Mês: outubro 2011

Mudando o Foco: Derivados do Vinho – Final

O tópico de hoje nem poderia ser chamado de aguardentes vínicas, seria um desrespeito a tão nobres e importantes bebidas. São tão sofisticadas e antigas que quase ninguém mais lembra que só existem por que o vinho existe. Vamos mergulhar no interessante mundo do Cognac, do Armagnac e do Brandy de Jerez. 
O Cognac (conhaque) 
Antes de qualquer outro esclarecimento, o texto a seguir não se refere, definitivamente, à bebida homônima, popular, servida nos botequins da esquina, inclusive uma vinda do alcatrão… 

O verdadeiro conhaque só é produzido na França e está protegido por uma série de leis que regulam sua produção, denominação e até as uvas que podem ser empregadas. Cognac é o nome de uma cidade francesa, na região vinícola de Charente e Charente-Maritime, onde a bebida se originou. Deve ser produzida a partir de uma vinificação especial, muito seca, ácida e com pouco corpo (não se pode beber este vinho), obtida pela fermentação das uvas brancas: Ugni ou Trebbiano, Folle e Colombard. 
Este líquido é destilado duas vezes, em alambiques de cobre e envelhecido, por pelo menos 2 anos, em barris de carvalho, antes de ser comercializado. Só podem ser usadas as barricas que foram produzidas com madeira das florestas de Tronçais ou de Limousin. 

Destilador de Conhaque 

Classificação 
V.S. (very special) ou *** (3 estrelas) – indica uma mistura de diferentes destilações na qual a mais nova foi amadurecida por 2 anos, no mínimo, em barril de carvalho. 
V.S.O.P. (very superior old pale) – indica uma mistura de diferentes destilações na qual a mais nova foi amadurecida por 4 anos, no mínimo, em barril de carvalho, mas a idade média, dos barris, é muito mais velha.
X.O. (extra old) – indica uma mistura de diferentes destilações na qual a mais nova foi amadurecida por 6 anos, no mínimo, em barril de carvalho. Tradicionalmente, esta classe envelhece por mais de 20 anos. A partir de 2016 o tempo mínimo de amadurecimento para a destilação mais jovem da mistura, passará para 10 anos. 

Evolução da cor do conhaque 

O Armagnac (Armanhaque) 

Muitas vezes confundido com o conhaque, também herdou seu nome da região onde é produzido, na Gasconha, sudoeste da França. É obtido a partir de um vinho fermentado com as uvas Ugni, Colombard, Folle e Baco22A e destilado, uma única vez, numa coluna de destilação, seguido de longos períodos de envelhecimento. 

Coluna de destilação 

Foi o primeiro destilado a ser produzido na França, inicialmente com fins medicinais. Até hoje, acredita-se nas suas propriedades médicas que auxiliariam no tratamento da obesidade e das doenças cardíacas: a região do Armagnac tem o menor índice do mundo. (beber com moderação) Classificação 
São classificados da mesma forma que os conhaques: V.S; V.S.O.P; X.O. A estas, se acrescenta mais uma categoria: 
Hors d’âge – indica que a destilação mais jovem da mistura é envelhecida por 10 anos, no mínimo. 
O Sherry Brandy (Aguardente de Jerez) 

Quase todo produtor de Jerez faz um brandy. A curiosidade fica por conta da origem dos vinhos, que não são os mesmos utilizados para o Jerez – não se destila um Jerez. Basicamente, vem de diversas áreas da Espanha, e a uva mais comum é a Airen. Recebe o nome por ser produzido nas regiões de Jerez de La Frontera, Sanlúcar de Barrameda ou El Puerto de Santa Maria. Sua origem remonta ao período dominado pelos Mouros. Como não podiam beber o vinho ali produzido, por motivos religiosos, passaram a destilá-lo para obter álcool com fins medicinais ou para perfumaria. A história não registra quando resolveram envelhecê-lo em barris de carvalho, nascendo esta famosa bebida. 
As regras de produção são simples: 
– podem ser utilizados alambiques ou colunas de destilação, todos de cobre (destilação simples); 
– devem ser produzidos na região demarcada; 
– serão envelhecidos em barris de carvalho americano, de 500 litros, previamente usadas para o Jerez; 
– é obrigatório o uso de Soleras e Criaderas. 
Classificação: 
Brandy de Jerez Solera– é o mais jovem e frutado. 1 ano de envelhecimento e no mínimo 150mg de matéria volátil por 100 cc de álcool; 
Brandy de Jerez Solera Reserva – 3 anos de amadurecimento e 200mg de matéria volátil por 100cc de álcool; 
Brandy de Jerez Solera Gran Reserva – 10 anos de envelhecimento e 250mg de matéria volátil por 100cc de álcool; 
O Ícone 

Este é o Touro de Osborne, figura criada para promover o Sherry Brandy deste produtor. Tornou-se tão popular que hoje é adotado como um símbolo, informal, da Espanha. A bandeira com o touro é comum em estádios de futebol e outra competições esportivas. 
Serviço 
Estas são bebidas de inverno ou dias muito frios. São servidas em um copo baixo e bojudo e, na maioria das vezes, ligeiramente aquecida.

Podemos empregar um dispositivo como o da foto ou simplesmente segurar a taça com as duas mãos, por alguns minutos. 

Dica da semana: As bebidas desta categoria são extremamente caras. Algumas são vendidas em garrafas de cristal, verdadeiras obras de arte. Depois de extensas pesquisas, indicamos este produto: 

Brandy Fabuloso – Solera 
Produtor: Hidalgo / Espanha / Jerez 
Rico, macio e muito equilibrado, este belo destilado oferece grande classe e complexidade, com excelente relação qualidade/preço.

Mudando o Foco: Derivados do Vinho – 1ª parte

Nas últimas semanas mencionamos as aguardentes vínicas que compõem os fortificados. Hoje, vamos conhecê-las detalhadamente. Surgiram como subproduto do vinho, mas algumas se tornaram tão importantes que passaram a ser produzidas a partir de uma vinificação própria, dedicada. Assim, na Itália, a Grappa; em Portugal, a famosa Bagaceira e a Aguardente Vínica; na França, o Marc, o Cognac e o Armagnac; na Espanha, o sofisticado Sherry Brandy, ou Aguardente de Jerez, e o popular Orujo. No Peru e no Chile, nossos vizinhos, o Pisco. A lista é grande, mas essas são as mais conhecidas. 

O destilador

Para quem nunca visitou um alambique, ou não se lembra mais das aulas de química na época do curso científico, a foto acima dará uma boa ideia sobre esta indústria. Uma vez fermentado, o mosto é colocado nestes curiosos caldeirões, e aquecido fortemente. O vapor é coletado na tubulação superior e conduzido para um sistema de resfriamento. O resultado é um álcool de uva. Só para refrescar a memória, existe álcool de cana de açúcar, de cereais, de legumes e de quase qualquer fruta.

Coleção de aguardentes de diferentes frutas 

Comecemos pelas bebidas obtidas a partir da destilação dos bagaços: Grappa, Bagaceira, Marc e Orujo. Tecnicamente trata-se do mesmo produto. O que os diferencia são as uvas e pequenos detalhes do processo produtivo, alguns obrigatórios por lei. O Pisco sul-americano tem origem semelhante, mas é produzido de outra maneira. 
Grappa 
Existe uma lenda em torno desta bebida, que teria sido obtida, pela primeira vez, por meio de um destilador roubado do Egito, durante o reinado de Cleópatra, e levado para a cidade de Bassano del Grappa, na região do Veneto, nordeste da Itália. Estudos recentes, porém, mostram que somente depois de 1600 é que a tecnologia de destilação sofisticou-se a ponto de permitir a produção. 

Bassano del Grappa 

A União Europeia estabeleceu normas para o seu reconhecimento: 
1 – dever ser originária da Itália, da parte italiana da Suíça ou de San Marino; 
2 – deve ser destilada dos bagaços, isto é, cascas, sementes, polpa e caules das uvas prensadas para a produção vinícola; 
3 – não pode sofrer adições (água, alcool etílico, etc.). 
A destilação exige extremo cuidado, pois a presença das sementes e caules implica na obtenção de metanol, que é tóxico. A legislação italiana é muito severa a este respeito. 

Coleção de Grappas 

A Grappa é uma bebida clara. Alguns produtores, no intuito de sofisticá-la, a envelhecem nos barris usados na vinificação, do que resulta uma bebida de cor escura. No Brasil, além da produção de vinhos, os colonos italianos destilaram uma aguardente conhecida por Graspa, denominação de origem veneziana e conforme o processo do seu país de origem. Alguns adotam a denominação mais comum, Grappa. São servidas como digestivos, após uma lauta refeição, geladas ou na temperatura ambiente. Outra opção deliciosa é adicionar ao café expresso ou fazer como em Veneza: ao terminar o café, lave a xícara com uma dose e beba num só gole. 

Bagaceira 
Para os brasileiros, apreciadores de uma boa cachacinha, a Bagaceira desempenhou papel fundamental. Explica-se: foi a partir do know how português que, nos séculos XVI e XVII, aqui se instalaram as primeiras casas de cozer méis, ou destilarias de cachaça. A técnica original, aprendida com os mouros, era utilizada para produzir a Bagaceira, em Portugal. No Brasil de então, à falta de uvas, destilava-se o fermentado de cana de açúcar 

A lei portuguesa define como Bagaceira a aguardente de vinho com teor alcoólico de 35% a 54% em volume, obtida a partir de destilados alcoólicos simples de bagaço de uva, com ou sem borras de vinhos, podendo ser retificada parcial ou seletivamente. Admite-se o corte com álcool etílico potável, da mesma origem, para regular o conteúdo de congêneres. É justamente esta adição que a torna diferente da Grapa. Assim como sua irmã italiana, a Bagaceira é servida como digestivo, colocada no café ou utilizada na culinária. 

Marc e Orujo 
França e Espanha produzem versões do destilado de bagaços. Embora não tenham conquistado o mundo, são conhecidas e apreciadas regionalmente. O Marc ainda é utilizado na produção do Macvin, vinho fortificado da região montanhosa do Jura. 

O Pisco Peruano e o Chileno 
Nossos vizinhos produzem este delicioso destilado que se tornou famoso por causa de um drinque, o Pisco Sour, quase tão popular quanto a caipirinha. A curiosidade fica por conta da disputa travada entre os dois países pela origem da bebida. 
São duas bebidas na verdade, com o mesmo nome, mas diferentes matérias primas e técnicas de produção. Do ponto de vista histórico, o Pisco se originou no Peru. Os colonizadores espanhóis foram os primeiros a fabricá-lo a partir de vinhas transplantadas das ilhas Canárias. O Pisco chileno é produzido a partir de um vinho; o Peruano, a partir de um suco de uva. Ambos são deliciosos. 

Para quem gosta de se aventurar como Bar Tender, eis uma das muitas receitas do coquetel nacional do Chile e Peru: 
Pisco Sour 
Pisco – 100 ml 
Suco de limão – 100 ml 
Açúcar – 1 colher de chá (ou a gosto) 
Clara de ovo – 1/4 
Essência de rosas – 2 gotas (opcional) 
Gelo picado 
Bata tudo num liquidificador e sirva numa taça, ou copo de boca larga. Salpique canela em pó sobre a espuma. 

Dica da Semana: escolha uma! 

Grappa de Cabernet Sauvignon da Casa Valduga 
Elaborada através da destilação natural de uma das mais finas castas, a Cabernet Sauvignon, pelo processo lento e artesanal em alambiques de cobre. O efeito do solo, a ação do clima, a paciência e a atenção resultaram neste produto exclusivo e de alta qualidade. Produzido no Vale dos Vinhedos Bento Gonçalves, RS. Graduação alcoólica 40,8% vol. 

Aguardente Bagaceira Caves Aliança 
Produzido pela tradicional vinícola Aliança, a partir de uvas selecionadas. Graduação alcoólica 46% vol. 

Pisco Capel (Chile) 
O Pisco mais vendido no mundo. De sabor adocicado, trata-se de um destilado de uvas Moscatel, utilizado na confecção de inúmeros drinques, desde o mais famoso, o Pisco Sour, até a versão chilena do Manhattan, e a caipirinha. O Pisco Capel é produzido na zona pisquera do Valle de Elqui, ao norte do país. Graduação alcoólica 40% vol.

Saúde!

Vinhos Fortificados – Final

O Madeira e outras delícias 
Neste último episódio da série sobre os Fortificados, deixamos a Andaluzia e vamos para o território português da Ilha da Madeira, que batiza o seu vinho emblemático. Ele é o 3º peso-pesado deste grupo sendo tão importante quanto os outros dois. 

A vinificação nesta simpática ilha remonta à Era das Explorações (posterior aos descobrimentos). Sendo um porto obrigatório para os navios que seguiam para o Novo Mundo ou para as Índias, o vinho local abastecia os navios e, para resistirem à longa viagem, eram misturados com aguardente. Os barris ficavam, muitas vezes, no convés, sem proteção contra as altas temperaturas e sendo suavemente agitados pelo balanço das ondas. Em algum ponto não registrado da história, uma sobra da carga de vinhos retornou à Ilha da Madeira. O comerciante que a recebeu resolveu abrir uma das barricas e provar. O sabor havia mudado completamente. Estava descoberta uma nova delícia que traria fama e reconhecimento aos vinicultores locais. 
O Processo Produtivo 
As varietais usadas são: Malvasia ou Malmsey, Boal, Verdelho e Sercial, todas brancas e a Tinta Negra Mole. Cada uma vai gerar um Madeira que poderá ir do seco ao doce, dependendo do processo utilizado. O início é igual a todo e qualquer vinho, as uvas são prensadas e fermentadas. Dependendo do grau de doçura desejado pelo produtor, a fermentação pode ser interrompida pela adição de aguardente vínica. 
Por exemplo: 
Os vinhos de Sercial fermentam até quase o final, produzindo uma bebida mais clara e um pouco mais ácida; 
Os vinhos de Malvasia/Malmsey tem sua fermentação interrompida bem cedo, obtendo-se uma bebida mais escura, doce e grande acidez, o que dá equilíbrio ao excesso de açúcar evitando que se torne enjoativo. 

O que faz a diferença é o processo que segue, chamado de estufagem, quando os produtores tentam reproduzir os efeitos de uma longa viagem em climas tropicais: o vinho será aquecido até temperaturas em torno de 55 graus Centígrados! 
Existem três processos aceitos pelo Instituto do Vinho Madeira. Os vinhos comuns serão aquecidos, por um mínimo de 90 dias, em tanques de aço inoxidável ou concreto – Cuba de Calor. 
Para o vinho de melhor qualidade, emprega-se o Armazém de Calor, um galpão aquecido onde os barris de madeira de grande capacidade são submetidos a um ambiente com vapor d’água, por um período entre seis meses a um ano. 
O terceiro método, usado para os grandes vinhos, é o Canteiro. Tudo aqui é natural. Os barris são tratados ao sol, em pátios especiais. Pode durar de 20 a 100 anos para um 1ª linha ser considerado pronto. 

Canteiro 

Estilos 
O Madeira pode ser classificado pela sua doçura, idade, cor, corpo, colheita e processo de fabricação. Com tantas possibilidades, gera um pouco de confusão. Vamos apresentar uma classificação básica, que nos permitira escolher, com segurança, um bom vinho. 
Reserva – envelhecimento de 5 anos; 
Reserva Especial – 10 anos de envelhecimento e aquecimento natural;
Colheita – vinho de uma única safra com mais de 10 anos de envelhecimento; 
Frasqueira – 20 anos, no mínimo de envelhecimento. 
Segundo o teor de açúcar podem ser: seco, meio seco, meio doce e doce
Harmonização 
O Instituto do Vinho, Bordado e Artesanato da Madeira faz as seguintes sugestões: 
As combinações gastronômicas possíveis de se fazer com Vinho da Madeira são imensas e variam também em função do seu grau de doçura. Os secos, vinhos mais refrescantes, podem ser acompanhados com peixes defumados ou sushi, enquanto os mais doces combinam na perfeição com frutos secos, bolo de mel, chocolate escuro ou de leite. Os meio secos são muito agradáveis com consommé e sopa de cebola gratinada, ou ainda, com fois gras de pato ou ganso, enquanto o meio doce combina bem com suflês de queijo ou de frutos silvestres. 
Outras delícias 
A Península Ibérica é muito rica em vinhos fortificados, Portugal, por exemplo, ainda nos brinda com o excelente Moscatel de Setúbal. Da França vem o fabuloso Banyuls que é uma denominação controlada e os Macvin da região do Jura. O Marsala, da Sicília, que foi muito importante, hoje está desprestigiado. Quase todos os produtores do novo mundo fazem algum tipo de vinho licoroso: EUA, Austrália, África do Sul, Brasil e Argentina, entre outros. Alguns adotam os nomes de Porto e Madeira, o que é proibido. Caso típico brasileiro são os vinhos da marca Isidro, muito usados na culinária. O Instituto do Vinho do Porto os considera como uma fraude. No link abaixo há coleção de produtos piratas: 
http://www.ivdp.pt/pagina.asp?codPag=96&codSeccao=6&idioma=0 
(role a tela para as fotos) 
Uma interessante curiosidade vem da Argentina. A vinícola Família Zuccardi produz uma linha de vinhos fortificados, muito saborosos, mas que não teve o sucesso esperado entre os argentinos. Resultado – passaram a denominá-lo Malamado. No estilo mais seco é usado para fazer caipirinha… 

Finalizando 
Muitos leitores escreveram para esta coluna quase sempre colocando os vinhos fortificados como doces, o que não é verdade. Talvez por terem sido apresentados logo após as colunas sobre os de sobremesa, tenha gerado a confusão. Para dirimir quaisquer dúvidas, compilamos este resumo: 
Fortificados Secos e Ácidos 
Jerez dos tipos Fino, Manzanilla e Amontillado 
Madeira das cepas Sercial e Verdelho 
Fortificados Escuros, que variam de meio doce a doce 
Jerez Oloroso e Pedro Ximenez 
Porto, safra tardia, vintage 
Madeira das cepas Malvasia/Malmsey e Bual 

Dica da Semana: 

Ferraz Medium Rich Madeira 
Produtor: Madeira Wine Company País: 
Portugal /Ilha da Madeira 
Este Madeira Medium Rich é elaborado pela famosa F.F. Ferraz & Cia, responsável por alguns dos melhores vinhos Madeira de toda a história. Mostra muita tipicidade, com um agradável e típico bouquet, um palato levemente doce e excepcional relação qualidade/preço.

Vinhos Fortificados – 2ª parte

Um aperitivo por excelência 
O vinho desta semana vem da Espanha, da região da Andaluzia, que além desta deliciosa e complexa bebida, é o berço dos magníficos cavalos Andaluz, das touradas e da dança Flamenca. Conheçam o Jerez, também chamado de Sherry ou Xérès. 

Em sua legião de apreciadores, vamos encontrar nomes como o de Cristovam Colombo e Fernão de Magalhães, que teriam levado barris de Jerez em suas viagens de descobrimento. William Shakespeare, Alexandre Fleming e Edgar Allan Poe eram apreciadores desta bebida. Até no cinema vamos encontrar referências, como o personagem Mr. Banks, do filme Mary Poppins, que degustava um cálice, junto com seu cachimbo, diariamente às 18:02. Na TV moderna, a comédia Frasier usava este vinho para unir os dois irmãos após um dia de trabalho. A cena ficou tão icônica que foi usada como chavão para encerrar o seriado: quando o Jerez acabou… 
O seu nome tem uma longa e antiga história, que começa com os Fenícios. Eles plantaram as primeiras vinhas e começaram a vinificar por volta de 1100 AC. Esta prática foi mantida através dos períodos de dominação grega, cartaginesa e romana. A partir do ano 711, começa a ocupação pelos Mouros. Coube a este povo a introdução das técnicas de destilação e o desenvolvimento da bebida fortificada. A cidade onde era produzido foi chamada de Scherish, palavra de onde derivam Jerez, em espanhol, e Sherry, em inglês. A cidade, atualmente, se chama Jerez de La Frontera. A expressão La Frontera foi agregada para indicar que, naquela região, havia uma separação entre cristãos e muçulmanos.
Estilos e Processos Produtivos 
O Jerez é um vinho muito peculiar: são 3 tipos de uva, 3 solos e pelo menos 2 métodos de produção bem diferentes. As várias combinações possíveis entre estes elementos é que determinam o tipo de bebida final. Para compreendermos este complexo sistema, vamos nos guiar pelos diferentes estilos: Fino, Manzanilla, Amontillado, Oloroso, Palo Cortado e Pedro Ximenes ou Jerez Doce. 
A Pedro Ximenes é uma das uvas mencionadas. É plantada em solo do tipo barro vermelho ou em terrenos arenosos. Após a colheita, são colocadas ao sol para aumentar o teor de açúcar, um processo chamado soleo. Atingido o grau desejado, as uvas são prensadas e a aguardente vínica é adicionada ao mosto, sem fermentação. O vinho é colocado em barris, para envelhecer, obtendo-se uma bebida doce, muito aromática e saborosa. A uva Moscatel também produz um Jerez doce. 
A uva mais importante, Palomino, recebe um tratamento diferente. É plantada num solo bastante calcário, chamado Albariza. As uvas são prensadas e fermentadas em grandes barris de carvalho, com capacidade entre 500 e 600 litros, que não são totalmente cheios. Após a fase tumultuosa de fermentação, o espaço vazio permite a formação de uma película sobre o mosto, denominada Flor. O segredo desta complexa vinificação está na evolução desta película que, na verdade, é uma levedura. 

– Se a película for espessa e a cor permanecer um branco amarelado, o vinho será acrescido de aguardente (encabezado) dando origem ao tipo Fino, que é seco e de tonalidade clara. 
– Caso a cor se altere e a película for mais fina, se obtém o tipo Amontillado de tonalidade mais escura e paladar de nozes. 
– Quando o desenvolvimento da película for quase inexistente, o produto final será o Oloroso, rico em aromas e o mais alcoólico de todos. Este é o grande Jerez, apreciado em todo o mundo. 
O estilo Palo Cortado deriva do Amontillado. É obtido pela interrupção da Flor, seja por acidente ou propositadamente. Aproxima-se, em cor e sabor, do Oloroso. 
O Envelhecimento ou Afinando o Vinho 
O grande charme deste fortificado esta no complexo processo de amadurecimento ou afinamento, conhecido como Solera. Começou a ser usado no século XIX, para atender não só a grande demanda de todo o mundo, mas principalmente para se obter um produto homogêneo, ano a ano, sem se preocupar com as safras. 

Para cada tipo de vinho são montadas três fileiras de barricas, com capacidade de 500 litros. A fileira mais acima é a 2ª criadeira, a seguinte é a 1ª criadeira e a última, junto ao solo, é a Solera – não confundam com o Soleo, que vem de Sol. Desta última fileira é que sai o vinho que será comercializado. Retirada a quantidade necessária, sempre com muita delicadeza para não perturbar o que acontece dentro dos barris, é transferida da 1ª criadeira a mesma quantidade. O vinho da 2 ª criadeira é usado para repor o que falta na linha inferior e, finalmente, vinho novo é colocado na linha de cima. Parece mais complicado do que é. A lógica toda se baseia em repor, exatamente a mesma quantidade que for tirada em cada linha. Um detalhe importante: os barris nunca são totalmente cheios, para permitir uma evolução, controlada do vinho. 

Serviço e Harmonização 
Deve ser bebido nas copitas, um cálice alto, de desenho próprio. Uma das atrações mais elegantes que se pode presenciar, numa Bodega Jerezana, é assistir um Venenciador servir uma copita diretamente do barril. Venencia é a haste metálica com um pequeno reservatória na extremidade. 

As temperaturas de serviço são: 
Finos e Manzanillas entre 7 a 9 º C; 
Olorosos 16 º C ; 
Amontillados 14 º C ; 
Pedro Ximenez 17 º C. 

Os vinhos de Jerez são o acompanhamento ideal para as tapas, aquelas pequenas entradas, muito em moda por aqui. Mas podemos ir mais longe. Apresentamos, abaixo, algumas sugestões, por tipo de Jerez: 
Fino: servido normalmente como aperitivo. Acompanha bem mariscos, peixes temperados fritos, hadock defumado. Tem suficiente personalidade para contrastar com aspargos, alcachofras, comida mexicana picante ou saladas avinagradas; 
Manzanilla: por ser mais delicado é indicado especialmente como aperitivo, acompanhado de azeitonas ou mariscos; 
Amontillado: um senhor vinho para ser degustado tranquilamente, sem pressa. Perfeito com embutidos de sabor marcante, jamón serrano, chistorra e com o queijo manchego. Sopas de pescados, cremosas, à base de queijo e patês de aves, são opções mais ousadas. 
Oloroso: é considerado o Jerez típico, sucesso em todo o mundo. Muito versátil, pode acompanhar uma refeição, ser servido como aperitivo ou acompanhar sobremesas não muito doces. Perfeito com frutas secas. O de estilo mais seco, acompanha pratos com tempero marcante, à base de pimentão ou curry. 
Pedro Ximenez: o mais doce dos tipos de Jerez deve ser servido após as refeições ou acompanhando sobremesas. 
Olé! 
Dica da Semana: 

Manzanilla Clássica Hidalgo 
Produtor: Hidalgo 
País: Espanha/Jerez 
Irmão menor do consagrado Manzanilla La Gitana, o Hidalgo é um Jerez seco e leve, ideal para aperitivos ou para acompanhar tapas.

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