Para quem não lembra, uma degustação vertical é a prova de um mesmo vinho em diferentes safras. O conjunto da foto contemplava quatro safras deste vinho português alentejano: 2002, 2003, 2004 e 2005.
Recebi esta caixa de presente há alguns anos e guardei-a para uma ocasião especial. Talvez se residisse em uma cidade de clima mais ameno que o Rio de Janeiro eu a tivesse “esquecido” por mais tempo no fundo da minha adega. Impus aos meus vinhos de guarda um conservador limite de 10 ou 12 anos. O vinho mais velho desta degustação já estava com 14 anos…
Para organizar este evento, contei com a luxuosa ajuda do amigo Ronald Sharp. Prontamente escolhemos o local, o sempre bom ZOT Gastrobar, comandado por outro amigo, Márcio Martins. A relação de convidados não poderia ser muito extensa caso contrário não haveria vinho para todos. Além dos já citados, compareceram: Fábio, Mario, Mario Henrique e Roberto.
Para ser uma vertical, de verdade, elaboramos uma ficha de degustação simplificada que me auxiliaria na hora de escrever sobre a prova.
A Herdade do Esporão, localizada em Reguengos de Monsaraz, é uma das mais antigas propriedades desta região, estabelecida no ano de 1267.
Estas safras do Esporão Reserva, um dos vinhos emblemáticos de Portugal, foram vinificadas pelo Enólogo David Raverstock a partir das castas Trincadeira, Aragonês e Cabernet Sauvignon, com fermentação em temperatura controlada, seguido de envelhecimento em barricas de carvalho americano durante 1 ano. Após engarrafadas, permaneceram em repouso por mais um ano antes de serem colocadas no mercado.
A garrafa adota o formato da Borgonha numa homenagem ao grande vinho Romanée-Conti. Os rótulos são pequenas obras de arte especialmente desenhados por diferentes artistas portugueses.
A Prova
Para abrir os trabalhos foi servido um espumante branco da Don Guerino. A ideia era limpar o paladar para enfrentar esta mini maratona. A ordem do serviço seria do mais novo (2005), ainda assim um vinho de 11 anos de idade, ao mais velho (2002).
Para acompanhar foi servida, inicialmente, uma tábua de queijos nacionais artesanais. Em seguida uma rodada de um queijo Minas trazido pelo Roberto, e para finalizar uma tábua dos famosos embutidos elaborados pelo Chef do Zot, todos eles deliciosos. Cesta de pães e água completavam o quadro.
Todos os vinhos estavam perfeitos e alguns deles causaram boas surpresas.
O 2005, mostrava uma bela coloração rubi e ótima limpidez. No olfato os aromas típicos dos vinhos envelhecidos como couro, tabaco e outros conhecidos com terciários. Boa acidez. No paladar era muito equilibrado apresentando marcantes notas de especiarias.
Por ter sido o 1º a ser degustado, serviu de base para a comparação dos demais.
Aberto o 2004, novas surpresas apareceram.
Segundo a maioria era um vinho superior ao anterior. Apresentava uma coloração tendendo ao Granada, um pouco mais opaco que o 2005 mas ainda límpido (sem depósitos em suspensão). No olfato tinha aromas mais pronunciados e apresentava algumas notas cítricas além dos aromas terciários. Após alguma aeração, era possível notar a presença de frutas negras. Muito equilibrado no paladar, taninos suaves e agradáveis.
O próximo vinho, safra 2003, foi considerado por quase todos como o melhor da noite. Bonita coloração Rubi bem fechada, com reflexos verde-esmeralda. Na prova olfativa quase não eram percebidas as notas de couro e tabaco que seriam esperadas num vinho como este. O que se destacava eram frutas maduras e sutis notas cítricas como casca de laranja ou de bergamota.
A opinião geral é que parecia ser um vinho mais jovem que o 2005. Surpreendente. Na prova gustativa mostrou toda a sua força, maciez e equilibrio, boa acidez que emoldurava os sabores frutados.
Como a sequência mostrava uma evolução positiva, cada vinho aberto era superior aos demais, a expectativa em relação ao último vinho da noite era grande.
Sua coloração já tendia para o alaranjado e percebia-se facilmente alguns depósitos em suspensão, o que veio confirmar que fora acertada a decisão de realizar este evento. Se aguardasse mais tempo este vinho não ganharia mais nada e poderia se deteriorar.
No olfato mostrou que ainda estava vivo, com claras notas de ameixa preta, sublinhado por algum tabaco. Havia uma leve predominância de aroma alcoólico. Na boca apresentou uma ótima acidez o que provocou uma divertida tentativa de harmonizá-lo com um pouco de salmão defumado que foi servido na tábua de frios. Funcionou muito bem! Surpreendente para um vinho com 14 anos de elaborado. Certamente não foi o melhor da noite, mas deixou todos muito satisfeitos.
O Resultado
Uma última pergunta deveria ser respondida pelos degustadores: Qual o melhor vinho desta vertical?
1º – safra 2003 com 6 votos
2º – safra 2004 com 4 votos
3º – safra 2002 com 3 votos
4º – safra 2005 com 5 votos
Assim como os vinhos, um resultado muito equilibrado.
Bons Vinhos, saúde!
Vinho da Semana: para ninguém ficar com água na boca.
Esporão Reserva 2012
O corte nesta safra é composto por Alicante Bouschet, Aragonês, Cabernet Sauvignon e Trincadeira. O aroma evoca uma mescla de fruta em compota e coisas balsâmicas: caramelo, favas de baunilha, alcaçuz com tempero de pimenta seca sutil. Tem taninos firmes, mas maduros. Sabor frutado com evocações de café torrado. Boa acidez e bom equilíbrio alcoólico.
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