O texto da semana passado gerou comentários mais preocupados com a possibilidade de vinificar em casa do que com o tema central. Dois leitores usaram a expressão da moda, “ficou louco”, para expressar uma certa incredulidade.
Olhando para a história, vinhos começaram a ser feitos “em casa”, assim como várias outras bebidas alcoólicas como a cerveja, a cachaça e os licores.
Aliás está na moda fazer sua própria “cerva”.
Se imaginarmos que o vinho pode ser explicado, em linhas gerais, como uma cerveja de uva, é perfeitamente possível obter um vinho a partir de um kit de cervejaria doméstica, com pequenas modificações.
Não é nosso intuito ensinar ou mesmo estimular este tipo de vinificação, apenas vamos mostrar que é tecnicamente possível.
Algumas recomendações iniciais são obrigatórias:
1 – Higiene é fundamental. Tudo deve estar estéril. Vários tipos de contaminação são possíveis durante estes processos;
2 – Fermentar um mosto exige cuidados e atenção redobrados. Um pequeno engano pode resultar num tipo de álcool que é venenoso e pode causar danos irreversíveis à saúde de quem o consumir (ex: metanol).
Insisto, muito, que só pode receber o nome de vinho a bebida produzida a partir de uvas viníferas.
Por outro lado, podemos usar, “um vinho”, para definir bebidas alcoólicas obtidas pela fermentação de um mosto qualquer. Se preferirem, “uma cerveja” também seria correto.
Ampliando esta definição, poderíamos obter um vinho a partir de qualquer fruta. Bastaria fermentar o seu sumo, por um período adequado, estabilizar, filtrar, engarrafar e, um dia, degustar.
Para fazer vinho doméstico, aqui no Brasil, ainda enfrentamos uma série de obstáculos para a obtenção dos insumos necessários: uvas; fermentos e outros aditivos.
Em busca de informações sobre este tema, localizei um antigo colega de trabalho, Vincenzo Bruni, que sempre me relatava as peripécias de sua família para, anualmente, fazer seu próprio vinho.
Usavam uvas de mesa, compradas no Rio Grande do Sul e transportadas de caminhão até o Rio de Janeiro. Segundo ele, o dia de iniciar a produção era uma grande farra, com a turma pisando as uvas.
Infelizmente já não fazem mais. Ele nem sabe se o lagar que existia no bairro do Engenho Novo ainda está lá. Lembrou que a última vinificação feita resultou em várias barricas de vinagre, desestimulando novas produções.
Nos países que têm a cultura do vinho, kits para vinificação doméstica são vendidos em lojas especializadas ou pela Internet. Escolhi um para ilustrar este texto:
Esta caixa contém:
– Suco concentrado de uva.
Algumas opções: Pinot Grigio; Sauvignon Blanc; corte de uvas tintas espanholas; corte de uvas tintas francesas: Syrah, Riesling alemão, Pinot Noir, Cabernet/Merlot, Malbec; Nebbiolo, Cabernet Sauvignon, Zinfandel, entre outras;
– Cavacos ou grãos de carvalho;
– Flavorizantes específicos;
– Fermentos adequados;
– Bentonita para auxiliar na fermentação;
– Antioxidantes como Metabissulfito;
– Sorbato de Potássio, um agente sanitizante;
– Agente clarificador.
Não inclui os equipamentos de fermentação e maturação, garrafas, rolhas etc., que são necessários.
Produz 20 litros de vinho, aproximadamente.
Custo (lá): R$ 180,00 (frete não incluso)
Neste link, uma loja especializada oferece tudo que é necessário:
http://www.the-home-brew-shop.co.uk/
Aqui no nosso país, uma das mais interessantes atividades para vinificadores domésticos é oferecida pela Vinícola Miolo: um curso de Winemaker ou Enólogo amador, assim anunciado:
“Você já pensou em fazer seu próprio vinho? Então não perca essa oportunidade oferecida pelo Projeto Winemakers, da Vinícola Miolo. Durante um ano inteiro você trabalhará no vinhedo, colherá suas uvas, elaborará seu vinho e até criará seu rótulo exclusivo”.
Mais informações neste link: http://www.miolo.com.br/cursos/ (role a tela).
Alunos do primeiro programa da Miolo fundaram a Associação Brasileira de Winemakers.
O site deles – http://www.abwinemakers.org.br/index.html – está repleto de boas informações para quem deseja se aventurar neste caminho.
No exterior, a maioria das faculdades de enologia oferecem cursos de Winemakers, inclusive à distância, alguns deles gratuitos.
Estou louco?
Não, ainda não. Muito pelo contrário…
Vinho da Semana: um branco oriundo de uma casta regional do Marche, Itália, a Pecorino.
Offida Pecorino de Angelis
Cor amarelo-palha brilhante com reflexos verdeais. Aroma intenso de frutas amarelas maduras, notas florais e boa mineralidade. Em boca se mostra fresco, amplo e agradável, com elegância e boa persistência.
Harmonização: pato, frango, peru, peixes, queijos de cabra e de ovelha.
Compre aqui: http://www.vinhosite.com.br/vinhos-italianos-branco-offida-pecorino-de-angelis/p
Outras ofertas da semana neste link: http://www.vinhosite.com.br/vinhos-da-semana
Tuty,
há alguns anos atrás, quando estivemos em Mendoza juntos, te propus que vendêssemos o que tínhamos, comprássemos uma terra por lá e fossemos fazer vinho. Nessa época a gente levava dólar para lá a 8 pesos e trocava por cerca de 12. E os preços, estavam cerca de 50% abaixo do que estão hoje.
A esta altura, se tivéssemos conseguido sobreviver, estaríamos com nossa primeira vindima vinificada e provavelmente estaríamos mais alegres e certamente ricos. Pena que não fomos em frente…
Tezy, lembro bem, teria sido uma ótima opção.
Valeu a lembrança.