No começo desta série havia um título principal, “Uvas Autóctones da Itália”. Com o avanço da ciência e da tecnologia, descobriu-se que muitas das castas que se pensavam nativas foram trazidas de outros territórios. Este é o caso de uma nobre uva tinta das regiões da Campanha e Basilicata: Aglianico.
Vamos começar pelo básico, aprendendo como se pronuncia o seu nome, com a ajuda do vídeo a seguir:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=tm_uaY5TkLI
Pode parecer uma bobagem, mas não há nada mais deselegante que pronunciar um nome da forma indevida. Existem duas correntes que tentam explicar a origem desta denominação. Aqui entra a “ciência e tecnologia”.
Estudos atuais revelaram que esta uva foi trazida para a península itálica pelos gregos quando se estabeleceram na região de Cuma, Campanha, em 540 AC. Este fato induziu a primeira explicação para o seu nome, uma deturpação da expressão “Vitis Helenica” (vinho grego) – a uva era conhecida como “Ellenico”. Outra corrente sugere que seja uma modificação de “Apulianicum” ou “da Puglia”, nome genérico da região sul do país na época dos Romanos.
Nesta época era produzido um vinho que considerado como um “Grand Cru”, ou seja, um produto de 1ª qualidade: o Falerno, um branco, muito alcoólico, elaborado com predominância da tinta Aglianico. Provavelmente o primeiro vinho “cult” do mundo. Embora não exista mais, sua fama elevou esta casta ao status de nobreza.
Examinando esta verdadeira colcha de retalhos chamada Itália é possível compreender toda a importância de Etruscos no norte e Gregos no sul: foram os responsáveis por introduzir uvas e vinhos neste multifacetado país. Esta é a origem dos vários estilos que se diferenciam desde o modo como as vinhas são conduzidas até os processos de vinificação. Um universo em si mesmo!
São 2500 anos de vinificação ininterrupta, um solo tão propício para as uvas que os gregos denominaram esta terra como “Enotria” – “terra da videira”. Mais de 1 milhão de italianos tem suas vidas ligadas à indústria do vinho.
Duas denominações que utilizam a casta Aglianico se destacam: Aglianico del Vulture, na Basilicata (DOCG – 2011) e Taurasi na Campanha (DOCG – 1993). Seus produtores se esmeram para reacender o brilho nobre desta casta.
A menor denominação é produzida com vinhas plantadas nas encostas de um vulcão (vulture – ilustração a seguir). Produz um vinho estruturado e fresco com excelente relação custo x benefício. Precisa de alguns anos para desenvolver todo seu potencial.
Neste link a pronúncia correta de “Aglianico del Vulture”:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=K6PhkzpsmZc
Taurasi é a principal denominação. Conta com o respeito de um grande número de apreciadores. A cada safra surgem vinhos espetaculares que podem, a qualquer momento, serem equiparados aos melhores Brunellos, Amarones e Barbarescos. Foi considerado como o “Barolo do Sul”.
Veja o vídeo para não errar na hora de pedir:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ojr80dhxzhk
O principal polo produtor originou-se na antiga e pequena comuna de Taurasi (foto), estendendo por outras regiões da Província de Avelino. Até 1990 havia um único produtor, Mastroberardino. Hoje são 293 vinícolas exportadoras.
De acordo com a legislação, deve ser envelhecido por um mínimo de 3 anos, um deles obrigatoriamente em carvalho, antes de ser colocado no mercado. Resulta num vinho muito encorpado e estruturado, elegante, equilibrado e com um final longo. Aromas de frutas negras e sabores que remetem a café, chocolate, violetas e alcaçuz. Definitivamente um vinho de guarda, não se deve degustá-lo jovem, 10 anos de espera é o ideal. Perfeito com a culinária e os embutidos do sul italiano.
Na próxima coluna, uma casta branca que também veio da Grécia: Greco di Tufo.
Uma pergunta sem resposta?
Muitos leitores têm demonstrado sua curiosidade sobre o que seria o melhor ou mais caro vinho. A resposta a esta questão é complexa envolvendo fatores imponderáveis como o gosto pessoal, empatias diversas, etc…
Mas o problema pode ser resolvido de forma indireta quando um renomado produtor decide criar “o vinho mais caro do mundo”…
A vinícola Penfolds, australiana, preparou 12 envases do seu melhor Cabernet, denominado Kalimna Block 42, cujas videiras foram trazidas da França em 1830 e plantadas no Vale de Barossa.
Optaram por não colocá-lo numa garrafa, mas em uma ampola com o mesmo volume. Toda a embalagem é feita artesanalmente. Cada uma tem o preço de US$ 168,000.00 (cento e sessenta e oito mil dólares americanos) e dá ao comprador o direito de receber, onde e quando ele determinar, a visita de um enólogo para abrir a ampola e promover a degustação.
Vejam o vídeo:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=45uSKIQtc7A
Dica da Semana: um ótimo Taurasi de Mastroberardino pode custar acima dos R$ 400,00. Optamos por indicar um Aglianico del Vulture, com preço acessível.
Pipoli Aglianico del Vulture DOC
De cor brilhante avermelhada, com reflexos de violeta. Apresenta uma integridade forte e aromática com reflexos de cereja preta, cereja amarga misturada com especiarias e baunilha. Harmoniza perfeitamente com todos os pratos feitos com carnes, ideal também para queijos temperados.
Deixe um comentário