O texto anterior a este apresentava um vinho bem diferente do que estamos acostumados. Os pontos de destaques eram a vinificação 100% biodinâmica, a garrafa de 1 litro e o fechamento com uma simples ‘chapinha de garrafa’, codinome popular da Crown Cork, criada em 1892 por William Painter, em Baltimore, EUA.

Curiosamente, foi este tipo de fechamento de garrafa que chamou mais a atenção de alguns leitores, basicamente estranhando este fato.

Apesar de não haver nada de novo nesta tecnologia, inclusive no mundo dos vinhos, ela nem é sempre visível para o apreciador leigo, mas pode fazer parte de alguns procedimentos para a elaboração dos vinhos, principalmente de espumantes, como o da imagem que abre esta coluna.

Notaram o detalhe? O fechamento é uma chapinha…

Além disto, a garrafa foi projetada para ficar na posição invertida. Existe uma razão para tal.

Este vinho argentino, produzido pela Viña Las Perdices, se chama ‘Vino Espumante sobre Borras Nature’ e foi desenvolvido para que o consumidor faça o ‘dégorgement’ na hora de degustá-lo, seguindo uma tendência europeia.

Para não deixar nenhum leitor com aquela expressão de ponto de interrogação, vamos aos fatos.

No método de produção tradicional dos espumantes (Champenoise), a segunda fermentação, aquela que vai produzir as borbulhas, que tanto nos encanta, é feita na garrafa. Elas ficam repousando numa armação especial chamada ‘pupitre’, onde são ligeiramente giradas, diariamente, por um técnico, num processo chamado de Remuage.

Ao ser atingido o estágio considerado ideal, o gargalo da garrafa é congelado para solidificar as borras ali decantadas. Em seguida é feita a abertura quando a pressão interna expulsa este bloco solidificado de leveduras. A rolha final é colocada o mais rapidamente possível. Este é o processo de dégorgement, ou degola.

Observadores mais atentos perceberão que, na foto acima, as garrafas estão fechadas com chapinhas.

Para abrir, em casa, este curioso espumante que certamente será vendido no Brasil, é preciso seguir uma rotina semelhante ao que foi descrito. Os produtores aconselham resfriar o gargalo num balde com gelo. Remover a chapinha e controlar a saída das borras com o dedo polegar.

Servir em seguida.

A aparência será um pouco mais turva que o habitual, mas com uma complexidade e untuosidade muito superior aos espumantes tradicionais.

Os mais corajosos podem aproveitar a oportunidade e usar aquele sabre do vovô, guardado desde a Guerra do Paraguai, ou antes, e degolar a garrafa, literalmente.

Show!

Saúde e bons vinhos.

Vinho da Semana: um interessante Brut Nature da Serra Gaúcha. Não precisa de degorgement, mas pode ser sabrado.

Retrato Nature Courmayeur

100% Chardonnay. Apresenta notas florais e frutadas e fino perlage. Demonstra equilíbrio entre terroir e tecnologia.

Harmonização: Salada de Legumes, Frutos do Mar, Culinária Oriental, Churrasco, Bruschetas, Crostines e Feijoada.

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