Recriando os Vinhos da época de Jesus e Rei David

Semana Santa é a senha para que a maioria dos sites e periódicos dedicados ao mundo do vinho publiquem artigos sobre a origem do vinho, pesquisas arqueológicas e tentativas de descobrir mais sobre aquela época.

Uma das atuais tendências foca nos pratos servidos na Santa Ceia. Duas correntes tentam explicar se foi uma refeição judaica comum ou um Seder, típico da Páscoa.

Com relação ao que foi bebido, vinho é uma certeza.

A parreira ou vinha é a planta mais citada na Bíblia. No Velho testamento encontramos 140 vezes a palavra “vinho”. Noé, assim que desembarca da Arca, planta um vinhedo. Um dos milagres de Jesus foi transformar água em vinho, salvando uma festa de casamento.

Na Santa Ceia, ele serve vinho aos seus discípulos como um símbolo do seu sangue.

Nossa bebida favorita está no centro das narrações bíblicas. Mas que vinho era este?

Diversos estudos estão em curso. Alguns pesquisam as uvas que teriam sido vinificadas e outros trabalham investigando os métodos de vinificação empregados naquela época.

A Universidade Ariel, localizada em território Palestino administrado por Israel, desenvolve um abrangente projeto de identificação por DNA das diversas espécies nativas. De cerca de 70 analisadas, 20 seriam propícias para a vinificação. Uma vinícola israelense, a Recanati Winery, lançou recentemente um vinho feito com uma destas castas, a Marawi, cujas raízes ancestrais remontam ao ano 220 D.C.

Incrível!

Os processos de vinificação eram muito interessantes. Arqueólogos já haviam identificado, em túmulos no Egito antigo, pinturas que descreviam o processo.

Escavações no território israelense encontraram diversos lagares de pedra onde a uva era pisada. O sumo seria transferido para uma segunda câmara, onde era recolhido e colocado em ânforas de barro para fermentar naturalmente.

Como não havia muita tecnologia neste processo rudimentar, os vinhos não duravam muito e facilmente se transformavam em vinagre. Alguns recursos eram usados, como adicionar um pouco mais de mosto para interromper a fermentação. Outras adições comuns eram mel, frutas secas, especiarias como pimenta ou curry, canela, hortelã e resinas vegetais, como mirra, incenso e terebintina, que funcionariam como preservativos.

Este vinho era apenas decantado, antes de ser vendido, sugerindo que sua aparência era bem turva e com partículas em suspensão. Os tintos seriam muito escuros e os eventuais brancos, elaborados sem a retirada das casacas, teriam uma coloração puxando para o laranja ou âmbar.

Por serem encorpados, tânicos e adocicados, estes vinhos deveriam ser cortados com um pouco de água para serem consumidos. As pessoas refinadas experimentavam diferentes diluições buscando o ponto mais agradável e quem não o fizesse era considerado um bárbaro.

Não há como precisar, corretamente, qual o sabor de um vinho como o servido na Ceia de Cristo.

Alguns estudiosos sugerem que uma aproximação seria experimentar um jovem Tannat uruguaio, ainda cheio de vigor e pouco amaciado por grandes períodos de contato com barricas de carvalho e guarda em garrafa.

Outra boa sugestão vem da Itália, o Amarone, um vinho muito poderoso, com elevada graduação alcoólica, aromas intensos de frutas negras e um leve e elegante amargor.

Boa Páscoa com ótimos vinhos!

Vinho da Semana: um Tannat, uruguaio, para os leitores se aproximarem do relato desta semana.

Carrau Ysern 2013 – $

Jovem, com notas de frutas vermelhas e especiarias, em especial pimenta verde. Paladar redondo, robusto, com taninos maduros e doces e final persistente.

Harmoniza corretamente com os pratos típicos da Páscoa.

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2 Comments

  1. Mario Sergio Bretas

    Tuty, uma indagação que fica é porque, inúmeras religiões cristãs, proíbem o consumo de vinho, se o próprio Cristo teve uma relação íntima com bebida?

    • Tuty

      Tezy
      Esta é uma resposta complexa. Cada religião escreve suas próprias regras e o consumo ou não de álcool ou qualquer droga intoxicante pode variar de tolerado, com moderação até a proibição completa.
      Mesmo a religião Católica não vê com bons olhos qualquer excesso de consumo de bebidas como vinho ou outros destilados.
      Uma outra razão que conheço, mas é pouco difundida, é a seguinte: era mais seguro beber vinho ou uma cerveja (vinho de cereais, ou vice versa) do água, que por falta de condições sanitárias era totalmente contaminada.
      Depois que aprenderam a trata-la…

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