Fechamos um ciclo no Boletim. As colunas iniciais tiveram um objetivo: apresentar uma parte do universo dos vinhos. Fomos bem longe, entrando até na seara dos destilados. A partir desta semana, vamos apresentar os vinhos icônicos, aqueles que todos sonham em provar um dia. Escolhemos um vinho Português, para começar. 
Portugal já foi o principal exportador de vinhos para o Brasil, lugar ocupado por Chile e Argentina, atualmente. Mas ainda está firme no mercado, lutando, com qualidade, para retornar ao topo do pódio. Dois fatores contribuíram para ofuscar o brilho dos produtos lusitanos: o preço e a qualidade. 
Infelizmente, a busca por um lucro fácil provocou uma enxurrada de vinhos de baixíssima qualidade em nosso mercado, a preços nem sempre convidativos. Mesmo lá na terrinha as coisas não estavam indo bem. Mais preocupados com a quantidade, os produtores não se atualizaram, insistindo em técnicas artesanais e obsoletas enquanto outros países modernizaram vinhedos e vinícolas. 
Portugal é um país com ampla diversidade de uvas, vinhos e regiões produtoras. Há desde os deliciosos Vinhos Verdes até vinhos sérios e encorpados como os das regiões do Douro, Dão e Alentejo. 

A modernização dos vinhos portugueses é recente. Somente a partir da entrada do país na comunidade europeia foi quando grandes investidores aportaram capitais nas principais vinícolas, introduzindo técnicas atuais de manejo do vinhedo, equipamentos de aço inoxidável e controle de temperatura na vinificação. Mas alguns pioneiros já haviam trilhado por estes caminhos. Fernando Nicolau de Almeida, vinicultor da Casa Ferreirinha, uma das mais importantes empresas do Douro, foi um deles. 

O Douro era famosos pelos vinhos do Porto, mas seus tintos, não fortificados, nunca se destacaram. Fernando visitou a região de Bordeaux, em 1940. Voltou encantado com que viu, decidindo produzir um vinho que se equiparasse aos bordaleses. Nascia uma das glórias do vinho português: o mítico Barca-Velha, um excepcional corte das uvas Tinta Roriz, Touriga Nacional e Touriga Franca. 

A primeira safra desta maravilha surgiu em 1952 (só foi comercializado 8 anos depois). Foram selecionados os vinhedos, todos de pequeno porte e localizados na parte mais alta das encostas. Na vindímia, só as melhores uvas eram aproveitadas. A temperatura de fermentação foi controlada com gelo trazido da cidade do Porto, que dista 100 Km. Foi envelhecido em barricas novas de carvalho francês, durante 12 a 18 meses, seguido de um período em garrafa. A ideia era colocar o vinho, no mercado, pronto para o consumo. 
A busca, quase obsessiva, pela qualidade gerou bons dividendos. Só foram comercializadas poucas safras até hoje (15 ou 16): se o vinho não estivesse de acordo com a prova do enólogo, recebia o rótulo de Reserva Especial Ferreirinha e não o de Barca Velha. 
Notas de Degustação do Barca-Velha 1999 
Sabores concentrados de frutas negras e grande frescor. Nos aromas nota-se cedro e baunilha, com toques florais e achocolatados. Um vinho encorpado, vigoroso e de grande elegância. Degustar um Barca Velha exige uma preparação cuidada de acordo com a exigência do momento. Deve ser saboreado com calma, acompanhado por pratos mais cuidados de carne, caça ou mesmo alguns queijos, com sabores requintados e bem integrados. Recomenda-se que seja servido à temperatura de 17º-18º. 
O Barca-Velha moderno 
No início dos anos 90, a casa Ferreirinha foi vendida para o grupo português Sogrape. Apesar de algumas mudanças óbvias, o vinho continua sendo produzido e ainda é muito respeitado. O principal vinhedo que fornecia as uvas para o Barca permaneceu com os descendentes da fundadora, D. Antônia Ferreira. Em 1998, decidiram produzir o seu próprio vinho, com as mesmas uvas, empregando as mais modernas técnicas de vinificação. Este vinho é o Quinta do Vale Meão ou, como preferem alguns, o Barca Nova, sem dúvida o mais espetacular vinho português do momento. 
Para os leitores aventureiros, há garrafas de Barca Velha à venda no Brasil. Procurem em boas e confiáveis lojas de vinho e prefiram as safras mais recentes 1999 ou 2000. O custo é acima de R$ 1.000,00 por garrafa. 

Dica da Semana: um bom português vindo da região do Douro, com as mesmas castas do Barca e com preços mais em conta: 

Cadão Douro Reserva 2005 
Produtor: Quinta do Cadão 
Uvas: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Touriga Franca 
De cor granada intensa, tem sabores macios, volumosos e delicados. Nos aromas mostra boa evolução. Harmoniza com carnes de caça, queijos e defumados.