O Madeira e outras delícias 
Neste último episódio da série sobre os Fortificados, deixamos a Andaluzia e vamos para o território português da Ilha da Madeira, que batiza o seu vinho emblemático. Ele é o 3º peso-pesado deste grupo sendo tão importante quanto os outros dois. 

A vinificação nesta simpática ilha remonta à Era das Explorações (posterior aos descobrimentos). Sendo um porto obrigatório para os navios que seguiam para o Novo Mundo ou para as Índias, o vinho local abastecia os navios e, para resistirem à longa viagem, eram misturados com aguardente. Os barris ficavam, muitas vezes, no convés, sem proteção contra as altas temperaturas e sendo suavemente agitados pelo balanço das ondas. Em algum ponto não registrado da história, uma sobra da carga de vinhos retornou à Ilha da Madeira. O comerciante que a recebeu resolveu abrir uma das barricas e provar. O sabor havia mudado completamente. Estava descoberta uma nova delícia que traria fama e reconhecimento aos vinicultores locais. 
O Processo Produtivo 
As varietais usadas são: Malvasia ou Malmsey, Boal, Verdelho e Sercial, todas brancas e a Tinta Negra Mole. Cada uma vai gerar um Madeira que poderá ir do seco ao doce, dependendo do processo utilizado. O início é igual a todo e qualquer vinho, as uvas são prensadas e fermentadas. Dependendo do grau de doçura desejado pelo produtor, a fermentação pode ser interrompida pela adição de aguardente vínica. 
Por exemplo: 
Os vinhos de Sercial fermentam até quase o final, produzindo uma bebida mais clara e um pouco mais ácida; 
Os vinhos de Malvasia/Malmsey tem sua fermentação interrompida bem cedo, obtendo-se uma bebida mais escura, doce e grande acidez, o que dá equilíbrio ao excesso de açúcar evitando que se torne enjoativo. 

O que faz a diferença é o processo que segue, chamado de estufagem, quando os produtores tentam reproduzir os efeitos de uma longa viagem em climas tropicais: o vinho será aquecido até temperaturas em torno de 55 graus Centígrados! 
Existem três processos aceitos pelo Instituto do Vinho Madeira. Os vinhos comuns serão aquecidos, por um mínimo de 90 dias, em tanques de aço inoxidável ou concreto – Cuba de Calor. 
Para o vinho de melhor qualidade, emprega-se o Armazém de Calor, um galpão aquecido onde os barris de madeira de grande capacidade são submetidos a um ambiente com vapor d’água, por um período entre seis meses a um ano. 
O terceiro método, usado para os grandes vinhos, é o Canteiro. Tudo aqui é natural. Os barris são tratados ao sol, em pátios especiais. Pode durar de 20 a 100 anos para um 1ª linha ser considerado pronto. 

Canteiro 

Estilos 
O Madeira pode ser classificado pela sua doçura, idade, cor, corpo, colheita e processo de fabricação. Com tantas possibilidades, gera um pouco de confusão. Vamos apresentar uma classificação básica, que nos permitira escolher, com segurança, um bom vinho. 
Reserva – envelhecimento de 5 anos; 
Reserva Especial – 10 anos de envelhecimento e aquecimento natural;
Colheita – vinho de uma única safra com mais de 10 anos de envelhecimento; 
Frasqueira – 20 anos, no mínimo de envelhecimento. 
Segundo o teor de açúcar podem ser: seco, meio seco, meio doce e doce
Harmonização 
O Instituto do Vinho, Bordado e Artesanato da Madeira faz as seguintes sugestões: 
As combinações gastronômicas possíveis de se fazer com Vinho da Madeira são imensas e variam também em função do seu grau de doçura. Os secos, vinhos mais refrescantes, podem ser acompanhados com peixes defumados ou sushi, enquanto os mais doces combinam na perfeição com frutos secos, bolo de mel, chocolate escuro ou de leite. Os meio secos são muito agradáveis com consommé e sopa de cebola gratinada, ou ainda, com fois gras de pato ou ganso, enquanto o meio doce combina bem com suflês de queijo ou de frutos silvestres. 
Outras delícias 
A Península Ibérica é muito rica em vinhos fortificados, Portugal, por exemplo, ainda nos brinda com o excelente Moscatel de Setúbal. Da França vem o fabuloso Banyuls que é uma denominação controlada e os Macvin da região do Jura. O Marsala, da Sicília, que foi muito importante, hoje está desprestigiado. Quase todos os produtores do novo mundo fazem algum tipo de vinho licoroso: EUA, Austrália, África do Sul, Brasil e Argentina, entre outros. Alguns adotam os nomes de Porto e Madeira, o que é proibido. Caso típico brasileiro são os vinhos da marca Isidro, muito usados na culinária. O Instituto do Vinho do Porto os considera como uma fraude. No link abaixo há coleção de produtos piratas: 
http://www.ivdp.pt/pagina.asp?codPag=96&codSeccao=6&idioma=0 
(role a tela para as fotos) 
Uma interessante curiosidade vem da Argentina. A vinícola Família Zuccardi produz uma linha de vinhos fortificados, muito saborosos, mas que não teve o sucesso esperado entre os argentinos. Resultado – passaram a denominá-lo Malamado. No estilo mais seco é usado para fazer caipirinha… 

Finalizando 
Muitos leitores escreveram para esta coluna quase sempre colocando os vinhos fortificados como doces, o que não é verdade. Talvez por terem sido apresentados logo após as colunas sobre os de sobremesa, tenha gerado a confusão. Para dirimir quaisquer dúvidas, compilamos este resumo: 
Fortificados Secos e Ácidos 
Jerez dos tipos Fino, Manzanilla e Amontillado 
Madeira das cepas Sercial e Verdelho 
Fortificados Escuros, que variam de meio doce a doce 
Jerez Oloroso e Pedro Ximenez 
Porto, safra tardia, vintage 
Madeira das cepas Malvasia/Malmsey e Bual 

Dica da Semana: 

Ferraz Medium Rich Madeira 
Produtor: Madeira Wine Company País: 
Portugal /Ilha da Madeira 
Este Madeira Medium Rich é elaborado pela famosa F.F. Ferraz & Cia, responsável por alguns dos melhores vinhos Madeira de toda a história. Mostra muita tipicidade, com um agradável e típico bouquet, um palato levemente doce e excepcional relação qualidade/preço.