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Este texto decorre do comentário do leitor Aloisio Mancini, de Florianópolis, postado no site do O Boletim, na semana passada. Em poucas palavras, ele questiona qual a origem do nome das castas mais conhecidas. Haveria alguma razão em especial?

Assim como a origem das atuais uvas viníferas ainda é uma incógnita que vem sendo dissecada por diversos centros de pesquisa, a etimologia de seus nomes segue o mesmo caminho, muito difícil de trilhar, por onde se misturam lendas, sabedoria popular e verdades.

Até onde conseguimos pesquisar, a maioria das castas que conhecemos hoje e apreciamos seus vinhos tem mais de um nome, às vezes dentro de uma mesma região. O normal é que uma determinada planta ganhe novos apelidos conforme vai sendo plantada em outras regiões. Mas algumas poucas variedades se mantêm fiéis ao nome que as tornaram famosas, Cabernet Sauvignon e Merlot, por exemplo.

No século XVII a Cabernet era conhecida como Vidure ou Bidure e às vezes Biturica (este talvez tenha sido o vinho produzido com ela). Estudiosos como Jancis Robinson acreditam que este termo seja uma deturpação de “vigne dure” literalmente “parreira dura”, numa alusão ao rígido tronco desta planta.

A mudança para o nome atual teria surgido por uma razão específica: os aromas eram semelhantes aos da Cabernet Franc e aos da Sauvignon Blanc, fato que seria confirmado, em 1976, através de testes de DNA.

A Merlot ganhou seu nome por semelhança a um pássaro, o Melro, tão preto quanto a casa desta uva. Literalmente Merlot é um diminutivo de Melre (francês). Dependendo da região onde está plantada, recebe 60 outros apelidos, todos girando em torno do pássaro ou por semelhança com outras castas.

Isto sugere uma regra básica: a maioria destas denominações tem origem na cor, na forma, no tempo de amadurecimento, na região onde florescem, etc…

Um dos exemplos mais interessantes é a casta Tempranillo, que vem de “temprano” ou cedo em espanhol: ela amadurece precocemente, antes das outras uvas plantadas nas mesmas regiões. Na própria Espanha ganha outros nomes: Tinto Madrid; Tinto de La Rioja; Tinta del País; Tinto de Toro e Tinto Aragónes. Uma corruptela deste último nome, Aragonês, é um dos nomes como é conhecida em Portugal na região do Alentejo. O outro nome é Tinta Roriz, no Douro. Na Califórnia é Valdepenas e na Itália se chama Negretto.

Outra casta que foi batizada por ser precoce é a italiana Primitivo (que vem primeiro…). Mas não tem nenhuma relação com seu nome original, na Croácia, Crljenak Kaštelanski (Uva Tinta de Castela) ou a denominação californiana, Zinfandel, atualmente reduzida para “Zin”.

Outro exemplo formidável é a uva icônica da Itália, a Sangiovese. Seu nome vem do latim, “sanguis Jovis”, livremente traduzido como “Sangue de Júpiter”. Esta denominação teria sido cunhada pelos monges da comunidade de Santarcangelo di Romagna, atual província de Rimini, na Emilia-Romagna.

Dependendo da região italiana onde está plantada recebe diferentes nomes, eis alguns deles: Sangiovese Grosso, San Gioveto, Prugnolo, Brunello, Calabrese, Uvetta, Montepulciano etc…

Quando se trata de uvas autóctones, Portugal é o campeão dos nomes e apelidos. Há casos icônicos como o da uva branca Fernão Pires, uma das mais plantadas no país nas regiões do Tejo, Lisboa e Setubal, mas, quando chega na região da Bairrada muda de nome (e sexo) passa a ser chamada de Maria Gomes.

Outra lenda deliciosa se refere a uva Antão Vaz, importante casta branca alentejana. Segundo alguns historiadores, um antigo fazendeiro da região de Vidigueiras, era frequentemente questionado por um dos seus empregados sobre uma uva branca sempre esquecida: Por que não fazemos vinho destas uvas?

E isto se repetiu por muitos anos até que, um dia, o fazendeiro já cansado de tanta arenga respondeu: “Então faz”! (Lembrem-se do sotaque…)

Anedótico, sem dúvidas, mas um perfeito espelho de como são apelidadas as castas viníferas.

Bons vinhos e saúde!

Vinho da Semana: um belo rose para o Dia das Mães

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Hecht & Bannier – Côtes de Provence 2014

Os rosados da Provence, de coloração leve e de sabor profundo, são os mais festejados da França. Esta interpretação é simplesmente deliciosa. Fresco e repleto de notas de frutas é uma das escolhas mais charmosas.

Castas: Grenache, Cinsault e Syrah

Harmonização: Aperitivos, massas leves, peixes e frutos do mar.