Corvina, Rondinella, Molinara – 2ª parte
Além do indigitado Valpolicella, 3 outros vinhos são produzidos com estas uvas. Um deles, o Amarone, é um vinho tão importante quanto o Barolo, o Brunello e o Barbaresco. Vamos conhecer um pouco de sua origem, que remonta ao século IV depois de Cristo.
Os Visigodos ocupavam parte do território italiano. Cassiodorus (Flavius Magnus Aurelius Cassiodorus), um ministro do Rei Theodorico o Grande, menciona em uma de suas cartas um vinho denominado Acinático, obtido com uvas parcialmente secas na região de “Vallis-polis-cellae”. Este vinho foi, sem dúvida, o primeiro antepassado do Amarone.
Durante aquele período, o vinho ali produzido era doce e aveludado, hoje conhecido como Recioto della Valpolicella. “Recia” significa “orelha” e o termo foi empregado para caracterizar que só determinados cachos de uva, da parte superior da videira, deveriam ser usados na produção. Eles precisam ter um espaço entre os grãos para permitir a passagem do ar e a consequente secagem.
Como já sabemos, as uvas passificadas tem um maior teor de açúcar sendo usadas para produzir vinhos de sobremesa, desde que se controle muito bem a fermentação, interrompendo-a no momento certo.
Ao longo dos anos o Acinático se transformou em Recioto. Mais uma transformação ocorreria, já em eras mais modernas: em um dado momento da nossa história, algum vinhateiro não controlou bem o seu processo, permitindo a total conversão dos açúcares em álcool. O resultado foi um vinho seco, alcoólico e com um delicioso sabor entre o adocicado e o levemente amargo. Nascia o Amarone. A tradução literal do nome é “grande amargo”, mas longe disto, o nome é apenas um contraste ao Recioto que é doce.
Os Amarone eram elaborados de forma artesanal, para consumo próprio ou para presentear amigos. As primeiras garrafas foram produzidas no início do século XX. Comercialmente o vinho foi colocado no mercado após a segunda guerra.
Desde 2009 é uma DOCG, mas os métodos de produção, hoje, pouco se diferenciam daqueles da época de Cassiodorus. Tradicionalmente são permitidas as uvas: Corvina (40% a 70%), Rondinella (20% a 40%) e Molinara (5% a 25%). O clone Corvinone pode ser usado em lugar da Corvina, no máximo em 50%. O “Consorzio per la tutela dei vini valpolicella” faz outras recomendações, inclusive alterando as proporções de cada uva e permitindo, em certas áreas, a adição de castas aromáticas.
A produção artesanal se mantém até hoje, com intenso trabalho manual. Começa na seleção dos cachos no vinhedo – somente frutas com as características ideais são coletadas e enviadas para os “fruttaios”, grandes armazéns preparados para desidratar as uvas.
Acomodadas em esteiras de palha, caixas de madeira ou plástico, são submetidas a condições ideais de temperatura, umidade e aeração durante cerca de 120 dias. Obtido o grau de secagem desejado, as uvas são prensadas e vinificadas. O vinho deve ser envelhecido em barris de carvalho, grandes ou pequenos por até 3 anos. Após ser engarrafado é armazenado por mais 2 anos. Cada safra só é comercializada 5 anos após a produção.
O resultado é um vinho de características únicas: encorpado, aveludado, com baixa acidez, teor alcoólico mínimo de 14%, sendo comum 15%. Sabor muito característico de frutas maduras, compotas e toques herbáceos. Delicioso!
Na próxima coluna um pouco mais sobre o Recioto e o Ripasso.
Dica da Semana: os bons Amarone são muito caros, acima de R$ 1.000,00. Existem alguns mais em conta, ainda assim bem fora da nossa curva de preços. Escolhemos um que vale a pena o esforço para adquirir.
Sartori Amarone 2008 – $$$
Pais:Itália/Veneto/Valpolicella
Produtor:Sartori
Castas:50% Corvina, 40% Rondinella, 10% Molinara
Coloração vermelha intensa com reflexos granada. Aromas típicos remetendo a compota de frutas vermelhas. Final de boca intenso e corpo aveludado.
Harmoniza com culinária rica, grandes assados e queijos envelhecidos.
Premiação:92pt Wine Spectator (2004)
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