O Chile é um país privilegiado para vinhedos e vinhos. Um solo muito fértil, um clima perfeito para o desenvolvimento das uvas, obtendo-se resultados inigualáveis. Devido à sua curiosa localização geográfica, uma estreita faixa de terra espremida entre os Andes e o Pacífico, ficou imune à maioria das pragas, principalmente a temida Filoxera. Não foi por acaso que se tornou uma espécie de santuário das parreiras, preservando espécies, muitas vezes em pé franco, que já não existem mais em qualquer outra parte do mundo. Talvez nem se saiba, até hoje, a real dimensão deste repositório. A qualquer momento podem surgir novas espécies dadas como extintas.
O exemplo mais conhecido é o da Carménère, hoje a uva emblemática do país, que só foi identificada corretamente em 1994 graças a um meticuloso trabalho do ampelógrafo francês Professor Jean-Michel Boursiquot. Esta uva, hoje raríssima na Europa, é uma das 6 uvas originais de Bordeaux (Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Malbec e Petit Verdot), que foram enviadas para a América do Sul para evitar a temida praga. Mesmo depois de descoberto o sistema de enxertia, ela nunca foi replantada, provavelmente por ser suscetível à outra doença, a Coulure, moléstia que ataca os bagos das uvas logo que começam a florescer. Resultou num belo trunfo para os chilenos, provocando a chegada de importantes vinícolas europeias para ali vinificarem e recuperarem algumas destas verdadeiras joias.
Em 1997 a Concha y Toro se associou com a bordalesa Baron Philippe de Rothschild SA, para produzirem um vinho excepcional, o Almaviva, talvez o vinho chileno de alta gama mais conhecido internacionalmente.
Para produzi-lo, construíram uma espetacular vinícola, na região de Puente Alto, próximo a Santiago.
O Almaviva é um corte de Cabernet Sauvignon vinificado com as mesmas uvas e métodos utilizados na produção do Don Melchor, com vinificações independentes de Carménère, Cabernet Franc e Merlot em proporções que variam a cada safra. A de 2007, que está no mercado, declara: 64% Cabernet Sauvignon; 28% Carménère; 7% Cabernet Franc e 1% Merlot. A decisão final desta mistura é feita por um colegiado de enólogos, chilenos e franceses. Um verdadeiro e respeitado Corte Bordalês produzido fora da França. Talvez o único no gênero.
De cor vermelha rubi profunda e intensa, revela aromas puros e delicados de groselha maduras, amoras e morangos silvestres, combinados com notas minerais e toques de baunilha, café, alcaçuz, e especiarias. No palato, mostra-se muito equilibrado, taninos firmes e excepcionalmente longos, maduros, refinados e concentrados, contribuindo para densidade e textura elegante. Harmoniosamente perfeito. Excelente! ($$$$)
Ótimo para acompanhar carnes vermelhas, cordeiro, carne de porco, queijos duros e pratos condimentados.
Dica da Semana: um chileno delicioso e bem mais palatável no bolso.
Chocalan Reserva Cabernet Sauvignon 2010
País: Chile / Valle del Maipo
Produtor: Viña Chocalan
Uvas: 85 % Cabernet Sauvignon, 8% Syrah, 5% Carménère e 2% Petit Verdot
Vinho de cor rubi com tons violáceos. Aromas de frutas vermelhas frescas e um pouco de mentol. No palato amora, cassis, ameixas, cerejas pretas. Saboroso e bem equilibrado, com madeira bem integrada. Grata acidez, bom volume e um final longo. Ideal para acompanhar queijo emmental e brie, carne de boi, carneiro, porco, veados e javalis, ou simplesmente com empanadas.
Na próxima semana, o chileno predileto dos especialistas.
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