São situações bem diferentes: degustar um vinho em casa ou pedir um vinho num restaurante e ser atendido por um Sommelier.
 
Em casa há uma necessária informalidade, somos mestres e senhores de todos os acontecimentos e podemos rir de nossos erros sem problemas.
 
Num restaurante de qualidade, é mandatório seguir o rito formal tão apreciado pelos enófilos, sempre muito conservadores.
 
A primeira “obrigação” é acertar na escolha do vinho. Nem sempre as cartas são elaboradas corretamente o que dificulta a escolha. Some-se a isto o curioso hábito brasileiro de sugerir a escolha da bebida antes mesmo dos comensais decidirem o que vão comer!!!
 
Ultrapassada esta fase e encomendado o vinho que vai harmonizar corretamente com os pratos, o Sommelier nos apresenta a garrafa para que seja confirmada a escolha. 
 
Abre-se o vinho e a rolha entregue para quem o pediu.
 
O que fazer com ela?
 
Embora pouco conhecida, existe uma explicação lógica para este gesto: duas informações preciosas estão disponíveis na rolha, ambas por inspeção visual.
 
Procura-se, primeiro, por uma data e marca estampadas que devem corresponder às do rótulo (vinhos de qualidade). Isto garante que o vinho não foi fraudado.
 
A segunda informação é obtida observando a integridade da rolha e buscando por infiltrações e indícios de mofo. Se encontrados, significa que o vinho pode estar com sua qualidade comprometida. Neste caso, não o prove e peça ao Sommelier para fazê-lo.
 
Esta é a hora de recusar a garrafa, mas há casos em que todos estes defeitos foram encontrados e o vinho estava perfeito.
 
 
A grande maioria das pessoas apenas cheira a rolha e ainda por cima no local errado. Risível mas verdadeiro, este gesto, muito comum, tem uma origem que beira uma fábula e, como sempre, envolve um esnobe, anônimo, que talvez tenha sido o primeiro enochato da história.
 
Reza a lenda que quando apresentado com a rolha, a tal figura, sem ter a menor noção do que fazer com ela, simplesmente cheirou a ponta que estava em contato com o vinho e soltou alguma expressão de satisfação.
 
Foi o suficiente para ser criado um novo rito.
 
Não existe nenhuma regra que proíba alguém de cheirar a rolha, mas a posição correta de fazê-lo é na lateral e não no topo como se vê até em filmes.
 
Qual o aroma que não deve aparecer?
 
Mofo, azedo ou qualquer odor estranho.
 
Óbvio que este rito foi sendo modernizado ao longo dos anos. Hoje é aceito que se faça o que bem entender com a rolha: cheirar, quebrar, guardar, etc.
 
A próxima etapa, provar o vinho, é um teste tipo “saia-justa” para quem se aventurou a encomenda-lo. Tradicionalmente o Sommelier deveria prová-lo primeiro, mas há pessoas que se incomodam com isto, principalmente se for um rótulo caro, o que fez com que o hábito fosse caindo em desuso e a responsabilidade transferida para quem vai pagar a conta.
 
É servida uma pequena dose para ser avaliada. Como proceder?
 
O correto é observar os três aspectos básicos: cor, aroma e sabor.
 
Deve-se fazê-lo em duas etapas, antes e depois de aerar um pouco o vinho girando a taça. Tudo deve estar de acordo, inclusive a temperatura. Se houver qualquer ponto em desacordo este é o momento de solicitar as correções necessárias.
 
Se estiver tudo certo peça para que o vinho seja servido.
 
Assim como no caso da rolha, existe outro ponto que é discutível: observar as lágrimas nas laterais da taça.
 
Há quem dê uma grande importância a este detalhe, mas a maioria dos enófilos faz este gesto apenas de forma lúdica, sem ter ideia do que representa o mesmo. 
 
O que procurar nas formas viscosas que escorrem lentamente pela taça?
 
Honestamente, não é um ponto relevante. Indica, a grosso modo, a presença de glicerol, um dos muitos álcoois presentes.
 
Mas é uma imagem bonita, agradável, que simboliza o que está por vir: ótimos momentos que vão coroar uma escolha correta do local, do vinho e da companhia.
 
Nenhuma avaliação é melhor que a nossa satisfação.
 
Dica da Semana: um raro e ótimo varietal francês.
 
 
Le Paradou Grenache 2012
 
Um excelente vinho de bistrot, feito com 100% de Grenache de vinhas com mais de 75 anos, todas no Minervois.
Oferece uma expressão puríssima desta casta, com notas de cerejas pretas, húmus, alcaçuz num estilo direto e sedutor.
Com um perfil próximo de um Pinot Noir, possui leveza e macieza aveludada e poderá ser apreciado agora e por mais dois anos.