Um velho jargão já dizia “Ano novo, vida nova”, geralmente seguido de alguns conselhos ou promessas para ter sucesso a partir da virada do ano. Para não quebrar nenhuma tradição, algo bem supersticioso, vamos iniciar 2015 com uma boa coleção de recomendações, enunciadas pelo excelente enólogo argentino Angel Mendoza, proprietário do Domaine St. Diego, a melhor visita de nossa última viagem à Mendoza.
Ele nos convida a abandonar alguns mitos sobre a nossa bebida favorita e garante que precisamos continuar explorando outras possibilidades.
Faço uma importante ressalva: este texto foi publicado no diário Los Andes em 16 de agosto de 2014, dirigido ao público consumidor argentino. Apenas fiz a tradução, a mais literal possível, mantendo as deliciosas características de sua prosa. Alguns itens, como aquele sobre a temperatura dos vinhos, merecem uma reflexão adicional de nossa parte, não temos no nosso país as mesmas condições climáticas de lá.
I – Saborear boas comidas e vinhos é um dos prazeres da vida. “Uma refeição sem vinho é como um dia sem sol”. “O bom vinho é uma deliciosa guloseima que adoça a vida”.
II – Para desfrutar da boa vida e dos vinhos é necessário cultivar os sentidos (visão, olfato, paladar, tato, audição, bom senso) e a curiosidade. O vinho é um maravilhoso mundo de sensações onde se encontra mistério, sofisticação, charme, alegria e surpresa.
III – Para bons vinhos, bons momentos: amigos, amores, filhos, família, triunfos, aniversários, saúde, reuniões sociais, negócios, jantares de gala, restaurantes finos. “O churrasco e as massas no domingo”. “A sede do Verão”. “A reflexão que o inverno convida”, “Nunca sozinho ou solitário”, “A verde esperança da Primavera”, “A Fotocromia do Outono”.
IV – Os milenários benefícios terapêuticos de um bom vinho são redescobertos a cada dia. Uma ou duas taças por refeição prolongam a vida, ou, pelo menos, a tornam mais saudável e feliz.
A tragédia do alcoolismo não está escondida nas primeiras taças de uma boa refeição.
Quando desejamos saúde ao brindar com o vinho, estamos relembrando o antigo costume de considerá-lo uma bebida saudável e curativa.
Embora estudos recentes tenham mostrado que o vinho tinto, consumido diária e moderadamente, reduz o risco de ataques cardíacos, os vinhos brancos e rosados também são saudáveis porque liberam o espírito. Naturalmente, “o bon vivant” sempre começa com um branco para terminar com um tinto.
V – Bons vinhos são parte inseparável da cultura dos povos dominantes do Mediterrâneo. Foi assim que (o vinho) chegou à Argentina e permitiu o desenvolvimento social e econômico desta terra. O vinho surge diferente em cada região. O enoturismo permite descobrir a originalidade desta bebida.
Temos que nos preparar, todos os dias, para melhor impressionar cada visitante de nossas vinícolas. O vinho é o melhor embaixador da nossa terra.
Os Agrônomos e Enólogos argentinos devem tentar colocar em cada garrafa de vinho uma imagem clara da paisagem (terroir), cultura e identidade das regiões vitivinícolas.
Nós nunca bebemos vinhos tão ricos como os de hoje. Mas, certamente, os de amanhã serão melhores.
VI – Para apreciar os bons vinhos necessitamos de taças de cristal adequadas ou de vidro claro, transparente, com hastes e formato oval ou de tulipa. Os seus sentidos irão capturar melhor os sedutores estímulos dos vinhos.
Para vinhos brancos, taças de menor volume para sempre beber o vinho fresco.
Para os vinhos tintos nobres, envelhecidos em madeira e na garrafa, a taça Bordalesa com mais de 300 ml permite uma aeração simultânea liberando o bouquet.
Para os espumantes, a sedutora taça flute permite admirar o “perlage”, uma série de bolhas finas que explodem na superfície e liberam os sabores.
VII – Aprecie o bom gosto dos vinicultores para engarrafar e rotular seus vinhos. Rótulos são obras de arte que devem corresponder à qualidade do vinho. Você deve perceber isto com os seus sentidos.
Junto com cada garrafa se compra a ilusão de um momento especial, como um pôr do sol ao pé da Cordilheira dos Andes ou uma noite romântica. Esta sensação se transmite por meio das imagens; o conteúdo é o toque final.
“O bom vinho pode ser comparado com as mulheres honradas: não devem apenas ser, mas demonstrá-lo”.
VIII – Seja muito respeitoso e exigente com a temperatura do vinho. As castas brancas resfriadas entre 8 e 12° C. Os tintos encorpados e de guarda a não mais de 18° C. Espumantes bem gelados entre 2 e 6° C, com a taça “flute” gelada no verão.
Os vinhos de mesa para o dia a dia, geralmente cortados com suco de uva, devem ser bebidos bem frescos, para matar a sede, entre 8 e 12° C, para que não fiquem muito doces.
Na primavera e no verão, para saciar a sede, não hesite em combiná-los com água mineral, ligeiramente gasosa, suco de frutas ou adicionar alguns cubos de gelo. Será uma bebida refrescante muito natural. Mais saudável do que refrigerantes com ácido fosfórico.
Também conserve com carinho sua coleção de vinhos de guarda a uma temperatura constante de 12° C.
IX – A melhor harmonização entre pratos e vinhos pode estar na cor:
Para alimentos de cor clara, vinhos brancos.
Para alimentos de coloração escura/vermelha, vinhos tintos.
Lembre-se que a prática da desobediência e o gosto pessoal são a base do prazer.
X – O melhor vinho é aquele que você gosta. Desafie e recompense o seu bom gosto não esquecendo que:
O vinho é uma bebida natural, milenar, saudável e alegre, que gratifica o coração das pessoas quando apreciado com moderação.
É uma bebida mágica, sensual e saudável que se renova de geração em geração.
É importante também nunca esquecer que é uma bebida elaborada a partir de uvas, não é fabricada. É cultivada no vinhedo, na adega e até na sua venda. Viva com paixão; beba com sabedoria!
O contexto cultural do vinho.
– A localização dos vinhedos – o sabor das uvas.
– A arquitetura das vinícolas.
– A paixão dos produtores.
– A sedução dos rótulos.
– As histórias românticas dos contra rótulos e folhetos.
– A linguagem do vinho.
– A alegria descontrolada dos amigos com uma segunda taça de vinho.
– O calor de uma família reunida em torno de uma mesa de pratos requintados e vinhos solenes.
Dica da Semana: quem disse que não se bebem tintos no verão? Experimentem este aqui!
Um vinho fresco e jovem que possui aromas de framboesas e notas de especiarias com toque terroso ao final.
No paladar a acidez é vibrante e os taninos muito delicados.
Siga um dos conselhos de Angel Mendoza e o deguste gelado acompanhando peixes e frutos do mar.
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