto que atenda às especificações de um enólogo. Pode não ter a cor desejada ou não apresentar aromas e sabores interessantes. Além disto, a utilização de super leveduras na fermentação para extrair o máximo de um mosto pode trazer, como efeitos colaterais, pequenos ‘defeitos’ que normalmente são mascarados pelas boas qualidades do produto final. Se o processo todo não resultar no esperado, o enólogo está cheio de problemas.
 
Sempre existiram soluções para estes casos, a mais conhecida é utilizar este vinho ‘pobre’ em um corte com outro que faça as correções necessárias. Vinhos obtidos com castas como a Petit Syrah, Alicante Bouschet, Tinta Cão, entre outras, conhecidas como uvas tintureiras, são empregados para efetuar correções de rota, sempre em pequenas quantidades, dentro do que permitem as legislações locais, desobrigando informar isto nos rótulos.
 
A maior dificuldade, nestes casos, é obter estas ‘tinturas’ caso não fossem produzidas na própria vinícola: tinham que recorrer ao mercado de vinho a granel. Alguns empresários perceberam uma oportunidade e criaram uma “poção mágica” que resolve todos os problemas: melhora a cor, acrescenta alguma doçura, mascara os subprodutos indesejáveis da fermentação e deixa o vinho arredondado no final. Além disto é absolutamente natural e praticamente indetectável. Melhor impossível!
 
Não há nenhum mistério neste produto. Trata-se de um muito concentrado suco de uvas, obtido a partir de castas selecionadas, algumas criadas especificamente para este fim como a Rubired (Rubi Vermelho) um cruzamento de Alicante Ganzin e Tinta Cão. Existem diversas marcas, a mais conhecida é a Mega Purple, produzida por uma dos maiores conglomerados de bebidas alcoólicas a Constelation Brands (vinhos, destilados e cervejas), proprietaria de  quase 40 marcas de vinhos de todo o mundo. Entre elas vamos encontrar a famosa Mondavi da Califórnia, Muton Cadet da França e Ruffino da Itália.
 
 
Aqui entra a pergunta que vale 1 milhão de dólares: se produzem este concentrado devem utilizá-lo, mas em que vinhos?
 

Esta questão certamente vai ficar sem uma resposta, ninguém é ingênuo a ponto de responder que sim e achar que o mercado não vai reagir de forma negativa. Mas podemos especular.

 
Este recurso só deve ser empregado para aqueles vinhos de menor custo e que se destinam a grandes redes de lojas ou supermercados. Nenhum vinho “Top” vai receber uma gota sequer deste xarope. Bastaria uma suspeita ser publicada numa rede social e o estrago seria definitivo.
 
Caso algum leitor não tenha se dado conta, a maioria dos grandes vinhos não comercializou uma determinada safra simplesmente porque não atingiu a qualidade necessária. O prejuízo é menor.
 
Por outro lado, não ter vinho para atender a um pedido de um gigante do varejo pode proporcionar um rombo nas finanças. Neste caso, é melhor “botar água no feijão” do que sair com o pires na mão em busca de recursos.
 
Mais um motivo para desconfiar de vinhos baratos em prateleiras de mercado.
 

Dica da Semana: um bom Porto, bem de acordo com o clima frio.
 
Graham’s Fine Tawny
 
O Fine Tawny é um pouco mais claro e seco que o Ruby devido ao maior tempo de envelhecimento.
O ótimo bouquet lembra nozes e frutas secas. Apresenta grande persistência na boca.
 

8 Argumentos questionáveis

Quando comecei a escrever sobre vinhos para O Boletim decidi seguir alguns cânones, por exemplo, usar o jargão típico dos enófilos, mesmo sabendo que nem sempre isto faria muito sentindo para os leitores. Alguns e-mails até sugeriram a elaboração de um glossário.
 
Parece que esta linguagem muito específica começou a incomodar alguns pesquisadores que decidiram medir, no mercado inglês que é considerado o maior do mundo, o que realmente valia a pena ou era interessante saber para o consumidor final. O resultado é surpreendente, mostrando do que a força do marketing é capaz: termos restritos à profissão do enólogo acabam na boca do povo que não tem a menor ideia do que estão falando. Mas fica bonito… Eis alguns exemplos.
 
1 – As Notas de Degustação – honestamente, algum leitor já comprou um vinho por que se sentiu atraído por este tipo de informação? Saber que o que está na garrafa tem “Cor púrpura com reflexos violáceos” é fundamental na hora de comprar um vinho?
 
O estudo inglês mostrou que não, mais de 55% das respostas foram negativas, muitas apontando que esta descrição nem sempre era clara. Apenas 9% dos entrevistados afirmou que escolheu um rótulo baseado numa descrição do produto.
 
O resultado desta pesquisa pode ser usado em qualquer mercado sem grandes alterações.
 
2 – A Madeira dos Barris de Carvalho – saber de qual bosque veio a madeira usada numa barrica se tornou ponto de honra. Se vier de Alliers ou Tronçais tanto melhor, algo como ‘está é “a” barrica’…
 
Bobagem!
 
Só os muito ingênuos acham que vão notar alguma diferença se usarem esta ou aquela madeira. Um ponto é fundamental: o carvalho americano e o francês são diferentes acrescentando aromas e sabores distintos ao vinho que neles permaneceu. Mas quem decide o resultado final é o enólogo, que vai dosar o produto até atingir sua meta. Honestamente, é quase impossível saber ao degustar um vinho qual a origem das barricas.
 
Mais um ponto para pensar: o “carvalho francês” também existe em florestas que por muitos anos ficaram inacessíveis por trás da Cortina de Ferro. Hoje em dia já é possível falar em carvalho esloveno ou romeno. Do ponto de vista científico são exatamente iguais ao francês. Quem se arrisca a identificar um ou outro? Mais uma informação pouco relevante. Mas quanto prestígio…
 
3 – Vinhedo ou Parcela Únicos – esta frase está na moda e aumenta significativamente o preço dos vinhos que a trazem em seus rótulos. Se for realmente verdade que uma determinada vinícola faz regularmente vinhos somente com frutos obtidos de uma região específica de seu vinhedo, vamos ter que acreditar que o clima, naquela região, é imutável.
 
Não é bem assim. Ninguém dúvida que as melhores uvas vão para os melhores vinhos. Também é seguro afirmar que esta ou aquela micro região produz frutos de melhor qualidade. A dúvida fica por conta de o volume de uvas ser suficiente para elaborar uma quantidade de vinho que possa ser comercializada.
 
Este tipo de informação deveria ficar restrita aos Agrônomos e Enólogos, só a eles interessa. Mas vende o produto. O próximo passo vai ser algo como “Parreiras Selecionadas Individualmente”…
 
Vocês acreditam? Papai Noel existe?
 
4 – O Melhor Sistema de Fechar a Garrafa – Rolhas de cortiça versus o resto do mundo, uma batalha num ringue internacional: neste corner… e o juiz será o consumidor final.
 
Há muito para ser dito neste tema. O mais importante é: tampa de rosca vai ser o padrão em pouco tempo. A cortiça está cada vez mais cara, é produzida por um cartel, e para determinadas regiões do mundo é quase inacessível, por exemplo, a Nova Zelândia: mesmo seus vinhos top usam tampas de rosca.
 
Óbvio que vinhos icônicos e famosos vão continuar com o mesmo sistema que usam há séculos. Sempre funcionou e vai continuar funcionando. Trocar o sistema de fechamento de um vinho destes pode causar estranheza e desconfiança. A chave neste caso é que o preço da rolha não vai alterar em nada o custo final.
 
Mas o que dizer de um vinho do dia a dia? Para uma garrafa que custe 50 reais num supermercado não importa como ela foi fechada: quanto menor o custo melhor, desde que o sistema empregado cumpra sua função de vedação protegendo a bebida, melhor.
 
Deixem esta preocupação para os enólogos e aceitem sua decisão. Sempre será a melhor escolha para aquele produto.
 
5 – Dia e Hora da Colheita – este dado é de um preciosismo e de uma inutilidade assombrosos. Levante a mão o consumidor que for capaz de perceber esta nuance ao consumir um vinho. Nem o famoso Parker, aposto!
 
Pode parecer inverídico, mas já encontrei, num contra rótulo, um minucioso texto informando que as uvas teriam sido colhidas num dia do mês de Abril, à tarde. Em outro vinho, as uvas foram colhidas numa amena noite de março. Para quem isto é relevante afinal? Acho que a turma do Marketing pegou pesado aqui.
 
6 – Proporções de um Corte – apesar de ser uma informação relevante, estão levando isto ao extremo. É óbvio que fica frustrante ler um rótulo para descobrir que é um vinho obtido a partir de “uvas viníferas europeias”. Mas também não me adianta nada saber que um corte foi obtido a partir de 11,5% Cabernet, 15,7% de Carmenére, 13,87% de Malbec, 2,34% de Syrah e mais uma infinidade de uvas. Não precisamos nem desta, nem da outra informação; não ajudam em nada, confundem.
 
A grande maioria dos vinhos ditos varietais, ao contrário do que imaginamos, pode receber uma quantidade pequena de outras uvas que permitem um melhor acabamento do produto: pode melhorar a cor, aroma, tanino etc. Esta adição é legal, não precisa ser declarada e não muda a característica principal da casta, ou seja, um Cabernet com 10% de Merlot continua sendo um Cabernet.
 
Por outro lado, se um vinho for um corte em que as diferentes castas tiverem pesos semelhantes, está é uma informação válida que deve ser divulgada claramente. Fora disto, deixe para os ‘enochatos’.
 
7 – Teor Alcoólico – o que se discute aqui é se a quantidade de álcool num vinho tem realmente a importância que se atribui a este dado, que consta dos rótulos por obrigação legal. Países produtores que têm seus vinhedos em regiões de muito sol produzem vinhos mais alcoólicos, os frutos terão maior teor de açúcar para ser convertido. Mas este fator sozinho não torna um vinho melhor ou pior para ser consumido. Se realmente isto for um ponto de discussão válido é melhor esquecer o vinho e beber suco de uva: teor zero!
 
8 – A Cuba de Fermentação – a mais recente invencionice dos marqueteiros que resolveram distinguir os vinhos pelos recipientes em que são fermentados. Desta forma seriam sensivelmente diferentes vinhos que foram elaborados em tanques de inox, em barricas de madeira, piscinas de concreto (com ou sem epóxi) e até na última novidade um recipiente de forma oval construído em concreto.
 
Isto faz diferença? Creio que só para o enólogo ou algum especialista do assunto. Em todos os casos o resultado é vinho. Só de curiosidade, acho que seria mais útil saber qual a levedura utilizada, assim poderia esperar pela presença, ou não, de determinados aromas e sabores. O resto é subjetivo e fica a critério do leitor.

Dica da Semana: um excelente Syrah do Chile com uma característica que serve de exemplo para tudo que foi dito acima.
 
Polkura Syrah 2008
 
Composição: 94% Syrah, 2% Malbec, 1,5% Tempranillo, 5% Grenache Noir, 1% Viognier
Colheita: 22 de abril – 2 de maio 2007
Álcool: 14,6%; Açúcar: 2,6 g/l; Acidez: 5,9 g/l; PH: 3,62
Cor violáceo profundo. Aromas de pimenta branca e negra, acompanhado de frutas negras, ervas e aniz. Vinho de grande corpo, elegante, com taninos muito intensos, porém suaves. Acidez natural e doçura de álcool bem equilibradas. O vinho é muito complexo, integrando os diversos sabores que emergem no paladar. Final longo.
 
Precisa disto tudo ou bastaria dizer: Ótimo vinho!
 

Em Petit Comité

Era pequeno mesmo e bem que o título de hoje poderia ser substituído por “A Dois”. Éramos eu e minha esposa, só. Temos esta cumplicidade e o gosto por bons vinhos e boa gastronomia. Sempre que viajamos ficamos atentos às novidades em ambos os campos.
 
Uma das viagens de maior expectativa e que resultou num programa totalmente diferente do que pretendíamos foi uma viagem ao Chile. Havíamos comprado as passagens com alguma antecedência, só não podíamos prever o grande terremoto de 2010. Pegou-nos de surpresa!
 
Viajamos no limite de validade de nossos bilhetes, alguns meses depois da catástrofe. Infelizmente as vinícolas estavam todas fechadas para reformas, algumas foram muito danificadas. Houve uma única exceção, a Vinícola Santa Rita próxima à capital Santiago. Fomos muito bem recebidos e degustamos um bom almoço no restaurante improvisado numa tenda, regado com o excelente Medalla Real.
 
Com a falta do principal objetivo de visitar as principais produtoras de vinhos, optamos por fazer um programa bem turístico, compras, excursões, city tour, museus, como qualquer outro viajante comum.
 
Descobrimos coisas bem interessantes e outras bem frustrantes, por exemplo: o chileno não tem o hábito de beber vinhos. Por esta razão, as maiorias das lojas de vinhos de Santiago são para turistas, com um catálogo de produtos mais que convencional e conservador. Chegava a ser decepcionante. Lindas lojas que ofereciam do manjadíssimo Casillero del Diablo ao caro Don Melchor, tudo muito convencional, zero de novidades.
 
Como bom ‘Aquariano’, não era isto que queria. Naquela época começou a surgir o movimento dos vinhos de garagem, MOVI (Movimiento de Viñateros Independientes), com alguns rótulos já lançados no mercado. Mas não estávamos seguros do que comprar…
 
A busca continuou por alguns supermercados, shoppings e lojas de rua, mas o quadro se repetia. Não me recordo da razão, acho que foi um pouco pela distância, deixamos para visitar o Shopping Alto las Condes já na véspera de retornamos.
 
Situado no mais elegante bairro da capital, é conhecido como um local para pessoas de maior poder aquisitivo, ao contrário do Parque Arauco que é mais popular. Havia uma loja de vinhos a omnipresente ‘El Mundo del Vino’ e um clube, La CAV ou ‘Club de Amantes del Vino’. Esta era novidade, entramos e fomos recebidos em português por uma simpática brasileira que ali trabalhava. Ponto positivo, mas ficamos intrigados com a rapidez da identificação, será que estávamos tão óbvios assim? A explicação veio em seguida, ela havia nos escutado ao decidirmos visitar a loja.
 
 
Muito interessante, começando pela organização das prateleiras, arrumadas pela qualidade seguindo um ranking próprio a partir das preferências dos clientes em degustações promovidas regularmente. Havia vinhos de diversos países, inclusive do Chile. Esta democracia enológica nos encantou. Fomos convidados para uma degustação. Não era vinho comum, só top de linha!
 
Perfeito, finalmente encontramos o que queríamos!
 
Uma das compras foi o melhor vinho provado, o Coyam, produzido com uvas de cultivo orgânico e considerado um ícone internacional. Ficamos com um 2007 que foi degustado ‘a dois’ nesta semana que passou. Os 6 anos de repouso lhe fizeram bem, o vinho estava delicioso. Um daqueles que ao ser consumido não deixa dúvida que é um grande vinho, até mesmo para um leigo.
 
 
O corte, naquela safra, foi elaborado com 38% Syrah, 21% Cabernet Sauvignon, 21% Carménère, 17% Merlot, 2% Petit Verdot e 1% Mourvedre. Uma verdadeira alquimia. Uma vinificação cheia de cuidados como a tripla seleção manual dos grãos, fermentação com leveduras naturais, longo de tempo de maturação com as casacas e 13 meses de amadurecimento em barris de carvalho de 1º uso, 80% franceses e 20% americanos.
 
Esta delícia tinha uma cor violeta bem marcante e aromas de frutas negras maduras, frutas vermelhas, groselha e frutos do bosque, em sintonia com as notas de baunilha da madeira, furtivas notas minerais, caramelo e chocolate. Excelente equilíbrio no palato, ótimo corpo, arredondado, taninos presentes e suaves. Um final interminável. Um vinho que pode ser guardado por 14 ou 15 anos. Tem estrutura para tal.
 
Na gastronomia é um vinho complexo que pede pratos bem elaborados como carnes de 1ª linha grelhadas, gado Wagyu, Angus ou carneiro, acompanhado de batatas gratinadas, arroz e molhos condimentados.
 
Não é para qualquer um, mas não tem preço exorbitante, por isto mesmo é a nossa…

Dica da Semana: um belo vinho do chileno, ótimo companheiro para estes dias mais frios.
 
Coyam 2010
Castas: 34% Syrah, 31% Merlot, 17% Carmenére,12% Cabernet Sauvignon, 3% Malbec e 2% Mourvedre
Um excelente investimento para o futuro
90 Pontos – Robert Parker (Safra 2009), 90 Pontos – WineSpectator (Safra 2009)
 
 

Um ótimo exemplo

Na semana passada recebemos este e-mail do leitor Francisco Calmon, do Distrito Federal: 

“Tuty,

Pela qualidade dos vinhos servidos, deve ter custado uma baba esta reuniãozinha… rs
 
Montamos uma confraria aqui no DF, contando com suas dicas. Estamos ainda no comecinho e nosso objetivo, em primeiro lugar, é gastar pouco, ou seja, fazer o que vc nos ensinou desde a sua primeira coluna: procurar vinho bom e barato. É claro que com isso provamos vinhos ruins, ainda não aprendemos a classificar os que valem a pena ser experimentados.
 
Fazemos a nossa reunião no sábado, cada vez na casa de um, já que todos do grupo moramos em casas. Ora fazemos um jantar, ora um comes e bebes, ora um queijos e vinhos, enfim… Já conseguimos achar vinhos muito bons (para nosso gosto) por valores inferiores a 40,00… nosso limite é 80,00 e não é sempre que há vinhos neste valor. Isto vale para brancos ou tintos.
 
Somos 5 casais de amigos e, tirando uma das mulheres, todas bebem… e bem… Contratamos uma van que nos leva a casa onde será o encontro da semana. O motorista nos espera e nos deixa em casa… sempre o mesmo.
 
Mas o mais legal de tudo foi o nome da confraria: Confraria do Boletim… rs Espero que o Valter não nos queira cobrar direitos autorais… rs
 
Abraços e obrigado pelos belos momentos que vc e O Boletim nos está permitindo desfrutar.
 
Francisco-DF” 
 
Este e-mail nos encheu de satisfação. Se eu, José Paulo e Valter tínhamos alguma pretensão com a Coluna de Vinhos, a mensagem confirmou que “plantamos alguma coisa boa”!
 
Achamos esta iniciativa espetacular. Valter, que detém o nome ‘O Boletim’, não vai cobrar royalties. Pode ficar tranquilo Francisco.
 
José Paulo que é o atual presidente da famosa Confraria do Camarão Magro ficou empolgado: “Muito legal! Espetacular! Confraria é isto, não precisa complicar”.
 
 
Um detalhe que chamou nossa atenção foi a preocupação com o custo dos vinhos. A maioria dos leitores já percebeu que acreditamos na relação custo x benefício, apesar de algumas reclamações sobre a Dica da Semana que só apresentaria vinhos baratos, o que não é verdade.
 
Para diminuir significativamente o custo existe um truque que é aproveitar uma viajem para o exterior para trazer ótimos vinhos por preços convidativos, permitindo elevar o cacife. Basta lembrar-se de poucas regras:
 
1 – a legislação brasileira permite trazer na bagagem até 15 litros de bebidas alcoólicas. No caso do vinho, como cada garrafa guarda 750 ml, isto equivale a 20 delas. Mas não exagerem, além de aumentar o peso de sua mala pode chamar a atenção para outros itens. O ideal é de 6 a 12 garrafas (2 caixas), muito bem embaladas. Isto pode ser solicitado na hora da compra. Para garrafas individuais procure por um Wine Skin (foto);
 
 
2 – nas principais capitais do mundo e nas regiões produtoras, existem excelentes lojas de vinho preparadas para atender ao turista. Uma das mecas dos vinhos baratos é os EUA onde encontramos inúmeras lojas especializadas. A Total Wines, por exemplo, permite que os vinhos sejam encomendados com antecedência e enviados para o seu hotel. Melhor impossível! (www.totalwine.com)
 
3 – escolher os vinhos não é difícil e pode ser até muito divertido. Quase sempre nos guiamos pelos resultados das grandes degustações e concursos publicados na imprensa especializada.
 
Um exemplo que vai ilustrar bem este ponto é um vinho espanhol, Pétalos del Bierzo, que tem recebido prêmios e elogios por todos os lados: Wine Spectator – 93 pontos (safra 09); Robert Parker – 90 pontos (safra 09); Robert Parker – 90 pontos (safra 08); Wine Spectator – 90 pontos (07).
 
Custa no importador, Mistral, R$ 111,24 (em 2013) mais frete se não buscar na loja. No site da Total Wines ele sai por US$ 22.99 o que já é uma tremenda pechincha.
 
Comparamos por inacreditáveis US$ 19.00 numa lojinha ao lado de onde estávamos em Dobbs Ferry, NY;
 
 
4 – para terminar estas dicas, uma para deixar todo mundo com água na boca: esta é uma das poucas maneiras de se adquirir vinhos que nunca chegarão por aqui.
 
Foi o caso do Argyle, um premiadíssimo Pinot Noir do Oregon. Estava na alça de mira havia algum tempo até que, na mesma loja do vinho anterior, o encontramos por US$ 20.00 (já foi devidamente degustado com um belíssimo arroz de pato. O único defeito era a velha história da garrafa única…). Detalhe importante: tampa de rosca!
 
 
Um grande auxiliar para as compras é um aplicativo para smartphones e assemelhados o Vivino (http://www.vivino.com.br). Simplesmente fotografe o rótulo e mande para a rede. Após alguns instantes aparecerá uma avaliação do vinho que vai nos ajudar a tomar uma decisão. A base de dados atual é capaz de identificar quase 700.000 vinhos, 14.000 vinícolas de 46 países e 530 castas diferentes. Eis o resultado para o citado Argyle:
 
Um sistema de classificação bem simples de 5 estrelas onde 1* é um vinho horrível e 5* sensacional. O resultado é a média das notas dos usuários que provaram um determinado vinho. Neste caso, 3.4 de média em 73 avaliações, algo entre bom e ótimo.
 
Confrarias como as que frequentamos ou iguais a esta que o Francisco Calmon organizou, em Brasília, são palco para diversos experimentos que além de divertir vão aumentar, prazerosamente, a nossa cultura sobre vinhos. Habituem-se a fotografar as garrafas consumidas, as famosas ‘vítimas’, assim terão um registro visual que ajudará a lembrar do que foi bom ou não.
 
Definitivamente, votem no melhor e pior vinho!
 
Outra experiência que vale a pena é tematizar um destes encontros, por exemplo: “Vinhos Portugueses”. Estudem o tema com as fontes que conseguirem, escolhendo a harmonização e os vinhos, dentro do orçamento de cada grupo. Para arredondar tudo, indiquem um relator que vai dar uma ‘aula’ sobre o tema, explicando todos os vinhos (origem, casta, elaboração) e a razão da combinação com as comidas que estarão sendo servidas. Todo mundo aprende. Melhor ainda se tocar um fado.

Dica da Semana: um belo vinho do chileno, ótimo companheiro para estes dias mais frios.
 
De Martino Syrah Reserva 347 Vineyards
 
Com uma coloração púrpura luminosa, apresenta muita pureza olfativa com cassis maduro, couro, alcaçuz e grafite. Denso, sápido, com taninos arredondados e um longo final de boca.
Harmoniza bem com pratos condimentados como um Steak au Poivre Vert, carne de caça em molho escuro, Marreco recheado e embutidos defumados ou picantes.
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