Ao ser questionado sobre porque ir para a Argentina – lá é muito quente! você só vai produzir zurrapas! diziam, Hobbs respondia com uma desconcertante simplicidade: os vinhedos são tão bonitos e as uvas deliciosas…. A decisão se mostrou acertada. Nicolás Catena foi mais que um patrão. Além de proporcionar a estratégia e os meios necessários, lhe deu total liberdade para experimentar. Hobbs sabia que existia um enorme potencial ali. Sua personalidade inquieta, sempre em busca de maiores desafios, fez com que em 1991, Catena lhe ajudasse a montar sua própria vinícola nos EUA, a Paul Hobbs Winery. Um investimento de alto risco. Naquele ano, a Filoxera havia voltado com força total na Califórnia e ninguém queria arriscar um centavo que fosse numa nova vinícola, exceto Catena. Hoje, esta empresa é um sucesso, produzindo vinhos fantásticos.
Uma nova mudança aconteceria em 1998 quando um simpático casal de argentinos, Andrea Marchiori e Luis Barraud, o procurou na Califórnia para que os assessorassem num novo empreendimento. Apaixonado por Mendoza, Hobbs associou-se a eles e fundou a Viña Cobos, uma vinícola Super Premium, com vinhos de alta qualidade e pequenas produções.
O nome é uma homenagem ao imigrante espanhol Juan Francisco Cobos. Coube a ele solicitar, ao reino de Espanha, sementes de álamo, a árvore emblemática de Mendoza.
O principal vinho é o inacreditável Cobos Malbec, indiscutivelmente o melhor varietal produzido com esta casta. Sua vinificação só é feita em safras consideradas excepcionais. Os frutos são obtidos no vinhedo Marchiori, que pertence à família de Andrea. Com um terroir característico da região de Pedriel, nos pés dos Andes, situado a 995m de altitude, suas parreiras, com mais de 80 anos de idade, produzem frutos no ponto certo de amadurecimento e ligeiramente ácidos, permitindo uma produção de alto nível.
O processo de vinificação é de um cuidado surpreendente. As uvas são selecionadas uma a uma, por equipes predominantemente femininas (são mais cuidadosas).
Para a obtenção do mosto, as uvas não são prensadas, mas empilhadas num equipamento e deixadas sob a ação do próprio peso. Um método semelhante ao empregado na obtenção do Tokaj Essenzia. Isto significa um rendimento ultrabaixo. Após a extração deste primeiro sumo, as uvas serão prensadas para a obtenção de outros vinhos. Para o Cobos, só o melhor!
Na fermentação e maceração são usados métodos naturais em tanques de aço inox com temperatura controlada. O processo todo dura cerca de 30 dias. O envelhecimento é feito em barris novos, de carvalho francês, por 18 meses. Passa por fermentação malolática (transformação do ácido málico em ácido lático = melhor qualidade) em barricas, durante 8 meses, para sua finalização. Não é filtrado e nem clarificado antes de ser engarrafado, onde permanecerá por mais um ano até de ser comercializado.
A safra de 2006 obteve 99 pontos do rigoroso Robert Parker (Wine Advocate), tornando-se o vinho argentino de maior pontuação até o momento. Só para lembrar, vinho da semana passada conseguiu 98+ em sua melhor safra. Abaixo um resumo das notas obtidas:
1999 – Wine Advocate 95pts
2002 – Wine Advocate 96pts
2003 – Wine Advocate 97pts
2004 – Wine Advocate 98pts
2005 – Wine Advocate 98pts
2006 – Wine Advocate 99pts
2007 – Wine Advocate 95pts
2008 – Wine Advocate 95pts
Notas de degustação safra 2008
Coloração violácea profunda com reflexos azulados. Destacam-se os aromas de ameixas, mirtilo e (flor) de nogueira. No palato se mostra voluptuoso, encorpado com intensidade e estrutura nobre. Surpreende por seus taninos polidos e sabores de doce de leite, frutos do bosque, cravo da Índia e grãos de café. Um vinho perfeito para alta gastronomia ou para simplesmente pensar na vida.
Existe um senão: caríssimo, quase R$ 1.000,00 na Grand Cru, seu importador exclusivo. (em 2012)
Qual é o melhor vinho argentino afinal? Escolha Impossível. Como diria um francês, entre les deux mon coeur balance. Para enfrentar esta dura concorrência, apresentaremos mais alguns protagonistas de peso na próxima coluna.
Dica da Semana: a Viña Cobos produz uma gama de vinhos, em três linhas, todos de excelente qualidade. Escolhemos o chamado produto de entrada, a linha mais em conta.
Cobos Felino Malbec 2010
País: Argentina / Luján de Cuyo – Mendoza
Casta: 100% Malbec
Envelhecimento: 9 meses em barricas de carvalho. Pode ser guardado por 8 anos. Reflete características argentinas, pelas mãos do casal Andréa Marchiori e Luis Barraud, e californianas, seguindo o estilo de Paul Hobbs. Violeta intenso com reflexos azulados. Notas de pimenta e licor de cerejas. Corpulento, possui taninos marcantes. Harmoniza com carnes e pratos condimentados.
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