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Confrarias valem a pena?

Pertencer a uma confraria ou mesmo organizá-la é quase uma certeza na vida de um Enófilo de boa cepa. Nada melhor que degustar um belo rótulo na companhia de bons amigos, em ambiente agradável e com alguns petiscos para harmonizar.

Uma confraria é tudo isto e muito mais, basta ter um pouco de imaginação e uma atitude positiva para, com a força de um grupo, descobrir novos e interessantes caminhos.

Organizar uma confraria é muito simples, basta reunir um grupo, escolher o local e as garrafas e deixar acontecer. Difícil é mantê-la viva, criando desafios a cada encontro, de tal forma que todos fiquem na expectativa do como será o próximo.

Alguns truques são quase óbvios, por exemplo, fazer eventos temáticos abrangendo vinhos e alimentos. Outro caminho é convidar algum especialista para dar uma aulinha sobre o que vão provar. Pode ser um Sommelier conhecido, o simpático vendedor da loja onde compram ou o professor de um curso sobre vinhos.

A escolha do local do encontro também é chave para o sucesso. Uma sugestão, bem aceita, é fazer um rodízio entre os confrades: a cada encontro, um se encarregará de escolher o local e o que será servido. Claro, notas serão atribuídas para cada encontro e um “vencedor” será declarado.

Uma boa confraria pode (e deve) ir além das reuniões periódicas. Um dos pontos fortes é usar a força de um grupo para obter algumas vantagens. Aqui estão algumas delas:

Comprar vinhos em caixas – sempre há descontos para caixas fechadas, seja diretamente na vinícola ou em lojas especializadas. Há, também, a possibilidade de se obter frete grátis, em algumas situações. A compra não precisa ser de um único tipo de vinho, caixas mistas são comuns;

Passeios e viagens – grupos são sempre bem-vindos e, na maioria das vezes, há bons descontos nos ingressos e degustações. Outra grande economia se faz no transporte; alugar uma van é mais interessante do que diversos carros. Dependendo da negociação, os preços de passagens e hospedagem podem ser mais interessantes para um grupo do que individualmente;

Aluguel de espaços para eventos – embora não seja exatamente uma vantagem, dividir o custo por todo o grupo pode viabilizar muita coisa, por exemplo, um curso, uma degustação voltada para algum produtor específico, outros temas como azeites, gastronomia etc.

Alguns subprodutos interessantes:

– Possibilidade de uma vinificação dedicada à confraria, com rótulo personalizado;

– O mesmo raciocínio se aplica para taças e outros acessórios, como decantadores, saca rolhas, bolsas para transporte de vinhos e muito mais.

A pegadinha fica por conta do trabalho para organizar isto tudo, ou seja, não é mais só degustar bons vinhos…

Dois fatores são fundamentais para o sucesso de qualquer confraria, não importando, muito, o tamanho dela:

– Um bom nome;

– Alguém que assuma as rédeas, pelo menos, no início.

Saúde e bons vinhos!

 CRÉDITOS:

Imagem de Freepik

Masterclass de Shochu e Awamori

Para ser um apreciador de vinhos, não basta sacar a rolha e degustar. Temos que nos manter atualizados com as tendências do mercado, sempre dinâmico, e visitar outras culturas, conhecendo novas bebidas alcoólicas, sempre que possível. Enófilos de boa cepa tem um bom conhecimento sobre vinhos e outros fermentados e destilados.

Dentro deste espírito, participamos de uma Masterclass sobre duas bebidas japonesas, o Shochu e o Awamori. Foi um evento da Associação de Produtores de Saquê e Shochu do Japão (JSS), The Shochu Academy Brasil (@theshochuacademy), realizado pela Tabiji e pela Mega Sake, com o apoio do Consulado Geral do Japão, no Rio de Janeiro, onde foi ministrada. Roberto Maxwell (@robertomaxwell) foi o palestrante principal. Participaram, também Fabio Ota (@megasake) e Yasmin Yonashiro (@yasminyonashiro)

Embora seja o “Sake” a bebida mais conhecida pelos que apreciam a gastronomia japonesa, fomos surpreendidos ao descobrir que o nome correto desta deliciosa bebida a base de arroz é, na verdade, Nihonshu Sake. A palavra “sake” significa, apenas, bebida alcoólica.

Shochu, outro destilado, é o mais consumido no Japão. Tem um caráter mais popular e pode ser elaborado a partir de diversas bases, como batata doce, cevada, trigo sarraceno, açúcar mascavo e arroz.

Há algumas teorias sobre como a técnica de destilação, uma descoberta dos povos árabes, chegou até o oriente: poderia ter vindo diretamente do Oriente médio ou pela península coreana.

O ponto mais interessante fica por conta da forma como os japoneses passaram a usar este técnica como maneira de aproveitar as sobras de alimentos: em vez de estocá-los, o que significava curtos prazos para sua utilização, preferiram transformá-los em álcool, que duraria muito mais e traria novas formas de consumo.

O Shochu é exatamente isto, uma bebida obtida a partir do cozimento de um legume ou grão, seguido de uma fermentação muito especial onde é introduzido um fungo, o Koji,  e uma levedura. Depois, este mosto é destilado em Alambiques, unicamente.

O Awamori, outro destilado, somente é produzido na região de Okinawa, a partir de um arroz tipo tailandês, diferente dos que produzem o “sake”.

Os teores alcoólicos são elevados, em torno de 25% para o Shochu e 30% ou mais para o Awamori.

Muito interessante é a forma como são consumidos na origem: misturados com água morna, ou fria. Raramente são degustados puros. Ao diluir e aquecer levemente esta bebida, os aromas e sabores são realçados.

Nada impede, entretanto, que novas formas de consumo sejam criadas, como elaborados coquetéis. A The Shochu Academy Brasil pretende trazer, para o Rio de Janeiro, o curso completo que já existe em São Paulo, onde é estimulada a parte de mixologia, como forma de divulgar este produto no nosso país. São poucos importadores, atualmente, sendo que o Shochu de batata doce não pode ser comercializado no Brasil.

O preço é alto, em comparação com os do país de origem. Há custos elevados de transporte, é uma bebida delicada que não tolera altas temperaturas, acrescidos dos já conhecidos impostos de importação.

A parte final da Masterclass foi uma degustação dirigida.

Quatro amostras para degustarmos às cegas, num ritual muito semelhante ao de um vinho. Chamo a atenção para a folha, onde cada copinho está sobre uma imagem de “olhos” de cor azul: mostra a transparência da bebida.

Cada uma das tacinhas tinha um Shochu diferente. A técnica consistia em tentar identificar, primeiro, pelos aromas. Só então deveríamos provar e confirmar.

Mesmo para um olfato treinado, não foi tarefa fácil. Os aromas eram bastante sutis, mesmo aquecendo um pouco o recipiente com a ajuda da mão em concha. No palato, era necessário deixar o gole passear um pouco pela boca. De certa forma o álcool predominava no primeiro contato.

Divertido e muito instrutivo. Eis a relação do que foi provado:

A – Iichiko Shochu Silhouette – elaborado com cevada, 25% ABV. Provincia de Oita. Depois de algum treino, percebe-se notas aromáticas semelhantes às de uma cerveja artesanal;

B – Kazehakuba – elaborado com arroz, 25% ABV. Província de Miyazaki. Notas adocicadas nos aroma. Muito redondo e suave no paladar;

C – Tensho soba Shochu – elaborado a partir de trigo sarraceno, 25% ABV. Província de Miyazaki. O mais interessante de todos. Claras notas de “padaria”, bem semelhantes às de um bom Champagne. Paladar elegante e agradável.

D – Mizuho Gold – Awamori, 30% ABV. Província de Okinawa. Alcoólico com sabores marcantes. Foi envelhecido em potes de cerâmica num sistema que remete a Soleira, típica do Jerez: o produto final a ser engarrafado é um blend de diversas destilações.

Saúde, bons vinhos de bons Shochus!

Semana que vem voltamos aos vinhos

Ouro, incenso e mirra. E o vinho?

Melquior, Baltasar e Gaspar ofereceram o que simbolizava a riqueza, a fé e a imortalidade. Deste gesto nasceu a tradição de trocar presentes no Natal. O vinho não foi um deles e os três Reis não poderiam, naquele momento, imaginar a importância deste néctar na vida adulta de Jesus.

Presentar uma bela garrafa no Natal é muito mais que cumprir um rito. Tem um forte simbolismo que nos remete a uma das histórias mais importantes da humanidade. Logo, acertar este presente não é uma tarefa simples e corriqueira.

Vamos ajudar!

Primeiro respondam esta pergunta: vocês conhecem as preferências gastronômicas de quem vão presentear?

Esta é uma pista importante. Tem gente que não consome determinados alimentos, outros preferem vinhos tintos aos brancos e tem, ainda, uma turma mais exigente, muito preocupada com as origens de alimentos e bebidas. Para cada um deles, há um vinho ideal.

Os “carnívoros” ficarão muito felizes ao receber bons tintos que combinem com seus assados. O mais clássico de todos é o Cabernet Sauvignon. Aqui no Cone Sul, Chile e Argentina elaboram verdadeiras joias com esta casta. Não podemos nos esquecer dos poderosos Malbec e nem dos Tannat elaborados no Uruguai. Uma outra opção, menos comum, seria um Tempranillo Crianza, espanhol.

Para a turma dos peixes e frutos do mar os brancos são o presente desejado. Há diversas boas opções começando pelos clássicos Sauvignon Blanc e Chardonnay. Brasil, Argentina, Chile, Austrália e Nova Zelândia são todos campeões nestas uvas. Brancos portugueses são perfeitos, não só, com o tradicional bacalhau, mas com diversas outras receitas com pescados: Alvarinho, Loureiro, Maria Gomes, Arinto e muitas outras varietais.

Os apreciadores de carnes brancas vão gostar destes mesmos vinhos, assim como o grupo da dieta vegetariana.

Se o alvo do presente é um apaixonado por vinhos, então é o momento de quebrar as regras e presentear com rótulos incomuns. Será preciso garimpar um pouco. Uma boa sugestão são os excelentes vinhos eslovenos e croatas.

No nosso país, pequenas vinícolas boutiques estão produzindo vinhos que nada devem aos dos nossos vizinhos. Já existem diversas lojas especializadas neste segmento. Uma busca na Internet indicará bons resultados.

Não podemos deixar de lado os produtores dos vinhos naturais. Duas estrelas se destacam: os vinhos laranja – brancos que foram vinificados em contato com as cascas das uvas – e os Pét-Nat, deliciosos espumantes obtidos por uma técnica ancestral. Este é o caminho trilhado por aquele grupo preocupado com as origens de tudo que consomem.

Um presente interessante para colocar na roda do “amigo oculto ou secreto” é um “bag-in-box”, também conhecido como vinho em caixa. Com excelente relação custo/benefício, pode se tornar a grande farra da noite se o ganhador for generoso e abrir a torneirinha. Há ótimas opções à venda, nacionais e importadas.

Alguns conselhos finais.

Não gastem mais com um bom vinho do que o seu limite pessoal. Um rótulo muito caro poderá deixar o presenteado numa situação pouco confortável. Optem por uma linha que vocês degustariam sem problemas.

Não esperem que o presente seja aberto e oferecido a todos. Vinho é visto como algo pessoal. Em grandes reuniões como as comemorações de fim de ano, com muitos convidados, a garrafa mal daria para todos, resultando numa insatisfação geral. Excetuam-se os “bag-in-box”.

Se nenhuma das recomendações acima lhes ajudou efetivamente, não desanimem, existem vinhos coringas, como um bom rosado ou um espumante. Além destes, outras castas clássicas são sempre apreciadas por quem gosta de vinho: Merlot, Riesling e Pinot Gris.

Não é ouro, incenso ou mirra, apenas um vinho, que sempre traz boas lembranças.

Boas festas e feliz ano novo!

Esta coluna semanal entra em recesso até janeiro.

Créditos:

Imagem de KamranAydinov no Freepik

Tirando a poeira! – os eventos de vinho estão de volta!

Demorou, foram mais de dois anos de saudades, mas valeu a pena!

No mês de setembro, em Bento Gonçalves, aconteceu a Wine South America, a maior feira de vinhos da América. No início de outubro foi a vez da Pro Wine, em São Paulo, outra espetacular feira. Infelizmente, o preço proibitivo das passagens aéreas nos impediu de participar de ambos os eventos.

Mas o Rio não ficou de fora deste circuito. Duas ótimas degustações aconteceram no espaço de uma semana.

A primeira foi a 10ª edição do Vinhos & Sabores de Portugal. Foram 34 vinícolas que apresentaram seus vinhos no espaço Jardins do Citta Office Mall.

Além dos vinhos, havia queijos e azeites portugueses, um bom buffet livre e uma música, ao vivo, deixando tudo num clima muito simpático e amigável.

Desde a compra do ingresso, pela Sympla, (excelente, ao contrário de outras que deveriam se chamar “ingresso errado”) o acesso, a recepção e a qualidade dos vinhos, estavam irretocáveis, merecendo o nosso aplauso.

Como era impossível provar todos os mais de 350 rótulos, representando as regiões do Tejo, Vinhos Verdes, Beira Interior, Douro, Lisboa e Trás-os-Montes, fizemos uma seleção buscando produtores que não nos eram familiares. Como de hábito, a primeira passada foi só com brancos e rosados.  Na segunda, entraram os tintos.

Três produtores nos agradaram muito, não só pela qualidade dos vinhos como pela ousadia de alguns deles.

Quinta da Ribeirinha – Tejo – ofereceu um delicioso “line up” com vinhos das castas tradicionais de lá e outros com uvas que são raras em Portugal: Riesling, Gewürztraminer, Viognier, Pinot Noir, Sauvignon Blanc (diferente de tudo que já provamos), Pet-Nat, Blanc de Noirs e vinho laranja.

O Vale de Lobos, branco de Fernão Pires, estava excelente.

A Quinta da Falua, outra produtora do Tejo, também deixou boa impressão com a variedade e qualidade de seus vinhos. A linha “Sommelier Edition” foi a mais apreciada e tem ótima relação custo-benefício.

A terceira vinícola que entrou para a nossa lista “top” é a Quinta do Cardo (o site está em construção), da Beira Interior. Entre tintos, brancos e rosados, provamos, apenas, o seu único branco, obtido a partir da casta Síria, uma uva muito pouco conhecida por aqui.

Esta Quinta estava um pouco esquecida por seus donos originais. Foi arrematada por um grupo que a reativou e colocou ordem na casa. Esta é uma região vinícola muito interessante de Portugal. Os vinhedos estão situados num planalto a cerca de 750 metros acima do mar e a produção é orgânica.

O branco reserva é de degustar “rezando”.

O segundo evento que participamos foi o “Vinhos Verdes no Brasil”: Master Class e degustação livre. Este foi um encontro voltado para profissionais.

Na Master Class foram degustados doze vinhos, entre brancos e rosados, em diversos “flights”.

No primeiro, provamos as castas Azal, Loureiro e Avesso. No segundo foram três Alvarinho. A terceira sequência trouxe cortes variados incluindo as uvas Trajadura e Arinto. Para finalizar, dois rosados da casta Espadeiro, um tranquilo e um espumante.

Os destaques vão para todos os vinhos provados, inclusive o único tinto presente na degustação livre, elaborado com Vinhão, apresentado pela Adega Cooperativa Ponte da Barca.

Vinhos Verdes são perfeitos para o clima brasileiros. Muito refrescantes, com um extenso bouquet de aromas e sabores, harmonizando corretamente com a nossa culinária de frutos do mar, aves e suínos.

Mais que degustar bons vinhos, estes dois encontros foram uma grande oportunidade para rever antigos parceiros que andavam sumidos por conta da pandemia. No meu caso, trouxe boas lembranças da última viagem a Portugal, quando voltei a provar alguns dos vinhos da Quinta de Lixa e da Campelo, que havia degustado por lá.

Nesta aventura contei com a colaboração de José Paulo Gils e Pedro Arthur Sant’Anna.

Saúde e bons vinhos!

Vinhos Verdes no Brasil

Esta Master Class será voltada para profissionais: Sommeliers, retalhistas e distribuidores.

Data: 06/10/2022

Horário: 15:00 às 17:30

Para se inscrever, envie e-mail com suas credenciais para Shirley Legnani – slegnani@riverglobal.net

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