Vamos iniciar uma pequena série e reparar uma injustiça: comentamos muito pouco sobre os vinhos da Espanha. Em 2013, este país ibérico se tornou o maior produtor de vinhos do planeta com um impressionante volume de 50 milhões de hectolitros. É muito vinho!
 
Por razões históricas preferimos os vinhos de Portugal, mas fora isto não existe motivo para relegar a Espanha a uma nota de pé de página. Algumas castas são comuns em toda a Península Ibérica como a emblemática Tempranillo que recebe outros nomes na terrinha: Aragonez e Tinta Roriz. Há outros exemplos.
 
Na terra das touradas, boa gastronomia e de um futebol muito competitivo (foram prematuramente eliminados na copa de 2014) são produzidos alguns dos melhores vinhos do mundo. Em 2011 apresentamos o Vega Sicilia (http://oboletimdovinho.blogspot.com.br/2011/11/um-icone-espanhol.html), mas ele não é o único “monstro sagrado” de lá. Vamos conhecer alguns outros.
 
1 – Pingus
 
Talvez seja o vinho mais procurado da Espanha e não é fácil encontra-lo: artigo raro. O Domínio de Pingus é uma minúscula vinícola, localizada na Ribera del Duero. Conta com 5 hectares de vinhedos, 100% Tempranillo, com idade média de 65 anos. O método de produção, que segue os princípios orgânicos e biodinâmicos, é totalmente artesanal. Utilizam um prensa rudimentar e a fermentação é feita em grandes dornas de madeira: o vinho é meio que deixado por conta própria. Para o amadurecimento são utilizadas poucas barricas novas de carvalho, onde o vinho passa por fermentação malolática. Só é engarrafado após 20 meses de repouso, sem filtração ou clarificação. São produzidas apenas 500 caixas por ano. A primeira vinificação foi em 1995, conseguindo notas altíssimas de vários críticos, inclusive Parker, que lhe atribuiu 100 pontos sem maiores delongas, afirmando ser um dos vinhos mais espetaculares que provou.
 
 
Por trás deste sucesso encontra-se o enólogo e proprietário Peter Sisseck, um dinamarquês que trabalhou e aprendeu suas técnicas em diversos grandes produtores. Pingus era seu apelido de infância.
 
 
Dois outros vinhos são produzidos por ele, o Flor de Pingus, também 100% Tempranillo, considerado como o segundo vinho da empresa, obtido a partir de vinhedos de outros produtores. Desde 2003, elabora, também, o limitadíssimo Ribera del Duero Amelia, a partir de vinhas com 100 anos ou mais. Em parceria com outros produtores da região colabora no vinificação do PSI, outro interessante projeto.
 
Por ser um vinho caro e quase é necessário ser “amigo do rei” para colocar a mão numa destas míticas garrafas do Pingus, mesmo que tenhamos os recursos disponíveis: o preço médio, nos EUA, ultrapassa os 1.000 dólares podendo chegar a cinco vezes este valor, dependo da safra.
 
Para os mais aventureiros há uma curiosa forma de conseguir um: em 1997 um navio, que transportava 75 caixas desta preciosidade para os Estados Unidos, naufragou no meio do Atlântico Norte.
 
Já encontram até o Titanic, então…
 
Dica da Semana: outro bom Tempranillo espanhol com preços para os pobres mortais…
 
Senda 66 – 2011 – $
Cor púrpura, com aromas de amora e carvalho. No palato é médio encorpado, acidez moderada, taninos médios, intensidade de moderada a alta. Destacam-se notas de café, cereja preta e creme de cassis. Final de médio a longo.
RP 88 pts