Assim como nos esportes, o mundo do vinho é muito competitivo. Em lugar de torcedores, fanáticos ou não, em cada modalidade esportiva, vamos encontrar enófilos que defendem com argumentos consistentes que os melhores caldos vêm do Novo ou do Velho Mundo, que esta ou aquela casta é a permite elaborar vinhos perfeitos, e muitos outros temas relacionados.
A disputa chega até o nível dos conhecimentos pessoais, afinal, quem é o medalhista de ouro quando se trata de degustar, analisar e informar sobre um vinho: o Crítico ou o Sommelier?
Steve Heimoff, jornalista norte americano especializado em vinhos, comentou este tema, de forma brilhante, em uma de suas recentes colunas (http://www.steveheimoff.com/index.php/2016/08/15/sacto-are-you-ready-its-the-sur-vs-steve-show/).
A leitura atenta de seu texto nos mostra que são duas escolas bem diferentes na hora de provar um vinho, tudo girando em torno da conhecida degustação ás cegas, considerada por muitos como a forma justa de avaliar um vinho.
As diferenças começam na forma como cada um deste profissionais se prepara para enfrentar este tipo de prova.
Um Sommelier é treinado para reconhecer o vinho lhe foi apresentado de forma incógnita. Este é o principal objetivo de sua formação, capacitando-o para obter os diplomas dos famosos Wine and Spirits Education Trust (WSET) e Court of Master Sommeliers, títulos o coloca no Olimpo destes profissionais. Uma tarefa de grande porte que vai exigir muito treinamento e disciplina.
Mas acaba sendo uma dedução lógica, quase que montar um quebra-cabeças. A qualidade do vinho e suas características organolépticas servem como chaves para ir eliminando possibilidades até chegar a uma conclusão final.
O Court of Master Sommelier fornece, inclusive, uma tabela dedutiva para facilitar o reconhecimento do que está sendo provado. (Neste link, em inglês: http://www.courtofmastersommeliers.org/pdfresources/tastingformat.pdf)
O objetivo de um Sommelier é identificar um vinho.
A grande maioria dos críticos especializados vem de outra formação e usam outras técnicas. Sua tarefa é informar ao consumidor final sua opinião, qualitativa, sobre um vinho. Será sempre uma análise subjetiva, mesmo que façam a degustação às cegas. Precisam atribuir uma nota, seja no discutido sistema de 100 pontos ou no de 20 ou ainda carimbá-lo com até 5 estrelas.
O objetivo de um crítico é avaliar a qualidade de um vinho.
Cabe ao enófilo decidir em quem ele pode confiar mais, na lógica quase cartesiana de um Sommelier ou na sensibilidade do Crítico, com toda a sua subjetividade embutida.
Isto fez a fama de Robert Parker, por exemplo, mas até este tema é motivo de disputas: além do citado, temos Jancis Robinson, Hugh Johnson, Patricio Tapia (Chile), Fabricio Portelli (Argentina), Jorge Lucki (Brasil), e muitos outros.
A medalha de ouro vai para…
Para quem consome o vinho.
Você é o melhor crítico e sommelier.
A menos que descobrir que vinho estamos bebendo ou atribuir uma nota seja o seu propósito ao desarrolhar uma garrafa, todos sabemos exatamente o que nos agrada ou não.
Pessoalmente, não estou interessado em degustar nada às cegas. Não gosto de surpresas.
Jamais vou chegar vendado a uma loja de vinhos e escolher aleatoriamente as garrafas que vou adquirir.
Prefiro saber o que estou comprando ou que vinho estão me servindo.
Este ato de provar uma taça, sem saber o seu conteúdo, e afirmar que o vinho é um “xyz” safra mil novecentos e bolinha, com as uvas colhidas num dia frio e engarrafado num verão escaldante, ou coisa semelhante é puro esnobismo, salvo para os profissionais que dependem disto.
Enólogos são os meus críticos/sommeliers preferidos. Escolho minhas compras lendo as fichas técnicas dos produtores.
As informações dos especialistas, sejam em guias de vinhos ou outras resenhas, podem ser uma boa ajuda, mas se não combinar com o meu gosto pessoal não trilho mais este ou aquele caminho.
Eu bebo às claras!
Simples assim.
Saúde e bons vinhos!
Vinho da Semana: uma escolha de caso pensado.
Castaño Monastrell Yecla 2009
Cor cereja com reflexos violetas. Aroma intenso, potente, frutado, toques de uva madura.
Saboroso, cálido, denso e frutado. Final de boca bastante intenso.
Versátil, harmoniza com diversos pratos da culinária local.
Don Tuty,
acho que vc devia abrir um curso sobre a matéria, pois tuas colunas estão cada dia mais didáticas e corretas.Endosso cada palavra, exceto na questão das degustações às cegas, que, inclusive, já fizemos algumas juntos, quando estas servem para apreciarmos, de forma mais isenta, as diferenças entre alguns vinhos, em geral conhecidos de antemão, em verticais ou horizontais.
TZ
Tezy
Bem colocado, mas neste caso era uma opção nossa e não uma forma de se mostrar conhecedor de vinhos.
Abraço