A história do vinho neste país começa em 1556 quando o padre Jesuíta Juan Cedrón trouxe mudas das espécies País e Moscatel (Missiones), do vale central do Chile, plantando-as nas regiões que, mais tarde, seriam conhecidas como Mendoza e San Juan. Através de cruzamentos naturais, surgiria um clone conhecido por Criolla Chica, varietal utilizada nos vinhos argentinos por muitos anos e que promove um sabor típico que agrada ao argentino. A primeira vinícola, estabelecida pelos Jesuítas em 1557, ficava em Santiago del Estero. A expansão foi rápida principalmente devido à construção de diversos canais de irrigação para enfrentar o problema de escassez da água. Coube ao Governador da Província, Domingo Sarmiento, contratar o agrônomo francês Miguel Aimé Pouget e incumbi-lo de trazer mudas de castas europeias nobres para a região, entre elas, a hoje emblemática Malbec.
A construção de uma ferrovia ligando a Buenos Aires e a mão de obra dos emigrantes europeus que fugiam da Filoxera são outros fatores que potencializaram esta indústria. Com um clima semelhante ao do vizinho Chile e protegida das pragas conhecidas, tornou-se outro porto seguro para uvas e vinhos, mas com uma importante diferença: 90% de sua produção eram comercializados no mercado interno – vinhos simples de castas não europeias.
Esta filosofia de privilegiar a quantidade em lugar da qualidade perdurou até os anos 90. A Argentina sempre foi o maior produtor de vinhos fora da Europa, com um consumo per capita de 46 litros por ano. Mas era um exportador medíocre, seus vinhos não eram respeitados internacionalmente.
Impressionado com a indústria californiana de vinhos, Nicolás Catena Zapata, professor visitante de economia, na Universidade de Berkeley, decidiu melhorar os produtos da velha Bodega Esmeralda, de sua família. Na sua volta a Mendoza, introduziu diversas modificações no sistema produtivo vigente: queria produzir vinhos finos de qualidade. Com a consultoria do experiente enólogo californiano Paul Hobbs, provocou uma revolução incrível que está transformando a Argentina: será, em breve, o maior produtor de vinhos de qualidade de todo o planeta (se a instabilidade política do país não atrapalhar…). Catena foi chamado de “Loco” por todos, mas como já sabemos, estava certo.
A primeira observação de Hobbs foi que o sistema de condução das parreiras do tipo pérgola não era irrigado de forma adequada. Pediu que usassem menos água para que os frutos concentrassem mais açúcar, adotando o sistema de gotejamento. Novos parreirais são plantados acima de 1000 metros de altitude, em busca de um amadurecimento perfeito.
Apesar de ter como missão produzir um Chardonnay de estilo californiano, surpreendeu-se com uma uva para ele desconhecida, a Malbec. Catena deu-lhe total liberdade para experimentar. Recebe 10 barris novos de carvalho francês da tanoaria Taraunsaud e começa a vinificar com técnicas nunca usadas naquela região. Um sucesso espetacular! A Malbec deixava de ser uma uva secundária.
O Mito e seu vinho icônico
Nicolas Catena tornou-se um dos personagens mais importantes do mundo do vinho. Um revolucionário, corajoso e inovador. Um Mito. Para vinificar suas joias, construiu uma vinícola em forma de pirâmide Asteca, orientada no terreno de tal forma que, em determinada hora do dia, sua superfície brilha como ouro. Seus vinhos sempre foram de qualidade indiscutível e seus métodos acabaram sendo adotados por todos que o chamavam de louco.
O resultado mais significatvo e importante foi o estabelecimento de um novo padrão de vinhos: o Malbec Argentino, que não é uma tentativa de ser um vinho do Velho Mundo. Um produto de tipicidade única e que chamou a atenção para este país. Catena havia criado algo novo, uma fusão de estilos que incorporava, inclusive, o antigo padrão argentino.
Somente em 1997, num excepcional ano e depois de vários enólogos e consultores, consentiu em dar seu nome a um de seus vinhos, como um coroamento de sua ousada aventura:
Um corte de Cabernet Sauvignon e Malbec, fora de série, elaborado unicamente em anos selecionados. A primeira vinificação foi testada exaustivamente, na Europa e nos EUA, em provas às cegas, sendo comparado com os famosos Chateau Latour, Haut Brion, Solaia, Caymus e Opus One. Classificou-se 4 vezes em primeiro lugar e 1 vez em segundo. O melhor vinho da América do Sul e, sem dúvida, um dos melhores do mundo.
Robert Parker: 98 pontos (safra 07)
Robert Parker: 97 pontos (06)
Wine Spectator: 93 pontos (06)
Robert Parker: 98 pontos (05)
Robert Parker: 98+ pontos (04) / Wine Spectator: 95 pontos (04)
Decanter: 5 Estrelas (04)
A safra de 2007 é composta por Cabernet Sauvignon (65%) e Malbec (35%). Utilizaram frutos dos vinhedos La Pirámide, a 940m, Domingo, a 1.130m, Adrianna, a 1.400m e Altamira, a 1.160m de altitude. As uvas, de cada vinhedo e variedade, foram vinificadas separadamente, com controle de temperatura e maturadas por 26 meses em barricas novas de carvalho francês.
Com uma coloração violeta escura e intensa, oferece aromas de cerejas negras, chocolate escuro e alcaçuz, com notas de minerais, violetas, pimentas e ervas. No palato mostra um vinho muito estruturado e equilibrado, com marcantes sabores de frutas vermelhas e alguma mineralidade. Um final de boca vibrante, intenso e longo. Pode ser guardado por mais de 10 anos. Harmoniza com carnes e alta gastronomia.
O Futuro
Mendoza não é a única região que produz vinhos na Argentina, embora seja a mais importante. Salta e a Patagônia, entre outras, vêm se destacando e atraindo investimentos estrangeiros importantes. Na família Catena Zapata, a segunda geração já se destaca: a filha Laura Catena, tem sua própria vinícola a Luca enquanto seu irmão, Ernesto Catena, dirige a vinícola Tikal. Ambos produzem vinhos espetaculares e de muita personalidade.
Na próxima coluna, vamos conhecer um vinho que faz frente a este. Seu produtor? Paul Hobbs…
Dica da Semana: A uva Torrontés deve ser a nova sensação entre os brancos. Tipicamente argentina, cai muito bem neste verão brasileiro.
Tahuantinsuyu Torrontés 2009
Produtor: Tikal (Ernesto Catena)
País: Argentina / Mendoza
Esta esperada novidade de Ernesto Catena promete conquistar quem ainda tinha dúvidas do potencial da uva Torrontés. Elaborado em um estilo mais denso e menos alcóolico que a maioria dos vinhos da casta, mostra o perfil aromático típico da uva, com exuberantes notas exóticas e de frutas maduras. No palato é saboroso e fresco, com uma boa pegada.
Combinações: Frutos de mar. Peixes brancos. Saladas.
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