Um provérbio chinês afirma que “Coincidências não existem”. Mas é impossível não ficarmos intrigados com estes pequenos mistérios que nos deixam mais curiosos que o normal.
Esta semana, estava pesquisando e me atualizando sobre os vinhos da Francônia. Um dos muitos caminhos que trilho é estudar as casas reais da Europa, afinal, vinhos sempre foram associados a realeza, isto sem falar que existem inúmeros reis e rainhas no mundo da enologia, sejam eles/elas garrafas ou produtores.
Lendo sobre a região da Baviera, durante o Sacro Império Romano-Germânico, me deparei com o texto que reproduzo a seguir:
O que me chamou a atenção foi um título e um nome: Arquiduquesa Mary Amélia (da Áustria), filha do Imperador José I.
A citação menciona com quem ela se casou, Charles Albert, o “Eleito da Baviera” que se tornaria o Imperador Carlos VII do Sacro Império Romano-Germânico.
Aqui começam as minhas coincidências. Alguns autores a chamam de Maria Amália, o que me fez lembrar que no mundo dos vinhos isto é muito comum. Dependendo da região, uma mesma casta pode ter diversos nomes. A espanhola Tempranillo, em Portugal, pode ser chamada de Aragonez ou Tinta Roriz.
Outra associação que faço, com facilidade, são os casamentos entre as diversas Casas Reais e os vinhos de corte. A Arquiduquesa era da poderosa dinastia dos Habsburgos, enquanto seu marido era da dinastia bávara dos Wittelsbach. Cortes entre uvas de diferentes regiões nem sempre dão certo, mas temos exemplos, como os Super Toscanos, que foram absoluto sucesso.
Uma última coincidência, para finalmente voltar ao tema desta coluna, quem me chamou a atenção para os deliciosos vinhos da Francônia foi uma amiga dos tempos de juventude, que se chama Maria Amélia. Tudo a ver…
Esta região, hoje da Baviera, era um estado independente, a Terra dos Francos (homens livres). Coube a Napoleão Bonaparte, o mesmo da classificação dos vinhos de Bordeaux, anexa-la a Baviera, em 1803.
Se você acha que conhece vinhos alemães e é um apreciador daqueles Rieslings minerais ou mesmo dos de perfil mais suave, esqueça tudo que sabe. Os vinhos desta região são completamente diferentes e muitos especialistas os consideram com excepcionais.
As principais castas são as brancas Silvaner, Müller-Thurgau e Bacchus. A garrafa, chamada de Bocksbeutel, tem um formato bem característico (foto inicial) que é bem conhecida por aqui por conta do tradicionalíssimo Mateus Rose.
São vinhos bem secos, embora a legislação alemã permita um teor de açúcar maior em seus vinhos. São muito frutados o que agrada ao paladar feminino. Podem ser guardados por pequenos períodos sem a perda destas características. Seguindo a tradição germânica, são produzidos dentro das mesmas regras dos vinhos do Mosel ou do Reno: Kabinett, Spatlese, etc…
Tradicionalmente são bebidos nas taças Roemer, nome que deriva da época do Império Romano.
Os vinhos produzidos a partir da Silvaner são considerados os melhores e são muito versáteis do ponto de vista gastronômico. Harmonizam com saladas temperadas com molho vinagrete, ou com os delicados aspargos brancos, sendo um dos poucos vinhos que consegue esta façanha. Curry tailandês suave, salmão, inclusive defumado, mariscos, ostras, chucrute e salsichas típicas da culinária local, enfim, uma grande variedade de pratos e queijos, destacando-se os mais frescos como Camembert e Brie.
Difícil é encontrar estes vinhos no nosso país. Se achar, compre.
Saúde e bons vinhos!
Vinho da Semana: da Francônia.
Iphöfer Silvaner Trocken 2015
Este Silvaner é bastante seco e um dos vinhos mais emblemáticos da região, mostrando as melhores qualidades desta uva em um conjunto harmônico e fresco.
Compre aqui: www.mistral.com.br
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