Existe um antigo ditado popular que trata da única certeza da vida – a de que um dia não estaremos mais por aqui. Não há como negar. Mas podemos fazer uma paródia: o certomesmo é que sempre vai haver alguém para criticar o nosso trabalho.
No mundo do vinho isto é mais que fato, é a realidade. Alguns críticos ou experts são tão influentes que chegam a ditar o rumo a ser seguido por produtores.
Para os consumidores tornaram-se fundamentais. Cabem a eles testar os vinhos que pretendemos beber. Se a pontuação ou nota for alta, Oba! Vamos em frente. Caso contrário, qual é mesmo o outro vinho que ele achou melhor?
Este é um caminho fácil, quase sem erros ou percalços. Mas é realmente isto que o leitor quer provar? O paladar de determinado crítico é o mesmo que o seu?
Vamos conhecer um pouco mais sobre alguns destes curiosos personagens.
Robert Parker, Jancis Robinson, Hugh Johnson e Stephen Tanzer são conhecidos internacionalmente. Na América do sul, Patricio Tapia (Chile), Fabricio Portelli (Argentina) e Jorge Lucki (Brasil) são nomes respeitados.
O decano desta lista é Johnson, um inglês da geração de 39. Escreve desde 1960 sendo considerado o autor de maior sucesso neste segmento. Publica, anualmente, o Guia de Vinhos (Ed. Nova Fronteira, edição 2008), seu livro mais conhecido. A edição de bolso é quase uma bíblia dos enófilos. Suas informações são atuais e as indicações precisas. Adota um sistema de classificação com 4 faixas, representadas por *, não sendo um entusiasta dos sistemas de pontuação numérica. Sua influência é grande. É até hoje diretor do respeitado Chateau Latour.
Jancis Mary Robinson, nascida em 1950, é cidadã britânica, formada em Matemática e Filosofia pela Universidade de Oxford. Entrou para o mundo do vinho em 1975, tornando-se editora assistente da revista Wine & Spirits (Vinho & Destilados). Em 84, obteve o título de Mestre de Vinhos, sendo a primeira pessoa fora do ciclo de produção e comércio a obter esta honraria. Seu nicho é voltado para a educação e material enciclopédico. O Oxford Companion to Wine (ainda não traduzido) é referência absoluta. Editou, junto com Johnson, o completíssimo Atlas Mundial dos Vinhos (Ed. Nova Fronteira). Seu campo de influência é o consumidor.
Stephen Tanzer, norte americano, é o editor da publicação bimensal International Wine Cellar (Adega Internacional de Vinhos – links após a dica). Tem uma marcante preferência pelos vinhos da Borgonha, Piemonte (Itália), Califórnia, Estado de Washington, África do Sul e Bordeaux. Prova cerca de 10.000 diferentes garrafas por ano. Adota na sua classificação um sistema de 70 a 100 pontos, fazendo competição direta com Parker. Tem um estilo mais conciso e fácil de ler. Muito respeitado e influente é constantemente citado por outros críticos.
Robert M. Parker, Jr. é um advogado norte-americano, sessentão, considerado o mais importante e influente critico de vinhos da atualidade. Sua palavra é lei. Uma classificação negativa simplesmente faz desaparecer este ou aquele produto do mercado. Ninguém compra. Para saber sua opinião é preciso assinar a publicação Wine Advocate (Advogado do Vinho). Extremamente imparcial e justo, dizem que copiou seu estilo de outro advogado, Ralph Nader, ferrenho defensor dos direitos do consumidor. Não aceita vinho de presente das produtoras, comprando as garrafas a serem degustadas no mercado. Atribui-se a ele a criação do sistema de classificação dos 100 pontos, na verdade uma escala entre 50 e 100 pontos que leva em consideração a cor e aparência, aroma e buquê, sabor e retro gosto e o nível de qualidade ou potencial. Não há dúvidas sobre a importância deste personagem, mas dois pontos devem ser analisados com atenção:
1 – o gosto de Parker é para o mercado norte-americano, não é um paladar internacional;
2 – por ser o maior mercado comprador, este paladar acabou influenciando um série de produtores, no que foi denominado Parkerização do vinho – todos querem uma nota alta.
Mas de modo algum podemos ignorar sua opinião.
Curiosidades: pouquíssimos vinhos receberam uma nota máxima de Parker, 224 para sermos exatos. Deste lote, 69 são da região do Rhone, França e 53 rótulos, vinhos de Bordeaux. Em terceiro lugar estão alguns Californianos (EUA): 45 agraciados. A Itália, conhecida como o país de maior produção de vinhos (em volume) obteve apenas 3 notas máximas. Nenhum espumante alcançou tal distinção, e nem vinhos do Chile, Argentina, Áustria e Nova Zelândia.
Foi publicada uma biografia não autorizada dele: O Imperador do Vinho (Ed. Campus).
Seu olfato está segurado em 1 milhão de dólares…
O trio de críticos sul americano, entre outras obras individuais (muitas em português), produz um excelente guia de vinhos locais, o Descorchados (Ed Planeta). Leitura obrigatória para aqueles que apreciam as delicias destes 3 países.
Existem vários outros experts pelo mundo afora. Até mesmo esta modesta coluna, quando faz a sugestão da semana, pode ser incluída neste rol. De grande importância, também, são algumas publicações periódicas. Quem vai navegar pelo mundo do vinho não pode deixar de conhecê-las. Destacam-se a revista inglesa Decanter Magazine (links após as dicas) e a espetacular Wine Spectator, americana, que publica, anualmente, uma interessante lista dos 100 melhores vinhos (veja nos links). No Brasil, as bancas ou lojas de jornais e revistas vendem excelentes publicações como a Gula, Vino e Prazeres da Mesa.
Nas boas livrarias podem ser encontrados diversos livros e Guias sobre o assunto. Dentre os mais famosos, estão o italiano Gambero Rosso, o espanhol Guia Peñin e o português Guia de Vinhos.
Escolha o seu caminho!
Em homenagem as 69 notas 100, a dica de hoje vem do Rhone.
Cellier des Dauphins 2005
País: França
Castas: Grenache (Garnacha) e Syrah
Cor escura com traços violetas. Aroma de amoras e um pouco terroso. Estilo típico europeu, muito bom de beber. Com bom corpo, agrada ao palato, suculento e com acidez bem equilibrada. Ótimo para combinar com uma boa refeição.
A partir desta coluna, sempre que houver uma classificação ela será indicada.
Saúde !
Links citados no texto:
Atenção – todos os sites estão em inglês.
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