Os comentários sobre a coluna da semana passada (Crítico x Sommelier) funcionaram como um alerta: alguns leitores sugeriram um novo texto que explicasse, melhor, os termos usados no mundo do vinho, o popular “jargão”, palavras como Enólogo, Vide, Viticultura, etc…

Lembrei-me da minha juventude. Toda vez que eu perguntava, ao meu pai, o significado de uma palavra, recebia como resposta o pesado Caldas Aulete, único dicionário da nossa língua naquela época.

Aprendia duas coisas: o “significado” da tal palavra e “como pesquisar” num dicionário, uma particular forma de arte, o que é muito valioso nesta época do Google que responde a tudo.

Fica um primeiro conselho: não basta pesquisar, tem que saber como pesquisar e criticar o resultado.

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Qualquer atividade profissional, artística, esportiva, religiosa, entre outras, usa uma terminologia própria para definir suas funções, etapas, processos, manobras, etc. Se não pertencemos àquele meio, teremos dificuldade em entender o que está sendo falado.

Para deixar claro este ponto, vou pegar uma carona numa das modalidades olímpicas, os Saltos Ornamentais.

Qual a sua reação ao escutar o comentarista televisivo deste esporte se referir a um  “salto grupado”, “salto carpado” ou “salto esticado”?

A elaboração de vinhos e sua degustação não fogem a esta regra. Para um leigo absoluto pode até parecer um jogo de difíceis palavras. São apenas novos vocábulos que precisam ser incluídos no nosso glossário particular.

Longe de querer explicar a etimologia destes termos; – sou engenheiro e não professor de português – aprender um pouco sobre a estrutura do nosso idioma ajuda muito na hora de compreender o significado de uma palavra desconhecida.

Quase sempre podemos dividir uma palavra em prefixo + sufixo. Exemplo:

Enólogo – eno + logo

“Eno” vem do grego “oinos” que significa vinho;

“Logo”, também de origem grega, traduz a ideia de estudioso, especialista.

Portanto, ENÓLOGO só tem uma definição: profissional versado em Enologia, que é o conjunto dos conhecimentos científicos e técnicos relativos à arte de produzir, tratar, degustar e conservar vinhos (eno+logo+ia).

Podemos estabelecer uma regrinha que vai nos ajudar a não ter mais nenhuma dúvida:

Todos os termos que começarem por ENO se referem a vinho.

Eis mais alguns deles:

Enogastronomia: gastronomia associada ao vinho;

Enófilo: aquele que gosta de vinhos (oinos + philos «amigo»).

Reparem que um dos medicamentos mais populares é o tradicional Sal de Frutas ENO. O nome não é gratuito: ele é produzido a partir de um subproduto da vinificação, portanto, ENO.

Já sei, apareceu outra palavrinha misteriosa: vinificação.

Junto desta vamos encontrar, vinícola, vinagre, vinificar, vinha, etc..

Deixemos o Grego de lado e vamos para o Latim:

Vinu – significa “vinho”.

Então podemos afirmar que:

Vinícola – diz respeito à vinicultura, onde há vinhas;

Vinicultura – preparação dos vinhos, o que inclui o cultivo das uvas.

Vinha – terreno plantado de videiras, vinhedo e, por extensão, a parreira.

Vinhateiro – aquele que produz ou negocia vinhos (vinha+t+eiro).

Vinha-d’alhos também pode ser explicado aqui: molho feito com vinho, alhos, sal, louro, pimenta e outros aromas, para temperar carne antes de ser cozinhada; marinada.

Na regrinha estabelecida acima podemos acrescentar: VIN(i) também se refere ao vinho, o mesmo que ENO.

Os mais atentos já localizaram outro termo que pode gerar dúvidas: videira.

Este é muito fácil, é o mesmo que parreira, a planta que produz a uva.

A origem remonta ao Latim: Vitis – que exprime a noção de vide, videira, vinha. Deste prefixo decorrem:

Vitivinícola – (vite-, «vinha» +vinu-, «vinho» +colere – «cultivar») – diz respeito à produção de uvas e vinhos;

Vitis vinífera – uva que produz vinho.

Completando a regrinha, toda vez que surgir o prefixo VITE, diz respeito à planta, à parreira.

Mais alguns termos muito usados neste nosso universo enológico:

Sommelier ou Escanção: profissional especializado em sugerir e/ou servir um vinho num restaurante ou loja de vinhos. Foi explicado detalhadamente nesta matéria: https://oboletimdovinho.com.br/2016/06/12/sommelier-escancao/

Agrônomo: profissional formado em agronomia, a ciência que estuda a agricultura. No caso dos vinhos, é o responsável pelos vinhedos ou parreirais, cabe a ele tratar o solo, irrigar, podar, prevenir pragas e doenças e, junto com o Enólogo, decidir sobre ponto de maturação e colheita.

Produtor: de modo geral, qualquer pessoa que produza alguma coisa, desde um simples bolo caseiro de domingo (quanta ciência há nisto…) até um complexo equipamento. No caso do vinho, quase sempre se refere ao proprietário de uma vinícola ou àquele que dá o nome ao vinho. Pode ou não ser o enólogo ou o agrônomo.

Casta: gênero, qualidade, natureza. O tipo da uva – Cabernet, Merlot, etc…

Ampelógrafo: Do grego ámpelos – «vinha» +gráphein – «descrever», aquele que descreve a vinha.

Engaço/Desengaçar: cacho de uvas sem os bagos/ato de remover os bagos do engaço.

Para finalizar, algumas expressões típicas desta coluna:

Caldo: o mesmo que vinho, o conteúdo de uma ampola;

Ampola: a garrafa de vinho.

Tudo entendido? Faltou algum?

Saúde e bons vinhos!

Vinho da Semana: desta vez escolhemos um vinho nesta novíssima loja virtual e clube de vinhos, localizada em Belo Horizonte e ligada à tradicional importadora Casa Rio Verde: http://www.vinhosite.com.br/ (*)

F1-compressorCasa Silva Chardonnay Colección – $

Apresenta notas de manteiga e frutas tropicais, elegantemente integradas ao carvalho. Paladar exótico e refrescante, mostrando boa concentração, equilíbrio e longo final.

Harmonização: Saladas verdes, Carnes brancas, Arroz de forno, Ostras, Camarões, Bacalhoada, massa recheada com ricota e massas ao molho branco.

(*) esta coluna não tem nenhuma relação comercial com o site indicado.