Recebi na semana passada este comentário:

“Belo artigo. Uma correção importante, o Romanée Conti não é um Clos, ele só tem dois lados com muros, um Clos precisa ser inteiramente fechado. Os monges faziam os clos, para parcelas que sofriam com a exposição ao vento: Clos de Lambrays, Clos de La Roche, Clos de Vougeot etc… Também mostram somente a história dos Cistercienses por questões de interesses da Côté d’or, porque nas Haute Côtes de Nuits, antes deles, em 1050, os monges de Saint Denis já dominavam tudo isso, abraço”.

O autor deste texto, Jean Claude Cara é um franco-brasileiro consultor em vinhos e chef de cozinha que abriu mão do seu bistrot no Brasil para se dedicar à sua paixão “in loco”! Amante das velhas safras e da tradicional cozinha francesa, Jean-Claude está sempre pronto a nos ensinar as delícias do mundo mágico do paladar, seja entre panelas ou entre videiras!

Com este esclarecimento, aprendemos mais alguns fatos importantes e reconheço que fui traído pela foto dos muros do Romanée-Conti. Para deixar tudo certinho, uma foto do Clos de Vougeot.

Não deixem de prestigiar o site de Jean Claude e, quem sabe, um dia visitar a Borgonha com ele.

http://www.brasilbourgogne.fr

O tema desta semana é uma sequência ao que foi escrito na coluna anterior. Vamos mostrar a diferença entre a palavra Domaine, utilizada na Borgonha para identificar alguns de seus vinhos, e o vocábulo Château, empregado em Bordeaux, com o mesmo propósito.

Como de hábito, esta não é uma regra ampla, geral e irrestrita. Existem vinhos famosos em ambas regiões que não usam nenhum destes termos em seus rótulos, sendo a reciproca verdadeira: existem Châteax e Domaines fora das regiões que os consagraram.

Começamos pela Borgonha, onde Domaine identifica uma propriedade vinícola, quase sempre de gestão familiar. Isto remonta ao século XVIII, onde o poder da Igreja era enorme, e dona dos melhores vinhedos. Após a revolução francesa (1789), e a aplicação das Leis Napoleônicas, estes vinhedos foram retalhados e distribuídos entre famílias burguesas. Muitas vezes eram tão pequenos (1ha) que não havia alternativa a não ser vender suas uvas para que outra pessoa produzisse um vinho. Surge a figura do Negociant, que nada mais é que um produtor de vinhos que, quase sempre, não tem ou não cuida de vinhedos.

Há uma relação direta com os Crus: os Domaines, originalmente, eram pequenos vinhedos, aproveitando as múltiplas características de diferentes terroir. Com o passar dos anos, através de compras e fusões, as pequenas parcelas foram se somando e grandes propriedades se tornaram mais comuns naquela região. Hoje, basicamente, se o rótulo se apresenta como um Domaine, significa que o vinho é elaborado em vinícola própria, ao contrário dos vinhos dos negociantes. Neste caso, pode aparecer uma indicação como “Mis en bouteille par…”.

Em Bordeaux, o uso do vocábulo Château (castelo) tem um significado bem mais amplo: é a propriedade que produz uvas e vinhos, mesmo que não haja nenhum “castelo” nela. Começou a ser usada no século XIX e hoje é uma marca protegida por lei.

Uma das explicações aceitas pelos produtores, decorre da famosa classificação de 1855, que era diretamente relacionada com a qualidade e o preço dos vinhos. Existiria, então, uma hierarquia dos vinhos, aqueles dos vinhedos comuns e os produzidos a partir dos “Crus bordaleses”, que passaram a ser chamados de “Vins du Château”.

Teria sido o Château Margaux o primeiro produtor a usar este título em seu rótulo.

Château é uma denominação tão importante no mundo dos vinhos que foi copiada por produtores de todos os cantos. Há questões jurídicas envolvidas, mas é fácil encontrar châteaux não franceses. O mais conhecido deles, o norte americano ‘Chateau Montelena’, foi o ganhador do Julgamento de Paris. O resto é história.

Saúde e bons vinhos!

Vinho da Semana: um Château da região do Languedoc.

Rendez-Vous

Produzido pela tradicional vinícola de propriedade familiar, Château Viranel, que há quase cinco séculos passa de geração para geração a excelência e qualidade na produção de vinhos, possui uma coloração vermelho ruby, aromas de frutas vermelhas, cereja e algumas notas de especiarias. No paladar exibe frescor mineral e muita fruta vermelha. É agradável, saboroso, prazeroso…

Harmonizaç ão: Aves, Carne de porco, Massas, Queijos. Muito versátil.

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