A maioria das publicações especializadas faz, ao fim de ano, um resumo de suas diversas degustações elegendo os ‘melhores do ano’. Algumas, como a “100 Best da Wine Spectator”, tornaram-se icônicas e muito respeitadas.
Aqui no Brasil as recomendações do Jorge Lucki, talvez o melhor crítico de vinhos do nosso país, são sempre compras seguras. Para Chile e Argentina o guia Descorchados é considerado a autoridade máxima.
Houve ainda, no país ‘hermano’, uma grata surpresa: a volta do tradicional guia Austral, que deixara de ser publicado.

A coluna desta semana tentará mostrar como lidar com este mar de informações, algumas vezes conflitantes.

Vamos comparar alguns resultados de diversas listas tendo como foco a seguinte indagação: existe um vinho comum em todas estas listas?
Começamos com as listas de duas importantes publicações estrangeiras a Wine Spectator e a Wine Enthusiast. Para dar uma ideia sobre esta quase insanidade, para a elaboração de uma destas relações foram degustados nada menos que 15.500 vinhos!

Para nossa surpresa, apenas um vinho apareceu em ambas as listas:

Hamilton Russell 2010 Chardonnay, da Nova Zelândia (WS 93 e WE 92).
Um segundo vinho aparece nas duas relações, mas são de safras diferentes:
Quilceda Creek Cabernet Sauvignon 2008 (WS 96)
Quilceda Creek Cabernet Sauvignon 2009 (WE 99). 

Não há dúvida que é um excelente Cabernet Norte Americano.
Apenas como curiosidade, dois produtores conseguiram entrar nestas listas com dois vinhos diferentes: Evening Land, com um branco e um tinto e Williams Selyem com dois Pinot de vinhedos distintos.

O que acontece?

Mais uma vez temos que enfatizar que o vinho está na boca de cada degustador. Este é um experimento fácil de fazer: convidem seu companheiro ou companheira para uma taça de vinho e avaliem as características. Dificilmente vão ter as mesmas opiniões.

Por outro lado, estas listas podem ter foco muito diverso, por exemplo, podem estar provando apenas vinhos de uma determinada faixa de preços. Poucas publicações ou críticos têm capital para bancar o custo de uma prova destas, restando ‘convidar’ os produtores para enviar os vinhos a serem degustados, o que limita o universo.

A respeitada Wine Spectator trabalha um pouco diferente: prefere usar o material publicado durante todo o ano por seus diversos editores. Fazem uma reunião e discutem a relação final. Com isto, nem todos os críticos provaram todos os vinhos.

Vamos ampliar esta análise observando o que acontece com vinhos mais acessíveis para o nosso mercado: chilenos e argentinos.
Na Wine Spectator encontramos os seguintes produtos: (na ordem em que aparecem na listagem – alguns destes vinhos podem ser exclusivos do mercado norte americano)
Achával-Ferrer Malbec Mendoza Finca Bella Vista 2010 (Arg. 95 pt)
Bodega Norton Malbec Mendoza Reserva 2010 (Arg. 90 pt)
Viña Ninquén Syrah Colchagua Valley Antu 2009 (Chi. 96 pt)
Casa Lapostolle Cabernet Sauvignon Colchagua Valley Cuvée Alexandre Apalta Vineyard 2010 (Chi. 92 pt)
Concha y Toro Chardonnay Limarí Valley Marqués de Casa Concha 2010 (Chi. 90 pt)
Veramonte Primus The Blend Colchagua Valley 2009 (Chi 90 pt)

Na Wine Enthusiast encontramos: (na ordem em que aparecem na listagem – alguns destes vinhos podem ser exclusivos do mercado norte americano)
Riglos 2009 Gran Corte Las Divas Vineyard (Arg. 96 pt)
Finca Flichman 2009 Paisaje de Barrancas (Arg. 93 pt)
Trapiche 2009 Finca Jorge Miralles SingleVineyard Malbec (Arg. 95 pt)
Lagar de Bezana 2008 Single Vineyard Limited Edition Syrah (Chi. 93 pt)

Fácil perceber que não há nada em comum entre estes resultados. Um fato importante: o Riglos, que ficou em 1º lugar, simplesmente sumiu do mercado!

Confrontando a lista de melhores tintos do Guia Descorchados Argentina deste ano, encontramos em comum apenas o Achával Ferrer com 94 pt. O reeditado Guia Austral não testou nenhum destes vinhos. O mesmo aconteceu com a Relação do Descorchados chileno, não houve coincidências.
Resumo: todos são bons vinhos. Alguns produtores se valem destes resultados para majorar seus preços o que acaba sendo o famoso ‘tiro no pé’: em vez de vender mais, vende menos.

Examinar as listas é sempre divertido e instrutivo, principalmente se um destes premiados já passou por nossa adega. Mas não podemos confiar integralmente.
Dica da Semana: mais um substituto para a ‘loura suada’ do dia de sol…

Animal Chardonnay 2010

Produtor: Tikal (Ernesto Catena)
País: Argentina/Mendoza
Excelente Chardonnay elaborado por Ernesto Catena, demonstra-se aromático, potente, agradável com muita exuberância e elegância ao mesmo tempo. Na boca é explosivo com longo e prazeroso retro gosto.