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Analisando Listas de Melhores Vinhos

A maioria das publicações especializadas faz, ao fim de ano, um resumo de suas diversas degustações elegendo os ‘melhores do ano’. Algumas, como a “100 Best da Wine Spectator”, tornaram-se icônicas e muito respeitadas.
Aqui no Brasil as recomendações do Jorge Lucki, talvez o melhor crítico de vinhos do nosso país, são sempre compras seguras. Para Chile e Argentina o guia Descorchados é considerado a autoridade máxima.
Houve ainda, no país ‘hermano’, uma grata surpresa: a volta do tradicional guia Austral, que deixara de ser publicado.

A coluna desta semana tentará mostrar como lidar com este mar de informações, algumas vezes conflitantes.

Vamos comparar alguns resultados de diversas listas tendo como foco a seguinte indagação: existe um vinho comum em todas estas listas?
Começamos com as listas de duas importantes publicações estrangeiras a Wine Spectator e a Wine Enthusiast. Para dar uma ideia sobre esta quase insanidade, para a elaboração de uma destas relações foram degustados nada menos que 15.500 vinhos!

Para nossa surpresa, apenas um vinho apareceu em ambas as listas:

Hamilton Russell 2010 Chardonnay, da Nova Zelândia (WS 93 e WE 92).
Um segundo vinho aparece nas duas relações, mas são de safras diferentes:
Quilceda Creek Cabernet Sauvignon 2008 (WS 96)
Quilceda Creek Cabernet Sauvignon 2009 (WE 99). 

Não há dúvida que é um excelente Cabernet Norte Americano.
Apenas como curiosidade, dois produtores conseguiram entrar nestas listas com dois vinhos diferentes: Evening Land, com um branco e um tinto e Williams Selyem com dois Pinot de vinhedos distintos.

O que acontece?

Mais uma vez temos que enfatizar que o vinho está na boca de cada degustador. Este é um experimento fácil de fazer: convidem seu companheiro ou companheira para uma taça de vinho e avaliem as características. Dificilmente vão ter as mesmas opiniões.

Por outro lado, estas listas podem ter foco muito diverso, por exemplo, podem estar provando apenas vinhos de uma determinada faixa de preços. Poucas publicações ou críticos têm capital para bancar o custo de uma prova destas, restando ‘convidar’ os produtores para enviar os vinhos a serem degustados, o que limita o universo.

A respeitada Wine Spectator trabalha um pouco diferente: prefere usar o material publicado durante todo o ano por seus diversos editores. Fazem uma reunião e discutem a relação final. Com isto, nem todos os críticos provaram todos os vinhos.

Vamos ampliar esta análise observando o que acontece com vinhos mais acessíveis para o nosso mercado: chilenos e argentinos.
Na Wine Spectator encontramos os seguintes produtos: (na ordem em que aparecem na listagem – alguns destes vinhos podem ser exclusivos do mercado norte americano)
Achával-Ferrer Malbec Mendoza Finca Bella Vista 2010 (Arg. 95 pt)
Bodega Norton Malbec Mendoza Reserva 2010 (Arg. 90 pt)
Viña Ninquén Syrah Colchagua Valley Antu 2009 (Chi. 96 pt)
Casa Lapostolle Cabernet Sauvignon Colchagua Valley Cuvée Alexandre Apalta Vineyard 2010 (Chi. 92 pt)
Concha y Toro Chardonnay Limarí Valley Marqués de Casa Concha 2010 (Chi. 90 pt)
Veramonte Primus The Blend Colchagua Valley 2009 (Chi 90 pt)

Na Wine Enthusiast encontramos: (na ordem em que aparecem na listagem – alguns destes vinhos podem ser exclusivos do mercado norte americano)
Riglos 2009 Gran Corte Las Divas Vineyard (Arg. 96 pt)
Finca Flichman 2009 Paisaje de Barrancas (Arg. 93 pt)
Trapiche 2009 Finca Jorge Miralles SingleVineyard Malbec (Arg. 95 pt)
Lagar de Bezana 2008 Single Vineyard Limited Edition Syrah (Chi. 93 pt)

Fácil perceber que não há nada em comum entre estes resultados. Um fato importante: o Riglos, que ficou em 1º lugar, simplesmente sumiu do mercado!

Confrontando a lista de melhores tintos do Guia Descorchados Argentina deste ano, encontramos em comum apenas o Achával Ferrer com 94 pt. O reeditado Guia Austral não testou nenhum destes vinhos. O mesmo aconteceu com a Relação do Descorchados chileno, não houve coincidências.
Resumo: todos são bons vinhos. Alguns produtores se valem destes resultados para majorar seus preços o que acaba sendo o famoso ‘tiro no pé’: em vez de vender mais, vende menos.

Examinar as listas é sempre divertido e instrutivo, principalmente se um destes premiados já passou por nossa adega. Mas não podemos confiar integralmente.
Dica da Semana: mais um substituto para a ‘loura suada’ do dia de sol…

Animal Chardonnay 2010

Produtor: Tikal (Ernesto Catena)
País: Argentina/Mendoza
Excelente Chardonnay elaborado por Ernesto Catena, demonstra-se aromático, potente, agradável com muita exuberância e elegância ao mesmo tempo. Na boca é explosivo com longo e prazeroso retro gosto.

O que estamos bebendo: preço, rótulo ou vinho?

Tradicionalmente ao final de cada ano, jornalistas e publicações especializadas divulgam suas listas de melhores vinhos. Cada uma tem o seu enfoque e pode estar direcionada para um determinado mercado. São ótimas balizadoras para as nossas próximas compras, mas até onde podemos confiar nestes especialistas?
Gosto é subjetivo. Podemos avançar um pouco mais: gosto tem características geográficas, o que implica em clima e cultura. Um vinho de 100 pontos do respeitado Robert Parker pode não ser uma unanimidade. Pensando nisto, alguns interessantes experimentos foram realizados para demonstrar como a influência de pequenos detalhes externos pode mudar a nossa avaliação sobre um vinho.
Em 2001, Frèdèric Brochet (foto acima) um pesquisador da Universidade de Bordeaux, conduziu dois experimentos que geraram grande celeuma. No primeiro, reuniu 54 estudantes de enologia e lhes apresentou um copo de vinho tinto e outro de vinho branco, solicitando que cada um os descrevessem com um máximo de detalhes. Para o tinto os termos usados foram: cereja, framboesa e especiarias; para o branco: fresco, cítrico, pêssego e mel.
O que as cobaias não sabiam é que estavam provando um mesmo vinho branco que fora tingido com um corante inerte para ficar semelhante a um tinto. O objetivo, plenamente alcançado, era demonstrar que a cor do vinho influencia o nosso paladar.
No segundo teste, outro grupo de especialistas foi servido com duas garrafas bem diferentes, um Grand Cru de Bordeaux e um Vin de Table. Foi solicitada a avaliação dos vinhos. Como esperado, o de melhor qualidade ganhou comentários como ‘complexo’, ‘bom final de boca’ e ‘excelente’, enquanto o outro foi considerado como simples e sem graça. Novamente o pesquisador foi capaz de despistar os degustadores com embalagens mais ou menos sofisticadas: o vinho servido era exatamente o mesmo, um corte bordalês de qualidade mediana. Apenas a garrafas e rótulos eram diferentes.
O estudo mais polêmico até o momento veio da Universidade de Davis. Selecionaram 20 voluntários que provariam 5 Cabernet Sauvignon com preços variando de 5 até 90 dólares. Suas reações seriam medidas através de uma ressonância magnética do cérebro. A metodologia era servir o vinho informando sua faixa de preço. Na realidade, usaram apenas 3 vinhos, com preços de 5, 45 e 90 dólares. Na hora de apresentá-los aos voluntários, faziam diversas trocas como oferecer o mais barato como se fosse o mais caro ou repetir o mesmo vinho alterando o preço declarado.
Os resultados foram dentro do esperado: as melhores avaliações eram para os vinhos mais caros, mesmo que lhes fossem servidos os mais baratos.
Resumindo: as listas de melhores vinhos são necessárias e interessantes, mas devemos usá-las associadas às nossas próprias avaliações.
O guia Descorchados é a principal publicação enológica da América do Sul. Organizado por Patrício Tapia, tem versões para o Chile, Argentina e Brasil.
Apresentamos, abaixo, uma prévia do Guia 2013 para o Chile.
Melhores Tintos:
01 – Clos Quebrada de Macul Domus Aurea 2008, Maipo – 96 pontos
02 – Concha y Toro Carmín Carmenère 2010, Peumo – 96 pontos
03 – Carmen Gold Reserve Cabernet Sauvignon 2010, Maipo – 95 pontos
04 – Concha y Toro Terrunyo Cabernet Sauvignon 2010, Pirque – 95 pontos
05 – Almaviva 2010, Maipo – 94 pontos
06 – Antiyal 2010, Maipo – 94 pontos
07 – Aquitania Lázuli 2004, Maipo – 94 pontos
08 – Bodegas RE RE Cabergnan 2009, Loncomilla – 94 pontos
09 – Calyptra Zahir Cabernet Sauvignon 2009, Cachapoal – 94 pontos
10 – Casa Marín Miramar Vineyard Syrah 2010, Lo Abarca – 94 pontos
Melhores Brancos:
01 – Casa Marín Cipreses Vineyard Sauvignon Blanc 2011, Lo Abarca – 95 pontos
02 – Concha y Toro Terrunyo Sauvignon Blanc 2011, Casablanca – 95 pontos
03 – Aquitania Sol de Sol Chardonnay 2009, Malleco – 94 pontos
04 – Bodegas RE Re Chardonnoir 2011, Casablanca – 94 pontos
05 – Calyptra Gran Reserva Chardonnay 2009, Cachapoal – 94 pontos
06 – Concha y Toro Terrunyo T. Bottles Sauvignon Blanc 2011, Casablanca – 94 pontos
07 – Concha y Toro Amelia Chardonnay 2011, Casablanca – 94 pontos
08 – De Martino Single Vineyard Quebrada Seca Chardonnay 2010, Limarí – 94 pontos
09 – Maycas del Limarí Quebrada Seca Chardonnay 2010, Limarí – 94 pontos
10 – Tabalí Talinay Chardonnay 2011, Limarí – 94 pontos

Dica da Semana: uma ótima opção para este inclemente verão.

Carmen Classic Chardonnay 2011
País: Chile
Este ótimo Chardonnay, parcialmente barricado, é um verdadeiro achado, bastante rico e intenso, de excelente relação qualidade/preço.
Harmoniza com peixes e frutos do mar, vários queijos, aves e legumes grelhados.
Robert Parker: 87 pontos (03)

Syrah a poderosa: Vinhos do Rhône

 Parece que erramos a mão no desafio da semana passada. Até o momento em que começo a escrever a coluna, nenhuma sugestão. A resposta estava na definição de Ampelografia, uma disciplina da botânica e da agronomia que estuda e identifica as castas de videiras por suas características. A mais simples delas é a forma e coloração das folhas! Reparem nas imagens a seguir: 

Cada tipo de uva tem uma folha diferente, esta era a resposta esperada. 
Mais um desafio lá no final! 
Os Vinhos 
Esta é, estatisticamente, a região que recebeu mais notas 100 do crítico Robert Parker. Há uma lenda sobre sua preferência por este tipo de vinho, na verdade, um gosto bem universal: são fáceis de beber e harmonizar com uma boa refeição, embora sejam encorpados, pedindo um clima mais ameno. Nada de calores tropicais. 
Hermitage 
Um dos produtores que se destacam é M. Chapoutier, com seus Ermitage (ou L´Hermitage). Produz vários vinhos sob esta denominação, destacam-se o L’Ermite e o fabuloso Le Pavillon, ganhador de nada menos que 4 notas 100, safras de 1989, 1990, 1991 e 2003. 

Descrito como um vinho de cor púrpura escura com aromas predominantes de flores silvestres, frutas negras, grafite e trufas. Em boca, uma textura excepcional, muito encorpado e rico. Levemente adocicado com taninos e acidez em perfeito equilíbrio. Um fora de série destinado aos que tem paciência de esperar 10 ou 15 anos para prová-lo e, quem sabe, continuar bebendo nos próximos 50 a 100 anos. Um vinho que pode ser guardado por 60 anos sem problemas. Monumental. 100% produzido a partir da Syrah. 
Côte Rôtie 
Outro grande produtor é a E. Guigal, um dos nomes mais respeitados na denominação Côte Rôtie. Três de seus vinhos receberam 21 notas máximas em diferentes safras: La Landonne, La Turque e La Mouline. 

São obtidos a partir da Syrah, unicamente. Descritos como vinhos de coloração vermelha profundamente escura, com os característicos aromas intensos de frutas negras, alcaçuz, especiarias orientais e algo defumado ou enfumaçado. No palato são concentrados, com bom ataque, taninos firmes e acidez equilibrada. Segundo o produtor, a mais perfeita expressão possível de cada terroir. Vinhos fantásticos! Enorme potencial de guarda: 30 anos. 
Premiações: 
La Landonne 1985, 1988, 1990, 1998, 1999, 2003, 2005; 
La Mouline 1976, 1878, 1983, 1985, 1988, 1991, 1999, 2003, 2005; 
La Turque 1985, 1988, 1999, 2003, 2005. 

Chateauneuf-du-Pape 
Dificílimo selecionar um representante desta denominação. Depois de um longo período com vinhos abaixo da crítica, fraudados e sem expressão, os produtores reunidos promulgaram a primeira região demarcada da França (AOC), que serviria de base para as demais. Muitos anos depois e com grandes esforços, estes vinhos voltariam a brilhar, tornando-se um ícone do Rhône. 
Seguindo a legislação, podem ser usadas até 13 uvas diferentes no corte, mas somente estas: Cinsaut, Counoise, Mourvèdre, Muscardin, Syrah, Terret Noir, Vaccarèse, Bourboulenc, Clairette, Picardan, Piquepoul, Roussanne e Grenache. Podem ser usadas as varietais tintas, brancas ou rosadas indistintamente. Existe um Châteauneuf branco, elaborado com varietais brancas unicamente. 
O Château de Beaucastel (Famille Perrin) é o único produtor que realmente elabora seus vinhos com as 13 castas. Talvez por isto seja muito famosos nesta região. Um dos mais premiados somente é produzido em grandes safras, o Hommage à Jacques Perrin. 

Com uma coloração entre o azul escuro e o púrpura, apresenta aromas suntuosos que vão desde as frutas negras passando por assados, especiarias, trufas e incenso. O paladar é muito encorpado, corretamente equilibrado, trazendo sabores de frutas frescas e um interminável final. Muitos já afirmaram que dariam a vida para provar um destes. Infelizmente a produção é muito pequena, atingindo a 500 caixas no máximo. Loucura! 

Há muitos outros vinhos maravilhosos nesta região. Poderíamos incluir as regiões de Cornas, Gigondas e Condrieu, entre outras. Importante é lembrar que um vinho com denominação genérica Côtes do Rhône vale a pena experimentar. 
Semana que vem vamos conhecer um trio de uvas da Alsácia. Enquanto isto: 
Desafio para esta semana: 
Este é infinitamente mais fácil que o anterior. Tentem descobrir o que há em comum com os vinhos de Châteauneuf-du-Pape, Discos Voadores e um vinho da Califórnia. 
Curioso e divertido! 

Dica da Semana: um Syrah elaborado pelo rival de Chapoutier. 

Le Petit Jaboulet Syrah 2008 
Produtor: Paul Jaboulet Aîné 
País: França 
Região: Rhône 
Paul Jaboulet rivaliza com Chapoutier pelo posto de melhor produtor do Rhône. Seus vinhos estão entre os melhores da região. Um achado de ótima relação custo x benefício. Classificado como Vin de Pays, tem interessante complexidade, bom ataque de boca e nariz.

Syrah a poderosa


Esta é uma uva que não pertence aos grupos de Bordeaux ou da Bourgone e que produz vinhos, em todo o mundo, com qualidade igual ou superior aos citados. Vamos conhecer um pouco mais desta casta que origina vinhos exuberantes, musculosos e encantadores. 
Duas denominações são empregadas Syrah e Shiraz. O segundo nome é o mesmo de uma cidade do Irã, levando a crer que sua origem estaria ligada àquela região. Estudos muito recentes, realizados na Universidade de Davis, Califórnia, mapeou o DNA até sua origem: um cruzamento natural entre as castas, Durezam da região de Ardéche (pai) e Mondeuse Blanche da região da Savoia (mãe). Portanto, uma casta tipicamente francesa. 
Ainda existem várias questões, a respeito desta uva, envoltas em lendas e mistérios, por exemplo, não se conhece a época de seu surgimento. Especula-se que já existiria no tempo de Plínio, o Velho (Caio Plínio Romano), 77 DC. Também não se sabe como chegou à região do Rio Ródano (Rhône), considerado como seu habitat. Produz vinhos encorpados e de coloração profunda com sabores de frutas negras, pimenta e um pouco enfumaçado. 
Em outras regiões do mundo, os Syrah podem variar do intenso ao delicado, conforme a linha a seguir:

África do Sul –> Califórnia –> Sul da França –> Vale do Rhône –> Austrália 
Delicado —————————————————————> Intenso 

Segundo os grandes críticos e especialistas, a melhor expressão desta casta está no Rhône, principalmente na região da Côte Rôtie (Encosta Assada). Mais para o sul é encontrada em cortes com outras varietais como Grenache, Mourvèdre e Cinsault, entre outras. 
Onde ela brilha? 
No mapa abaixo podemos entender a extensão desta região que é cheia de contrastes. Começamos na Côte Rôtie, próxima à cidade de Lyon. 

Aqui a Syrah é a única protagonista. São 5 áreas de vinhedos ou Crus: Côte Rôtie, Hermitage, Cornas, Saint Joseph, e Crozes-Hermitage. O terreno é montanhoso exigindo a adoção de patamares para o plantio. 

O vale termina ao sul, na região de Chateauneuf Du Pape, o Novo Castelo do Papa, com geografia plana e múltiplas denominações. Novas uvas fazem companhia à Syrah e os vinhos aqui produzidos são quase um oposto aos da região mais ao norte. 
Para muitos da minha geração, um Chateauneuf talvez tenha sido o primeiro vinho saboreado com prazer, por isto mesmo, há uma identificação particular com toda esta região do Rhône: para o meu gosto pessoal, são vinhos inesquecíveis! 

Semana que vem trataremos deles. 
Desafio da Semana passada: 
A Campeã foi a leitora Maria do Carmo, do Rio de Janeiro. Sua resposta foi completíssima. (os meus comentários estão em vermelho) 

“Topei o desafio e fui pesquisar, já que não tinha a menor ideia e, pra falar a verdade, nunca tinha reparado. Fui pesquisar e descobri um monte de razões”: 
1- É um remanescente histórico da era em que as garrafas eram feitas artesanalmente, sopradas através de um cano. Essa técnica deixava uma ponta na base da garrafa, fazendo com que fosse necessária a concavidade para que essa ponta não arranhasse a mesa ou deixasse a garrafa instável (sem equilíbrio). 
Esta é a resposta correta. Um bom mestre soprador poderia achatar o fundo de uma garrafa sem problemas, mas ela continuaria com uma pequena marca que arranharia uma mesa. Além disto, as garrafas de fundo chato são menos estáveis. 
Hoje em dia não há mais sopradores, mas mantiveram o recesso por tradição e para melhorar a estabilidade. No caso do Champagne é mandatório, pois aumenta a rigidez da garrafa para suportar a pressão exigida pelo espumante. 
Há mais um fato curioso. Na foto do desafio dá para perceber umas pequenas ranhuras na borda do recesso. São equivalentes aos frisos de um pneu de automóvel, servindo para deixar a água passar. A origem deste detalhe vem de muito longe: as primeiras garrafas patinavam numa superfície molhada, muitas vezes caindo e quebrando. 

Vamos às demais descobertas de Maria do Carmo: 
2 – Teria a função de deixar a garrafa mais estável, já que uma pequena imperfeição na mesa seria suficiente para desestabilizar uma garrafa de fundo plano. 
Correto, já explicado acima; 
3 – Consolida os sedimentos em um anel espesso no fundo da garrafa, diminuindo a quantidade de resíduos despejada nas taças, ao ser servido o vinho. 
Esta é uma consequência, só funciona dentro de certos limites; 
4 – Aumenta a resistência das garrafas, permitindo que armazenem vinhos ou champanhe com pressão mais elevada. 
OK! Já explicado; 
5 – Mantém as garrafas fixas em pinos de esteiras condutoras nas linhas de produção onde as garrafas são preenchidas. 
Está mais para lenda… 
6 – Acomoda os dedos, facilitando o serviço do vinho. 
Outro uso inventado por “gente de muito requinte”…, não é uma boa forma de servir vinhos; 
7 – De acordo com a lenda, a concavidade era usada pelos servos. Eles frequentemente sabiam mais que seus mestres sobre o que se passava na cidade e, com o dedo colocado na concavidade, sinalizavam caso o convidado não fosse confiável. 
Lenda; 
8 – Diminui o volume real da garrafa dando a falsa impressão de que se está levando mais vinho. 
Verdadeiro, embora o propósito não fosse o de enganar o consumidor e sim tornar a garrafa maior ou com formato ligeiramente diferente; 
9 – As tavernas possuíam um pino de aço verticalmente fixado no bar, onde as garrafas vazias teriam seus fundos perfurados de modo a garantir que não seriam cheias novamente. 
Outro uso não confirmado, mas plausível; 
10 – A concavidade age como uma lente, refratando a luz e tornando a cor do vinho mais chamativa. 
Pouco provável, seria necessária a iluminação pelo fundo. Se funcionar, só para garrafas transparentes;
11- Diminui a chance de a garrafa ressonar durante o transporte diminuindo a possibilidade de quebra durante o transporte. 
12- Permitia o empilhamento mais fácil das garrafas em porões de navios, sem que rolassem ou quebrassem. 
Pouco provável: garrafas são transportadas em caixas e embaladas individualmente. Mas não há dúvida que ficam mais resistentes com o recesso. 
Desafio para esta semana: 
Estamos no meio de um vinhedo, com várias espécies de uvas plantadas. Como distinguir rapidamente cada casta? Existe um recurso de campo, empregado por agrônomos, ampelógrafos e plantadores em geral. Algum leitor se arrisca? 

Dica da Semana:um ótimo vinho desta região para ir aguçando o nosso paladar. 

Côtes du Rhône St Esprit 2009 
Produtor: Delas Frères 
Castas: 75% Syrah e 25% Grenache 
Notas de Degustação: Cor rubi carregada de especiarias e frutas negras no aroma, e um final de boca maravilhoso. Potencial de guarda de 7 anos. 
Harmonização: carnes grelhadas, vitela recheada, coelho com molho de ameixas. 
RP – 90 pontos

Lidando com os Enochatos

Este é um fato quase inevitável: à medida que vamos aprofundando no mundo do vinho, esbarramos com um determinado tipo que se acha superior aos demais. Eles aparecem em qualquer lugar, nas degustações, nas festividades, na mesa vizinha no restaurante, são onipresentes. 
Para lidar corretamente com esta situação, precisamos conhecer a personalidade de um bicho destes. Em geral, são eles que se intrometem oferecendo um comentário que ninguém solicitou. Podemos ter certeza que frequentaram algum curso sobre vinhos e, a partir daí, acham que sabem mais que todo o mundo. Muitas vezes nos deixam em situações embaraçosas, por exemplo, ao comentar a qualidade de um vinho servido num evento, na frente de quem selecionou a bebida (ele nunca vai estar satisfeito com qualquer vinho que lhe sirvam) afirmando que outro vinho seria mais adequado. 
Se houvesse um manual de psicologia, esta atitude seria qualificada como uma autodefesa que esconde as suas deficiências enológicas. Simplificando, o enochato não entende de nada, mas gosta de cantar de galo. Isto não torna as coisas mais fáceis, mas podemos tomar algumas atitudes para conviver com o tipo. 

1ª – Nunca beba vinho com um Eno Chato. 
Este é o melhor conselho: evite-os. Nem sempre será possível e algumas vezes teremos que caminhar pelas raias da má educação, mas é preferível não desarrolhar uma garrafa na presença de um deles: pode ser um desastre. A saída ideal é adotar uma atitude sarcástica e afirmar, na lata: com você não bebo vinho, prefiro abrir uma cerveja. 
Além do consumo, devemos evitar conversas sociais sobre esta bebida, ao menor descuido, lá vem ele querendo ensinar padre a rezar missa. Haja paciência… 
Se for inevitável a sua companhia… 
2ª – Desafie-o: faça o teste da prova às cegas. 
Mesmo um grande conhecedor de vinhos vai ter muito trabalho para reconhecer a uva e a origem de um vinho provado no escuro. Baseado nisto, uma das maneiras de calar o nosso inconveniente companheiro é desafiá-lo para uma provinha. Mas não podemos facilitar as coisas, se ele acerta estamos perdidos… 
Um bom truque é usar um vinho de corte para o teste. Preferencialmente um fora do circuito mais conhecido. Um bom vinho português com aquelas uvas que só tem por lá é tiro e queda. 
A nosso favor está o fato que o personagem de hoje poderá ser facilmente desmascarado na frente de todos. 
Se nada disto resolver, seguimos com mais uma sugestão. 

3 ª – Bombardeie com muitas dúvidas. 
Todo enochato é insatisfeito com a vida e reclama das coisas mais bobas. Se prestarmos atenção, ele mesmo vai nos fornecer a munição adequada para enfrentá-lo. A lista de questões tem que ter duas características: 
1 – devem ser dirigidas à pessoa, jamais pergunte numa forma genérica ou impessoal; 
2 – usem sempre o modo negativo, por exemplo, por que você não gosta disto? 
Algumas sugestões que podem ser usadas livremente:
– Por que razão você não bebe vinho desta safra?
– O que você não aprecia nos vinhos (cite qualquer país)?
– Como é mesmo a sua explicação para não comprar vinhos de tampa de rosca? 
Só precisamos estar seguros de conhecer as respostas corretas e não abusar, neste caso, o feitiço pode virar contra o feiticeiro. A manobra é para obrigá-lo a contar o maior número de abobrinhas possível, ridicularizando-o. 
4ª – Chame-o à razão 
Como eles se acham os donos da verdade, nem sempre trazê-los à razão é uma tarefa fácil. Mas vale a pena tentar se os argumentos forem sólidos. Como o negócio deles é criticar, nunca se dão conta de um velho ditado que diz: cada coisa em seu lugar. Adaptando para o nosso relato, existe um vinho para cada situação. 
Um exemplo clássico é um evento, como num casamento, em que um vinho mediano é servido. Bem entendido que isto é o correto, mas eles sempre querem algo superior – criticar um vinho que custa vinte ou trinta reais não tem graça… Este é o momento de imprensar o seu chato favorito: O que você queria que servissem? Um Chateau Petrus? (ou outro vinho do mesmo nível). 
Quase sempre funciona, mas tem umas almas empedernidas! 

5ª – O Contra–ataque: mas com as suas regras. 
Esta jogada, se bem executada, é um xeque-mate. Vamos usar algumas expressões bem genéricas, de grande efeito, para confundi-lo. A trama é nos passarmos pelo expert acabando com a graça de sua encenação. Temos que nos antecipar ao que ele poderia criticar. 
Eis uma boa lista, mas antes uma recomendação: não abusem! Podemos ser chamados de enochatos também:
– Este vinho precisa respirar um pouco. (podemos usar em qualquer degustação de tintos)
– Está jovem demais, ganharia muito com mais alguns anos na garrafa! (idem)
– Aromas de pera e maçã. (ideal para Chardonnay)
– Muito maracujá e frutas cítricas. (Sauvignon Blanc)
– Querosene! (Riesiling Alemão ou Alsaciano)
– Toneladas de frutas vermelhas. (aplica-se a qualquer Pinot Noir)
– Muita/o: terra/trufa/azeitona/herbáceo/mineral. (para qualquer tinto do Velho Mundo)
– Taninos domados. (idem)
– Refrescante e com boa acidez – óbvio que não passou por madeira. (use com a maioria dos brancos jovens, precisamos ter certeza que não foram barricados)
– Amanteigado. (idem para brancos que passaram em madeira)
– Ótimo no nariz. (somente se realmente for aromático)
– Este vinho pede uma comida. (esta é clássica, uso universal) 
Se a situação chegou ao extremo, podemos apelar para esta saideira:
– Certamente você não leu a última Coluna de Vinhos do Tuty… 

Dica da Semana: para enochato nenhum botar defeito. 

Gayda Syrah 2009 

Produtor: Domaine Gayda País: 
França / Languedoc-Roussillon 
Vinhedos: Brugairolles (200m de altitude) e La Livinière (250m de altitude) 
Vinificação: Maceração a frio por uma semana. Fermentação natural com temperatura de 26-28°C. Maturação: 10% permanece em barricas de carvalho de 1, 2 e 3 anos por 9 meses. 90% permanecem em tanque com as borras. 
O saboroso Syrah do Domaine Gayda foi um dos únicos 9 vinhos franceses que mereceram a medalha de ouro no concurso Syrah du Monde, comprovando sua ótima relação qualidade/preço. Encorpado, com camadas de frutas negras e grande frescor, é uma bela descoberta para os amantes da casta Syrah.

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