Um pouco mais sobre a Austrália
Aproveitando o tema Inovação, o nosso passeio pela Austrália recebe a importante contribuição de dois leitores. O primeiro nos questionou sobre a existência ou não de vinhos australianos numa relação dos dez melhores (top ten). Para responder esta pergunta, teríamos que estabelecer um importante parâmetro: que lista é esta e quem a elaborou?
Não existe uma lista única. Existem várias listas de melhores vinhos elaboradas por críticos famosos, sommeliers respeitados, publicações especializadas, associações de consumidores, enófilos e até por confrarias informais. Baseados num dos poucos consensos neste infinito universo, vamos usar a classificação de Robert Parker, sem dúvida um líder entre os formadores de opinião. Na sua relação de vinhos agraciados com 100 pontos, encontramos 5 vinhos de 3 produtores diferentes. O Grange safra 1976 apresentado na semana passada é um deles.
Vamos conhecer outro vinho extraordinário e que pode ser definido como o oposto do anterior. Recebeu a nota máxima em cinco safras, 96, 98, 2001, 2002 e 2004, o que demonstra uma grande regularidade: Chris Ringland Shiraz.
Um vinho de autor surpreendente, produzido por uma minúscula vinícola, bem ao estilo “garagiste” como os franceses denominam aqueles produtores que desafiam os grandes grupos, sem compromissos, preocupados apenas em produzir com ótima qualidade. Talvez seja esta a grande diferença: em lugar de muita tecnologia e processos industriais, muito trabalho manual, dedicação e uma boa dose de inspiração artística.
O proprietário e enólogo Chris Ringland dispõe de aproximadamente 4 hectares de vinhas pré-filoxera com mais de 100 anos de idade, na região de Barossa. Trabalhou por mais de dez anos na recuperação do parreiral, limpando, podando e replantando os pés improdutivos com repiques das plantas melhores. Acredita que estas videiras anciãs por estarem tão habituadas a este micro ambiente são capazes de produzir os melhores frutos e, por extensão, os melhores vinhos.
Ringland é o pequeno produtor australiano que recebe os mais calorosos elogios da crítica especializada. Apesar de produzir 1000 garrafas por ano, logo chamou a atenção de Parker que lhe concedeu 100 pontos na primeira safra que degustou (1996). Rapidamente, os preços no mercado australiano dispararam e o vinho tornou-se caro e raro.
Na sua produção há diversos aspectos fora do comum, um deles é que os barris de amadurecimento nunca são completamente cheios. Este espaço, segundo o produtor, permite uma pequena evaporação que aumenta a concentração do vinho. Após 40 meses, em média, são engarrafados sem filtração ou clarificação.
Notas de degustação da safra 2004
Esta foi outra safra celebrada. Amadurecido por 42 meses em barricas novas de carvalho francês, apresenta uma coloração quase negra. Oferece aromas terrosos, grafite, café expresso, cassis e mirtilo numa densa complexidade. No palato é um vinho jovem com diversas camadas de frutas suculentas, um equilíbrio impecável (taninos, acidez) e um gigantesco potencial de guarda. O único defeito deste fantástico vinho é a sua acanhada produção e os preços exorbitantes pelas poucas garrafas à venda. Muitos especialistas o colocam lado a lado com os não menos famosos vinhos de Guigal e da Screaming Eagle. Ao longo das 21 safras de sua existência, seu rótulo traz algumas variações de nome: Three Rivers, CR, Ebenezer Block, R Wines, entre outros.
Dica da Semana: uma indicação do segundo colaborador desta semana que passou por uma boa experiência com este vinho.
Banrock Cabernet Sauvignon – 2008
Produtor: Banrock Station
País: Austrália / Região Sul
Wine Spectator: 86 pontos
Envelhecido por 3 meses em barris de carvalho (França e USA), tem cor vermelho púrpuro intenso. Aromas de frutas silvestres com toques de baunilha. Encorpado, com sabores de frutas silvestres, final longo e taninos suaves. Tempo de guarda de até 3 anos.
Comentário do Leitor: o vinho é excelente. Combinou maravilhosamente com o cordeiro e nos deixou com gosto de quero mais… Excelente relação custo x benefício
Outros vinhos australianos com 100 pontos Parker: Greencock Creek – um Cabernet e dois Shiraz diferentes.
Colaboraram: Sandra Rezende (PA) e Luiz Augusto (AC)
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