A Internet tem sido um grande canal de informações para todos. Infelizmente, nem tudo que se descobre em seus meandros é verdadeiro ou correto, o que exige de cada um de nós um grande senso crítico, capacidade que só se adquire depois de muitos anos de experiência, boas leituras e até mesmo o domínio de um segundo idioma.
 
Antigamente ensinavam Latim, Inglês e Francês, além do Português, deixando o Espanhol esquecido, mesmo sabendo que todos os nossos vizinhos sul-americanos o adotam. Embora fossem noções básicas, era suficiente para evitar alguma gafe.
 
Atualmente é impensável que não se domine pelo menos mais um idioma. Em algumas carreiras isto era fundamental, como a Diplomacia. Hoje, nem português exigem mais…
 
Outra atividade que deveria ter profissionais hábeis em dois ou 3 idiomas diferentes é o Jornalismo. Com a quantidade de informações que recebemos diariamente, de todos os cantos do mundo, exercer o senso crítico sem dominar outras línguas fica complicado.
 
Imagine checar a fonte de uma matéria, regra jornalística que parece ter sido esquecida por muitos profissionais: correm para o Google, que existe para isto mesmo e, se não entenderam nada do que estão lendo, usam o poderoso “tradutor” que está ali ao alcance de um clique.
 
Aí mora o perigo: o resultado desta tradução é literal e fora de contexto.
 
Redatores e revisores de uma importante revista sobre vinhos, distribuída pelo sempre ótimo Clube W da Wine, embarcaram nesta canoa furada e produziram uma enorme “barriga”.
 
Eis a pérola publicada no nº 67 de julho de 2015, página 49:
 
-“Selecionamos o Grand Terroir da AOC La Caple, a mais recente Apelação de Origem”… 
 
 
Esta mancada é o resultado de falta de senso crítico, desconhecimento de um 2º idioma e utilização indiscriminada de um tradutor, on line, para resolver o problema.
 
Simplesmente inaceitável numa publicação deste calibre que deveria educar os seus leitores e/ou sócios, formando uma geração de consumidores bem informada e multiplicando as chances de continuar sendo o sucesso que é.
 
Na língua portuguesa o substantivo “apelação” tem um significado muito específico. Reparem na definição de um bom dicionário:
 
 
Não há nenhuma referência ao mundo dos vinhos.
 
A origem desta palavra vem do latim “appellare” (chamar ou chamada), que não é a mesma raiz da expressão francesa “Appellation” que deriva de “appellatio” (nome).
 
A expressão correta no nosso idioma seria “Denominação” ou “Designação” (de Origem Controlada), jamais “Apelação”.
 
Mensagens alertando sobre o erro foram enviadas para a redação da revista e para o Presidente da Wine, que reconheceram o engano e prometeram uma retificação na próxima edição.
 
Esta é a parte mais triste deste caso: na edição seguinte lá estava o mesmíssimo erro, desta vez em destaque. As imagens falam por si:
 
(nº 68, Agosto 2015, pag. 46)
 
 
  
Apelaram demais: errar é humano, persistir no erro é burrice.
 
Esta coluna, embora não seja assinada por nenhum jornalista, reflete as opiniões do Colunista que têm sempre a preocupação de checar a veracidade dos fatos abordados. Dentro deste espírito, fomos à fonte, neste caso o conhecido dicionário Larousse, buscando o real significado do termo “Appellation”. Eis o resultado:
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tradução: nome, qualificativo que se atribui a qualquer coisa ou qualquer um.
 
Clicando na aba que exemplifica o seu uso obtivemos:
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tradução: denominação garantindo a origem de um produto, particularmente dos vinhos.
 
Batendo o último prego deste caixão, eis o que a aba dos sinônimos mostrou:
 
 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tradução: denominação; designação; palavra; nome; qualificação; vocábulo.
 
Nem precisava consultar o Aulete.
 
Como diria o Prof. Luiz Antonio Sacconi: -“Não erre mais”.
 
Dica da Semana: fugindo das AOC, DOC e similares, um honesto vinho grego da região da Macedônia.
 
Boutari Syrah TO Imathia 2006
 
Vinho de cor vermelha-rubi.
 Mostra um intenso bouquet aromático e condimentado. No palato é bem estruturado e com taninos finos.
 Tempo de guarda de 5 a 10 anos.
 Harmoniza com carnes vermelhas e queijos amarelos.