Aproveitando a onda provocada pelas recentes tentativas de encarecer, ainda mais, a nossa apreciada bebida, vamos mergulhar num tema que está por trás de toda esta discussão: o baixo consumo de vinho no Brasil. 
Não é preciso ter muita imaginação para deduzir que o fator clima tem um papel preponderante – vinho é uma bebida adequada para climas mais frios. Este é um bom argumento, sem dúvida, mas não é determinante. Poderíamos consumir vinhos brancos leves ou espumantes, substituindo o nosso velho Chopp, por exemplo. 
Nos estados da região sul, onde o consumo é significativamente maior, encontramos o fator cultura: os imigrantes que colonizaram majoritariamente estes estados consumiam vinho na sua origem. Devemos a eles a existência da nossa indústria vinícola, que começou produzindo para consumo dos colonos. Este é outro fator de grande importância, para eles, o vinho faz parte da dieta, é um alimento como arroz ou feijão, e isto faz toda a diferença. O mesmo fator pode ser observado nos vizinhos Argentina e Uruguai que foram colonizados de forma semelhante. 
Alguns podem confrontar esta posição afirmando que é redundante, ou seja, não faz parte da dieta por razões climáticas (ou vice versa). Mas o X do problema é outro: o vinho é enquadrado pelo governo, como bebida alcoólica, um artigo de luxo, e não como um alimento. E isto muda tudo! 

O Custo de uma garrafa de vinho importado 
Didú Russo, fundador da Confraria dos Sommeliers e coordenador do Comitê do Vinho da Fecomercio SP, publicou em seu blog um estudo sobre a hipotética viagem de uma garrafa de vinho, do velho mundo, desde o seu produtor até ser consumida por alguém. O quadro a seguir faz um resumo destes custos: (valores em R$) 

O primeiro subtotal mostra desde o preço pago ao produtor até os custos obrigatórios para embarque num transporte marítimo. Alguns itens são fatores de encarecimento, como o container refrigerado, sem o qual o produto chegaria estragado. 
A partir do subtotal 2 vamos verificar o tamanho da bocarra governamental. A enxurrada de taxas, impostos e burocracia não tem outra função que alimentar a insaciável máquina. Copiando Didú Russo: 
“O Governo não faz nada além de burocratizar a operação, gerando corrupção, cobra IPI, PIS, COFINS, ICMS, IPI, CSLL, IRPJ, Imposto de Importação, sobreposições de IPI e de ICMS, taxas de registro do rótulo, de análise dos vinhos, Selo Fiscal, ST”. 
O importador pouco pode fazer e precisa administrar muito bem os seus custos para não onerar demasiadamente o vinho, sob o risco de torná-lo inacessível. Para muitos, estes custos não são visíveis; eis uma pequena amostra: viagem de compra, despesas de envio, frete nacional, armazenamento em local apropriado, enfrentar toda a burocracia estatal, divulgação, degustações e até o financiamento da venda para lojas, restaurantes e mercados. Por tudo isto, cobra R$ 8,92… Honestamente, nem sempre é um bom negócio! 
Chega a vez dos maiores gulosos: lojas, restaurantes, supermercados e assemelhados. Os custos são semelhantes aos do importador, mas outros problemas aparecem. Precisam manter a garrafa em local adequado, contratar Sommeliers ou vendedores especializados, ter o equipamento de serviço do vinho (taças, decantador, saca-rolhas, etc.) e por último, fixar um preço de venda final que cubra isto tudo e torne o vinho um produto de qualidade. Aquela garrafa que custou R$ 3,60 na origem nos será ofertada por R$ 60,00. Uma margem de R$ 38,62 sobre o preço de compra no importador. Nada mal (se alguém pagar). 
Resumindo: só de impostos pagamos 40% sobre o preço de venda aos lojistas (R$ 23,17), sem que nenhum benefício tenha sido gerado por este custo. Alimentou a burocracia somente. 
Comparando o valor na origem com o preço final de venda, o aumento foi de quase 17 vezes, um absurdo! 
Se um dia vingar a ideia de taxar o vinho como alimento, pagaremos menos de 20% em taxas e impostos (dependendo do estado) o que poderia alavancar um maior consumo. Este é o caminho a seguir. 

Dica da Semana: para estimular o consumo diário, nada melhor que o clássico bom e barato. 

HEMISFERIO CABERNET SAUVIGNON 2009 
País: Chile/Curicó 
Produtor: Miguel Torres 
Envelhecimento: 50% em carvalho Francês durante 6 meses. 
Tempo de guarda: 3 a 5 anos 
Harmonização: embutidos, carnes e churrascos. 
Coloração rubi intensa. No olfato remete a aromas do bosque e especiarias, sobre ricos fundos de couro. No palato os taninos são redondos, cheio de fruta e plantas. Miguel Torres foi um dos pioneiros na produção de vinhos finos no Chile, com vários prêmios em sua diversificada linha de vinhos.