Recentemente assisti a um concerto da famosa Jazz at Lincoln Center Orchestra com Wynton Marsalis, o mais importante trompetista deste gênero na atualidade. O que me chamou a atenção foi a incrível afinação do grupo e a consistência do que os músicos apelidaram de “cozinha”, o trio de piano, baixo e bateria. Houve um momento que os demais músicos se retiraram ficando apenas este trio. Honestamente, parecia que a orquestra toda ainda estava no palco. Embora fosse a grande estrela do espetáculo, Marsalis compunha o naipe de trompetes, como qualquer outro músico, sem estrelismos.
Foi a melhor definição de equipe, conjunto ou time que pude assistir: todos em uníssono em prol da boa, ou melhor, excelente música. Para os leitores entenderem melhor do que estamos falando, afinal esta é uma crônica sobre vinhos, assistam a este pequeno vídeo onde a orquestra apresenta um tema bem conhecido: “Jingle Bells”.
Percebe-se facilmente que, se cada instrumento desempenhar bem a sua parte, o resultado, mesmo para uma canção quase banal, pode ser espetacular.
Produzir um grande vinho é exatamente isto, reunir a melhor matéria-prima, os melhores equipamentos e grandes vinhateiros. Juntando cada uma destas peças em seu devido lugar o resultado só pode ser igual à música para os nossos ouvidos.
Esta busca por vinhos cada vez melhores, que não limitem a capacidade de criar e inovar de seus produtores, tem como meta principal encontrar novos territórios para plantar diferentes castas e obter vinhos únicos.
São típicas, hoje em dia, as associações de vinícolas do Velho Mundo com seus pares no Novo Mundo. Muitas já se estabeleceram na Califórnia, Chile, Austrália, entre outros, ou buscam parcerias como o que aconteceu na Argentina entre Nicolas Catena e Paul Hobbs que reinventaram a casta Malbec.
Outra parceria, não menos famosa, foi feita entre Robert Mondavi, o mais conhecido dos produtores da Califórnia e a Baronesa Philippine de Rothschild, dona de alguns dos melhores Chateaux em Bordeaux, para produzirem o raro vinho Opus One.
Um dos empreendimentos mais interessantes nesta área reuniu sete grandes nomes do vinho na mais promissora área do momento, o estado de Washington, EUA, especificamente na região de Walla Walla, considerada como tendo as melhores uvas do planeta.
A vinícola, que se chama Long Shadows (grandes sombras), é uma criação de Allen Shoup que dirigiu por muitos anos o Chateau Ste. Michelle e suas vinícolas associadas, ficando muito famoso por ter forjado parcerias com ninguém menos que Piero Antinori (Itália) e Dr. Ernst Loosen (Alemanha), que passaram a produzir nesta região.
Inaugurada em 2003 a Long Shadows foi uma aposta ousada que levou alguns anos sendo maturada. A proposta, ao mesmo tempo tão simples quanto complexa, recrutaria alguns dos maiores nomes do vinho para que utilizassem a excelente matéria-prima da região e produzissem seus vinhos de acordo com as especificações de cada um.
Um desafio e tanto, uma senhora orquestra para afinar e apresentar um repertório de sete vinhos fantásticos, um verdadeiro “dream team”.
Cada vinhateiro convidado se tornou sócio do empreendimento e produz seu próprio rótulo. Como nem todos podem se dedicar integralmente ao projeto, existe um enólogo residente, o competente Gilles Nicault que comanda todas as vinificações com equipamentos de ponta.
Estes são os vinhos e seus produtores:
Poet’s Leap Riesling
Produzido por Armin Diel, um dos mais aclamados produtores de Riesling da Alemanha, responsável pela vinícola Schlossgut Diel, na região do Nahe.
São produzidas 5.000 caixas por ano.
90 pts Parker em 2013.
É o único vinho branco.
Chester-Kidder
Um delicioso corte de Cabernet Sauvignon, Syrah e Petit Verdot vinificado pelo enólogo residente, Gilles Nicault, sob estreita supervisão de Alen Shoup, que homenageia seu avô, Charles Chester com este rótulo.
93 pts de Parker em 2011
Feather Cabernet Sauvignon
Elaborado por ninguém menos que Randy Dunn, pai de grandes Cabernet da Califórnia, entre eles o famoso Caymus.
Simplesmente sensacional, oferecendo tudo que se espera de um vinho desta categoria.
94 pts Parker em 2011.
Pedestal Merlot
Ninguém melhor para elaborar este vinho que o genial Michel Rolland, o rei desta casta e consultor de 10 entre as 10 maiores vinícolas do mundo.
Embora declare ser um Merlot, recebe pequenas porcentagens de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Petit Verdot.
94 pts Parker em 2011.
Pirouette
Um corte bordalês com Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot e Cabernet Franc, produzido pelas mãos de Philippe Melka e Agustin Huneeus.
Melka, trabalhou nas principais casas francesas, entre elas Petrus, Haut Brion e Dominus.
Huneeus, teve sob sua responsabilidade a Veramonte, Concha y Toro, Franciscan Oakville Estate e Mount Veeder, entre outras.
É considerado um inovador. 93 pts Parker em 2011.
Saggi
Interessante corte de Sangiovese, Cabernet Sauvignon, e Syrah vinificado pelos toscanos Ambrogio e Giovanni Folonari (pai e filho).
Saggi quer dizer “Sabedoria” e isto não falta a esta dupla: a família produz vinhos desde 1700.
Ambrogio foi presidente da Ruffino, comprada por seu avô em 1912. Produzem alguns dos ícones do Chianti e dos Supertoscanos.
92 pts Parker em 2011.
Sequel
Este nome significa “sequência”, nada mais justo segundo seu enólogo o australiano John Duval, responsável pelo formidável Penfolds Grange, um dos grandes vinhos do mundo.
Um é a continuação do outro.
Um corte de 94% de Syrah com uma gota de Cabernet Sauvignon.
94 pts Parker em 2011.
Uma orquestra afinadíssima!
Pena que ainda não chegaram por aqui…
Dica da Semana:um bom tinto que não faz feio entre estes citados.
Von Siebenthal Parcela #7, 2009
No olfato apresenta notas intensas de cerejas em compota e nítidos matizes a alcaçuz.
No palato é de uma concentração completa, com muita intensidade de sabores e em várias camadas.
A textura dos taninos é de bom nível qualitativo e tem excelente equilíbrio.
Harmonização: carne bovina ou suína em molho saboroso. Confit de Pato. Queijos de consistência firme e sabor forte.
João Carlos Pinheiro ou Tuty como é chamado pelos amigos e pela família, é um Enófilo estudioso e Barista. Teve a oportunidade de expandir seus conhecimentos nos principais polos produtores do mundo. Tuty dá aulas, palestras e organiza almoços ou jantares harmonizados e outros eventos.
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